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O Ministério Público Federal deu parecer favorável ao procedimento de registro do Partido Liberal (PL). O MPF concluiu que o direito é igual para todos os partidos. Noutras palavras, o pedido de impugnação do PMDB de Eduardo Cunha e Renan Calheiros e do DEM de Ronaldo Caiado não está surtindo efeito. Cleovan Siqueira diz que o ministro das Cidades, Gilberto Kassab, continua apoiando a organização do PL.

[caption id="attachment_29608" align="aligncenter" width="620"] Ana Carla Abrão, secretária da Fazenda, aposta que o governo terá menos dívidas e mais dinheiro no caixa | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção[/caption]
O objetivo do governador Marconi Perillo é que o Estado de Goiás se torne relativamente autossuficiente. Noutras palavras, que retome a sua capacidade de investimentos, mas com recursos próprios, não apenas com base em financiamentos do governo federal ou do exterior.
Na semana passada, um auxiliar de proa do governo tucano disse que a secretária da Fazenda, Ana Carla Abrão Costa — que mantém uma linha direta com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy —, sempre afiança que tem sido rigorosa em termos conjunturais, com um ajuste firme nas contas do Estado, para melhorar, no médio e longo prazo, a estrutura do Estado. Assim, tem sugerido que se acredite no trabalho que está fazendo, porque, adiante, todos — inclusive os funcionários públicos — vão agradecê-la pelo trabalho nada simpático que está fazendo agora.
Aposta-se que, a partir de 2016, o governo de Goiás, com as contas ajustadas, voltará a fazer investimentos pesados na economia, na expansão da infraestrutura, e, o que é mais relevante, com recursos do própria caixa.

[caption id="attachment_34339" align="aligncenter" width="620"] Ronaldo Caiado e José Eliton: na prática, os dois estão se dizendo — somos os adversários de 2018 | Fotos: Jota Eurípedes / Pedro França / Agência Senado[/caption]
Por ser menos experiente do que o senador Ronaldo Caiado, o vice-governador de Goiás e secretário de Desenvolvimento, José Eliton (PP), passa a impressão de que é um player menor.
Pode até ser. Mas o fato é que está articulando com o máximo de desenvoltura e tem incomodado o senador do DEM. As reclamações do líder democrata, sugerindo que o vice-governador estaria cooptando seus aliados, sugerem duas coisas.
Primeiro, Caiado está reclamando porque José Eliton está fazendo política, ou seja buscando o próprio fortalecimento e o consequente esvaziamento do adversário. Não há nada de ilegal e mesmo ilegítimo nisto. Segundo, o vice teria “culpa” se aliados de Caiado querem ser cooptados?
José Eliton está estruturando uma base partidária para que ser candidato a governador com apoio o mais amplo possível. Mostra inteligência e capacidade de articulação.
Assim como Caiado está buscando novos aliados, sobretudo no PMDB, José Eliton está fazendo o seu trabalho. Na prática, os dois estão se dizendo: somos os adversários de 2018.

Órgão máximo que define as regras para o exercício profissional dos advogados terá eleições em novembro e os pré-candidatos se articulam em busca da viabilização

As bandas Casa Bizantina e ChimpanZés de Gaveta dividem os palcos do Soul Pub na Quinta Rock deste dia 7. Formada no início de 1990, no bairro de Campinas, em Goiânia, Casa Bizantina representa uma mistura de poesia, rock e elementos black. Na mesma linha, os de Gaveta trazem canções do novo álbum “Absurdos da Mente”. Desde 2006, o grupo mistura rock brasileiro com soul music e prosa urbana. A festa começa às 22h. Não vai perder o “rock autoral do pequi”, certo?

[caption id="attachment_34330" align="alignright" width="620"] Iniciativa do Centro Livre de Artes, da Secretaria Municipal de Cultura, em homenagem ao Dia Internacional da Dança e do Artista Plástico | Foto: Divulgação[/caption]
Desde o último dia 27, tem ocorrido algo diferente em Goiânia. Trata-se do espetáculo “Entre Linhas do Corpo”, uma série de nove apresentações que tem como único objetivo compartilhar as artes plásticas, cênicas, além de música em um mesmo lugar, numa mesma cena. O evento é uma iniciativa do Centro Livre de Artes, da Secretaria Municipal de Cultura, em homenagem ao Dia Internacional da Dança — 29 de abril — e ao Dia do Artista Plástico — 8 de maio. O espetáculo começou no Terminal Bandeiras (27/4), passou pelos terminais Praça A (28/4) e Praça da Bíblia (29/4), além da Praça do Bandeirante (30/4), no Centro da cidade. Nesta segunda, 4, o evento estará na Rodoviária de Goiânia. Na terça, 5, na Rodoviária de Campinas; na quarta, 6, no Parque Flamboyant; na quinta, 7, no Parque Vaca Brava; e se encerra na sexta, 8, no Bosque dos Buritis. Não perca!

Já contamos que o Culturama é um lugar novinho em folha que valoriza a cibercultura, o audiovisual, as artes visuais e a literatura. Temos mais para contar: a agenda está cheia. Nestas quartas de maio, o professor Daniel Christino ministra o curso “Hermenêutica, retórica e argumentação –– como pensar, entender e escrever melhor sobre as nossas ideias”. O investimento é de R$ 90. Já nestas sexta e sábado, a ilustradora Suryara Bernardi leva um worshop de pintura digital. O objetivo é que o aluno compreenda o processo básico para criar ilustrações com a técnica digital. São R$ 180. Neste sábado também começa o curso “O cinema de Quentin Tarantino: imagem, espetáculo e cinefilia”, com o professor e crítico de cinema Fabrício Cordeiro. Além de analisar os filmes, ele propõe estudar os cinemas moderno e contemporâneo. São R$ 120.

- Desde 2001, o Colóquio de Filosofia e Literatura reúne em Goiânia especialistas de todo Brasil. A 10ª edição traz o tema “Tempo, Morte, Memória e Duração”. É na quarta-feira, 6, na PUC-GO Área II, às 9h30.
- Vem aí mais um warm up para o Bananada 2015. O show fica por conta da banda de BH Fusile e da goiana Shotgun Wives. A“Bananada Party” é nesta sexta-feira, 8, na Roxy.
- No sábado, 9, a Monstro Discos traz para o Martim Cererê um dos maiores nomes do metal nacional, Krisiun. Além disso, há várias outras atrações.

Livro
Este livro analisa a desilusão com o Estado que tomou conta do Ocidente. Segundo a obra, tudo está prestes a mudar com a redefinição dos valores políticos do século XXI.
A quarta revolução
Autor: Adrian Wooldridge e John Micklethwait
Preço: R$ 44,90
Portfolio Penguin
Música
Enfim chega às lojas o 3º disco de Tulipa Ruiz. O sucessor de “Tudo Tanto” foi batizado de “Dancê” e, segundo a cantora, é “um disco para ouvir com o corpo”.
Dancê
Intérprete: Tulipa Ruiz
Preço: R$ 29,90
Pommelo
Filme
Loucas Pra Casar
Direção: Roberto Santucci
Preço: R$ 39,90
Paris Filmes
Ingrid Guimarães, Suzana Pires e Tatá Werneck são as três “quase-esposas” de Márcio Garcia neste longa. Para quem gosta das comédias brasileiras, fica a sugestão.
Arthur de Lucca, aficionado por questões gráficas, frisa que, na entrevista do serial killer Tiago Henrique Gomes da Rocha ao jornal “O Popular”, sobraram espaços e faltou diagramador. “Pelo menos uma resposta está colada numa pergunta”.
Carlos Wilson amplia: “Há uma pergunta que poderia ter obtido, quem sabe, uma resposta sensacional, ‘Você gosta de ler?’, se a repórter Rosana Melo tivesse insistido. O serial killer diz: ‘Gosto muito de ler, principalmente livros. Não gosto muito de jornais e revistas’ [sobretudo os atuais, poderia ter acrescentando]. A repórter deveria ter perguntado: quais os livros que o sr. mais apreciou? A resposta seria muito importante, pois possivelmente Tiago Henrique é leitor de romances policiais, sobretudo de histórias de assassinato”.
Arthur de Lucca concorda: “Tiago Henrique tem cara e modos de leitor de livros de Patricia Highsmith”. Carlos Wilson discorda: “Ele é mais parecido com personagens de P. D. James, de Dashiell Hammett e Raymond Chandler”. Um jornalista diverge dos dois: “Tiago Henrique parece muito mais saído de um livro de Ilana Casoy sobre assassinos em série”.

Entidades promovem comemorações ao Dia do Trabalho em Goiânia. Haverá ainda apresentações de artistas goianos e sorteios de prêmios
O deputado estadual Virmondes Cruvinel (PSD) representou o Legislativo de Goiás no 2º Seminário Pense nas Pequenas Primeiro: Políticas de Fomento às Micro e Pequenas Empresas. O evento aconteceu nesta quarta-feira, 29, no auditório da sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília.
Entre os temas do seminário, a revisão do Simples Nacional e orientações sobre os sistemas de compras governamentais. “Também participei de uma palestra sobre um dos temas mais importantes para as pequenas empresas, que é o das políticas de redução de riscos de falência e de recuperação judicial”, conta Virmondes (na foto, no centro).
Dada a natureza do Legislativo, cuja atuação tende a ser pulverizada, é preciso eleger bandeiras claras e ter identidade com elas para se destacar. E o jovem deputado do PSD tem conseguido. Além de liderar a Frente Parlamentar da Pequena Empresa, Virmondes circula com desenvoltura a respeito de temas importantes, como educação, cultura e qualidade de vida nas cidades.

Estado quer reaver uma área pública equivalente a 50 campos de futebol que está sob o comando do Clube Jaó. Justiça concedeu liminar para reintegração de posse, mas administração se nega a devolver e acusa governo de perseguição política

[caption id="attachment_34297" align="alignright" width="250"] “Fala, Galvão!” conta boas histórias mas reserva apenas 16 linhas para Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF. ‘Nunca foi um homem de futebol’[/caption]
"Fala, Galvão!" (Globo Livros), de Galvão Bueno e Ingo Ostrovsky, são as memórias seletivas — quase hagiográficas — de um narrador esportivo que avalia que o mundo é galvaocêntrico (chega a se tratar na terceira pessoa, como se fosse Pelé). A impressão que se tem é que o jornalista da TV Globo (salário superior ao de William Bonner; é dono de vinícolas no Brasil e no exterior, cria gado) quer ficar bem com todo mundo — até com o ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet, antes tido como desafeto. A amizade muito próxima com jogadores de futebol e pilotos de automobilismo às vezes trava a percepção crítica, o julgamento equilibrado. Os amigos e colegas são apontados como “espetaculares”. Descontados os elogios exagerados e os erros de revisão, há boas histórias, sobretudo dos bastidores da Fórmula 1. O mais incensado dos pilotos, e com razão, é Ayrton Senna (1960-1994), apontado como o maior da história.
Aos 22 anos, ao ganhar uma corrida da Fórmula Ford 2000, Ayrton Senna aproximou-se e, chamando o narrador de “seu Galvão”, disse: “Eu vou chegar à Fórmula 1 e o sr. ainda vai narrar muita corrida minha”.
Ayrton Senna — ou “Ayyyyyyrton Senna do Brasiiiiil”, na narrativa das provas para a Globo — ganha 28 das 311 páginas do livro. Nenhum outro piloto ganha tanto espaço.
O piloto era uma fonte privilegiada para Galvão Bueno. Numa corrida, nos Estados Unidos, ante a informação de que “os carros da Williams eram mais rápidos” do que os da McLaren, Ayrton Senna cantou a pedra para o narrador: “Tive a informação de que o carro deles é muito rápido, mas o câmbio não vai aguentar, não deve passar de 15 voltas”. O funcionário da Globo deu a notícia e, de fato, “o câmbio da Williams de [Nigel] Mansell” quebrou.
No início de sua vida como piloto, Ayrton Senna estava sob pressão de seu pai, Milton Teodor Guirado da Silva. Miltão queria que o jovem “abandonasse o automobilismo”. O piloto insistiu e um sócio do pai, Armando Botelho, passou a se responsabilizar por ele.
Na Fórmula 3, em 1983, Ayrton Senna disputou 20 corridas e “ganhou 12 — nove consecutivas”. Um jornal inglês passou a chamar o autódromo de Silverstone de “Silvastone”. “Nesse ano, transmiti [com comentários de Reginaldo Leme] sua primeira corrida. Foi a única vez em sua história que a TV Globo transmitiu uma corrida de Fórmula 3. Todo mundo já percebia que ali existia um fenômeno.” Mas o futuro “rei” ainda era um plebeu que morava “numa casinha alugada e tinha um Alfa Romeo usado”. Quando recebeu uma multa, por ter estacionado em local indevido, Galvão Bueno teve de pagá-la. Seu prato preferido era espaguete.
Em 1984, Galvão Bueno o reencontra “correndo pela Toleman”, quase uma carroça perto das outras escuderias. “Ele me vendeu a certeza de que chegaria lá. E eu comprei.” Era um jovem “reservado”. Porém, como piloto, era de “uma segurança enorme e uma cobrança de si mesmo absurda, quase desumana”.
Numa corrida de 1984, na África do Sul, Ayrton Senna marcou seu primeiro ponto e saiu “tão exausto que não conseguia nem andar”. “Reginaldo e eu o ajudamos a chegar ao motor house. E lá, trocamos a roupa dele. Ele estava entrevado de tanto esforço físico e tinha espasmos musculares. Ali, ele entendeu que a Fórmula 1 não era só talento. Fórmula 1 era talento, força mental e condicionamento físico. Foi a partir daí que Ayrton começou a trabalhar com Nuno Cobra e virou um atleta excepcional. Força mental ninguém nunca teve igual a ele. Ele destruía os adversários na mente. E no talento, nem se fala.” O narrador não explica o que quer dizer, exatamente, com “destruía os adversários na mente”.
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Ayrton Senna e Galvão Bueno: os dois se tornaram amigos íntimos e o narrador da TV Globo conseguia informações exclusivas com frequência[/caption]
Em Mônaco, ainda na Toleman, quase ganhou sua primeira corrida. “A ultrapassagem em cima de Niki Lauda foi histórica. Ele estava em segundo, chegando em Prost, mais duas voltas e assumiria a ponta. As palavras que mais se ouviam nas cabines internacionais de TV vizinhas à nossa para descrever o que Senna estava fazendo eram ‘incredible’, ‘incroyable’ e ‘inacreditável’”. Porém, devido ao temporal, o diretor encerrou a prova. O brasileiro ficou, alegre, em segundo.
Alex Hawkridge, Ayrton Senna e Galvão Bueno foram ao Cassino de Monte Carlo, mas Ayrton Senna, de jogging, foi barrado e teve de pegar um paletó emprestado.
Em 1985, na Lotus, Ayrton Senna conquistou sua primeira vitória, sob forte chuva, no Grande Prêmio de Portugal. No mesmo ano, ganhou em Spa-Francorchamps, na Bélgica (adorava correr em Spa e Mônaco). O piloto comprou uma Mercedes 190, “o carro mais barato da Mercedes”, e, deliciado, dizia: “Paguei minha Mercedes hoje, paguei minha Mercedes!”
Primeiro título
Em 1988, pela McLaren, Ayrton Senna ganha seu primeiro título. Derrotou Prost. “Para mim, o campeonato mais marcante de todos foi esse. Ayrton foi o melhor piloto que já conheci.” O “maior piloto de todos os tempos”. Ao narrar uma corrida no qual ele vencera com certa dificuldade, Galvão disse: Ayrton Senna “é um homem que vive, que acorda, que almoça, que janta e que dorme Fórmula 1 e a sua profissão”. Reservado na maioria das vezes, Ayrton Senna se transformava na presença de amigos mais íntimos. Era brincalhão. “Íamos sair para jantar e Ayrton bateu na porta do meu quarto. Quando abri, ele jogou um balde de água em mim. Ainda todo molhado, eu só pensava no troco.” Certa feita, o piloto estava com uma namorada, “importada” do Brasil, de nome Edileine, e Galvão Bueno queria devolver o balde de água. Pediu para Reginaldo Leme chamá-lo e ficou escondido. “Vou abrir, espera um pouco”, disse Ayrton Senna. “A porta abriu, eu mandei a água. Só que era ela. Toda arrumada para jantar, maquiada, pintada, chique pra caramba. Um vexame! E ele morrendo de rir atrás da moça.” Nos anos 1980, em Miami, Ayrton Senna pôs “três cadeados no passador de cinto” da calça de Galvão Bueno. “Como é que eu ia tirar o cadeado se não tinha a chave? Tive que embarcar com os três cadeados. O americano não queria me deixar embarcar. E Ayrton dizia: ‘Não deixa ele embarcar, não, ele é louco’. (...) Eu quase não consigo embarcar.” No Grande Prêmio de Mônaco, em 1988, Ayrton Senna “estava 52 segundos à frente de Prost”, mas “bateu na curva da entrada do túnel”. Galvão Bueno indagou-lhe: “Como é que bateu daquele jeito?” Ayrton, irritado, disse: “Pra você eu vou contar. Eu queria botar uma volta no Prost, uma volta no baixinho”. “Os dois corriam pela McLaren e seria diabólico meter uma volta no companheiro de equipe. Olha só a cabeça do Senna.” O piloto queria que Galvão Bueno explicasse isso aos jornalistas. Acabou sobrando para Reginaldo Leme. Em 1993, Galvão Bueno perguntou: “Hoje você sofre mais do que se diverte, sofre muito, né?” Vitorioso, sempre na ponta, Ayrton Senna respondeu: “É uma pressão enorme ganhar todas as corridas”. O narrador ponderou: “Você tem que ser feliz. Você tem que se cobrar menos”. O piloto replicou: “Não consigo, Galvão”. “Ele era mais que ídolo, era um herói brasileiro. Ele era o brasileiro que deu certo, vindo de um país onde tudo dava errado. Ele era o Brasil que dava certo.” No GP da Europa em Donington Park, naquele ano, Ayrton Senna teve como principal rival o francês Alain Prost. “Talvez tenha sido a melhor corrida que ele fez na vida. Ganhou de Prost [debaixo de chuva] — e também de Damon Hill — no braço e na estratégia. Fez as apostas certas de pneus naquela maluquice de chuva, sol, chuva, sol, ao contrário de Prost. Ayrton trocou de pneus quatro vezes; Prost, sete.” Na transmissão para a TV Globo, Galvão Bueno extrapolou: o piloto “não era desse planeta, era um extraterrestre”. Num determinado momento, disputando a ponta com Prost, Ayrton Senna “entrou pelos boxes de Donington e a equipe McLaren não estava pronta para o pit stop. Ele passou como um louco e foi embora”. Galvão Bueno disse: “Que erro absurdo!” Mais tarde, Ayrton Senna explicou-se para o amigo: “Eu quis fazer um teste e avisei para os caras: vou passar por dentro dos boxes e vocês me dão a cronometragem, porque se o Prost estiver na minha frente, eu passo ele por dentro dos boxes”. Era “pura estratégia”, frisa o narrador. “Naquela época não existia limite de velocidade nos boxes. Ayrton tinha domínio total da corrida, sabia de cada detalhe do que acontecia na pista, era inacreditável”. Prost e Ayrton Senna eram adversários ferrenhos. “As voltas de classificação” de Ayrton Senna “são inesquecíveis. Ele ficava dentro do carro, ele e Prost, um olhando para o outro, para ver quem saía por último. E Prost saía antes. Ele vinha depois, fazia a pole position no último segundo. Era cruel com os adversários, mas o mundo da Fórmula 1 é assim. (...) O cara para ser campeão de automobilismo não pode ser bonzinho”. Ayrton Senna e Prost se respeitavam da mesma maneira que se odiavam nas pistas. “Ayrton era mais rápido, arrojado. Prost era mais frio, calculista. “Na largada do GP do Japão”, em 1990, “Ayrton, de McLaren, literalmente bateu de propósito na primeira curva na Ferrari de Prost. Os dois saíram da corrida. O campeonato foi decidido na primeira curva de Suzuka: bicampeonato de Ayrton. Eu me lembro de ter perguntado depois: ‘Pô, o que você fez? Fechou os olhos?’ Aí ele, cinicamente, falou: ‘Não, Papagaio, eu errei os pedais. Fui pisar no freio, pisei no acelerador’. E saiu dando risada”. Prost já o havia atingido, em 1989. De um profissionalismo que atormentava os mecânicos, Ayrton Senna “era sempre o último piloto a sair do autódromo. Era um perfeccionista, lia a telemetria de cabo a rabo. Quantas vezes nós jantávamos, ele com aqueles papéis de telemetria na mão, e eu dizendo: ‘O que você está fazendo? ‘Tô vendo as minhas curvas de potência... aqui, ó... tá vendo aqui? Aqui eu vou passar o Prost se ele estiver na minha frente’”. “Cruel consigo mesmo”, Ayrton Senna “se cobrava num nível próximo ao da loucura. Exigia perfeição a cada instante, e por isso foi o piloto que foi”, diz Galvão Bueno. Na Itália, em 1994, Ayrton Senna e outros pilotos estavam muito preocupados com a segurança. Havia um “boato de que Ayrton não correria em protesto pela falta de segurança”. Por isso Frank Williams perguntou para Galvão Bueno: “Você, que o conhece bem, acha que ele vai correr amanhã?” O narrador contrapôs: “Frank, eu achei que você o conhecesse melhor. Não é só correr. Ele vai correr e ganhar a corrida”. O chefão da Williams aquiesceu: “É, também penso assim, mas queria mais uma opinião”. Em Jerez de La Frontera, Galvão Bueno quis saber: “Para você, o que é uma Ferrari?” Ayrton Senna respondeu: “A Ferrari é uma cor, um ronco de motor, um estilo de vida, um carro campeão”. Mesmo sabendo que a Ferrari não estava bem, o narrador sugeriu que aceitasse ser piloto da escuderia italiana. O piloto não quis: “Eu não posso, porque eu já não sou campeão há dois anos [tinha sido em 1991]. Eu não posso ficar mais um ano sem ser campeão. (...) Eu vou para a Williams, vou ganhar o campeonato, vou correr lá dois anos, quero ganhar dois campeonatos para igualar o Fangio, e depois eu vou para a Ferrari. Aí encerro a minha carreira na Ferrari”. No meio do caminho, diria Carlos Drummond de Andrade, tinha uma curva. Em 1994.
Um dos capítulos do livro “Fala, Galvão” (Globo Livros, 311 páginas), de Galvão Bueno e Ingo Ostrovsky, em que o principal narrador esportivo da TV Globo mais se expõe é aquele em que tenta explicar e se defender do “Cala a boca, Galvão!” (noutro capítulo admite: “Sou muito brasileiro, meu lado materno vem direto dos índios do Mato Grosso”).
“Foi como se um míssil nuclear tivesse caído na minha cabeça”, admite o narrador. Na cerimônia de abertura da Copa da África do Sul, em 2010, ocorreu um show da cantora Shakira. “Eu dancei — fora do ar, claro —, mas algumas imagens caíram nas redes sociais e começaram a se espalhar.” Galvão Bueno diz que não tem Facebook, Twitter, Instagram. “A melhor coisa da internet é que ela deu a todos a liberdade de se manifestar, e a pior coisa da internet é que ela deu a todos a liberdade de se manifestar. Às vezes, a rede é muito cruel.”
Terminada a festança, Galvão Bueno foi para o hotel, já sabendo que sua dancinha “tinha entrado para os world trending topicz do Twitter”. Porém, no dia seguinte, “o vídeo do ‘Cala a boca, Galvão!’ tinha tomado uma dimensão gigantesca. Cheguei à redação da Globo e um olhava para a cara do outro sem saber muito bem o que fazer. Dormi como o Galvão Bueno da Globo e acordei no ‘The New York Times’, no ‘El País’, da Espanha, no ‘Clarín’, da Argentina”.
Tudo começou, acredita Galvão Bueno, porque havia falado demais na transmissão da cerimônia. “Eu falo muito mesmo. Aí esse alguém criou e disponibilizou o vídeo do ‘Cala a boca, Galvão!’ na internet, isso virou um rastilho de pólvora e foi crescendo. Fiquei assustado, de verdade, quando pensei que tinha uma Copa inteira pela frente.”
O que fazer? A Globo não sabia como reagir à avalanche internacional. “Foi Luís Erlanger, com o aval de [Carlos Henrique] Schroder, quem liderou o processo que nos levou a brincar com tudo aquilo. ‘Se a gente levar a sério e quiser sair na porrada, aí estamos perdidos mesmo’, foi o mote do Erlander. Naquela noite, Luiz Fernando Lima, diretor de esportes, me ajudou a combinar algumas deixas com Tiago Liefert, que, no meio de uma frase minha, durante o ‘Central da Copa’, mandou um sonoro ‘Cala a boca, Galvão!’. ‘Pô, até você, Tiago?’ Fizemos várias piadas, rimos da situação e... segue o jogo”, relata Galvão Bueno.
“Levei a brincadeira adiante e disse para Leifert: ‘Ayrton Senna deve estar rolando de rir em algum lugar, porque ele só me chamava de Papagaio’. ‘Cala a boca, Galvão!’, dizia o Tiago. ‘Quer saber de uma coisa? Eu não vou calar a boca, nada, eu vou é falar’. Aí virou um grande barato, uma grande curtição. Um troço que poderia prejudicar meu trabalho naquela Copa acabou me fazendo muito mais bem do que mal, e acho que foi por causa da forma como abordamos a coisa toda.” O humor é o medicamento mais eficaz contra a ira e a burrice.
Galvão Bueno conta que, “na manhã seguinte”, acordou dizendo: “‘Vou falar à beça nesta Copa do Mundo’. E falei. Foi um míssil que explodiu, mas eu saí ileso”. De fato. Mas ficou evidente que nem a poderosa Globo e suas estrelas estão infensas ao deboche do mundo globalizado e democratizado pela internet.