Opção cultural

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Agenda da semana

- Não se esqueça, o Grito do Rock começa neste sábado, 14. No primeiro dia, já tem Boogarins, Shotgun Wives e Carne Doce; nos demais dias, ainda aparecem Hellbenders, Overfuzz, Beavers, Don L e Far From Alaska na line-up. Falando nisso... - O Grito acaba no dia 16 e a ressaca vai ser no Evoé — aquele café, bar e livraria ali perto da Diablo Pub. - Acontece que, no dia 17, tem o Bloco do Evoé, que vai ficar "rodando" o lugar, quase como um sarau de rua. Também vai ter discotecagem e shows. Uhu!

De marchand a galerista: a aventura de vender obras de arte

A goiana Potrich Potrich nasceu em meio a um antiquário, desbravou preconceitos e se consolidou como uma das galerias mais reconhecidas em território nacional

Outono

O Jornal Opção tem publicado “Quatro Estações”, série literária em que dois autores escrevem, a quatro mãos, uma breve narrativa inspirada em uma estação do ano. E, dando continuidade a série, eis que chega aos leitores "Outono", obra dos escritores Mauricio de Almeida e Rafael Gallo. Na próxima semana, se achegará o último conto, "Inverno", de Carlos Henrique Schroeder e Mario Araujo. [caption id="attachment_28114" align="alignright" width="620"]Venâncio Cruz é fotógrafo e estudante de Arte Dramática Venâncio Cruz é fotógrafo e estudante de Arte Dramática[/caption]

Assim que abre a porta do teatro e se depara com o palco, o ator sente a pungência de uma desolação, tocando-o como a dor refletida de um ferimento mais interior. As folhas secas recortadas de papel crepom espalhadas pelo chão, penduradas nas cortinas da cenografia com tiras de durex aparentes, foram a primeira coisa na qual deteve seu olhar e parecem ser as desencadeadoras de seu abatimento. Entre­tanto, ele sabe que a sensação de tudo em si próprio estar ressecado e prestes a desabar vem de muito antes: pronunciava-se já no gesto da mão que abaixou a maçaneta da entrada sem a antiga convicção da própria solenidade enquanto ator experiente, estava latente há dias, meses, anos. A precariedade da arte diante dele é a mesma de uma vida inteira.

Enquanto caminha pelo corredor escuro em direção ao palco, ele sente o dissabor rebatido de cada uma das poltronas vazias, cujo abandono, pode prever, não será muito menor nas noites de apresentação. Nem mesmo os garotos e as garotas mais jovens do elenco, que num suspiro coletivo, parecendo ensaiado, suspendem os movimentos e mal contêm sua alegria primaveril ao vê-lo chegar, conseguem dissuadi-lo desse desconforto. A proximidade definitiva do palco e a recepção calorosa da companhia deveriam levantar seu moral, retornando-o àquela sensação de ser uma celebridade em algum grau, mas as imitações de folhas secas –– agora vistas de perto e notavelmente mais toscas –– impõem a consciência inevitável da nulidade de suas conquistas ou notoriedade, as quais nunca bastaram para alcançar algo além dessa cenografia similar a de peças amadoras montadas em escolas primárias. Talvez não fosse apenas ele a vítima dessa queda outonal, mas também isso tudo a que sempre deu o nome sacralizado de: arte do teatro.

Sozinho no camarim, troca-se estranhando o local ao seu redor como se a consciência de seu corpo no ambiente –– ferramenta básica de todo ator –– tivesse sofrido uma fratura imperceptível. Observa as roupas nas araras, as plumas e as penas, as coroas e outros adereços, e refaz sua carreira: tantos personagens, tantas caracterizações alheias, tudo suspenso no tempo, deslocado no espaço. O ator senta-se na cadeira e as luzes que contornam o espelho iluminam seu reflexo já vestido com a velha camiseta branca e a calça de moletom própria de ensaios. Vislumbra a imagem à frente, procurando em seu rosto um mapa de seus erros e acertos, já cometidos ou ainda possíveis. E, enquanto perscruta os vincos (ou suas sombras cavadas pelas lâmpadas) que parecem mais profundos em volta dos lábios e aos cantos dos olhos, cuja falta de viço ou brilho os tornara pálidos como a barba esbranquiçada que desponta no maxilar, é surpreendido por toques delicados à porta, que deixa entrever uma assistente perguntando se ele está pronto. Sem desviar o olhar de seu reflexo, responde que sim, muito embora necessitasse ainda de uma maquiagem impossível de ser desenhada naquele rosto, manchado não somente pelas oxidações do espelho, mas, sobretudo, pela própria inconsistência e, inevitavelmente, pela vida.

Tentando se desfazer desses pensamentos, o ator sai do camarim e, antes de subir no palco, cumprimenta o diretor da peça, cujo entusiasmo demonstrado lhe parece estranho. Por consideração, responde estar pronto e satisfeito com aquela montagem surpreendente, o pastiche que traz outra leitura à velha peça inglesa. No entanto, quando adentra o palco, a sensação de plenitude espiritual e de ter sua existência justificada –– que sempre o banhou nesse espaço como o sol de um verão íntimo disparado pelos holofotes –– já não o tocam.Esses sentimentos de satisfação (os quais sempre foram a nota de fundo de uma promessa particular, calcada em um reconhecimento maior por vir) agora estão substituídos pela exasperação que não o deixa. A luz lhe incomoda e, mesmo que insista em não entender, o palco também se fende numa fratura imperceptível mas sensível, revelando o desfecho do arco que tem sustentado seu drama: a promessa não se cumpriu e não se cumprirá.

Ele deriva nesse desnorteio e somente quando percebe a perplexidade calada do elenco se dá conta de que não respondeu à deixa de sua entrada. Após o pedido do diretor para recomeçarem, feito com uma gentileza indulgente que lhe irrita, ele respira fundo procurando recobrar a altivez de performances passadas. Retorna à coxia e, ao sinal, surge no momento exato, fazendo parecer espontâneo o movimento ensaiado até a exaustão, apresentado em inúmeras ocasiões. Ele outra vez um bardo, outra vez um parvo, ele outra vez um outro, ainda e sempre distante de seu papel definitivo, da imagem que vislumbrava de si mesmo.

Quase não contendo a vontade de sumir por trás das luzes e ao fundo da escuridão para nunca mais voltar, o ator prossegue na cena: é preciso cumprir ao menos o curto itinerário que o conduz ao centro do palco. Cada passo é marcado pelo pisar nos recortes de papel crepom em forma de plátanos amarronzados e amarelados que nem mesmo lhe retribuem um estalo vívido, ao contrário, desmancham-se sem substância sob seus pés. Ja­mais vira um outono feito da queda de folhas dessa espécie fo­ra dos palcos. Procurando se con­centrar no texto que enunciará, sente o papel grudar em seus pés a cada passo nessa caminhada tão falsa e insossa quanto um outono feito de plátanos de crepom.

Há uma espera ansiosa e, com o ensejo do roteiro que o manda observar os outros personagens com atenção antes de se pronunciar, o ator perscruta os jovens ainda entusiasmados, devotados às próprias promessas e imersos naquela sensação de banharem-se em realização. E, sem saber se seu rancor é desprezo por eles ou por si mesmo, pensa na estupidez que é essa entrega obstinada a seus papéis, a qual denuncia uma crença desmedida na arte como algo enobrecedor, acesso privilegiado a uma dimensão interdita ao senso comum. Porém, tudo que lhes espera por trás das cortinas dos sonhos são meras cenografias falsas, folhas recortadas com papel crepom, atores feitos dos mesmos contornos toscos e noções fajutas da realidade, montagens e mais montagens de uma peça para ninguém ver. Esse desligamento do mundo não será mais tão encantador com a passagem dos anos, ele pondera. E, na frieza de seu silêncio, o olhar do ator inquire o elenco para anunciar a proximidade de um inverno glacial, o fim de tudo.

Chega o momento no qual sua voz deve ecoar por todo o auditório em uma fala de grande impacto. O ator sabe que, muito embora se trate apenas de um ensaio, é com grande expectativa que todos esperam ser deslumbrados por ele enunciando falas antigas que ainda servem à catarse. Mas de que adianta comovê-los se não convence mais a si mesmo? Essas falas já não ressoam nenhum sentido. Por isso, postado numa iminência, os olhos atentos, as folhas em desmanche grudadas aos pés, a gana que lhe falta como se lhe faltasse o movimento ou a voz, ele observa tudo ao redor e, sem maiores anúncios, desce do palco e adentra a escuridão do auditório, rumo à porta de saída sem qualquer solenidade, indiferente ao estupor e desconcerto de todos, que ficam para trás como outra plateia abandonada.

foto4Maurício de Almeida nasceu em 1982, em Campinas (SP). É autor de "Beijando Dentes" (2008), livro de contos vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2007. Tem contos publicados em antologias, revistas e jornais, além de traduções para o espanhol e para o inglês. Escreve também para o teatro. Mais: mauriciodealmeida.com.br.

foto5Rafael Gallo é autor de "Réveillon e Outros Dias", livro vencedor do Prêmio Sesc de Literatura e finalista do Jabuti na categoria Contos. Tem contos incluídos em antologias diversas e neste ano publica o romance "Rebentar", pela Editora Record

Remédio para deixar de ser “Casmurro” é ver Ariano Suassuna no teatro

[caption id="attachment_28112" align="alignright" width="620"]Foto: Layza Vasconcelos Foto: Layza Vasconcelos[/caption] A boa preguiça chega mais cedo nesta semana e se achega logo na quinta-feira, 12, com as peripécias do inesquecível Ariano Suassuna encenadas pelo Grupo de Teatro Guará. É galera, o poeta Joaquim Simão bota as manguinhas para fora na “Farsa da Boa Preguiça”. O pobre se aventura na beleza de Clarabela, a esposa de Aderaldo, seu vizinho que quer, a todo custo e controvérsia, sua mulher, Nevinha. E, como se não bastasse, ainda tem três demônios para botar os casais na tentação. E, enquanto Jesus, na companhia de dois santos, impede que eles caiam nessa, você cai na gargalhada com essa comédia. O quiproquó todo começa às 20 horas, ali no palco do Teatro Sesc, na rua 15, esquina com a rua 19, no Centro de Goiânia. Os ingressos para o espetáculo custam R$ 10 a inteira e R$ 5 a meia. Vai ficar dando uma de Dom Casmurro sentado no sofá de casa ou vai partir na busca de alegrar a vida um pouquinho que seja?

Se tem texto guardado, desguarda. A gente quer ler

O letra livre, selo de publicação literária que também costuma movimentar a cidade com saraus de palco aberto, encontros e outros muitos apontamentos de arte, está convidando escritores para a 3° coletânea letra livre. Na última edição, 30 novos autores apareceram. Agora, nessa terceira, a ideia é reunir 40 novos autores de Goiás e do Brasil todo. Se estiver afim de participar, mais simples não existe. Vai vendo: é só enviar seu nome completo, sua cidade e uma seleção dos seus escritos no corpo do e-mail e apertar o “enviar” para o endereço [email protected]. Aí é só aguardar a edição do material recebido que, logo logo, tem sarau para lançar a belezura do livro. Então, meu caro, vamos desguardar os textos e mandar porque tem gente querendo ler! =D

É carnaval!

O Bloco Socialista leva samba, marchinhas de carnaval e rock para as ruas de Goiânia. Nesta quinta, 12, o grupo traz atrações como Coró-de-pau, Escola de Samba Lua-Alá, Banda Mercado + Fausto No­leto, Mundhumano e Hugo Roquete + Fred Noleto para a Praça Univer­sitária. Este é o 4° ano que o Samba Leviano põe o bloco na rua. É às 19 horas. Já na semana que vem a agenda aperta: dia 13 vai ter encontro de blocos no Grande Hotel; e do dia 14 ao dia 17 tem programação na cidade inteira: da Rua 74 ao Vaca Brava.

Letra Livre celebra um ano neste “Sábado no Parque”

[caption id="attachment_27931" align="alignnone" width="620"]Foto: Divulgação Foto: Divulgação[/caption] Há um ano, as tardes sábados têm sido festejadas com poesia, literatura, música, teatro, dança, performances, com as mais diversas expressividades artísticas. E a galera do Letra Livre abre o ano de 2015 com a comemoração de aniversário do “Sábado no Parque”. E têm convidados especiais: Lorranna Santos, a banda Grife, o musicista Manoel Siqueira e os poetas Frankli Sausmickat, Yasmim Stella e Larice Hikato. Começa às 16 horas, com entrada franca. E, desta vez, o sarau será no Bosque dos Buritis, em frente ao Fórum.

Cia Sala Três traz “Cora Coralinha” para os teatros

[caption id="attachment_27927" align="alignright" width="620"]Foto: Layza Vasconcelos Foto: Layza Vasconcelos[/caption] A Cia Sala Três de Teatro invade os palcos do Sesc Centro para alegria da criançada, de qualquer idade. E eles trazem “Cora Coralinha”. É que a perdida menina, também chamada Aninha, encontra uma trupe, que resolve ajudá-la. Encantados com as histórias da pequena, os artistas se aventuram em poesias até chegarem à casa da ponte. Vale levar a família inteira. É neste domingo, 8, já no cair da tarde, às 17 horas. Os ingressos custam R$ 10 a inteira e R$ 2 para menores de 12 anos. O Sesc Centro fica na Rua 15, esquina com a Rua 19.

Nômades Grupo de Dança se apresenta no Sesc Centro

[caption id="attachment_27867" align="alignright" width="300"]Foto: Layza Vasconcelos Foto: Layza Vasconcelos[/caption] Vambora ao teatro, hoje? É que o grupo Nômades de Dança apresenta o espetáculo “Palavras em Giz”. A autobiografia coletiva traz marcas pessoais, gerando desestabilização e reatualizações. Baseado em reflexões da psicoterapeuta Suely Rolnik e na poesia de Pessoa, o trabalho traz o desassossego e a porta aberta que ele deixa para novos lugares. Começa daqui a pouco, às oito da noite. É bem ali no Sesc Centro, na Rua 15, esquina com a Rua 19. Os ingressos custam R$ 10, a inteira e R$ 5, a meia.

O pervertido

[caption id="attachment_27681" align="alignnone" width="620"]Foto: Reprodução Foto: Reprodução[/caption] Paulo Lima Tinha esse hábito estranho. Acho que nasci tarado. Desde menino, sempre fui louco por leituras e livros. Um degenerado do tipo incorrigível. Queria porque queria compartilhar meu desejo incontido. Tinha uma queda particular por adolescentes, masculinos ou femininos — que importa? — mas saía pegando o que aparecesse: adultos, idosos, negros, nisseis... Crianças não. Eram mais difíceis de aliciar, porque estavam sempre acompanhadas de pessoas puras, que reprovavam aquelas coisas abomináveis feitas de papel e tinta. Agia furtivamente assim: num dia qualquer, eu deixava um livro dentro de um ônibus, aleatoriamente, num assento vazio logo no início da viagem. Eu ia lá pra frente e ficava espiando, de rabo de olho, a reação de quem encontrava a preciosidade. Sim, eu era um voyeur... O cara — ou a moça, o velho, seja lá quem fosse —, quando ia se sentar levava um susto, olhava pros lados, pra trás e pra frente, procurando o dono que certamente o tinha esquecido ali, mas o ônibus quase vazio indicava que o possível dono já tinha descido. Pegava o presente, sem saber que era um presente, começava a folhear e o resto era com ele ou ela. Eu guardava como troféu, pelo crime cometido, a imagem do rosto iluminado daquela vítima indefesa. Lascivo, eu descia no ponto seguinte, com a sensação de dever cumprido, e entrava no próximo busão, para atacar de novo. Uma vez, quase me pegaram. Consegui disfarçar e esconder minha obscenidade. Saí de fininho. Aquilo se tornou um vício — ou seria um fetiche? — que durante anos eu alimentei compulsivamente. Eu sonhava com o resultado que nunca viria a conhecer. Aqueles seres teriam gostado de Machado de Assis, de Herman Hesse e Augusto dos Anjos, de Cecília Meirelles, Stanislaw Ponte Preta e Rachel de Queiroz? E suas vidas, teriam mudado depois que as toquei? Enfim, envelheci. Adquiri carro próprio e abandonei o povaréu à própria sorte, ciente de que um dia seria julgado e condenado por mais essa transgressão. Ainda sonho com o dia qualquer em que eu volte a entrar num ônibus qualquer, em busca da velha e prazerosa prática imoral, para não dizer imperdoável, de compartilhar minha loucura por livros e leituras. Paulo Lima é redator publicitário desde 1988, caminhando para 26 anos de atividades ininterruptas. Contista por natureza, vocação ou sina, escreve desde mini contos a contos maiores. Nesse balaio, inclui algumas crônicas.

Terceiro livro de escritor carioca é um flerte com o real e o absurdo

Os contos de “Petaluma”, de Tiago Velasco, centram-se em momentos de transições absurdas e irreversíveis [caption id="attachment_27675" align="alignright" width="300"]TiagoVelascoporGuilhermeLima Em seus contos, Tiago Velasco conduz a realidade e a ficção a um efeito transformador Foto: Guilherme Lima[/caption] Sérgio Tavares Especial para o Jornal Opção Há uma desnaturação recorrente nos contos de “Petaluma”, de Tiago Velasco. Personagens e lugares que se divorciam de suas características originais, transfazendo-se, coisificando-se. A única exceção fica por conta da narrativa que fecha e dá nome ao livro. Nela, o autor remonta um curto período de angústias e de incertezas, oferecendo ao leitor um relato cortante, no qual a realidade se impregna de ficção para ocultar nomes e traduzir sentimentos. Tiago, o narrador-personagem em intercâmbio num país de língua inglesa, vai trabalhar como busboy no restaurante Petaluma. Atacado pelo desterro, pela condição de latino em meio a outros latinos que extraem de subempregos uma chance de redirecionar a vida, ele se vê escudado pela ideia redentora de ser jornalista e escritor. Chega a colaborar com sites e revistas sobre música, porém, gradualmente, a experiência se torna um trauma, cujo efeito irá ruir o relacionamento com uma namorada que viajou consigo e, ao contrário dele, não fraquejou e foi “engolida pela cidade”. Ainda assim, o fato de o conto existir mostra que, a despeito do ressaibo, o autor-personagem cumpriu seu objetivo. Talvez, ele tenha diluído sua identidade por um momento, mas, logo à frente, a reconsolidou –– diferentemente dos demais textos em que a transformação é fatal e irreversível. Se em “Petaluma”, o conto, o autor lida com a verdade, o restante da antologia flerta com o absurdo. Um estranhamento penetrante, um não pertencimento que anula. “A morta de São José”, cuja premissa se aparenta a do conto “A cabeça”, de Luiz Vilela, situa-se neste terreno movediço. Ali, igualmente estão “Em pedaços”, sobre um homem que acorda desmemoriado num hospital e sai pelas ruas à cata de si, e “Reflexo”, um retrato hedonista de como quebrar o ócio pode ser aterrador. [caption id="attachment_27673" align="alignright" width="300"]Os contos de “Petaluma” guardam o compromisso de defender uma proposta e se saem tão bem quanto o autor, seguro na construção e na condução de sua prosa Foto: Reprodução Os contos de “Petaluma” guardam o compromisso de defender uma proposta e se saem tão bem quanto o autor, seguro na construção e na condução de sua prosa Foto: Reprodução[/caption] Velasco adiciona doses sutis de um tipo rascante de humor em seus textos. É o que pode ser conferido no surreal “... a dois”, sobre um casal que, ao completar 40 anos de matrimônio, desperta com as pontas dos dedos da mão de um coladas nas do outro. O final é surpreendente e divertido, num estilo Monty Python de diversão. “Estrangeiro” e “Ernesto/Andrezza” são os pontos altos, sobretudo se o leitor morar ou conhecer bem o Rio de Janeiro. O primeiro satiriza os roteiros turísticos pela cidade na pele de um carioca que, sem perceber, começa a estrangeirar. Já o segundo segue a rotina de um travesti que sonha em encontrar, entre os clientes, um “Brad Pitt para lhe sustentar”. Quando o acha, porém, o amor confronta-se à condição de ser uma mulher no corpo de um homem. Apesar de não estabelecerem uma unidade temática, os contos de “Petaluma” guardam o compromisso de defender uma proposta e se saem tão bem quanto o autor, seguro na construção e na condução de sua prosa.   Leia um trecho de “Petaluma”, conto presente no livro de mesmo nome, do escritor Tiago Velasco: "Hoje, nove ou dez anos depois, vejo Petaluma como a reunião das minhas neuroses. Não percebia naquele período. Não percebi durante esse tempo todo. Agora enxergo. Estou mais claro. Concreto. Não mais um fantasma. Aquele ser que passou por Petaluma. * 1. Acordei com o alarme polifônico do celular pré-pago compartilhado com Ela. Oito da manhã. Dormi já era mais de uma. Dois períodos de trabalho no dia anterior. Normal em Petaluma. Motivo de satisfação pra maior parte dos colegas de trabalho: money, plata, grana. Enrolar mais um pouco na cama era impensável. Após despertar, uma energia dolorida e incômoda perpassava o corpo inteiro. Joelhos, cotovelos, calcanhares, nódulos dos dedos, as articulações existentes em mim concentravam a dor e a replicava. Ossos e veias, highways. A consciência do corpo, traumática e premonitória. Uma hora para o banho, o café da manhã — uma fatia de pão integral com margarina I can’t believe it’s not butter e queijo, um copo de leite com chocolate em pó —, a roupa mais quente que tivesse no armário azul claro, a caminhada até o metrô suburbano, a espera pela composição da linha R, as três estações, o ônibus, uns quarteirões a pé. Menos quinze graus Celsius lá fora. E aqui, nos seis metros quadrados que divido com Ela, dentro de um apartamento de dois quartos de paredes de papel, o heater tornava o ambiente menos hostil. A culpa, o medo, o fracasso iminente, a distância da pátria, a ausência eram reforçados toda vez que adentrava a porta de vidro de Petaluma. Ser um vencedor, como a cultura local solicitava, estava a léguas de mim, ali, no salão, rodeado de mesas e recém-colegas que dividiam tips, propinas, gorjetas. Good morning, busboy. An expresso, please, dizia a manager russa quando não havia sonhado com Stalin e acordava de bom humor. Good morning. 2. Ao deixar todos pra trás, ainda no aeroporto, qualquer sensação de acolhimento se foi. O sujeito punk, ao encontro da terra punk, perdeu o moicano na apresentação da passagem à funcionária da companhia aérea. As primeiras lágrimas apareceram logo que eu e Ela saímos da vista dos nossos familiares. Não teria forças praqueles quatro ou cinco meses. A certeza veio antes de sacar o passaporte. E me apoiei n’Ela como gostaria de me apoiar agora. Deve ter visto o medo. Ainda não a sobrecarregava. Questão de tempo. Ela não suspeitava que ia cuidar de mim. Eu tinha certeza. Calei-me. OBS 1: Cheguei quase tão cedo quanto àquele dia, nove ou dez anos atrás. Sol fraco. Frio menos repulsivo. Em meio ao monóxido de carbono que saía dos escapamentos de táxis e ônibus, um cheiro de não-sei-de-quê me trouxe aquele tempo de neuroses. Diferente. Os anos. Eu. O momento. Onde estará Ela?"   Título: Petaluma Autor: Tiago Velasco Editora: Oito e Meio Valor: R$ 35,00

Em comemoração ao centenário de José J. Veiga, Opção Cultural traz entrevista feita em 1995

Nascido em 2 de fevereiro de 1915, José J. Veiga se fez eterno com suas obras; tanto que a Companhia das Letras, uma das maiores editoras do país, publicará o conjunto completo de seus escritos. A entrevista, abaixo, traz um pouco desse grande literato [caption id="attachment_27630" align="aligncenter" width="520"]Se todos cantam a sua ferra, o escritor goiano José J. Veiga optou por cantar a terra de todos, inventando mundos que moram na imaginação, mas teimam em ser um poético espelho a refletir as estranhezas que a realidade disfarça. Foto: Reprodução Se todos cantam a sua ferra, o escritor goiano José J. Veiga optou por cantar a terra de todos, inventando mundos que moram na imaginação, mas teimam em ser um poético espelho a refletir as estranhezas que a realidade disfarça. Foto: Reprodução[/caption] José Maria e Silva Atravessia do Paranaíba é um sonho comum à maioria dos escritores goianos. Concretizar a travessia do Atlântico foi a ousadia de José J. Veiga. Um dos escritores brasileiros mais traduzidos no exterior, Veiga, às vésperas dos 80 anos, que completa em fevereiro, continua produtivo — dedica-se a traduções e escreve seu novo romance, do qual procura fazer todo segredo possível, como é de seu feitio. O livro deve ser publicado ainda este ano, com o selo da Difel, o mesmo das outras obras do escritor. Desde que se aposentou como redator na Fundação Getúlio Vargas, Veiga passou a escrever todos os dias, religiosamente. “Escrevo durante várias horas por dia", conta ele. Antes, sua produção se limitava às madrugadas e fins de semana, quando não estava trabalhando. Ele confessa que tem suas manias. Uma delas é não escrever em computador — prefere a velha máquina de escrever. "Não posso confiar em um aparelho que não conheço", brinca. Até a máquina às vezes o irrita: "Acho que ela está fazendo barulho demais, então passo para a caneta. Aí, a caneta pega a arranhar. Então, troco de caneta ou volto para a máquina". José J. Veiga demorou a publicar seu primeiro livro. Tinha 44 anos quando estreou, em 1959, com “Os Cavalinhos de Platiplanto”. A crítica, capitaneada por Wilson Martins, fez festa. Martins considerou a obra como um novo veio ficcional aberto na literatura brasileira. Murilo Rubião, com os contos de O Ex-Mágico, havia inaugurado o fantástico na literatura brasileira, em 1947, mas Veiga recriaria o fantástico à sua maneira. Um fantástico sem intelectualismos, simples e profundo como a natureza. O sucesso de crítica veio acompanhado do sucesso de público, como demonstram as sucessivas edições de “Os Cavalinhos de Platiplanto”, “A Hora dos Ruminantes” e “Sombras de Reis Barbudos”. Veiga tomou-se o principal autor da Difel, espécie de carro-chefe da editora. "Todo mês chegam convites de outras editoras que querem publicar meus livros. Mas não saio da Difel. Estou nela há muitos anos. Criei uma relação de afetividade com a casa", conta o escritor, que recebe cartas de leitores espalhados em todo o mundo. "Tenho cartas até de leitores tchecos", diz ele, que se confessa emocionado cada vez que descobre a emoção de um distante leitor em face de um livro seu. [relacionadas artigos="27358"] Casado com Clérida, a quem dedicou “A Hora dos Ruminantes” ("com amor", segundo reza a dedicatória na folha de rosto do livro), José J. Veiga conta que anda muito saudável. "Já fiz viagens recentes de carro a Goiás, eu mesmo dirigindo", conta. "Só não tenho ido mais a Goiás com a mesma disposição porque a Clérida anda meio adoentada." Clérida, ex-professora, tem 86 anos. Ela e Veiga, como Carolina Xavier de Novais e Machado de Assis, não tiveram filhos. “Mas não faço minhas as palavras finais das Memórias Póstumas de Brás Cubas. São muito pesadas", brinca Veiga. Mas, ao contrário de Machado de Assis, que nunca ficou à vontade com personagens crianças e preferiu quase que bani-los de sua obra, engendrando personagens sem filhos ou com filho único, Veiga é um especialista em falar de meninos. Poucos como ele conseguem penetrar com tanta pertinência no mundo das crianças. "Talvez porque a literatura que faço, cheia de indagações a respeito da vida, precise de crianças para protagonizar esse questionamento. O adulto pergunta menos, acha que sabe muita coisa", explica. Veiga confessa que é um introvertido. Ao contrário do poeta João Cabral de Melo Neto, que considera "muito seco", ele adora música: "Gosto de praticamente todos os gêneros musicais, mas tenho predileção pela música de câmara". Diz que só não gosta de futebol e carnaval, porque (como Schopenhauer) detesta barulho. Escreve sempre ouvindo música. "Gostava muito de ouvir a Opus 2, uma rádio aqui do Rio, mas ela acabou", conta. Tudo que escreve costuma passar por umas quatro ou cinco versões, antes da publicação. "Da primeira vez, escrevo com mais fluência, sem me preocupar muito com detalhes. A primeira versão é mais ara ocupar papel, demarcar espaço. Se uma frase não me agrada, limito-me a sublinhá-la e toco para a frente. Depois, volto cortando, remendando, até chegar ao acabamento, depois de urnas cinco versões”, revela. Nesta entrevista ao Jornal Opção, que concedeu por telefone na tarde de segunda-feira, 16, José J. Veiga também falou de política, Plano Real e da literatura goiana e disse que, se continuar com a mesma disposição de agora, quer entrar o terceiro milênio produzindo. [caption id="attachment_27628" align="alignright" width="300"]Tinha 44 anos quando estreou na literatura, em 1959, com “Os Cavalinhos de Platiplanto”. Foto: Reprodução Tinha 44 anos quando estreou na literatura, em 1959, com “Os Cavalinhos de Platiplanto”. Foto: Reprodução[/caption] O que o senhor está escrevendo? Estou escrevendo um novo romance, que será publicado pela Difel. Mas não gosto de falar sobre o que estou escrevendo. Inclusive nunca mostro a ninguém meus originais. A não ser para minha mulher, que lê e, às vezes, dá algum palpite. O senhor tem acompanhado a literatura goiana, o que se tem feito mais recentemente? Tenho acompanhado, sim, mas muito, porque estou envolvido com o acabamento do meu livro. Acabei de ler há pouco um livro de poemas de Maria Lúcia Félix, “A Vida Dividida”, que achei muito bom. Ela escreve bem. Para mim foi uma grande revelação. O senhor parece que também gosta dos contos da jornalista e escritora Eloí Calage. Gosto. Ela escreve bem. Seu livro de contos, que ganhou um concurso no Paraná, é muito bem escrito. Em sua última entrevista ao Jornal Opção, o senhor disse que está lendo “Sete Léguas de Paraíso”, de Antônio José de Moura. O que achou do livro? Gostei. É um bom livro, bem escrito. Só acho que ficou goiano demais. Um pouco difícil de ser entendido por quem não é de Goiás e não conhece a história de Santa Dica. O senhor conhece a ficção de Edival Lourenço e Itamar Pires, que têm conquistado espaço dentro e fora de Goiás? Ainda não conheço a obra deles, não. Não tive oportunidade de ler nenhum livro deles. O que o senhor achou da indicação de Bernardo Elis para a Fundação Pedro Ludovico, que poderá ser transformada em Secretaria da Cultura? Para mim é uma novidade. Não sabia. Mas acho bom, apesar de ser meio avesso a esse negócio de Secretaria de Cultura. Confesso que não sei se a cultura precisa mesmo de um órgão governamental para cuidar dela. O senhor já foi sondado pela Rede Globo para transformar alguma de suas obras em minissérie ou caso especial? Não. Parece que minha obra ainda não chegou à Rede Globo. Já fui sondado duas vezes por um diretor de cinema, o Luís Sérgio Terson. Ele queria filmar “A Hora dos Ruminantes”, fizemos um contrato, mas a produtora faliu antes que fossem iniciadas as filmagens. Com isso o contrato venceu. Mas ele renovou o contrato para fazer o filme. Só que morreu num acidente automobilístico antes de começar. O senhor já foi traduzido para quantos idiomas? De cabeça assim, eu não me lembro, Mas foram muitos idiomas –– inglês, russo, servo-croata, tcheco, italiano, espanhol, sueco. Só nunca fui traduzido para o francês, não sei porquê. O senhor fala ou lê em outros Idiomas? Leio em inglês, francês e espanhol. Quando pego urna tradução de um livro meu em outro idioma, fico me indagando o que está escrito. A edição sueca de um dos meus livros é muito boa. A capa é muito bonita. Algum de seus livros tem a sua predileção? Sempre me fazem essa pergunta, principalmente quando vou a universidades. Mas ainda não deixei de gostar de nenhum deles. Gosto de todos. Cada um deles tem uma história, foram importantes num dado momento da minha vida. Agora, o público, sim. Esse parece que tem predileção por três livros meus: “A Hora dos Ruminantes”, “Os Cavalinhos de Platiplanto” e “Sombra de Reis Barbudos”. Somando todas as edições de seus livros, quantos exemplares o senhor já vendeu? Há uns dez anos, fiz essa conta. Deu cerca de 500 mil exemplares. De lá para cá, só “A Hora dos Ruminantes” já ultrapassou 20 edições. Acho que, somando tudo, se eu não tiver vendido um milhão de exemplares, estou perto disso. Se o senhor tivesse ficado em Goiás, como ficaram Bernardo Elis, Carmo Bernardes e Eli Brasiliense, o senhor teria conquistado o prestígio nacional e internacional que conquistou? Acho que seria mais difícil. Não me considero melhor escritor que eles, no entanto obtive um reconhecimento maior. Com quantos anos o senhor saiu de Goiás? Fui para o Rio de Janeiro com 20 anos. Ingressei na antiga Faculdade Nacional de Direito, me formei e passei a atuar na imprensa. O que motivou sua ida para a Inglaterra? Vi um anúncio em jornal informando que a BBC de Londres precisava de redator e tradutor para seus programas transmitidos em português. Fiz o teste, passei e fui para Londres. Quando cheguei lá, a guerra estava quase acabando. Tinha planos de ficar apenas um ano. A princípio só pensava em voltar. A vida numa Europa recém-saída da guerra era muito difícil. Mas acabei ficando cinco anos em Londres. Voltei em 1949 e retomei meu trabalho de jornalista. Em quais jornais o senhor trabalhou? O Globo foi o primeiro jornal em que trabalhei depois da minha volta. Fui, em seguida, para a Tribuna da Imprensa e, depois, para Seleções do Reader's Diggest. Trabalhei em Seleções até 1971, quando sua edição em português deixou de ser feita no Brasil para ser feita em Portugal. O senhor só publicou seu primeiro livro, “Os Cavalinhos de Platiplanto”, aos 44 anos. Quando que o senhor começou a escrever? Desde muito jovem, quando ainda estudava no Lyceu, em Goiás. Na década de 50, cheguei a mandar três contos meus para uma revista. Eram contos regionalistas. Mas, depois que já tinha entregue os contos, me arrependi. Peguei os originais de volta, dizendo que precisava dar uns retoques importantes e destruí todos eles. Quando fui para o Rio, fiquei briquitando, como se diz aí em Goiás, lutando para ganhar a vida, e acabei adiando um pouco a literatura. Comecei a publicar só em 1958, num suplemento literário do Jornal do Brasil Publiquei alguns contos lá. No ano seguinte publiquei “Os Cavalinhos de Platiplanto”, pela Editora Nítida, que foi muito bem recebido pela crítica. Quais os seus autores preferidos, principalmente durante seu período de formação? Havia um gabinete literário em Goiás que me possibilitou travar contato com os clássicos da literatura. Li muito Machado de Assis. Entre os estrangeiros modernos, fiquei entusiasmado com J. D. Salinger. Li muito Guimarães Rosa, sem dúvida um grande criador, um gênio. Nem tanto por “Tutaméia”, que não me agrada muito, mas pelo “Grande Sertão: Veredas”, as novelas de “Corpo de Baile” e “Primeiras Estórias”. Que avaliação o senhor faz da crítica literária no Brasil? Acho que está faltando urna crítica atuante na imprensa. Quando comecei a escrever, havia grandes críticos que atuavam constantemente na imprensa, como Otto Maria Carpeaux, Agripino Grieco, Álvaro Lins, Antônio Candido. Hoje, a crítica está mais restrita aos meios acadêmicos. Em relação à crítica que é feita por professores universitários, o senhor não acha que, às vezes, ela é técnica demais e acaba se transformando em uma crítica de iniciados? Concordo. A crítica universitária costuma, de fato, ser muito hermética, escrita numa linguagem para iniciados. Muitos professores ficam obcecados com essa coisa de significante e significado e se esquecem que, na literatura, o prazer é um princípio. Essa crítica não pode acabar surtindo um efeito indesejado, fazendo com que os alunos dos cursos de letras percam o gosto pela leitura? Acho, às vezes, que essa crítica muito esquemática dos cursos de letras pode até afugentar o aluno do convívio com a literatura. Muitos professores que se debruçaram sobre a minha obra encontram significados que nunca foram sequer imaginados por mim. Claro que algumas dessas interpretações procedem, mesmo não tendo origem numa intencionalidade do autor. Mas há aquelas que não se encaixam na obra. Há umas doze teses de mestrado sobre minha obra, em todo o Brasil. Uma das análises mais sutis que já fizeram dela é a de José Fernandes. Sempre que sou convidado a dar algum depoimento em universidades, dou uma lida nelas para explicar minha obra com as palavras dele. O senhor já escreveu poesia? Nunca escrevi poesia. Gosto apenas de ler Carlos Drummond de Andrade, Henriqueta Lisboa, Cecília Meireles e, principalmente, Jorge de Lima. Entre os estrangeiros, leio -muito W. H. Auden. De T. S. Eliot não gosto muito, o hermetismo dele, cheio de citações, não me agrada. O senhor não citou João Cabral de Melo Neto entre seus poetas prediletos. Parte da crítica o coloca ate mesmo acima de Drummond em qualidade. Não concordo. Acho sua poesia muito seca. Prefiro a musicalidade de Jorge de Lima, que, para mim, é um dos maiores poetas que o Brasil já teve. Releio sempre “A Invenção de Orfeu”. É um grande livro. Por que o senhor nunca quis entrar para a Academia Brasileira de Letras? Não é do meu feitio. A Academia não me atrai. Entendo que há pessoas que gostam dela, respeito essas pessoas, já fui até sondado para entrar na Academia, mas nunca quis aceitar. A vida literária não o agrada? O senhor não tem grandes amigos escritores? Tenho grandes amigos que não são escritores. Entre os escritores, sou muito amigo de Autran Dourado, João Antônio e Antônio Callado. Nós nos encontramos sempre, para tomar um chope, conversar, mas literatura não é nosso assunto preferido. É um pouco chato falar de literatura. Preferimos comentar sobre política ou outros assuntos variados. Em quem o senhor votou na última eleição? Votei no Lula. O senhor não acredita no Plano Real? Tenho minhas desconfianças. E elas são alimentadas por pequenos detalhes. Por exemplo: as primeiras moedas de centavos que foram criadas eram praticamente idênticas às moedas antigas. Isso mostra que quem as criou não estava confiando no plano. Deve ter pensado: "Essa moeda vai ter o mesmo destino das outras, não vai durar muito. Então, não adianta eu me esforçar para criar uma moeda diferente". O que o senhor achou do ministério de Fernando Henrique Cardoso? Espero que ele consiga contornar as influências do PFL. Mas não gostei da criação desse Ministério dos Esportes e da nomeação de Pelé. Foi uma atitude populista, desnecessária. Ele queria ter um negro no ministério, mas acabou sendo preconceituoso do mesmo jeito –– colocou o negro no Ministério dos Esportes.

Playlist Opção

A equipe do Jornal Opção revela, mais uma vez, as músicas que mais têm tocado no nosso radinho. Aumenta o som, Dj! Chitãozinho & Xororó (Participação Especial Fafá de Belém) –– Nuvem de Lágrimas   Foals –– Inhaler Gilberto Gil –– Procissão   Joao Donato –– Ahie   Sam Smith ––Money On My Mind   Jeff Beck –– Sleepwalk   William Elliott Whitmore –– Johnny Law

Machado de Assis e o leitor do século 21

A língua é um ente vivo, logo muda. Dessa forma, aquilo que foi escrito há mais um século se torna estranho ao olhar de um leitor já não acostumado com a linguagem empregada na obra em questão.  Certo? Sim e, por isso, a pesquisadora da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB) Marta de Senna desenvolveu, desde 2008, um projeto para rever a obra do glorioso Machado de Assis (1839-1908). O projeto chamado “Edição dos Romances e Contos de Machado de Assis como Hipertexto”, visa aumentar a compreensão — não apenas linguística como também cultural — das obras de um dos maiores autores brasileiros para os leitores do século 21. Graças a esse trabalho, toda a ficção de Machado está acessível a todos no portal www.machadodeassis.net. Nunca leu? Está esperando o quê?!

Durante duas semanas: amor, morte e paixões no Bougainville

Acontece de 11 a 25 de fevereiro a edição 2015 da mostra O Amor, a Morte e as Paixões. Neste ano, a mostra traz 93 filmes, entre eles os indicados ao Oscar de melhor filme: A Teoria de Tudo; Boyhood - Da Infância à Juventude; O Grande Hotel Budapeste; O Jogo da Imitação; Selma - Uma Luta pela Igualdade; e Sniper Americano, além do indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, o russo Leviatã, um dos destaques da mostra. O filme tem causado polêmica na Rússia de Vladimir Putin, dado as críticas ao governo do país. O ministro da Cultura, Vladimir Medinsky, chegou a acusar o diretor do longa, Andrei Zvyagintsev, de “sujar a imagem do país para ganhar elogios no Ocidente”. É importante dizer que Leviatã foi financiado pelo Ministério da Cultura russo. Uma grande parte dos filmes é inédita em Goiás — 84 —, sendo 21 inéditos no Brasil. A mostra acontecerá no Cine Lumière do Shopping Bougainville.