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Por que um filme goiano roubou a cena na 20ª Mostra de Cinema de Tiradentes

[caption id="attachment_86070" align="alignright" width="300"] "Terra e Luz", filme de terror goiano, foi muito comentado durante a Mostra | Foto: Reprodução[/caption] No sábado, 28 de janeiro, a Mostra de Cinema de Tiradentes anunciou os grandes vencedores da 20ª edição do festival, que reuniu aproximadamente 35 mil pessoas, exibindo 108 filmes de curta, média e longa metragem em 57 sessões, entre os dias 20 e 28 de janeiro, na cidade histórica de Tiradentes, Minas Gerais. Goiás, que teve participação até agora tímida, mas marcante na história da Mostra de Tiradentes — na edição do ano passado, o documentário “Taego Ãwa”, dos irmãos Marcela e Henrique Borela, concorreu na Mostra Aurora e recebeu diversos elogios —, neste ano, foi representado pelo longa “Terra e Luz”, de Renné França, que além de diretor e roteirista, também é professor do curso de Cinema e Audiovisual do Instituto Federal de Goiás, na cidade de Goiás. [relacionadas artigos="85557"] “Terra e Luz” foi exibido no dia 27 de janeiro, em sessão na Mostra Bendita, um espaço reservado a filmes de horror e terror, e que não compõe as mostras competitivas. Bancado com recursos próprios, o filme foi orçado em cerca de R$ 6 mil e construiu sua trama de tensão ancorada numa realidade pós-apocalíptica para tecer uma metáfora ao desfazimento do indivíduo face às pressões do mundo. Apesar dos aspectos filosófico e sociológico presentes, a obra utiliza-se das características do nicho de horror de forma sólida, sem se escorar apenas nos estereótipos óbvios do estilo. Ou seja, este é sim um “filme de vampiro”, mas não só isso. O enredo gira em torno de um homem faminto que vaga em busca de saciedade, mas que precisa lidar com vampiros que saem para caçar durante as noites quentes do cerrado goiano. Nessa jornada, o protagonista vivido pelo ator Pedro Otto não consegue nos convencer de que seja mesmo o herói, afinal, quem precisa sobreviver não tem tempo para se preocupar em corresponder a moldes estéticos de sistemas preestabelecidos. Essa premissa, aliás, se aplica ao próprio filme de França. Situado num contexto de ebulição cultural e cinematográfica em Goiás, “Terra e Luz” fugiu dos sistemas tradicionais de produção, representando o típico cinema de resistência, de reação imediata. Em entrevistas, o próprio diretor ressaltou, por mais de uma vez, a urgência na produção da obra, que não podia depender de intrincados e burocráticos processos de captação para sair do papel. É exatamente por isso que “Terra e Luz” é perfeito para figurar dentre os destaques da Mostra de Tiradentes, que neste ano levantou a bandeira do “Cinema em Reação/Reinvenção na Crise”.

Os vencedores da Mostra
Os filmes do festival foram exibidos dentro de três mostras competitivas, por seis premiações diferentes. A de Melhor Longa pelo Júri Popular, teve como vencedor o documentário “Pitanga” (SP), dirigido pela estreante Camila Pitanga e por Beto Brant. Na categoria Melhor Longa pelo Júri da Crítica, que compõe a Mostra Aurora — o carro-chefe do festival — a vencedora foi a obra “Baronesa” (MG), de Juliana Antunes. O Melhor Longa pelo Júri Jovem, na Mostra Olhos Livres, foi “Lamparina da Aurora” (MA), de Frederico Machado. Na categoria Melhor Curta pelo Júri Popular foi aclamado “Procura-se Irenice” (SP), de Marco Escrivão e Marcelo Mendonça. O Melhor Curta pelo Júri da Crítica, na Mostra Foco, foi “Vando Vulgo Vedita” (CE), de Andréia Pires e Leonardo Mouramateus. E o Melhor Curta, pelo Júri Canal Brasil, foi “Vando Vulgo Vedita”. Uma novidade nessa edição foi o prêmio Helena Ignez, conferido pela primeira vez a título de homenagem a mulheres que tenham trabalhado na produção de obras inscritas no Festival. A primeira homenageada foi Fernanda de Sena, diretora de fotografia em “Baronesa”. Outra homenagem especial dessa 20ª Edição foi às atrizes e diretoras Leandra Leal (estreante com o documentário “Divinas Divas”), e Helena Ignez (já experiente, com um extenso currículo, e homenageada pelo conjunto de sua obra). Esta última, aliás, também nomeou a já mencionada nova premiação em homenagem à capacidade produtiva da mulher no cinema. Sobre mulheres e cinema, aliás, foi bem interessante notar o aumento na produção e participação feminina na edição deste ano — algo que também deverá impactar o mercado cinematográfico em geral, paulatinamente. Dos 108 títulos da programação, 43 tinham presença feminina na direção (algo em torno de 40%). À parte a quantidade produzida, também a qualidade mostrou-se garantida, já que quatro, das seis premiações conferidas, contaram com diretoras premiadas. Confira a lista completa dos vencedores da 20ª Mostra de Cinema de Tiradentes: Melhor Longa – Júri Popular “Pitanga” (SP) - Camila Pitanga e Beto Brant Melhor Longa – Mostra Aurora – Júri da Crítica “Baronesa” (MG) - Juliana Antunes Melhor Longa – Mostra Olhos Livres – Júri Jovem “Lamparina da Aurora” (MA) - Frederico Machado Melhor Curta – Júri Popular “Procura-se Irenice” (SP) - Marco Escrivão e Marcelo Mendonça Melhor Curta – Mostra Foco – Júri da Crítica “Vando Vulgo Vedita” (CE) - Andréia Pires e Leonardo Mouramateus Melhor Curta – Mostra Foco – Júri Canal Brasil (Prêmio Aquisição Canal Brasil) “Vando Vulgo Vedita” (CE) - Andréia Pires e Leonardo Mouramateus 1º Prêmio Helena Ignez Fernanda de Sena - Diretora de Fotografia em “Baronesa” Homenageadas especiais
  • Leandra Leal
  • Helena Ignez
João Paulo Lopes Tito é advogado e estudante de Cinema e Audiovisual

O presidente nem sempre tomou posse quando ainda está de ressaca do réveillon. Saiba por quê

Os presidentes brasileiros no período entre 1946 e 1961 tomaram posse no 31 de janeiro [caption id="attachment_86067" align="alignnone" width="620"] Marechal Eurico Gaspar Dutra, eleito pelo voto popular, foi o primeiro presidente do Brasil a tomar posse em 31 de janeiro | Foto: Planalto Federal[/caption] Carlos César Higa Especial para o Opção Cultural Atualmente, a posse dos presidentes da República acontece no primeiro dia do ano seguinte ao das eleições, mas nem sempre foi assim. De 1946 até 1961, os presidentes eleitos tomavam posse em 31 de janeiro. O primeiro presidente a tomar posse no dia 31 de janeiro dentro do período citado acima foi o Marechal Eurico Gaspar Dutra. Ele foi ministro da Guerra durante a ditadura do Estado Novo e foi eleito democraticamente pelo voto popular. Nota-se que nem todo militar na Presidência foi eleito indiretamente. Getúlio Vargas voltou à Presidência pelo voto direto em 31 de janeiro de 1951, mas não cumpriu o mandato, pois suicidou em 24 de agosto de 1954. A posse de Juscelino Kubitschek, ocorrida em 31 de janeiro de 1956, foi marcada pela crise político-militar que quase impediu a sua chegada ao Palácio do Catete, no Rio de Janeiro (Sede do Poder Executivo antes da inauguração de Brasília em 1960). A primeira sucessão presidencial ocorrida na nova capital federal foi em 31 de janeiro de 1961. Juscelino Kubitschek, eleito diretamente, transmitiu a faixa presidencial para Jânio Quadros, também eleito diretamente. A próxima vez que Brasília assistiria um presidente eleito democraticamente passar a faixa para outro presidente eleito democraticamente não foi num 31 de janeiro e sim no dia 1º de janeiro de 2003, quando Fernando Henrique Cardoso, eleito e reeleito pelo voto direto, passou a faixa para Luiz Inácio Lula da Silva eleito diretamente. O mandato presidencial de acordo com a Constituição de 1946 era de cinco anos. Isso permitiu Juscelino Kubitschek (ou melhor, o poeta Augusto Frederico Schmidt) criar o slogan 50 anos em 5. Se Jânio Quadros não tivesse visto as forças ocultas no fundo do copo de uísque, entregaria a faixa presidencial para o presidente eleito pelo povo em 31 de janeiro de 1966. Juscelino era um dos que desejavam voltar ao Palácio do Planalto. O slogan já estava pronto: JK-65: 5 de anos agricultura para 50 anos de fartura. De novo, slogan do poeta Augusto Schmidt. A posse no dia 31 de janeiro foi rompida pelos militares após o golpe de 1964. Não custa lembrar que o primeiro presidente da ditadura, Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, havia prometido devolver a faixa presidencial para um civil eleito democraticamente no dia 31 de janeiro de 1966. Não só descumpriu a promessa como quebrou uma sucessão de datas que vinha desde 1946. Durante a ditadura, os presidentes militares eleitos indiretamente pelo Congresso Nacional tomavam posse em 15 de março. O mandato dos presidentes fardados tinha cinco anos. Um presidente sem farda, com mandato de cinco anos e tomando posse em 31 de janeiro não faz mal a ninguém. Não precisa bater continência para ninguém, tem tempo para fazer algo edificante para o país e com prazo para enviar os convites para a posse. A posse hoje é no dia 1º de janeiro, quando os convidados nem curaram a ressaca do réveillon. Carlos César Higa é mestre em história e professor na rede particular de ensino, em Goiânia

Exposição comemorativa do centenário de Frei Confaloni

O evento começará nesta segunda, 30 de janeiro de 2017, às 20 horas Terá início às 20 horas desta segunda-feira, 30 de janeiro de 2017, a exposição das obras de Frei Nazareno Confaloni, na Galeria da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), localizada na Área III – Praça Universitária. A exposição permanecerá aberta ao público até 30 de março, nos períodos de 9h a 12h e de 15h às 20h. A exposição é comemorativa do centenário do artista plástico (nascido em 23 de janeiro de 1917, em Grotte di Castro, Viterbo, Itália, e morto em Goiânia, em 1977), sendo resultado de uma iniciativa conjunta da PUC-GO e da Ordem dos Pregadores (Frades Dominicanos). Frei Confaloni mudou-se para Goiânia em 1952, depois de ter vivido os dois anos anteriores na Cidade de Goiás (onde introduziu a técnica do afresco na Igreja do Rosário), a convite do bispo Cândi Penzo. No total, 46 obras estarão expostas. A maior parte é de pinturas a óleo sobre tela. Abaixo, segue um trecho do folder disponibilizado ao Opção Cultural por uma das curadoras do evento, Nancy de Melo. Percebe-se que em sua produção, apresentada na mostra comemorativa Centenário Confaloni, composta do acervo da Ordem dos Pregadores, Paróquia São Judas Tadeu, e da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Frei Confaloni, além de sua linguagem pessoal, desenvolvia obras de cunho didático, com temas próprios do ensino de artes tradicionais passando por temáticas de paisagens, retratos, naturezas mortas, dentre outros. Porém, utilizava técnicas modernas carregando suas tintas de maneira espatulada com policromias e cores contrastantes, ou pinceladas mais livres reforçando as linhas do desenho. Como todo artista moderno, temos na obra de Confaloni a percepção do exercício do desenho que, embora típico da formação de artistas acadêmicos, nunca foi por ele abandonado. A partir de seu traço inicial de desenhos de observação trabalha uma pintura de caráter expressionista, abandonando muitas vezes a ”beleza” ou o simples deleite estético para trazer questões morais ao seu trabalho. Esta confluência de estilos modernos, a liberdade de transitar entre eles, é típica de quem viveu momentos de debate estético e poético no contexto europeu.  

Famosa coreógrafa ministra oficina em Goiânia

A casAcorpO comemora três anos de dedicação à cultura em Goiânia e, para participar da festa, convida a coreógrafa e bailarina Denise Stutz (RJ). Mineira de nascença, carioca de coração, desembarca em Goiânia para participar de duas atividades entre os dias 10, 11 e 12 de fevereiro: a Oficina Corpo Presente, que acontecerá na sexta, 10, das 19h às 22h, e no sábado e domingo, 11 e 12, das 10h às 13h; e no Encontro Con(versado), na segunda, 13, às 19h. Denise Stutz é um dos nomes de destaque da dança nacional desde a década de 1970. É cofundadora do Grupo Corpo, em Belo Horizonte, mas foi na capital carioca que construiu sólida trajetória na dança. Trabalhou com nomes como Lia Rodrigues e Klauss Vianna e, além da experiência com o palco e a cena, se dedicou à pesquisa do corpo. Na televisão, trabalhou para as minisséries "Capitu" e "Hoje é dia de Maria". Serviço: Denise Stutz nos três anos de casAcorpO Programação: Corpo Presente – oficina e vivência Sexta-feira, 10/02 (das 19h às 22h) Sábado e domingo, 11 e 12/02 (das 10h às 13h) Quanto: R$ 200 12 vagas / Inscrições: (62) 3609-8386 ou [email protected] Encontro Con(versado) Segunda-feira, 13/02, a partir das 19h Quanto: Contribuição voluntária Onde: casAcorpO Endereço: Av. 243 esquina com R. 233 n° 1370 Qd. C Lt. 08, Setor Leste Universitário - Goiânia, GO Mais informações: 3609-8386

Uma breve opinião sobre os favoritos ao Oscar (parte 1)

Uma olhada rápida pelos longas que disputam a estatueta nas principais categorias La la Land — É um musical. Nada muito além disso. Musicalmente, é quase impecável, afinal o diretor é músico (como baterista, Damien Chazelle estudou jazz na Princeton High School). Porém, o roteiro é fraco e previsível. Ryan Gosling é Ryan Gosling, um ator médio que representa bem seu papel, mas que não acrescenta. Aliás, ele é uma boa caracterização para o filme em si. Emma Stone está bem e consegue ultrapassar um pouco aquilo que seu papel pede. O final é a única surpresa, não pelos acontecimentos, mas pela forma com que foi feito, isto é, seu processo é mais interessante que o resultado. Longe de ser um "Whiplash", que é um filme de excelência, "La La Land" ganhará o Oscar de Melhor Filme por ser nada mais do que o que se propôs a ser: um filme de Hollywood. Vale o ingresso, mas não conquista. [relacionadas artigos="85503, 85345, "] Fences — Ainda não tinha visto um filme dirigido por Denzel Washington. O resultado é impressionante. O filme, baseado na premiada peça homônima de August Wilson e na qual tanto Denzel quanto Viola Davis também atuaram, é um poderoso drama familiar. O longa tem como palco a casa dos Maxson e como foco o papel centralizador de Troy Maxson (Denzel).  O roteiro é magnífico e o diretor consegue filmá-lo muito bem, alcançando a díficil tarefa de prender a atenção do público em um filme praticamente teatral — é claro que a qualidade dos atores ajuda muito e não falo apenas de Denzel e Viola, mas também dos coadjuvantes Jovan Adepo (Cory), Stephen Henderson (Bono), Mykelti Williamson (Gabe) e a pequena Saniyya Sidney (Raynell), que dá um show de interpretação no final. "Fences" ("Um Limite Entre Nós", em português) é um filme de forte simbologia e só pega seu sentido completo quem presta atenção aos detalhes, a começar pelo título. Não vencerá na categoria Melhor Filme, mas tem chances na disputa pelo Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, visto que Viola está, como sempre, belíssima no filme. Capitão Fantástico  Um ótimo filme. Não tem a produção de "La la Land" e nem poderia ter, dado seu perfil ideológico. Aliás, se podemos falar em uma falha do filme, é justamente certo exagero ideológico. O exagero parece ser proposital, pois serve para dar entendimento ao final do filme, o de que o radicalismo, por mais benéfico que seja em qualquer aspecto, sempre trás más consequências e de que o ideal é ser moderado. Ben Cash, personagem de Viggo Mortensen, entende isso ao final do longa. Porém, às vezes, o filme dá a impressão de perder o controle desse exagero, o que causa mal estar. Isso não tira, entretanto, a força do filme. Viggo Mortensen está bem, mas provavelmente não levará o Oscar de Melhor Ator.

Você conhece Tom Jobim?

Quisera qualquer brasileiro exercer seu ofício com a naturalidade e desembaraço de quem compôs “Samba de uma nota só” e “Samba do Avião” [caption id="attachment_85959" align="alignleft" width="300"] Tom Jobim, o gênio da música, faria 90 anos de idade dia 25 de janeiro | Foto: Carlos Mancini[/caption] Vitor Hugo Goiabinha Especial para o Opção Cultural Um certo cantor de voz muito grave, da cena paulistana da década de 1980, costumava interromper suas apresentações e perguntava muito seriamente para sua plateia: “Você conhece Tom Jobim?” Diante dos sorrisos desconcertados pela pergunta repentina, ele insistia: “Você realmente já ouviu Tom Jobim?... É preciso ouvir Tom Jobim”. Qual brasileiro não conhece Tom Jobim? Jobim é um desses gigantes dos quais é difícil falar algo, dada a responsabilidade, mas é impossível deixar passar em branco a data em que ele completaria 90 anos (25 de janeiro). Seria inútil qualquer homenagem ou tentativa de engrandecer sua formidável obra musical, de forma que gostaríamos apenas de ensaiar, aqui, um mapeamento da sua presença significativa, da sua figura e do seu papel no imaginário da cultura brasileira. Tom não era apenas o “maestro soberano”, como bem lembrou Chico Buarque em “Paratodos”. Era o Tom da ligação profunda com a poesia de Vinícius de Moraes, de Carlos Drummond de Andrade e de Manuel Bandeira. Era o Tom da literatura, ao ler Guimarães Rosa e trazê-lo para sua música em “Urubu” e “Matita Perê”. Era o Tom da política, ao compor “Sinfonia da Alvorada” para a Brasília de JK. Era o Tom da natureza no clamar, no seu último disco, “salvem as flores, salvem a primavera”, em “Forever Green”. Era o Tom do humor refinado e da simplicidade nas entrevistas que concedia. Nos idos da década de 1950, quando o samba encontrou-se com o cool-jazz, originando a Bossa Nova, o Brasil viveu uma vanguarda artística que não conhecia. O novo momento político se misturou com uma belle époque das artes — como se referem os franceses. Jovens talentosos, dados à boemia e à vida noturna, com a cabeça em um projeto de procura da identidade cultural nacional, num momento em que a Semana de Arte Moderna de 1922 já havia aberto as portas para experimentação antropofágica e em que Tom herdava Villa-Lobos. Eram momentos de tensão do pós-guerra, das possibilidades democráticas de crescimento sociocultural e político-econômico, da construção da moderna Brasília. Fatores que ventilavam um esperançoso ar de inserção do país no cenário internacional e que davam ao nacionalismo uma sensação menos tensa comparada ao pesado cenário europeu e mundial. O Brasil aparecia como possibilidade de modernidade e de receptividade e a Bossa Nova era providencial nessa conjuntura. Era um ritmo simpático, leve, beira-mar, mas também da vida noturna, do prazer das conversas ao som do violão, bem próximo da imagem que o país desejava passar para si mesmo e para a cena internacional. Saíamos do nacionalismo-exaltação, às vezes exageradamente orquestrado, de Ari Barroso, para uma versão menos grandiloquente e mais intimista, mais conceitual, mais realista e mais sóbria em seu discurso poético e musical. [relacionadas artigos="85651"] Tom e seus companheiros criaram esse que é um dos estilos musicais populares mais difíceis de interpretar, devido à união de uma cadência rítmica bem específica ao refinamento dos altos e baixos das melodias e a uma harmonia rebuscada (com acordes abertos às sétimas, nonas, décimas-terceiras etc.), mas também receptiva a dissonâncias e experimentações modais. Por um lado, produziram um terreno fértil tanto para o amadurecimento harmônico de nossa música quanto para a recepção de sonoridades externas, por outro, pelo apelo à erudição necessária para o aprofundamento estético, deram esse ar conceitual à música, inexistente nos estilos brasileiros anteriores. A Bossa Nova cumpriu bem seu papel. Mostrou ao Carnegie Hall e ao mundo que o balanço do samba era inventivo, pois estava atento e aberto tanto às influências impressionistas de Debussy e Ravel quanto às tendências mais inventivas do jazz. E ainda revelava um Brasil e brasileiros extremamente desimpedidos, espaçosos e competentes para unir o gingado africano com as harmonias jazzísticas. Talvez um Brasil que mesmo os brasileiros não conheciam. Mas Tom, apesar dos muitos clichês músico-biográficos, transcende a Bossa Nova. Ele não apenas elevou nosso patamar de qualidade, mostrando para nós mesmos que nossa música em nada deve a outros gêneros, como passou a figurar ativamente no nosso imaginário cultural.

Um Tom para cada brasileiro
Em uma das suas últimas entrevistas, Chico Anysio foi questionado: “Há algo que você gostaria de ter feito e não fez?” Sua resposta foi imediata: “Águas de Março”. A sensualidade das curvas que Niemeyer tanto reivindicou estão tão presentes em sua obra quanto nas idas e vindas de “Wave” e de “Garota de Ipanema”. O timbre característico do trompete de Miles Davis reivindica a simplicidade e genialidade em sua interpretação de “Corcovado”. A genialidade de um ofício parece figurar quando, ao observarmos o produto em sua superfície, não compreendemos e não adentramos no tortuoso processo pelo qual ele foi realizado. “A Felicidade”, “Chega de Saudade”, “Águas de Março” (só para citar algumas) parecem ter nascido prontas — sem dor, sem sofrimento — com toda naturalidade. É quase como acreditar num criacionismo, num estalar de dedos, no milagre da criação instantânea e espontânea. Chico Buarque de Holanda, falando de Niemeyer, diz “... quando minha música sai boa, penso que parece música do Tom Jobim. Música do Tom, na minha cabeça, é casa do Oscar”. Chico quis ser arquiteto quando jovem. Tom também. Talvez por isso a sensação dos silêncios e intervalos na Bossa Nova flua de maneira tão natural e arriscada quanto quem caminha pela sinuosidade dos corredores curvos ou pelas as curvas sensuais das mulheres, que Tom e Vinícius com tanto esmero cantaram. É provável que o grande legado de Tom seja essa impressão de espontaneidade e descontração no fazer. (Re)conhecemos Tom na brasilidade desse charme da criação da beleza. Quisera qualquer brasileiro exercer seu ofício com a naturalidade e desembaraço de quem compôs “Samba de uma nota só” e “Samba do Avião”, e ao mesmo tempo falava de passarinhos: e daí sair “Passarim”. Uma dica: “A música segundo Tom Jobim”, de 2012, dirigido por Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim é mesmo um evangelho da nossa cultura: documentário sem cara de documentário, vai ao tom do Tom. Vitor Hugo Goiabinha é doutor em história pela UFG, professor de história na UEG, no Colégio Sagrado Coração de Jesus - Pires do Rio, e na Faculdade Brasil Central-Goiânia

Seis poemas de Goethe traduzidos por Wagner Schadeck

Johan Wolfang von Goethe (1749-1832) é considerado o maior escritor alemão e um dos maiores da história da literatura. É autor, dentre outras obras, do poema dramático “Fausto”

Em seu novo filme, os “vai-idosos” Didi e Dedé mostram que ainda conseguem cativar seu público

Augusto Rodrigues, de 42 anos, e seu sobrinho Pedro Maia, de 16, escrevem, a quatro mãos, crítica sobre os “novos” Trapalhões mostrando as percepções de duas gerações de espectadores

Antonio Callado: entre a utopia e a ironia

Oscilando entre a utopia e a ironia, o que nos legou Antonio Callado? Certamente, um importante painel do Brasil e de seus principais problemas, costurado em excelente prosa

Antonio Callado e Antônio Carlos Jobim em um bate-papo com mais dois Antônios

[caption id="attachment_85750" align="alignnone" width="620"] O escritor Antonio Callado completaria cem anos de idade dia 26 de janeiro | Foto: Marcos André Pinto[/caption] Dia 25, quarta-feira, fizemos uma homenagem a Tom Jobim, que teria completado 90 anos de idade. Hoje, 26 de janeiro, é a vez de outro Antonio, o Callado (este sem o acento circunflexo), autor de “Quarup” e "Madona de cedro", que, se estivesse vivo, completaria cem anos. Aproveitamos então o ensejo para uma homenagem dupla, ou, melhor dizendo: quádrupla. [relacionadas artigos="85651"] No vídeo abaixo, podemos assistir Tom Jobim e Antonio Callado conversando com mais dois Antônios: Antônio Cândido e Antônio Houaiss. O primeiro (dos quatro, o único ainda vivo), um dos grandes críticos literários e estudiosos da cultura brasileira; o segundo: filólogo, tradutor e dicionarista. A conversa passa por diversos temas, desde a etimologia do nome Antônio, até assuntos sobre política, utopias, a arte e cultura brasileira, etc. Em tempo: domingo, dia 29, a edição do Opção Cultural contará com um texto sobre Antonio Callado, bem como com um trecho transcrito do primeiro capítulo de seu Opus Magnum, “Quarup”. https://www.youtube.com/watch?v=IudtNg9-pxA&t=281s

Revista Bula lança livro com seleção de seus melhores textos

Publicação é fruto de uma primeira seleção entre os mais de 10 mil textos do site, que já contabiliza 315 milhões de acessos em mais de 20 países A Revista Bula, veículo que desponta como um fenômeno da internet — tem mais 8 milhões de acessos mensais —, está indo para o papel. Não, a revista não será física. Na verdade, ela está lançando um livro com seus melhores textos. Criada em 2003 pelo jornalista Carlos Willian Leite — que foi editor do Opção Cultural por dez anos —, a Bula conseguiu conquistar leitores por cerca de 20 países, totalizando mais de 315 milhões acessos nos mais de 10 mil textos publicados. Muitos desses textos, aliás, foram compartilhados nas redes sociais centenas de milhares de vezes e alguns chegaram a ser o tema mais comentado na internet, virando memes, gerando vídeos e caindo em domínio público. Assim, o livro é um bom jeito de comemorar os 14 anos de existência da revista. O livro, que será lançado nesta quinta-feira, 26, nos Cinemas Lumière do Shopping Bougainville, é uma primeira seleção de textos que reúne as melhores crônicas e ensaios publicados na revista entre 2012 e 2016. Entre os textos está o ensaio “Virginia Woolf tentou ‘curar’ sua loucura pelo suicídio”, do editor-chefe do Jornal Opção, Euler de França Belém. Ao todo, são 60 textos. Além de Euler Belém, o livro conta também com Jacques Fux, Rebeca Bedone, Edson Aran, Karen Curi, Eberth Vêncio, Rodrigo Campos, Carolina Mendes, Flávio Paranhos, Lara Brenner, Ademir Luiz, Nei Duclós, Ruth Borges, Valdivino Braz, Marcelo Franco, Edival Lourenço, Carlos Augusto Silva, José Carlos Guimarães e Rafael Theodor Teodoro. Serviço: Lançamento do livro “Os melhores textos da Bula” Data: 26 de janeiro de 2017 Local: Cinemas Lumière, Shopping Bougainville, piso 3 Horário: 19h

Machine Messiah é tudo, menos um disco do Sepultura

Segundo álbum com a mesma formação, 15º registro de estúdio da banda brasileira de metal traz bastante experimentalismo e foge da sonoridade conhecida pelos fãs

Tom Jobim: os 90 anos de um dos maiores gênios da música

[caption id="attachment_85658" align="aligncenter" width="620"] Tom Jobim, gênio da música não apenas brasileira, mas internacional, faria 90 anos neste 25 de janeiro | Foto: Otto Stupakoff[/caption] Nesta quarta-feira, 25 de janeiro de 2017, o músico Antônio Carlos (“Tom”) Jobim completaria 90 anos de idade. Para celebrar a data, segue abaixo cinco vídeos do grande músico em momentos de descontração, junto a amigos e parceiros de composição, como Chico Buarque e Vinícius de Moraes. “Eu quase que me cortei” Diz Tom, ao lado de Vinícius de Moraes, ambos já “pra lá de Bagdá”, que quase se cortou na ocasião em que sua esposa quebrou duas garrafas de whisky, na pia, diante dele. Detalhe: repare nos dois amigos cantando (ou melhor, tentando cantar) a música “Pela luz dos olhos teus”... https://www.youtube.com/watch?v=A6MfF4v9ZD0&w=640&h=360 “Chama o Tomzinho pra ajudar…” Durante a festa de entrega dos prêmios do Festival Internacional da Canção, de 1968, vencido pela dupla Tom Jobim e Chico Buarque, com a música “Sabiá”, Chico, entrevistado por Nelson Mota, diz que está um tanto atordoado e diz: “Chama o Tomzinho para ajudar”. Tom, além de parceiro de composição, era também parceiro de copos de Chico, como podemos perceber no vídeo. [youtube https://www.youtube.com/watch?v=4hyKYhn59b4&w=640&h=360]   “É pau, é pedra…” Aqui, Tom e Elis Regina, gravando “Águas de Março”, em meados da década de 1970, em clima de total descontração. [youtube https://www.youtube.com/watch?v=E1tOV7y94DY&w=640&h=360]   “Aqui está um marco da música brasileira...” Tom Jobim foi recebido na Escolinha do Professor Raimundo, em 20 de novembro de 1993, e fez piada  com o fato de fumar charuto (“Esse charuto é de alface, para não poluir”) e com os títulos de suas músicas — que acabam se tornando respostas para questões sobre política, formuladas pelo personagem de Chico Anysio. [youtube https://www.youtube.com/watch?v=SclxJjRQ-xA&w=640&h=360]    “Que é para o rock não entrar...” Mais uma vez com Chico Buarque, Tom, além de tecer elogios ao parceiro, fala também de detalhes de sua vida familiar e acaba revelando que “não é contra o Rock’n Roll”, mas “já mandou fazer um estúdio”, para o “rock não entrar”... [youtube https://www.youtube.com/watch?v=JNafHwjJfBU&w=640&h=360]

Com aposta no humor, Mellow Buzzards divulga vídeo para anunciar primeiro show

Integrantes do grupo estreante se unem a músicos da Sheena Ye e DogMan em convite diferente para a 4ª edição do Diablo Sessions, no domingo (29/1)

13 filmes brasileiros são indicados para o 67º Festival de Cinema de Berlim

Entre longas e curtas metragens, as produções brasileiras disputam os Ursos de Ouro e de Prata em um dos festivais mais importantes do mundo [caption id="attachment_85634" align="aligncenter" width="620"] "Joaquim" concorre ao Urso de Ouro na competição internacional de longas-metragens, a principal mostra do Festival | Foto: Reprodução[/caption] Rui Martins Especial para o Jornal Opção Dos dias 9 a 19 de fevereiro acontece o 67º Festival Internacional de Cinema de Berlim, do qual participarão doze filmes brasileiros, um recorde de participação nas diversas mostras da “Berlinale”. Na competição internacional de longas-metragens, que distribui Ursos de Ouro e de Prata, estará “Joaquim”, de Marcelo Gomes, revivendo a figura de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, num misto de ficção e história do líder da Inconfidência Mineira — a primeira manifestação da consciência brasileira por sua independência. Para a competição internacional de curtas-metragens, cujo prêmio é o Urso de Ouro, foi selecionado “Estás Vendo Coisas”, de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca. O curta, que participou da 32 ª Bienal de São Paulo, tem como foco o mau gosto das músicas bregas que dominam hoje o cenário musical brasileiro, filmado numa discoteca pernambucana. Já na mostra Panorama, dois filmes longas-metragens foram selecionados: “Vazante”, dirigido por Daniela Thomas, e “Pendular”, dirigido por Júlia Murat. “Vazante” revive a época do trabalho escravo dos negros na extração de pedras preciosas em Minas Gerais, fonte da riqueza do Brasil colonial. Na apresentação de “Vazante”, o Festival assinala a falta de memória brasileira, pois até hoje o Brasil não procurou se resgatar das atrocidades dessa época. “Pendular”, por sua vez, mostra as relações entre uma dançarina e um escultor e o significado de suas diferenças artísticas. Um tratamento filosófico de gênero, original, de jovens boêmios à beira da meia-idade. Além desses, a mostra Panorama ainda incluiu outros dois filmes brasileiros: “Como Nossos Pais" (Just Like Our Parents),  de Laís Bodanzky, e "Vênus - Filó a fadinha lésbica”, de Sávio Leite. Na mostra Fórum, está o filme "Rifle", do cineasta Davi Pretto, uma espécie de western gaúcho, mostrando uma luta pela propriedade da terra, de um grande fazendeiro contra um pequeno agricultor. Na mostra Fórum Documentos, está o filme de João Moreira Salles, “No Intenso Agora”, um documentário que reúne cenas da revolta estudantil de maio 68 na França, da invasão da Tchecoslováquia e cenas na China e no Brasil dessa mesma época. Na mostra Geração, dedicada ao cinema jovem, estão três longas-metragens: 1)“As Duas Irenes”, do cineasta Fábio Meira, contando a história de duas meio-irmãs com o mesmo nome e mesma idade, filhas do mesmo pai com mães e níveis sociais diferentes; 2) “Mulher do Pai”, de Cristiane Oliveira, já premiado no Festival do Rio. O filme acompanha o relacionamento entre uma menina de 16 anos e seu pai cego, por quem a garota fica responsável após a morte da avó. A distante convivência do homem com a jovem é conturbada pela presença de uma professora; e 3) “Não Devore o meu Coração”, de Felipe Bragança, que narra uma história de paixão "amour fou" entre adolescentes de 13 anos, ela índia guarani, tendo como pano de fundo a questão da própria identidade e as disputas por terras na fronteira do Brasil com o Paraguai. Ainda na mostra Geração, também está o curta-metragem “Em Busca da Terra sem Males”, de Anna Azevedo.  Na mitologia Guarani, Terra sem males é o lugar onde os índios, enfim, encontram a paz. Nos arredores da cidade do Rio de Janeiro, um grupo indígena sem-terra ergue uma pequena aldeia chamada Ka ́aguy hovy Porã, “Mata Verde Bonita”. Ali, crianças crescem entre as antigas tradições. Por fim, na mostra Talentos, dedicada a jovens, há ainda em fase de produção, o filme “Medusa”, na categoria de horror e sobrenatural, de Anita Rocha da Silveira. Rui Martins estará em Berlim, em fevereiro, como convidado da organização do Festival.