Em concerto especial em homenagem ao Dia Internacional de Combate à LGBTfobia, Orquestra goiana inaugurou o palco principal do festival na quinta-feira (11/5)

Dinho, vocalista e guitarrista da Boogarins, abusou das jams e viagens vocais ao longo do show | Foto: Bruna Aidar/ Jornal Opção

O público chegava aos poucos. Passaram na quinta-feira (11/5) de noite gratuita, com ingressos retirados com antecedência, pela Esplanada JK do Centro Cultural Oscar Niemeyer (CCON) 5 mil pessoas desde a abertura dos portões, às 18 horas, até a madrugada de sexta (12), quando o DJ Nevermind assumiu o Palco Chilli Beans, o principal do 19º Festival Bananada.

[relacionadas artigos=”94599,94750,94716,95451″]

E as reações foram diversas à apresentação da primeira atração da noite. A Orquestra Filarmônica de Goiás (OFG) preparou um concerto especial com o tema do filme Chicago (F. Ebb e J. Kander), um medley de temas da série James Bond (J. Barry), a canção All You Need Is Love (Beatles), Dancing Queen (ABBA), tema de West Side Story (L. Bernstein) e Live and Let Die, do The Wings, composta por Paul McCartney e Linda McCartney.

Era noite da diversidade. E a Orquestra homenageou o Dia Internacional de Combate à LGBTfobia (17 de maio) na apresentação. Olhares atentos de casais que dançavam, famílias que prestavam atenção em pé, grupos de amigos sentados no chão, crianças que brincava na grade em frente ao Palco Chilli Beans e até cachorros que corriam pela pista de skate perto do local do concerto.

O tema do filme Chicago já havia encantado muitos observadores atentos quando o medley de músicas da série cinematográfica James Bond ganhou espaço no repertório dos excelentes músicos, habituados a se apresentar na parte interna do Palácio da Música, no CCON, com boa acústica. A proposta do maestro Neil Thomson de popularizar a música clássica em Goiás com apresentações mais populares, com músicas mais conhecidas, parece ter dado certo.

O público fez as vozes de músicas como Dancing Queen, Live and Let Die e All You Need Is Love. E aplaudiu bastante quando a Orquestra repetiu a execução impecável de Dancing Queen. Se em algumas partes havia uma divisão entre aqueles que não sabiam bem a hora de aplaudir os músicos, o maestro ajudava a plateia com intervalos para receber a saudação dos presentes com os instrumentistas em pé ao lado de Neil Thomson.

Nem a Orquestra fugiu do padrão de credenciamento exigido de todos os artistas que passaram pelo Bananada neste ano. Cada um dos músicos estava com a pulseira vermelha no palco enquanto tocava. Mesmo com a pulseira vermelha, a fotógrafa da Filarmônica foi comunicada que não poderia ficar na parte reservada à imprensa e produção do festival entre o palco e a plateia.

Depois de ser retirada da área em frente ao palco, na qual fotografava a Orquestra, ela e outros fotógrafos e jornalistas tentavam entender os critérios adotados na primeira noite no CCON para entrada de pessoas na frente do palco. Um cartaz impresso orientava os seguranças a permitir apenas quem tivesse crachá de produção escrito “acesso livre” e pulseira preta da produção a ser autorizado a passar. E por isso muita gente precisou passar várias vezes na frente do público e atrapalhar quem via o concerto para tentar registrar as melhores fotos possíveis e vídeos da apresentação.

A primeira informação dada pela produção do festival era a de que a medida teria sido adotada para impedir que o fosso (pit) estava restrito ao pessoal que trabalhava para o Bananada pela confusão de pessoas nos shows principais da edição de 2016. É bom lembrar que o pit só ficou lotado de gente que dançava e esbarrava em fotógrafos e jornalistas porque foi autorizada pelo festival a entrada de convidados e patrocinadores que atrapalhavam quem estava ali para trabalhar, além de outros com pulseiras de imprensa e que não cobriram o Bananada.

Micareta do rock

Voltando aos shows, a goiana Rollin Chamas se apresentou em cima de um trio elétrico no canto esquerdo do CCON, em frente à área reservada para o ainda fechado Palco Skol, que revesaria as atrações principais no final de semana com o Palco Chilli Beans. Às 22h30, Fal e companhia começaram seu show em um espaço muito escuro do festival.

Acompanhados por um grupo fiel de fãs, Adalgisa fez a festa do seguidores da banda. As letras irônicas e a típica diversão ao vivo continuou com o vocalista Fal, que jogava para os foliões roqueiros bandeiras de Goiás com o lema “Sou goiano e foda-se” escrito. Ninguém seguiu o trio, que foi impedido pela gestão do CCON de transitar pela Esplanada JK. Havia um risco de acidentes, principalmente pela largura apertada entre o prédio do Museu de Arte Contemporânea (MAC) de um lado da passagem para a plateia e o bar, do outro.

Com o caminhão estacionado, a Rollin Chamas protagonizou bons e divertidos momentos com outros desencontrados. As músicas novas, na tentativa de renovar o repertório da banda, não foram tão bem recebidas por grande parte do público, que aparentava uma apatia assustadora às novidades do grupo.

Mas canções como É O Sal e Calango renovaram o entrosamento típico entre músicos e fãs. Não teve churrasco dessa vez, mas teve uma sequência de discursos de Fal. “Eu nunca toquei em trio elétrico, estou me sentindo a Ivete Sangalo”, brincou. Em outro momento, o vocalista acariciou o público com elogios. “Aqui está cheio de cabeça que pensa. Porque cabeça que não pensa é cabeça de alho. Tem que pensar senão não vai mudar”, falou Fal antes de puxar a música Revolução.

“Vai sair um disco novo não sei quando. Pode ser um disco voador ou um disco de carne.” Aí veio uma música questionável em sua qualidade que falava sobre abraçar o planeta. Mas a banda recuperava a animação com velhas canções como O Dia Em Que a Casa Caiu. Era só volar para sons como Estão Vendendo Jesus que grande parte do público cruzava os braços ou saía para beber e conversar. “A gente toca pagode. God em inglês é Deus. Então a gente toca ‘pa’ Deus.”

Carlos Miranda e a volta da Boogarins a Goiânia

O mestre de cerimônia dos palcos principais no final de semana, o produtor musical Carlos Miranda, ex-jurado do reality show Ídolos (SBT) e responsável por lançar bandas que estouraram nos anos 1990 como os Raimundos (DF), convidou o sócio fundador do Bananada, Fabrício Nobre, para ajudá-lo a anunciar a última banda da noite de quinta. “Hoje foi uma noite de testes operacionais”, revelou Fabrício antes de chamar o quarteto goiano ao Palco Chilli Beans.

Eram 23h30 e Benke Ferraz (guitarra), Raphael Vaz (baixo), Ynaiã Benthroldo (bateria) e Fernando Almeida, o Dinho (vocal e guitarra), abriram o show depois de muito tempo sem tocar em Goiânia, cidade deles, com uma versão da nova faixa A Pattern Repeated On. E como é praxe da banda, foi um revesamento de canções extensões delas em jams que ultrapassavam cinco, dez, 15, 20 minutos de longas pirações instrumentais e vocais.

Em seguida veio Tempo. O verso “A coleira dos homens” virou um mantra repetido inúmeras vezes por Dinho no microfone. 6000 Dias manteve o disco Manual em alta no show com diversos riffs esticados em repetições além das gravações. E o público ia junto nos alongamentos sem qualquer reclamação. “Não há nada como o Sol daqui/Mesmo sem mar” deram tom à bela Benzin, composta em parceria com Salma Jô e Macloys Aquino, da Carne Doce.

Benke avisa: “Essa versão ninguém ouviu”. E veio um lado mais Tame Impala na versão ao vivo de Olhos, que deu espaço para a queridinha Doce, do primeiro disco. Antes, Dinho brincou que ainda estava aprendendo a letra da música. Depois do verso “Vem, mas vem sem pensar em voltar“, o vocalista emenda um “eu vou” por vários minutos até o final da música.

A Boogarins é tão desligada do que esperam dela ao vivo que se dá ao luxo de fazer uma bela jam instrumental no meio do show sem se preocupar com tempo ou o que deveria ser esperado da banda em um festival. Benke e Raphael revesam o vocal na belíssima Cuerdo, talvez a melhor música do disco Manual. Quando Dinho começa a cantar “Menina perdida no céu azul” a plateia se contagia com uma euforia incontrolável. Era a vez de Lucifernandis.

O show entra em uma energia mais calma com direito a muitas distorções, sintetizador, repetições vocais e ruídos retirados dos pedais das guitarras, sem contar a variação na bateria que encantava o público. Já era 0h46 quando Raphael se despediu do Bananada ao dizer “valeu, cidade linda”.

Mas a banda voltou com Infinitu, que foi transformada em uma longa música, quando originalmente ela teria apenas 3 minutos e 10 segundos. E Dinho se solta no vocal e entoa outro mantra, esse ainda mais longo e repetido por muitos minutos: “Esse gosto louco de viver solto só com você”. No fim do show, o vocalista brinca com a rotulação fácil e retardada da cidade em terra de sertanejo ao cantar o verso “Ei Goiânia!“, da música Rumo à Goiânia (1997), da dupla Leandro e Leonardo.

E é justificável a brincadeira, já que a banda é de Goiânia e talvez a cidade das quais ela tocam com frequência seja a capital goiana a qual a Boogarins tem se apresentado menos desde 2015. O público, que havia sido convidado a participar de uma estreia para lá de bonita da Orquestra Filarmônica de Goiás no Bananada com ingresso gratuito, ganhou uma belíssima volta da Boogarins aos palcos da cidade.

Estrutura e conforto

Depois de algumas conversas e reclamações, a imprensa, fotógrafos e produção teve liberdade para trabalhar sem qualquer impedimento ou dificuldade durante o show da Boogarins. Restava saber como seria essa relação com quem estava ali para trabalhar na sexta-feira (12/5).

A primeira amostra do que viria a ser o festival no final de semana na Esplanada JK do CCON deixou uma boa impressão. Os banheiros limpos e que nem pareciam os químicos sujos e fedorentos de todos os festivais em qualquer cidade, uma quantidade inesperada de caixas, o que evitou filas, um bar bem grande e fácil de achar e que deixava a caminhada entre um palco e outro mais tranquila – era só parar no meio do caminho e pegar uma bebida antes do próximo show.

A estrutura da sala de imprensa serviu para todas as demandas de última hora de quem trabalhava – ação inédita no Bananada. Dava para entender um pouco como funcionaria o espaço dos palcos menores, Spotify e Slap/El Club. Além da área de alimentação com boas opções de comida.

E ainda tinha mais coisa para ser vista durante o final de semana, como a sala bem estruturada do The Flash Weekend Tattoo e Meninada no Bananada. Para o público, a organização desde a chegada ao estacionamento até o momento do último show pareceu a melhor de todas as 19 edições do festival.

Reunião de amigos no Complexo

Na hora que o Palco Chilli Beans era montado para o DJ Nevermind (DF), era hora de correr para o Complexo Estúdio & Pub, no Centro, e pegar o inicinho do bom show da indie Clearance (Estados Unidos), que animou integrantes de outras, bandas, gente da produção e curadoria do festival, além de jornalistas e convidados. Parte do público que estava no CCON, mas em número bem reduzido, animou de sair do Oscar Niemeyer e encarar mais dois shows já depois das 2 horas de sexta.

Boas linhas de guitarra, vocal limpo e bateria reta e sem poupar porradas. A Clearance deixou uma boa impressão e ainda poderia ser vista no sábado (13). Depois, às 3 horas, veio a Hierofante Púrpura e seu showman pirado Danilo Selvagi, que revesava pulos aos vocais, teclado e guitarra durante o show. Em alguns momentos da apresentação, que fez parte do showcase do selo Balaclava no Bananada, parecia que o chão cairia de tanto tremer com o impacto dos saltos de Danilo.

Em turnê com o álbum Disco Demência (2016), a Hierofante Púrpura, que é composta também pelos músicos Helena Duarte no baixo, Gabriel Lima na guitarra e Rodrigo Silva na bateria. A diversão pós-punk psicodélica despirocada teve até o momento tirar selfie do vocalista no meio do show, o que seria visto novamente no festival durante o show do rapper paulistano Mano Brow no domingo (14).

“A gente veio de carro de Mogi das Cruzes”, contou Danilo. Ele agradeceu ao “povo de Goiânia” e recordou da primeira vez que a banda se apresentou na capital goiana, em 2009, no Metrópolis. Eles brincam nas letras sobre ser a banda do ano e deixaram uma boa impressão no Complexo, o que rendeu pedido para tocarem mais músicas.

“Até a próxima oportunidade. Espero que seja logo porque tocar em Goiânia é foda”, disse o vocalista. Aí veio a responta do baterista: “É amanhã (sábado)!”. Entre um som mais punk e outro mais pro lado do reggae, Danilo agradece mais uma vez a presença de todos. “Comam muita banana para reforçar no potássio.”