Crônica

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CRÔNICA
Você vai sentir saudades

Se você é uma mãe atenta e amorosa, você vai sentir saudades.

crônica
Aspectos podres no pálido ponto azul

Pastor dono da igreja, astuto que era, começou a trabalhar o campo vagarosamente, semeando palavras aliciantes, e o rebanho de dizimistas foi crescendo, crescendo... O homem bamburrou com a burrice dos fiéis. Ficou muito rico

CRÔNICA
A poesia é a pintura sem palavras

Platão, discípulo de Sócrates, não tinha simpatia pelos poetas, achava-os nocivos à sociedade; em “A República”, ele expulsa os vates de Kallipolis, cidade idealizada, em que as artes deveriam trilhar o caminho ético-político

CRônica
Fale de mim em suas crônicas

Bosque dos Buritis é um diamante verde no coração de Goiânia. A biodiversidade por lá é rica. Há um porém: no interior da sua mata, existem alguns bichos que utilizam certos cantinhos de lá para fazer sexo e ainda deixam esses locais poluídos de preservativos usados e outros resíduos, que, de modo algum, deveriam ser deixados no parque

CRÔNICA
Os ossos não dizem nada sobre os mortos

Coveiro estava com luvas longas e recolhia os ossos num saco plástico preto, e isso no maior sossego, como se estivesse ensacando um produto qualquer. Uma penca de banana, um punhado de batatas

Crônica
Não gosto de poemas que se demoram diante do espelho

Há versos excelentes construídos com palavras simples, porém palavras bem escolhidas dentro do campo da simplicidade. Em seu romance “A Hora da Estrela”, Clarice Lispector disse que a obtenção da simplicidade só é possível “através de muito trabalho”

CRÔNICA
A mulher só se compadeceu dos bichos que morreram no incêndio; das árvores não

O poder público, em suas ações de combate a incêndios, lembra o personagem Dom Quixote, que, após se embriagar de novelas de cavalaria, vestiu uma armadura antiga, pôs um elmo enferrujado com viseira de papelão, montou num esquálido cavalo e saiu numa missão (impossível) de consertar o mundo

NOS DETALHES
A mãe mais bonita da escola fracassou, gente!

Eu, definitivamente, não sou a mulher que fica sem lavar o cabelo

CRÔNICA
O chupim é um pássaro malandro: não choca seus próprios ovos

É tido como parasita, pois transfere a responsabilidade de chocar e criar os próprios filhos para outras espécies de aves e some no mundo; já vi sabiá-poca e sabiá-do-campo tratando de um filhote de chupim numa boa, no entanto já presenciei também um pequenino canário-da-mata penando na tarefa de alimentação

CRÔNICA
Alguns “amigos” estão se lembrando de mim nas eleições

Só vou mesmo ficar preocupadíssimo com esquecimento quando não me lembrar mais do meu nome, quando ver florada de ipê, cega-machado, jacarandá-mimoso, cássia-javânica e outras árvores e plantas e não me recordar do nome delas, quando não souber mais distinguir um chupim de um pássaro-preto tanto na plumagem como no canto

CRÔNICA
Horário eleitoral virou cabaré de cego

O guru Pablo Marçal certamente não conhece um ditado popular que diz que “Esperteza, quando é muita, vira bicho e come o dono”. Para ele, Ayrton Senna foi um piloto sem nada de extraordinário: “O Senna não pilotava helicóptero igual eu. (...) O Senna não escreveu 45 livros” (como Marçal). O grande filósofo e escritor francês do século XVI Michel de Montaigne só escreveu “Ensaios”

CRÔNICA
Ai de ti, Parque Altamiro

Ouvi no restaurante, enquanto almoçava, que agosto é o mês do desgosto, relato relacionado aos incêndios diversos ocorrendo no país. Senti vontade de fazer uma observação à mulher, dizendo-lhe que agosto é também tempo da florada de ipês, cega-machados, mangueiras... Não desperdicei as pérolas e fiz delas um colar para adorno do meu silêncio. E outra que a conversa não era comigo

Nos detalhes
Todo homem precisa de uma mãe

Por Catherine Moraes

Essa música, é, com certeza, a que eu mais ouvi depois que o Matheus nasceu. A voz dos Veloso tocou baixinho no quarto dele e mais que isso, tocou grandão no meu coração. Eu, que nunca quis ser a mãe de um homem, tô aqui apaixonada pelo presente que Deus me deu. Quando a Cecília nasceu, uma Catherine morreu pra nascer outra que nunca mais seria igual. Agora, outra versão surge e o mistério é se reconhecer. Todo homem precisa de uma mãe. O que eu não sabia, é que eu também precisava de você.

Eu chorei ao descobrir a gravidez. Chorei de novo quando peguei sozinha o teste de sexagem fetal e li masculino. Deus, eu seria capaz de ser mãe de um homem? Lá no fundo eu sabia a resposta. Claro que sim. E foi aí que conversando sobre isso, uma amiga me disse: “Que bom que você vai ser a mãe de um menino. É de mães como você que homens precisam. É a certeza de que vamos mudar as próximas gerações”. Será? Será que em um mundo machista e homofóbico com homens que não conseguem fazer serviços básicos ou assumir responsabilidades pequenas e são pra sempre chamados de meninos, que eu, euzinha conseguiria fazer diferente?

Mas aí o Matheus nasceu e eu descobri o óbvio: antes de ser um homem, ele é um bebê. Não tem um segredo enorme. E se eu fizer o mesmo que eu fiz com a Cecília? Se eu encher ele de amor, afeto e dar a oportunidade de ele administrar os próprios sentimentos. E se eu ensinar que depois de comer o prato precisa ir pra pia e que a gente precisa ser gentil com as pessoas? E se ele perceber que na nossa casa não existem serviços de homem ou de mulher e que quando o pai e a mãe, exaustos, param de trabalhar, eles se unem para uma faxina. Será que ele aprende olhando? vivendo?

Barriga, dois irmãos.

Eu sempre quis ter dois filhos, desde quando adolescente eu brincava imaginando o futuro. Eu queria casar, queria ser mãe, ter uma família, viajar, me formar. E eu sempre me imaginei mãe de menina: brincar de boneca, maquiagem, usar as mesmas roupas e sapatos como eu fiz com a minha mãe, com a minha irmã. Mas eu achava que não ia rolar, que essa vontade era grande demais pra acontecer.

Escolhemos o nome Matheus quando engravidei pela primeira vez. Se fosse menina, a gente escolhia depois. Lá no fundo do meu coração, eu sonhava com a minha garota. E ela veio, confirmada com 12 semanas: Cecília. Pronto, eu que cresci numa casa cheia de mulheres, trazia mais uma ao mundo. Meu sonho estava ali no meu colo e hoje está completando 9 anos.

Mas eu queria outro filho, outra filha. Guardei roupas que amarelaram. Perdi as contas da quantidade de testes de gravidez. Escolhi o nome: Maria. E levei 6 anos para tentar e pra desistir dela. Doei tanto, vendi roupas, sapatos e enxoval para depositar o dinheiro na poupança da Cecília. Refiz a rota, mudei de planos, marquei pra colocar um DIU. Criei uma nova lista de desejos. E foi aí que Matheus apareceu. Eu precisei desistir da Maria para que o Matheus viesse. E que bom que ele veio.

Eu sei que o amor por um filho nasce de diversas formas. O meu nasceu na barriga de ambos, mas se fortaleceu ali, no parto. Mas ainda não era um amor completo. A gente ama ainda mais quando se conhece, quando se entende. Comigo essa regra também funciona para as crianças, as minhas crianças. Eu amo os dois a cada dia mais. E quando parece que não cresce mais, esse amor transborda.

Que você, meu menino, seja um homem digno de orgulho e que eu seja a mãe que você precisa e merece! Te amo!

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Eu quero minha cama (mãe) de volta 

Crônica
Humor e jovialidade para esconder o despreparo e os interesses…

Tanto nos tempos machadianos como agora, a hipocrisia da seriedade, do moralismo, do bom cristão, é algo abundante; em Mateus 23, os hipócritas são chamados de “sepulcros caiados”

CRÔNICA
Certamente a rolinha diria que foi Deus que a salvou

O caburé, menor corujinha do mundo, é uma ave de rapina em cujo cardápio entram pequenas aves, roedores, lagartos, pequenas cobras. Dias atrás, apareceu um na minha sacada e levou uma rolinha-roxa para sua ceia. Saí na sacada e o vi com a rolinha presa em suas garras na ponta de um poste. Eu tinha acabado de colocar comida para ela e outras iguais e também para outras de espécies diferentes: avoantes e periquitos-de-encontro-amarelo. Agora também está vindo chupins, que é uma ave malandra, que bota seus ovos em ninhos de outras espécies e cai no mundo.

Acredito que essa corujinha deve morar perto da minha casa, pois a ouço cantando frequentemente à noite. Seu canto é uma sequência de assobios. Já fotografei uma após capturar um calango, que comia mosquitos que se alimentavam das frutas de calabura caídas no chão. Os pássaros frugívoros fazem a festa na época de frutificação, já na floração, a festança é dos insetos, principalmente das abelhas. Em alguns parques de Goiânia, há calabura. Eu também faço a minha festinha com as frutas num pé que existe no Bosque dos Buritis.

Entre as rolinhas que escaparam da investida do caburé, uma acabou entrando na minha sala e pôs-se a voar desesperada batendo na parede sem encontrar a porta pela qual entrou. Inclusive derrubou o poeta e filósofo Thoreau da parede, ou melhor, uma foto do bardo americano. Ainda bem que a moldura não quebrou. Para evitar que ela se machucasse a ponto de não conseguir mais voar, entrei em ação: consegui pegá-la jogando sobre ela uma toalha de banho quando estava no chão. Senti, em minha mão, seu coraçãozinho batendo acelerado. Recomendei-lhe calma enquanto a segurava, dizendo que tudo estava bem. Levei-a até a sacada, depois de alguns instantes, recobrou as forças, bateu asas e foi embora.

Estou contando esse episódio da rolinha para relacioná-lo ao trágico acidente aéreo no qual morreram 62 pessoas, ocorrido recentemente em Vinhedo, cidade paulista. Um homem que não conseguiu embarcar, por ter chegado atrasado, disse, numa matéria televisiva, que foi Deus que o salvou da morte. Será mesmo? Tenho dúvida. Conversei com uma amiga de trabalho, que me disse ser espírita, sobre esse entendimento do homem quanto ao milagre que recebera. Perguntei-lhe onde estava a racionalidade de Deus em salvar um e deixar que 62 morressem. Me respondeu que os 62 fazem parte de um carma coletivo: que é quando, ao mesmo tempo, um grupo de pessoas morrem num evento ou tragédia, isso pelo destino delas de virem ao mundo e se defuntarem para marcar um fato ou acidente.

O fato de poder nos moldarmos por nossas escolhas, pela construção dos nossos pensamentos, isso me deixa incrédulo em relação ao destino, atrás do qual está o fato de que a morte tem a finalidade de expiar erros de nossas vidas anteriores. Se o conjunto da nossa vida é decorrente de forças exteriores e não vindas de nossas escolhas, para que então fomos dotados de faculdade mentais? Há um bom tempo, coisa de muitos anos, um jornalista goiano, que era espírita, falou num artigo que alguém certa vez o perguntou por que uma determinada criança nasceu com anomalia física, e ele respondeu que foi em virtude de erros de outras vidas daquela criança. Não consegui digerir a resposta dele. A subjetividade religiosa constrói verdades que até Deus duvida e a razão desconhece totalmente.

Sobre a rolinha que escapou da fome do caburé, penso que, se ela pensasse (numa capenguice subjetiva), certamente diria que foi Deus que a salvou e assim deixou a outra para encher o bucho do caburé. Não passo por tal questionamento metafísico, minha toada de vida é singela. O que sei mesmo (parafraseando Fernando Pessoa), é que quero uma casa no cimo de um outeiro, haja vista que meus olhos foram empurrados para longe de todo o céu; o horizonte me foi escondido, e isso pelo fato de as casas da cidade terem fechado minha vista à chave.

Rolinha-roxa, que, na fuga da coruja-caburé, entrou no apartamento | Foto : Sinésio Dioliveira

Sinésio Dioliveira é jornalista, poeta e fotógrafo da natureza