Crônica

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CRÔNICA
O canário pagava o pato para salvar a vida dos mineradores

Luís da Cunha Meneses, era o “Fanfarrão Minésio” nas “Cartas Chilenas”: um poema que satiriza a administração de Menezes, apontando-a como corrupta; antes de governar Minas, ele governou Goiás de 1778 a 1783

Crônica
A maternidade é solitária

A maternidade é solitária. Eu falei essa frase pra mim em voz alta outro dia enquanto amamentava o Matheus no quarto escuro ao som de uma música de ninar. Não importa quantas amigas mães você tenha. Não importa se a sua rede de apoio é maravilhosa e se seu marido, pai da criança esteja presente e faça o papel dele de forma exemplar. Ainda assim, a maternidade é solitária. Pode ser mais fácil, pode ser mais leve, mas lá no fundo da gente, é solitário. E eu não tô dizendo que é triste, nem que o cansaço é maior que o amor. Não. A minha maternidade é o meu maior sonho da vida e eu sou muito feliz, mas a maternidade é solitária.

Ah, Catherine, você super romantiza a maternidade. Sim. Eu amo ser mãe. Eu não gosto de lavar louça. Eu odeio tirar a roupa do varal. Mas se eu pudesse, eu brincava com criança o dia inteiro. Eu não lembrava mais como era ser mãe de um bebê. A Catherine de 25 anos é diferente da de 34. Agora são dois filhos e não mais um só. Demandas diferentes, necessidades diferentes, empregos que me exigem mais, mais contas, mais boletos. Meu marido é muito mais presente, mas a nossa casa agora tem três banheiros para lavar. Mudou tudo.

Há umas semanas, eu exausta, muito exausta, me vi tendo uma crise de ansiedade, respirando devagar, tentando me controlar e o choro entalado na garganta. A introdução alimentar é, pra mim, mais difícil que a amamentação. E agora eu tô tentando criar uma criança sem telas porque reeducar a mais velha pra ficar menos tempo no celular e na TV não tem sido fácil. Uma sensação de esgotamento, incapacidade e lentidão tomando conta de mim. No desabafo com uma amiga ela disse a frase que tá me movendo: “Amiga, pra alguns dias, só outro dia”.

Um guarda-roupas lotado de roupas que não me servem. Calças largas depois de perder 14 kg, blusas sem botão que não servem para amamentar, vestidos lindos que não permitem um peito à mostra. Falta grana pra comprar roupa nova, falta ânimo pra arrumar um cabelo ou passar uma maquiagem, falta vontade de sair de casa e sobra um imenso desejo de passar o dia num pijama. Minhas amigas estão correndo, trabalhando, indo a eventos, organizando festas e churrascos, e confraternizações e eu só quero ficar no meu quarto, amamentar uma criança com calma, deixar ele comer sem as pessoas pressionando para vê-lo abrir a boca e engolir colheradas de comida. Tem dia que são duas colheres, gente, E tá na média.

Cecília de férias. Num dia eu vou na piscina com ela e no outro eu fico implorando pra ela brincar, pra ela sair do celular, pra ela olhar o Matheus enquanto eu faço cocô, enquanto eu lavo a louça, dobro a roupa, preparo o jantar, termino um texto. Eu sou sortuda. Tem muita gente querendo ajudar, mas lá dentro é como se a mente funcionasse na velocidade normal e o seu corpo não conseguisse acompanhar. Na minha solitude, eu tento só aproveitar cada minuto porque eu sou geminiana, eu tenho uma sede imensa de viver as coisas, eu gosto de ter o controle. Ser mãe muda tudo. Absolutamente tudo.

A boa notícia é que eles não serão bebês para sempre. Vão demandar diferente, serão nossos amigos, vão dividir a conta do restaurante com a gente um dia. A má notícia é que eles crescem e com a experiência da primeira, eu sei que vou sentir falta desses olhinhos que me olham como se eu fosse o mundo inteiro, a pessoa mais importante do universo. É cansativo, é solitário, mas é incrível.

crônica
As ruas mortas de Goiânia fedem a cemitério de mosquitos

Mesmo ainda não estando sentado na cadeira do Paço Municipal, Sandro Mabel já está usando o cetro. Em suas redes sociais, postou que vai fazer um mutirão da limpeza na cidade e jogar duro contra aqueles que fazem descarte irregular de lixo

Crônica
Na enfermidade da saúde pública, as pessoas pobres pagam o preço com a morte

É repugnante saber que vidas vêm sendo ceifadas por falta de o poder público cumprir o seu dever conforme determina a Constituição Federal no artigo 196, o qual, como tudo indica, virou meramente letra morta

Crônica
Um filho te obriga a ir mais devagar

29 de novembro, primeiro dia de férias da escola. Acabouuuuu, grita o Galvão. A mãe tá feliz porque não precisa mais ficar dirigindo e fazendo lanche, e acordando às 5h. Aháaaa, quem disse? Pois a bonita da rotina com um bebê em casa ela dá um tapa na cara da gente. O menino Matheus, no auge dos 6 meses, acordou às 5h como de costume. Naquela hora que a casa inteira levanta e ele brinca com a irmã, vai no colo do pai, espera a casa acalmar de novo. Eu não estava sequer conseguindo manter meus olhos abertos, mas ele estava lá, sorrindo, pulando em cima da gente na cama do papai e da mamãe.

Na primeira reunião do dia, às 9h, eu já tinha trabalhado como uma adulta, arrumado a comida da gata (a pet mesmo, que também mia às 5h pra pedir a comida dela), feito o lanche da Cecília, meu café, coloquei roupa na máquina e tirei o lixo, um monte de fralda de cocô que não deu tempo de tirar ontem. E para conseguir me reunir, Cecília cuidou do Matheus e foi quando eu terminei a reunião que tirei essa foto pensando: Deus, como eu sou sortuda. Porque ser mãe é gritar no meio da tarde e sentir culpa quando eles dormem. É gratidão atrás de eita.

Cecília tem 9 anos e eu já conseguia andar mais depressa. Limpar a casa mais depressa, comer, me arrumar, tomar um banho demorado. Aos 9 anos um filho não te impede mais de fazer coisas de rotina. Quando eu tinha muito trabalho eu pedia para ela esperar um pouco, pegar a comida na geladeira, tomar banho… Eu tinha me esquecido de como um bebê muda tudo. Meu Deus, acho que a gente esquece a introdução alimentar para não desistir de outro filho. É caótico.

Enquanto eu escrevia essa crônica, eu olhava pro macarrão que tá no chão. O que caiu hoje e o que caiu ontem e não deu tempo de limpar. Limpar a comida no chão ou dar banho na criança que tá chorando com sono? Limpar a comida do chão ou trabalhar? Tem que escolher suas lutas, amiga! Saí pra levar a Cecília no ballet, Matheus chorou na volta e me fez gastar nada menos de 3 horas pra chegar em casa, numa chuva imensa. 15h30 da tarde e eu parada numa rua do setor Aeroporto, debaixo de uma árvore cantando Dona Aranha e ninando um bebê no colo. É, um filho te faz pisar no freio. Não tem jeito. É desacelerar e aceitar.

Eu e Cecília gostamos demais de conversar na volta da escola. Outro dia, eu com pressa, não perguntei como ela tinha saído na prova. Ligação, mensagem no WhatsApp, celular tocando e ela me solta: “Nossaaaaaa, queria minha mãe de volta. Você nem me perguntou como eu fui na prova de Geografia….” Eu segurei o riso, pedi desculpas e claro, perguntei da prova. Tem dias que ela me chama pra ver o formato de uma nuvem e minha cabeça tava lá, preocupada com os boletos. Eu amo que duas criaturinhas me fazem pisar no freio porque eu acho tão triste a vida no automático.

A maternidade me ensinou que o hoje passa rápido e amanhã é outro dia, eles aprendem coisas novas, o rostinho mudou. O bebê que não sentava começa a ficar de pé. A menina que aceitava sua opinião quer escolher a própria roupa, não usa mais laço no cabelo e aprendeu a cozinhar. Se você não prestar atenção na prova da escola, ou no vídeo que ela quer que você assista, um dia ela não vai querer te contar mais nada porque você não dá importância.

Eu tenho uma regra clara: se eles pedirem colo, eu paro o que estiver fazendo. Será que vão querer meu colinho pra sempre? Eu me lembro como se fosse hoje de quando chorei no colo da minha mãe em posição fetal depois de não ser aprovada no vestibular. Não existe lugar mais seguro. Eu aprendi que às vezes teremos banhos bem rápidos e colos demorados, mas que todas as fases vão passar. Você se lembrará pouco dos perrengues e sentirá uma saudade imensa de ser colo. Pisa no freio, vai com calma. E esse recado também é pra mim!

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Charlie, 270 quilos, cobrava sinceridade dos alunos em suas redações, mas não mostrava sua cara na aula virtual para esconder sua obesidade

crônica
O fanatismo é a chave da porta do inferno

Francisco Wanderley Luiz caiu no visgo pernicioso das milícias digitais, as quais gangrenam fácil o cérebro dos fracos, alucinando-os de um patriotismo pernicioso

crônica
Não era sujeira sórdida nas mãos dos estudantes, mas sujeira de terra molhada

Observando os alunos envolvidos no plantio de árvores numa área que sofrera incêndio criminoso, enxerguei-os como pequenas sementes sendo semeadas na terra fértil do dever da boa relação com a natureza, cujo benefício maior é estendido aos seres humanos

crônica
A chuva é sêmen bendito que escorre do céu

Escutar chuva para mim é dopamina de alto teor. Vê-la caindo, acompanhada de seu som característico nos telhados e nas folhas das árvores, deixa meu cérebro molhadinho de tanta sensação de prazer e bem-estar

CRÔNICA
Você vai sentir saudades

Se você é uma mãe atenta e amorosa, você vai sentir saudades.

crônica
Aspectos podres no pálido ponto azul

Pastor dono da igreja, astuto que era, começou a trabalhar o campo vagarosamente, semeando palavras aliciantes, e o rebanho de dizimistas foi crescendo, crescendo... O homem bamburrou com a burrice dos fiéis. Ficou muito rico

CRÔNICA
A poesia é a pintura sem palavras

Platão, discípulo de Sócrates, não tinha simpatia pelos poetas, achava-os nocivos à sociedade; em “A República”, ele expulsa os vates de Kallipolis, cidade idealizada, em que as artes deveriam trilhar o caminho ético-político

CRônica
Fale de mim em suas crônicas

Bosque dos Buritis é um diamante verde no coração de Goiânia. A biodiversidade por lá é rica. Há um porém: no interior da sua mata, existem alguns bichos que utilizam certos cantinhos de lá para fazer sexo e ainda deixam esses locais poluídos de preservativos usados e outros resíduos, que, de modo algum, deveriam ser deixados no parque

CRÔNICA
Os ossos não dizem nada sobre os mortos

Coveiro estava com luvas longas e recolhia os ossos num saco plástico preto, e isso no maior sossego, como se estivesse ensacando um produto qualquer. Uma penca de banana, um punhado de batatas

Crônica
Não gosto de poemas que se demoram diante do espelho

Há versos excelentes construídos com palavras simples, porém palavras bem escolhidas dentro do campo da simplicidade. Em seu romance “A Hora da Estrela”, Clarice Lispector disse que a obtenção da simplicidade só é possível “através de muito trabalho”