Por Redação

Segundo Paulo Magalhães (PV), Samuel Almeida teria sugerido que parlamentares têm seus interesses e iriam apoiar Iris quando o prefeito precisasse deles

Se Pilar reclama a certa altura a presença de Saramago como maldição incontornável, talvez interesse muito mais anotar como ela afirma a si mesma biográfica e politicamente
[caption id="attachment_93206" align="aligncenter" width="620"] Jornalista e escritora espanhola Pilar del Río[/caption]
Thiago Cazarim
Especial para o Jornal Opção
Na manchete da entrevista Pilar del Rio: “José foi uma maldição”, que pode ser acessada aqui, publicada no último dia 30, o portal português Expresso produz, apenas como fogo-de-artifício, um conflito José Saramago e Pilar del Río – conflito em verdade, que até mesmo uma leitura superficial seria capaz de desacreditar. Pilar, que se nega a ser uma função de Saramago (“Não gosto que me chamem ‘viúva de’ porque ninguém me chamou ‘mulher de’ enquanto Saramago foi vivo. [...] Nunca fui a mulher de Saramago nem serei a viúva dele, por respeito a Saramago e a mim própria.”), Pilar del Río, cuja forma sintática geral “ser-X-de-Saramago” não pode sequer alcançar, não deixa de mostrar como a estatura de Saramago eclipsa um drama personalíssimo e ao mesmo tempo universal: o da mulher sem lugar no mundo. Pilar se constrói, nesta brilhante entrevista, como emblema da falta, dessa marca oca que ainda constitui para tantas mulheres cruz e calvário. Ou seria o oposto?
Se Pilar reclama a certa altura a presença de Saramago como maldição incontornável, talvez interesse muito mais anotar como ela afirma a si mesma biográfica e politicamente. Num período vasto, atravessando uma História que vai do franquismo ao presente, Pilar faz atravessar uma segunda História junto com a primeira, por meio da qual precisamente a tríade Deus-Pátria-Família, sustentáculo das ditaduras ocidentais, são roídas por dentro em cada um de seus elementos.
Filha mais velha de quinze irmãos, carregou a maldição de dividir com a mãe o cuidado com uma prole que não a sua. Maldição que forjou para si o benefício de uma maturidade prematura. Maldição cujo benefício a jornalista não rejeita – mas que tampouco lhe serve de bode expiatório para explicar a si mesma como mãe: “Fui uma má mãe, porque sempre pensei que seria a vida a educar o meu filho e não eu. Nunca pensei no que queria ser como mãe, tinha outras coisas que fazer”. Nas inúmeras linhas-de-fuga de sua biografia, Pilar dá a entender enfim porque não se pode entender sua relação com Saramago no modelo de família tradicionalmente aceito. Família, esta maldição ainda maior que a de Saramago, esbarra sempre na compreensão equivocada de ser-um, rejeitada de cara quando Pilar diz que “tinham de enfrentar Saramago e tinham de me enfrentar a mim. Cada um de nós é o produto de si próprio. Não somos nem do pai nem do filho. Somos o que queremos ser”.
A afirmação de sua independência em relação a Saramago e à Pátria (espanhola ou portuguesa) convergem para evidenciar uma estratégia de existência de rara sagacidade e eloquência. Pilar, que parece se debater contra a constatação de que é uma personalidade sem lugar na memória portuguesa, mulher que também não encontra no pai e na ditadura de Franco qualquer possibilidade de negociação e convivência, tampouco construiu sua vida escapando da História que não lhe concedeu morada. É dessa falta de lugar, é nesse não-lugar, que ela escolhe jogar com todos os lugares delimitados para fazê-los estremecer.
Dois vértices dessa convergência são exemplares. O primeiro, político, questiona a ideia de Pátria pela constatação do falseamento histórico-teológico da Espanha sob o regime de Franco, do qual a família participou como cúmplice ativo: “Em criança sabia que vivíamos num país criado por obra e graça de Deus. Sabia que Deus tinha criado Franco para fazer o país preferido dele”; “já o tinha aprendido em casa: Deus criou Franco e Espanha!”. E se Pilar adotou Portugal como seu país ao requerer cidadania portuguesa, o fez não por um sentimento de pertencimento nacional ou simbólico, mas tão somente para escolher a quem deveria pagar seus impostos – o que lhe permitiu, de acordo com ela mesma, adquirir reconhecimento jurídico para opinar sobre os rumos do país. (“Para mim, não existem países. Tenho semelhantes. O que é que herdei do franquismo? A repulsão pela bandeira.”)
O segundo pilar da existência de Pilar, biográfico, expressou-se na opção pragmática pelo casamento religioso “para não dar um desgosto à minha mãe, que vivia uma guerra civil e não tinha de suportar as iras do meu pai. Porém, a palavra ‘família’ provoca-me fastio, repugna-me. [...] Fi-lo para não aumentar o conflito entre a minha mãe e o meu pai. Para mim, era igual, queria lá saber da religião. Casei-me pela Igreja porque a religião não me dizia nada. Era como pôr um vestido comprido para ir a uma festa social ou usar uma joia, tanto me fazia. Deus não significa nada para mim”. Casou-se não por convicção religiosa, mas por uma aguda sabedoria prática que compreende seus limites provisórios sem ceder passivamente a eles.
Pilar aceita duas vezes as regras de um jogo que ela buscou subverter. Duas vezes, uma pela denúncia da hipocrisia política do nacionalismo, outra por um sentido prático de vida que transborda os limites da família, Pilar põe na mira um mesmo réu: Deus. Ainda que afirme que redescobriu um sentido de religião que preenche sua vida (religião como amor, caridade, partilha, solidariedade), Deus é a figura à qual Pilar não cede, mas de quem tampouco escapa: “Se há um Deus, ele vai perceber que tudo o que inventaram à sua volta é uma merda. Quero que haja um Deus para lhe pedir contas sobre o que fez aos seres humanos, às mulheres”. Quando chama Deus para Seu julgamento, o que ela faz adquire o mesmo sentido de sua relação com Saramago: não aniquilá-Lo, não fundi-Lo com seus pares para aliviar o peso sua singularidade; antes, afirmá-Lo no nível de sua própria existência, fazer com que Ele dê um relato, explique a responsabilidade que Lhe compete por aquilo que outros o incitaram a assumir como Sua obra. Trata-se de se negar a fugir de Deus, desejar que Ele exista para destituí-Lo de sua toga e fazer com se tome assento no banco dos julgados (e isso no momento em que a Ele competiria emitir juízo).
Talvez seja o momento também de Portugal prestar contas a Pilar pela parte que lhe cabe na maldição de Saramago. Não simplesmente por tornar Saramago ainda mais insuperável do que de fato pode ser e será um dia. Mas por ainda não conferir a Pilar a dignidade na vida cultural portuguesa que lhe é merecida. Que o Prêmio Luso-Espanhol de Cultura que lhe será entregue em maio em ocasião de seu trabalho na Fundação Saramago faça mais que lhe dar um lugar na memória de Portugal: que ele saiba acolher esse não-lugar e todos os terremotos que a vida pública de Pilar del Río têm dado à cultura da Europa e do mundo. Assim como Pilar não escapa de Deus, talvez também Portugal não deva escapar dessa memória falha: somente afirmando a fragilidade de quem não tem lugar é que se pode exigir que se preste contas pelas faltas cometidas.
Thiago Cazarim é bacharel em música e mestre em filosofia.

Filme de Richard Linklater desperta o interesse daquele espectador disposto e preparado a pensar
Ana Paula Carreiro
Especial para o Jornal Opção
Em “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” (2001), dirigido por Jean-Pierre Jeunet, em determinado momento é dito a Amélie, uma jovem sonhadora, a seguinte frase: “São tempos difíceis para os sonhadores”. Esta frase, apenas um pouco diferente, se repete em “Waking Life” (2001), quando outro sonhador encontra a personagem principal e afirma: “As coisas andam difíceis para os sonhadores”.
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Com roteiro não linear e extremamente denso, o filme, que é dirigido pelo cineasta e escritor norte-americano Richard Linklater, retrata as experiências de alguém que não consegue acordar de um sonho e que passa a encontrar pessoas em seu mundo imaginário com quem têm diálogos e discussões existenciais.
O longa-metragem, que foi filmado com atores e depois finalizado através do rotoscópio para simular a animação em flash, começa com a seguinte frase: “Sonho é destino”, mostrando a longa viagem feita pela consciência na tentativa de compreender a vida.
Além de ser uma experiência cinematográfica, “Waking Life” é também uma experiência filosófica que trata, dentre outros assuntos, do existencialismo de Jean-Paul Sartre e dos pensamentos de Aristóteles, Platão e Nietzsche. Em um dos primeiros diálogos do filme, encontramos Ethan Hawke e Julie Delpy discutindo sobre a sensação de que estamos observando nossa vida da perspectiva de uma velha à beira da morte, como se a vida desperta fosse composta por lembranças e os seis a doze minutos de atividade cerebral depois que tudo se apaga fossem toda a nossa vida.
Trechos do próprio filme explicam à personagem principal o motivo de sonhos serem confundidos com a realidade:
“Dizem que os sonhos somente são reais enquanto duram. Não podemos dizer isso da vida? Muitos de nós estão mapeando a relação mente-corpo dos sonhos. Somos chamados onironautas, exploradores do mundo onírico. Há dois estados opostos de consciência, que de modo algum se opõem. Na vida desperta, o sistema nervoso inibe a vivacidade das recordações. É coerente com a evolução. Seria pouco eficiente se um predador pudesse ser confundido com a lembrança de um outro e vice-versa. Se a lembrança de um predador gerasse uma imagem perceptiva, fugiríamos quando tivéssemos um pensamento amedrontador. Nossos neurônios serotonínicos inibem as alucinações. Eles próprios são inibidos no sono REM. Isso permite que os sonhos pareçam reais, mas bloqueia a concorrência de outras percepções. Por isso os sonhos são confundidos com a realidade. Para o sistema funcional de atividade neurológica, que cria o nosso mundo, não há diferença entre uma percepção, ou uma ação sonhada e uma percepção, e uma ação na vida desperta”.
Em vários trechos, pode-se observar também críticas à sociedade atual: “Se o mundo é falso e nada é real, então tudo é possível. A caminho de descobrir o que amamos, achamos o que bloqueia o nosso desejo. O conforto jamais será confortável. Um questionamento sistemático da felicidade. Corte as cordas vocais dos oradores carismáticos e desvalorize a moeda. Para confrontar o familiar. A sociedade é uma fraude tamanha e venal que exige ser destruída sem deixar rastros. Se há fogo, levaremos gasolina. Interrompa a experiência cotidiana e as expectativas que ela traz. Viva como se tudo dependesse de suas ações. Rompa o feitiço da sociedade de consumo para que nossos desejos reprimidos possam se manifestar. Demonstre o que a vida é e o que ela poderia ser. Para imergirmos no esquecimento dos atos. Haverá uma intensidade inédita. A troca de amor e ódio, vida e morte, terror e redenção. A afirmação tão inconsequente da liberdade, que nega o limite”.
A estética chama a atenção, mas “Waking Life” não é um filme para todos os públicos. A temática é bastante densa e exige do telespectador atenção, sendo assim recomendado que se assista o filme mais de uma vez para absorver tudo o que é passado.
Por ser um filme todo construído em diálogos quase socráticos, ele provavelmente será um pouco chato e entediante para pessoas que gostam de filmes com muita ação. No entanto, para os que se interessam em discursos fortes, o filme é uma boa fonte de informação sobre humanidades que vão da antropologia às artes e cultura.
O filme desperta o interesse do espectador disposto e preparado a pensar. A questão existencial e a linha tênue que separa o sonho da realidade são os seus aspectos mais marcantes. Se você quer desfrutar de uma animação rica em todos os sentidos, assista “Waking Life” e tenha uma ótima experiência.
Ana Paula Carreiro é estudante de Jornalismo

Diretor sueco entrega um filme humano, mas chocante tanto pela temática quanto pelas escolhas estéticas. Não é recomendado para pessoas que se abalam facilmente
[caption id="attachment_93157" align="alignleft" width="620"] Volodya e Lilya: uma criança e uma adolescente são as responsáveis por mostrar no filme o sofrimento intenso de uma vida precária e de abandono[/caption]
Ana Paula Carreiro
Especial para o Jornal Opção
Com a “explosão” de “13 Reasons Why”, muitas pessoas parecem ter se interessado pelo assunto tratado na série, gerando inclusive muitos debates sobre o tema. No entanto, o seriado da Netflix só mostra uma visão do que pode levar uma pessoa ao suicídio, deixando assim a impressão de que só aquilo pode motivar uma pessoa a tirar a própria vida.
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É preciso falar mais sobre o assunto e há outras produções que falam a respeito disso. Uma delas é “Para Sempre Lilya”. Baseado em fatos reais, o filme sueco de 2002 dirigido por Lukas Moodysson, um dos expoentes do cinema escandinavo, fala sobre a vida de uma adolescente de 16 anos que mora no subúrbio da antiga União Soviética.
Lilya (Oksana Akinshina) é abandonada à própria sorte pela mãe, que se muda para os Estados Unidos com o novo namorado, e se vê em uma situação de desamparo, que se agrava com o fato de ser forçada a se mudar para um lugar com condições extremamente precárias.
Sem dinheiro para se manter, a adolescente encontra na prostituição uma saída “fácil” para seus problemas e conta apenas com a amizade de Volodya (Ardydom Bogucharsky), um garoto de 11 anos com quem desenvolve uma relação fraternal – os dois nutrem juntos sonhos de um dia terem uma vida melhor.
Em uma de suas idas às boates soviéticas, Lilya conhece Andrei, um homem que em meio a tantos outros interessados apenas em sexo, demonstra ser atencioso e lhe faz promessas de uma vida estável na Suécia, com moradia e trabalho.
Mesmo alertada por Volodya de que Andrei não possui boas intenções, Lilya prefere acreditar em Andrei e acaba indo para a Suécia. Chegando lá, o que era para ser a realização de um sonho se transforma em um pesadelo e Lilya é feita escrava sexual e vive presa em um apartamento.
Com a consciência de que Lilya jamais voltaria de sua “viagem” à Suécia, Volodya, que antes encontrava nela o único motivo para estar vivo, acaba tirando a própria vida com o uso abusivo de remédios.
Já Lilya, em um dia de aparente descuido de seu vigia, consegue sair do apartamento em que estava presa. Desorientada, ela corre pelas ruas da cidade até que encontra um viaduto e, com todas as esperanças esgotadas, se joga entre os carros que passam e dá fim a uma vida de sofrimentos.
Foco no sofrimento
“Para sempre Lilya” é um filme que trata da desgraça humana, tanto social quanto interna, abordando temas como o desespero, a solidão, a exploração sexual, o tráfico humano e o descaso do governo perante o abandono de menores. Mesmo não tendo nenhuma cena em que a violência contra Lilya é explícita, o filme é extremamente denso, pela temática e pelo enquadramento da filmagem, que escolhe deixar a subjetividade em primeiro plano, mostrando as expressões de sofrimento no rosto da personagem, ao invés do ato em si. Não é um filme que eu indicaria para pessoas que se abalam facilmente, pois o foco da filmagem em primeira pessoa faz com que os telespectadores se sintam violentados juntamente com a personagem. O fato de o filme retratar o sofrimento pelo olhar de duas crianças é o que torna ainda mais chocante toda a narrativa, mostrando a inocência perdida e a falta de perspectiva de um futuro, o que leva as duas ao suicídio, o maior ato de desesperança de uma pessoa. O final do filme tem duas interpretações principais, uma que aborda o aspecto psicológico da questão, em que Lilya enxerga Volodya com asas de anjo em seus momentos de desespero e solidão, e outra que aborda o aspecto sobrenatural, tratando assim a aparição de Volodya como se ele de fato tivesse morrido e voltado como um anjo para ampará-la em meio ao sofrimento. De qualquer maneira, o final fica aberto à interpretação do telespectador, visto que não se pode afirmar se Lilya morreu ou não. Ana Carreiro é estudante de Jornalismo
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