Por Redação

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Querida, encolheram a FLIP! Mas, calma. Não é o fim da Festa!

Cristiano Deveras Especial para o Jornal Opção Para quem conhece a Flip de outros carnavais, como eu, que venho religiosamente desde 2007, uma coisa é certa desde a chegada: ela encolheu. É visível e impactante a reestruturação que sofreu uma das maiores festas literárias do Brasil, quiçá a mais charmosa delas. Retrato da atual conjuntura nacional (para não dizer que falei de crise), mas também um espelho de como a cultura é vista e tratada no país. Passado este primeiro susto, de observar a realocação de estruturas, seguimos para o próximo nível, que é averiguar exatamente o que está acontecendo e quem estará fazendo acontecer por aqui. E daí, temos a impressão que, apesar de ter diminuído de tamanho, é possível que a Flip tenha se depurado de alguma forma, pois o que se vê pelas ruas até agora são pessoas mais interessadas na literatura do que em outros anos; troca-se a multidão de passantes que poderiam estar em qualquer outro evento, de quermesse de feira no interior a exposição festiva no Masp, para um público mais focado nos objetivos da festa. Professores, estudantes, escritores, editores e aqueles que dão sentido a tudo isso, os leitores. Aqueles abnegados que andam com seu exemplar na mão, sob calor ou frio (duas constantes por estas paragens: um dá as caras de dia, o outro comanda a noite) para acompanharem seus escribas prediletos. Pessoalmente, fui testemunha do começo da fila para aguardar a palestra gratuita - na Casa Libre & Nuvem de Livros - de Lázaro Ramos, duas horas antes de seu começo, a mais segura forma de garantir um espaço para acompanhar a apresentação. Entre as várias atrações que podem ser desfrutadas estão William Finnegan, Pilar del Río, Sérgio Rodrigues, o já citado Lázaro Ramos, Patrick Deville, Dráuzio Varella, além de vários outros autores, palestras, oficinas e encontros. Ótima oportunidade para trabalhar adequadamente o fazer literário, tão menosprezado em nosso país. Ainda é só o começo, mas talvez, possamos tirar algumas lições não só da reengenharia que teve que ser feita para que a festa acontecesse, como também do legado e da figura do homenageado da vez, Lima Barreto, que, como a descrição da sessão de abertura disse, foi um “triste visionário”. Que a cultura nacional também saiba se rearranjar nestes tempos bicudos para todos, mas que acaba sendo ainda mais tenebrosos para quem vive e produz artisticamente. Cristiano Deveras é escritor. Autor de "Jantar às 11" (Nova Alexandria, 2017).

A sexualidade enquanto deusa do sagrado e do profano

Em sua estreia no romance, a paulista Cristina Judar constrói uma obra polifônica e de alta potência lírica com foco na inter-relação entre dois casais homossexuais [caption id="attachment_100720" align="aligncenter" width="620"] Cristina Judar estreia no gênero do romance com "Oito do sete"[/caption] Sérgio Tavares Especial para o Jornal Opção Sempre me pareceu improvável um autor alcançar tamanha voltagem sensorial, ao descrever a descoberta da sexualidade, como o fez o norte-americano James Baldwin, em “Giovanni”. Está no trecho do romance em que o personagem-narrador rememora sua adolescência, à época em que passava férias na casa de veraneio do amigo Joey. Numa noite quente, depois de um dia na praia, o narrador é despertado pela luminosidade vinda do quarto do amigo. Estão sozinhos na casa. Ele então se levanta e encontra Joey verificando o travesseiro, por conta da suspeita de ter sido picado por um percevejo. O fato inusitado dá partida a um trilho de provocações e, no momento em que se atracam, algo diferente, de todas as outras vezes em que fizeram essas lutas de brincadeira, ganha forma. “Mas daquela vez, quando o toquei, alguma coisa aconteceu nele e em mim, tornando aquele contato diferente de qualquer outro que conhecêssemos. E ele não resistiu, como fazia quase sempre, mas ficou ali onde eu o levara, contra meu peito. E eu compreendi que meu coração disparara e que Joey estremecia, e a luz no quarto era muito brilhante e quente. Comecei a mover-me e a fazer algum tipo de brincadeira, mas Joey murmurou alguma coisa e inclinei a cabeça para ouvir o que era. Joey ergueu a dele enquanto eu abaixava a minha, e nos beijamos por assim dizer, acidentalmente. E então, pela primeira vez em minha vida, tive plena consciência do corpo de outra pessoa, do cheiro de outra pessoa. Tínhamos os braços passados em volta um do outro. Era como se eu segurasse na mão um pássaro raro, exausto, quase condenado, que milagrosamente eu conseguira descobrir. Eu estava muito assustado, tenho a certeza de que ele também, e fechamos os olhos”. É uma cena intensa embora carregada de doçura, que concentra um descompasso de sensações: espanto, atração, medo, prazer. Baldwin vai construindo todo o ato a partir de transições sutis entre resistência e aceitação, por fim alteando o cumprimento do desejo a um marco de transformação capaz de determinar uma conduta. “Pareceu, naqueles momentos, que toda uma vida não bastaria para que eu executasse com Joey o ato de amor”. Considero-o um trecho insuperável. Mas eis que sou tomado de assalto, ainda nas primeiras páginas de “Oito do sete” (Editora Reformatório, 2017, 152 páginas), da paulista Cristina Judar, pela voz imperiosa de Magda. Assim como o narrador de “Giovanni”, ela recua os anos; como no caso dele, o gérmen da mutabilidade física e intelectual está da sexualidade. Não há um momento-chave, porém. Magda vai narrando sua (trans) formação a partir de um código que faz sentido apenas para si, cujo sistema (ou entropia) processa referências de seriados, telenovelas, música, cinema e de outras expressões culturais e os convertem em acessos para a descoberta de um mundo que não aquele reservado para garotinhas. São fragmentos de memórias que dão conta de conflitos e de conflitos internos, articulados num trânsito veloz que cruza a rebeldia juvenil, a rejeição ao modelo tradicional de família pai-e-mãe/mulher-e-homem, encontrando, tal qual na cena escrita por Baldwin, a consumação do desejo numa noite de verão ao lado de Glória. “Ficamos a sós. Eram tantas as estrelas sobre minha pele que me senti em um filme 3D. Ou elas desceram. Ou fomos nós que subimos. E sentamos na calda de um cometa, como naquelas imagens antigas da Atlântida. Dissemos tantas coisas, brilhamos conforme as dizíamos, sentimos nossos corpos e espíritos, demos luz a milhares de seres e a espaços sem nos darmos conta disso, novas constelações foram condensadas, sóis escorregavam pelo firmamento fúcsia, buracos negros engoliram e foram engolidos, vias lácteas percorreram seus trajetos. (…) De tanto existir e de gerar, e de criar e reinventar, adormecemos extenuadas acima do mundo. Amanheceu. Dos degraus da varanda da casa à praia era um pulo. A consagração no mar. Até que o sol se pusesse, éramos mel e areia; sal e água; havia galáxias aos nossos pés”. [caption id="attachment_100721" align="alignleft" width="620"] "Oito do sete" (romance) | Autora: Cristina Judar | Editora: Reformatório | Ano: 2017 | Páginas: 152[/caption] Ato contínuo, Magda e Glória tornam-se amantes e atam um relacionamento intenso, cujo fervor desencadeia “agressões e subversões”. Magda, neste ponto da vida, torna-se uma estilista renomada, e por aí também decidem frequentar um clube de casais homossexuais que se consorciam para ter relações heterossexuais. Num desses encontros, conhecem Rick e Jonas. Glória, que tinha experiência anterior com homens, transa com Rick, e Magda e Jonas percebem que “são gays demais para isso”. Ocorre que o interesse entre Glória e Rick rompe o ciclo da casualidade e, um vão temporal depois (“Quando me dei conta, não havia mais nada”), ambos são um casal vivendo em Roma, onde sobrevivem entre a idealização artística e a realidade tapa-na-cara do imigrante. Criam, desconstroem, têm uma perda feia e tudo segue feito um jogo de resta um, até acabar. Essa é a visão do conjunto de fatos que liga esses quatro personagens, pela ótica de Magda. “Ter seis asas é estar nu”: um anjo, uma cidade e uma amante. Há um quinto personagem, no entanto. Um ser etéreo, um anjo de nome Serafim; por assim ser, um serafim. Em sua voragem de discurso direto e devaneio, Magna coopta sua presença na trama, comunica-se com ele via carta. Mais adiante, Serafim ganhará voz ativa, onde narrará o próprio nascimento, algumas de suas peregrinações pela Terra e o organismo de autarquias que define o Céu e Sua planificação no controle sobre a humanidade. O ápice de seu discurso está, porém, nos momentos em que assoma o destino traçado pelo quarteto terrestre, em especial em dois capítulos belíssimos nos quais relata a experiência de entendimentos carnais no contato com Magda. Roma, a cidade, é outra a ter sonância. Palco da busca de Glória e Rick por um sentido na vida, por um recomeço que os inocentassem daquilo e daqueles que inadvertidamente deixaram para trás, o lugar se conta por meio de uma arqueologia de sentidos, do exame do que viveu (a história, a arquitetura, o espírito do tempo) e da presciência de uma soma de outros dramas que terão a si como cenário, como um território onde sonhos irão nascer e morrer, onde pessoas sonharão a morte e a vida. O testemunho mais urgente, contudo, é o de Glória. Se toda história tem dois lados, seu papel de amante de Magda adquire outros contornos quando a percepção do que aconteceu é filtrada pelo seu ponto de vista. Sua decisão, antes posta sob o julgamento de uma traidora, vai se descamando um ato imprevisto de alguém libertário sobre suas escolhas, sobre as possibilidades que norteiam a preferência sexual. “Os homens são embarcações; as mulheres, terra para me afundar. Meus movimentos e os delas, por sua vez, construíram formas ergonômicas, nas quais eu me reconhecia enquanto ofertava e colhia. É perfeita a união entre os iguais. Responsável por manter eu e Magda atadas por tanto tempo, a despeito de nossas temporalidades. Deus sabe o que faz, minha mãe sempre disse isso. Em um mundo físico, o desejo satisfeito da carne é o sedimento da verdade, unicamente por resultar em um corpo composto, por uma, duas ou mais pessoas”. Glória não está num limite antagônico ao de Magda, e sim num espaço além, no qual a idealização do relacionamento homem-mulher/mulher-mulher não passa de tentativas de classificar uma união que pode consolidar-se em estado físico e/ou espiritual. Reflete que o desejo é algo que vem num fluxo que não predefine desagues, que há mudanças nos papéis e tarefas como há “mudanças de humores, noite e dia, sol e chuva”. Por isso se aventurou com Rick, aventurou-se por Roma e tal aventura teve um sabor ferroso, ao fim. “Desde criança Magda sabia o que queria ser”, declara. Ela, não. Cristina Judar, em sua estreia no romance, constrói uma narrativa compósita, hiperestésica e polirrítmica, cujo apuro no trabalho da linguagem ocasiona uma prosa altamente lírica e simbólica, na qual a sexualidade (ou a homossexualidade) se destaca como uma espécie de deusa do sagrado e do profano. As quatro vozes que vão construindo esse universo de atamentos e desenlaces emocionais, de imanência e de abismo, de convivência entre o etéreo e o palpável, estabelecem uma condição volúvel para as leis de espaço e tempo, transitando da experiência infantil para um passado mais recente em que, não raro, a vida adulta adquire uma atmosfera de sonho, de delírio. A força de seu texto está justamente no entrelaçamento entre essas camadas vibrantes, essas frequências de pensamentos, imagens e lembranças que traduzem seus personagens e suas motivações por meio de um circuito complexo, em que a natureza do discurso rompe barreiras fornais e determina a marca de uma literatura magnética. Com a morte recente da escritora Elvira Vigna, escritoras do porte de Cristina Judar são necessárias pela capacidade de imprimir uma identidade, pela busca de caminhos sem facilidades para desconcertar o leitor, pela coragem de experimentar e envolver com ficção temas cuja natureza a sociedade ainda não conseguiu assimilar, passados mais de sessenta anos da publicação da obra-prima de James Balwin. ***

Trechos de “Oito do sete”, de Cristina Judar:

A lâmpada em movimento pendular, meu rosto apareceu, desapareceu, apareceu, desapareceu, entre claro e oculto. Dessa vez era o meu rosto, e não o de Magda, que ia e voltava. O piso virou um barco sob ondas fortes, eu estava em um mar. Em uma inversão de papéis, em uma crise de identidade em relação ao segundo anterior, você não sabe mais se é pessoa, peixe, ave, coroa, estômago ou coração. Passa a ser uma mistura de tudo isso, uma miscelânea atrapalhada, embora haja vantagens. Como em uma pequena morte, você volta para a vida desconcertada por não ter morrido.  Catástrofes, acreditamos, são feitas para dizimar, não para dar vida. Mas elas são comandadas por gênios contrários, que amam derrubar por terra as expectativas do povo. Catástrofes dão vida até ao que já está morto. Fazem o povo tomar um prumo. Fui sacolejada em minha tumba de Roma. Em resumo, o movimento todo valeu para que eu descobrisse uma coisa: os terremotos são os orgasmos do planeta.  Sérgio Tavares é jornalista e escritor.

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“Incoerência, preconceito e ódio”

Ademar de Queiroz Por que querem condenar e prender apenas o Lula? Aí tem. Já desconfiei mais do ex-presidente do que atualmente. Sabe por quê? Quanto mais percebo o desdobramento do golpe de 2016, com alguns bodes expiatórios na cadeia para não ficar tão na cara, mais desconfio dos objetivos dos querem condenar Lula, pautados por muita convicção e prova nenhuma. Preconceito de classe? O que observo por aqui é que a grande maioria que execra e odeia o Lula é exatamente a mesma que nunca engoliu que um metalúrgico nordestino sem curso superior chegasse à Presidência e colocasse o país nos trilhos – como atesta o estudo de 2010 da FGV [Fundação Getúlio Vargas] que aponta a era Lula como a melhor fase da economia brasileira desde 1980. “Ah, mas ele roubou demais!”. Primeiro: depois de tantos anos de investigação (acredito que estão buscando isso desde 2003, quando ele começou seu primeiro mandato), não encontraram provas! Ou o sujeito é inocente ou é um gênio, sendo que nenhuma das duas opções agrada seus perseguidores. Segundo: se tiver roubado, por que tamanho ódio só se aplica a ele, quando a nossa história está repleta de parlamentares trambiqueiros, muitos deles delatados recentemente por meio de provas? E que continuam soltos e – pior! – com seus mandatos, defendendo os próprios interesses sem pensar na imensa maioria dos trabalhadores brasileiros. Pergunto de novo: é preconceito de classe? Ademar de Queiroz é jornalista e publicitário.

“Famílias sofrem e esperam resposta apropriada da Justiça”

Valério Luiz Embora o Brasil inteiro esteja comentando outra decisão judicial neste momento [a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva], não posso me furtar a um comentário sobre outra notícia. Minha solidariedade a Pedro Ivo, bem como a toda a família do advogado Davi Sebba Ramalho, assassinado por policiais militares em 5 de julho de 2012, no estacionamento de um hipermercado em Goiânia. Conheço bem a mentalidade do juiz Antônio Fernandes de Oliveira, que causou diversos transtornos nas audiências do caso do meu pai [Valério Luiz foi morto também em 5 de julho de 2012 e o cartorário Maurício Sampaio aguarda julgamento como mandante do crime]. Sua parcialidade a favor dos réus é assustadora, tanto que o magistrado chegou a sofrer sindicância na Correge­doria-Geral de Justiça do TJGO, a pedido do Ministério Público. Infelizmente, não deu em nada. E não se trata de ser “garantista”. Em maio de 2013, esse magistrado proibia que questionássemos os acusados sobre seus álibis e, mesmo com ameaça de morte de um (Da Silva) contra outro (Marcus Vinícius, o Mar­quinhos), revogou indiscriminadamente todas as prisões preventivas decretadas pelo magistrado anterior, resultando na conhecida fuga de Marcos Vinícius para Portugal e no atraso do processo em mais de um ano. Em outro caso que acompanhei, presenciei tal magistrado fixar a pena de um homicídio em 4 anos, regime inicial aberto. O réu matara um vizinho de graça, por não ter ido com a cara, e com uma facada no peito. O golpe foi tão forte que o cabo da faca saiu na mão do homicida e a lâmina ficou presa no peito da vítima. Mesmo assim, 4 anos. Aberto. Agora a família de Davi Seb­ba também foi vítima. Ainda escreverei mais detalhadamente sobre isso, mas entendam que, em crimes de sangue, não está em jogo só a ofensa “à lei” ou à ficção jurídica “Estado”. Existem famílias diretamente envolvidas, que sofrem e esperam uma resposta apropriada. Torço pra que os doutos desembargadores reformem a decisão e enviem todos os réus a júri. Valério Luiz é advogado e presidente do Instituto Valério Luiz.

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Na Região Leste, diante de autoridade e afinado com os representantes da segurança, prefeito garante estar disponível para as demandas do novo órgão

“Vamos transformar Aparecida de Goiânia em uma cidade inteligente”

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“Esta é a vossa hora, e o poder das trevas”: a possessão em David Lynch

Obra do diretor norte-americano é um grande projeto que demonstra, sempre de maneira sutil, como os filmes, e metonimicamente Hollywood, tornaram-se uma fonte ctônica, novas águas caudalosas e primordiais que geram imagens e demônios pelos quais somos possuídos

Romance de escritor canadense reinventa o gênero do Faroeste

Livro de Patrick deWitt é uma grande alegoria, cheia de humor, sobre como a busca desenfreada pelo dinheiro e a ganância podem, apesar dos esforços, levar a caminhos inesperados

A festa dos renegados ou a FLIP de Lima Barreto

Autor de “Triste fim de Policarpo Quaresma” ressurge na Festa Literária Internacional de Paraty, em cenário de crise econômica e de luta contra a desigualdade, embora ainda pouquíssimo lido

Festival Internacional de Cinema de Locarno acontece de 2 a 12 de agosto e conta com três filmes brasileiros na disputa

Carlo Chatrian, diretor do Festival, disse ter visto 4 mil filmes para chegar à seleção nas diversas mostras. Entre os selecionados, está também  um filme suíço de Samuel Chalard, falado em português [caption id="attachment_99825" align="aligncenter" width="620"] Cartaz oficial do Festival Internacional de Cinema de Locarno[/caption] Rui Martins Especial para o Jornal Opção “As Boas Maneiras”, filme de terror rodado em São Paulo, dos cineastas Juliana Rojas e Marco Dutra, coprodução franco-brasileira, foi selecionado para a competição internacional do Festival de Cinema de Locarno, na Suíça. “Severina”, filme do cineasta e diretor de teatro Felipe Hirsch, coproduzido com o Uruguai, estará na competição da mostra Cineastas do Presente. Para a mostra Sinais de Vida, foi selecionado o filme de Adirley Queirós, “Era Uma Vez Brasília”, uma espécie de ficção científica com preocupações sociais. Falado em português, mas dirigido pelo suíço Samuel Chalard, o filme “Favela Olímpica”, mostrando os prejudicados pelos Jogos Olímpicos do Rio, foi escolhido para a Semana da Crítica. Filme de dar medo? “As Boas Maneiras” conta a história de uma babá, responsável por uma criança sobrenatural, mutante, dentro, portanto, do esquema de seres diferentes dos normais, comum nos seriados e grandes produções estadunidenses. Como se trata de estreia em Locarno, só depois de projetado se poderá saber qual o toque nacional explorado nessa história fantástica filmada por um cinegrafista francês, em São Paulo. Em todo caso, os dois realizadores, Juliana Rojas e Marco Dutra, já fizeram um filme de sucesso, “Trabalhar Cansa”, que garante uma abordagem original. O inesperado de situações parece provocar medo ou susto na babá e nos espectadores. Roubando livros O filme de Felipe Hirsch, um dos grandes diretores brasileiros de teatro, trata de um amor obsessivo. Existe em “Severina” um mistério sedutor e enigmático. Jovem de nacionalidade desconhecida, Severina rouba livros numa livraria. A estreia será em Locarno, pouco se sabe do roteiro, além dessa síntese. Ficção político-científica O filme do brasiliense Adirley Queirós é uma espécie de ficção político-científica, que se passa no Ano Zero depois do Golpe e mistura a história de um agente intergalático enviado a Brasília para matar o presidente Kubitschek, cuja nave se perde no espaço e no tempo, aterrissando na periferia da capital federal, em Ceilândia. O Congresso Nacional não tem mais deputados e senadores mas é habitado por monstros. Também vai estrear em Locarno. Inspirado em reportagens? Não se sabe se o cineasta suíço Samuel Chalard se inspirou nas reportagens do jornalista australiano, que provocou a ira dos cariocas chamando de “Favela Olímpica” as instalações para as olimpíadas. O filme foi feito durante a construção do Parque Olímpico junto à favela de Vila Autódromo. Alguns habitantes da favela, condenados a deixar o local para as obras das olimpíadas, conseguiram adiar sua expulsão, enquanto as obras avançavam nos terrenos antes ocupados pela população pobre. Rui Martins estará do 2 ao 12 de agosto em Locarno, convidado pelo Festival Internacional de Cinema.