Por Euler de França Belém

As relações políticas entre os grupos do prefeito de Goiânia, Paulo Garcia, do PT, e do deputado federal Rubens Otoni são mais “tensas” do que “positivas”, na avaliação de um deputado petista. Em público, eles se elogiam; nos bastidores, há uma crise de contornos nítidos.
O grupo de Rubens Otoni pretende lançar candidato a prefeito nas duas maiores cidades de Goiás — Goiânia e Anápolis —, tendo em vista seu projeto político para 2018. Na capital, o nome dos sonhos do rubismo-gomidismo é o do deputado estadual Humberto Aidar, porém, ante a resistência que há ao seu nome, pode compor com outro grupo e bancar a candidatura do deputado estadual Luis Cesar Bueno. Este quer e trabalha para ser candidato.
Paulo Garcia prefere bancar a deputada estadual Adriana Accorsi, mas não opõe resistência a Luis Cesar, que, assim, pode ser o nome capaz de agregar as várias tendências políticas do partido. De Adriana Accorsi o que se diz é que quer ser candidata, mas não age como tal.

O vice-prefeito de Aparecida de Goiânia, Ozair José, é o candidato preferido da cúpula tucana para prefeito do município. Mas, segundo um aliado, “está financeiramente quebrado — usando um Corolla velho, cujo apelido é ‘Me Leva Para a Oficina’ — e não tem recursos para bancar uma eleição nem para síndico. O PMDB de Gustavo Mendanha tem a máquina da prefeitura e um prefeito, Maguito Vilela, muito bem avaliado”. Qual a saída? O tucano avalia que o mais racional é bancar o empresário Alcides Ribeiro — mais conhecido como Professor Alcides — dono da Unifan, que tem um curso de Medicina no município, e de outros negócios. “Alcides já avisou que não precisa de recursos externos.” A fala de Alcides deve ser interpretada da seguinte forma: “Quer o (e precisa do) apoio do governador Marconi Perillo, mas tem como bancar sua campanha. Ozair José, pelo contrário, precisa desesperadamente do apoio do tucano-chefe. Apoio que, logicamente, não virá. Não por que Marconi não quer ajudá-lo, e sim porque obter dinheiro para campanha eleitoral, a partir de 2016, será cada vez mais complicado”.

Principal líder da Rede em Goiás, Aguimar Jesuíno diz que fez um convite formal para o ex-reitor da Universidade Federal de Goiás Edward Madureira filiar-se ao partido, pois seria seu candidato a prefeito de Goiânia. “Porém, mesmo com o intenso desgaste do PT, Edward alegou fidelidade partidária e optou por não sair. O fato é que o PT ‘derreteu’. Em Goiânia o partido deve lançar Adriana Accorsi para prefeita, para não fazer tão feio. Ela deve obter de 4 a 5% dos voto. Aí vira candidata a deputada federal, o que tende a provocar uma crise com Rubens Otoni, pois o partido, desgastado como está, não fará dois deputados federais em 2018.” Aguimar não definiu sua candidatura a prefeito, mas admite que poderá disputar.

Ao menos nos bastidores, fora dos jornais, o PRB procura um candidato para disputar a Prefeitura de Goiânia. O nome mais cotado, apesar de sua resistência, é o do jornalista Oloares Ferreira, apresentador do programa jornalístico “Balanço Geral”, da TV Record. O deputado federal Sandes Júnior (PP) recebeu convite para se filiar ao partido. Se filiado, seria imediatamente lançado candidato a prefeito da capital.
Ante a possibilidade de se ter como adversários dois políticos populares, como Iris Rezende, do PMDB, e Waldir Delegado Soares, do PSDB (mas a caminho de outro partido, em março), o PRB pode bancar uma chapa com Sandes Júnior e Oloares Ferreira. O deputado seria candidato a prefeito e o jornalista, a vice. Seria uma chapa popular, com pessoas com forte presença na capital.
Resta saber se o sempre reticente Oloares Ferreira quer disputar. É fato, porém, que mantém conversações com integrantes do PRB e já recebeu convites de outros partidos para se filiar. Sandes Júnior quer ser candidato e chegou a encomendar uma pesquisa recentemente, que o aponta em quarto lugar, mas já colado no terceiro, Vanderlan Cardoso, do PSB. Ele costuma dizer que, “fora Iris Rezende, todos são japoneses”.

[caption id="attachment_46502" align="aligncenter" width="620"] Fotos: Fernando Leite/ Jornal Opção[/caption]
O antropólogo Darcy Ribeiro dizia que às vezes é preciso começar pelo óbvio: Lúcio Flávio de Paiva foi eleito presidente da OAB-Goiás por ter sido considerado o melhor nome pelos advogados. As razões de sua vitória são várias, é claro. Mas as explicações devem começar não pelos problemas dos outros candidatos, e sim por seus méritos pessoais e de sua campanha (incluído o marketing inteligente criado pelo publicitário Marcus Vinicius, um dos mais perspicazes do país). Ficou claro que o indivíduo faz a diferença. Outro candidato, com estampa mais agressiva e com discurso menos afinado, poderia não ter sido bem-sucedido.
Se a principal explicação para a vitória de Lúcio Flávio deve ser buscada no próprio Lúcio Flávio — que se tornou confiável para a maioria dos advogados e, por isso, conquistou quase 60% dos votos —, pois Leon Deniz dificilmente seria eleito (nunca conseguiu ser o nome de consenso dentro de seu próprio grupo), não dá para ignorar as outras chapas e, ao mesmo tempo, é preciso enfrentar os mitos.
Primeiro, a união entre Enil Henrique, o presidente da OAB, e Flávio Buonaduce, da OAB Forte, possivelmente não teria resultado em nada, ao contrário do que se pensa. Leigos avaliam resultados “eleitorais” unicamente pelos votos, às vezes desconsiderando as variáveis. De fato, ao ficar em segundo lugar, Enil Henrique mostrou alguma força e, mesmo, certa habilidade. Mas isto é enganoso. Na verdade, sua força pessoal é mínima. A máquina da OAB é, na verdade, a única responsável por sua segunda colocação. Se não estivesse no comando da Ordem dificilmente teria sido candidato, não por falta de estatura como advogado, e sim porque não é um profissional que, sem estrutura poderosa, consegue agregar. Falta-lhe carisma e, também, o charme dos que seduzem — o que independe de poder, dinheiro e, quiçá, marketing.
Segundo, devido à larga frente de Lúcio Flávio, vestiram em Flávio Buonaduce — um candidato para tempos mais amenos, porque se trata de um homem de diálogo, civilizado e ameno no trato — um figurino de postulante agressivo, batedor. Flávio Buonaduce deveria ter vestido um figurino similar ao de Lúcio Flávio, ainda que não fosse o esperado, e não o de Leon Deniz, por assim dizer. Ainda assim, com todos os problemas, fez uma campanha vigorosa, com forte apelo propositivo. Muitos advogados, não fosse o premente desejo de renovação, teriam hipotecado seu apoio ao jovem candidato — tais a sua simpatia pessoal e a sua competência como advogado e professor universitário.
Então, embora fosse um candidato apontado como “excelente” — pesquisas confirmaram isso com o máximo de clareza —, Flávio Buonaduce perdeu devido à celebrada fadiga de material, ao fato de o grupo chamado OAB Forte ter ficado longos anos no poder. Há também o fato de Henrique Tibúrcio ter deixado o comando da Ordem para aceitar um cargo político no governo de Marconi Perillo. Tudo soma para se encontrar uma explicação para a vitória de Lúcio Flávio e para a derrota de Flávio Buonaduce (a rigor, pouquíssimo responsável pela derrota).
Mas, como se sugeriu no início do texto, é muito difícil ganhar de um candidato que cai nas graças dos eleitores. O candidato do ideal, ou daquilo que se acredita ser a renovação. Disputar contra o “candidato do ideal e do sonho” é uma das missões mais complicadas. Argumentos realistas realçaram as qualidades de Flávio Buonaduce — e são tantas —, mas poucos advogados estavam prestando atenção neles e nelas. Porque estavam de olho nas virtudes de Lúcio Flávio, que, embora existam, foram maquiadas e exacerbadas pelo marketing de maneira excepcional. Marcus Vinicius investiu numa combinação perfeita entre realidade e sonho — produzindo, de algum modo, o “candidato ideal” ou “do ideal”.
Candidato à reeleição, daqui a alguns anos, Lúcio Flávio por certo enfrentará uma campanha mais dura. Porque sua gestão poderá ser comparada com o legado deixado pela OAB Forte. Em 2015, a comparação entre o sonho e a crueza da realidade — que se chama, na prática, de “o possível” — deu a vitória a Lúcio Flávio. Na próxima eleição, o presidente agora eleito terá um legado que, embora pequeno, deverá ser comparado ao legado da OAB Forte, que então será visto, provavelmente, como mais amplo e positivo do que foi visto em 2015. Na eleição seguinte, sem meias palavras, será realidade contra realidade. Os eleitores terão parâmetros para comparar candidatos — para além das ideias e dos sonhos.
A OAB Forte, se avaliar com descortino a campanha de 2015 e sem preocupar-se com a produção de um culpado (ou bode expiatório) — como Henrique Tibúrcio —, terá a chance de retomar o controle da Ordem. Há nomes de excelente qualidade — como Dyogo Crosara e o próprio Buonaduce. Entre outros.

O ministro das Cidades, Gilberto Kassab, esteve em Goiânia e disse que ficará feliz se o PSD lançar candidato a prefeito da capital. Sua tese: o partido tem de criar uma estrutura ampla para a disputa das eleições pra governador, deputado e senador em 2018. O ex-prefeito de São Paulo torce para que Vilmar Rocha (PSD) dispute mandato de senador. O PSD tem quatro pré-candidatos a prefeito de Goiânia: Vilmar Rocha, Thiago Peixoto, Francisco Júnior e Virmondes Cruvinel. Os dois últimos são os mais cotados.

Uma das vitórias mais acachapantes das eleições de 2016 tende a ocorrer em Vianópolis. Issy Quinan é o prefeito mais bem avaliado de Goiás, superando o de Caldas Novas, Evandro Magal. Curiosamente, os dois são do PP. A situação está tão feia para as oposições que, até agora, ninguém consistente apareceu como pré-candidato com a ambição de enfrentar o jovem gestor. O advogado Sérgio Lucas costuma alertar que Issy Quinan brevemente será uma das apostas do PP para o governo de Goiás. Lucas frisa que se trata de um político decente e organizado. Com recursos parcos faz mais do que muitos prefeitos de municípios endinheirados.

Do presidente do PPS em Goiás, Marcos Abrão: “O nosso pré-candidato a prefeito, Vanderlan Cardoso, do PSB está animado, articulando e trabalhando para fortalecer a aliança política. Nós sabemos que eleição só se ganha em cima da hora. Portanto, não se pode acreditar em favas contadas, em favoritos incontornáveis. Vanderlan tem a imagem positiva e cristalizada de que é um gestor eficiente. Quando a campanha começar, isto poderá ser realçado e, assim, poderemos ganhar”.
Pesquisas de intenção de voto indicam que o professor Kelton Pinheiro (PSB) deve ser eleito prefeito de Bonfinópolis, em 2016. O prefeito José Paulino (PSD), desgastado, dificilmente terá condições de fazer o sucessor. Aos 40 anos, Kelton é experiente: foi vereador duas vezes, presidente da Câmara, secretário da Educação e vice-prefeito. Na campanha, terá o apoio de Vanderlan Cardoso (PSB), da senadora Lucia Vânia (PSB) e do deputado Marcos Abrão (PPS). Nas festividades de seu aniversário compareceram: Lúcia Vânia, Vanderlan Cardoso, Marcos Abrão, Issy Quinan (prefeito de Vianópolis, do PP), Jefferon Louza (prefeito de Leopoldo de Bulhões, do PT) e cinco dos nove vereadores, como Pelé, Júnoir Amorim, Professor Wesley Firmino, e o ex-prefeito Antônio Musquito, presidente do PSDB local.

Em termos de fraqueza política, o PSDB e o PMDB são irmãos siameses no Entorno de Brasília. Enquanto os dois partidos brigam por quase nada e o PSD “derrete” — devido às gestões desastrosas de Cristóvão Tormin, em Luziânia, Luiz Carlos Attié, em Cristalina, e Itamar Barreto, em Formosa —, o PSB da senadora Lúcia Vânia tende a crescer no Entorno. Hoje, é uma ficção. Mas pode eleger Daniel do Sindicato, em Cristalina — um de seus grandes conquistas para o pleito deste ano —, e Padre Getúlio, em Santo Antônio do Descoberto. O segundo ainda não se filiou, mas está a caminho. As conquistas se devem a um trabalho exaustivo de convencimento da senadora, que tem credibilidade na região. Daniel do Sindicato e Padre Getúlio são favorito em seus municípios.

Os familiares de Vanderlan Cardoso — entre eles duas irmãs, Lúcia Cardoso e Vanilda Cardoso — devem deixar a Prefeitura de Senador Canedo no dia 31 de dezembro. Embora o presidente do PSB de Goiânia esteja fazendo campanha cerrada contra o prefeito Misael Oliveira, Lúcia dirige o Ganha Tempo e Vanilda comanda a Diretoria de Assistência à Mulher. Elas serão exoneradas pelo líder do PDT junto com outros comissionados. Detalhe: trabalham, não só assinam ponto.

De um político do PMDB: “Vanderlan Cardoso, Adib Elias e Ernesto Roller saíram de Senador Canedo, de Catalão e de Formosa, mas as três cidades não saíram de dentro deles”. De fato, Vanderlan Cardoso, Adib Elias e Ernesto Roller são políticos paroquiais. Não conseguem viver longe de suas Paságardas.
Tião “Caroço” Monteiro disse ao Jornal Opção recenemente que não tem a intenção de disputar a Prefeitura de Formosa. Porém, como não rejeita um convite do governador Marconi Perillo, poderá, se conseguir aposentar-se a tempo, ser candidato. Pelo PSDB. Ele e Roller são “inimigos” políticos.

O deputado José Nelto diz que o prefeito de Alexânia, Ronaldo Queiroz, do PMDB, pode rever sua decisão anterior e disputar a reeleição. “Todos os prefeito estão em crise, mas Ronaldo é um gestor decente e inovador.” José Nelto afiança que o PMDB vai eleger prefeitos nas principais cidades de Goiás. “A começar de Goiânia e Aparecida de Goiânia”, afirma.

Uma trapalhada jurídica na elaboração do Código de Ética da Assembleia Legislativa — uma chicana —, atribuída ao deputado Humberto Aidar (PT), impediu que o deputado Major Araújo recebesse uma penalização mais rigorosa por desrespeitar as regras mínimas de convivência civilizada. Além de xingar o deputado Talles Barreto, com acusações graves e não provadas, Major Araújo jogou um tablet no colega, que, por sorte, não foi atingido. Teme-se que, da próxima vez, o deputado-militar saque uma arme e atire em algum parlamentar. Aí os trapalhões que criaram o Código de Ética da Assembleia Legislativa — um Código que nada decide — vão se arrepender da chicana que produziram. Major Araújo é um deputado atuante, mas parece fora do controle. Até colegas das oposições estão assustados com seus rompantes. “Tudo indica que quer ser o delegado Waldir das oposições”, ironiza um deputado estadual do PMDB. “Apoiamos a maioria de suas críticas, mas não seu comportamento agressivo, de alto risco.” Se adotar um comportamento construtivo, ainda que mantendo todas as críticas, podem sair fortalecido politicamente. Senão terá voo de pato.