Resultados do marcador: Lançamento
Há dois livros muito bons sobre Mikhail Gorbachev, o político que, sem querer querendo, destruiu o comunismo na União Soviética: “O Fenômeno Gorbachev — Uma Interpretação Histórica” (Paz e Terra, 210 páginas, tradução de Maria Inês Rolim) e “Os Sete Grandes do Império Soviético” (Nova Fronteira, 552 páginas, tradução de Joubert de Oliveira Brízida), de Dmitri Volkogonov. Mas faltava em português um relato mais íntimo da vida deste russo extraordinário. Não falta mais. A Editora Amarilys lança “Minha Vida” (544 páginas, tradução de Júlio Sato e Rodrigo Botelho), de Mikhail Gorbachev.
Além de relatar como ajudou a liquidar a Guerra Fria, numa parceria com o presidente Ronald Reagan, dos Estados Unidos — e, por incrível que pareça, com o papa João Paulo 2º —, Gorbachev conta sua história pessoal. Ele fala de seu amor por Raíssa, com quem viveu mais de 50 anos. Ela morreu em 1999, de câncer, o que o deixou inconsolável. O político que “abriu” a União Soviética mora em Moscou. Ele tem 85 anos.

“Guerra Secreta — A CIA, um Exército Invisível e o Combate nas Sombras” (Record, 392 páginas, tradução de Flávio Gordon), de Mark Mazzetti, está chegando às livrarias. É uma obra-prima do jornalismo americano.
Mark Mazzetti, premiado com o Pulitzer, relata que a guerra contra o terrorismo tornou-se, na verdade, uma gigantesca caçada humana — com autorização integral do presidente Barack Obama, que, aos olhos do mundo, é visto como um humanista em tempo integral — quando, no poder, se tornou um realista visceral, o gestor de um império.
A pesquisa de Mark Mazzetti revela que CIA e Forças Armadas estão com as mesmas funções: espionando e caçando pessoas para matar. “A prioridade da CIA já não é mais reunir informações sobre governos estrangeiros e os seus países, mas sim a caçada humana. A nova missão premia quem colhe informações detalhadas sobre indivíduos específicos, e pouco importa o modo como isso é feito”, afirma o jornalista.
Os Estados Unidos institucionalizaram o uso de drones para ataques mortais. Embora publicamente defenda a liberdade de expressão, o presidente Barack Obama recorreu à Justiça para evitar que a imprensa obtivesse acesso irrestrito e mesmo restrito a informações oficiais sobre o uso de drones pela CIA.
Um detalhe que pode parecer chocante para os humanistas: uma pesquisa da Universidade de Stanford revela que 69% dos americanos aprovam o assassinato secreto de terroristas por militares e agentes americanos.
Mark Mazzetti é repórter do “New York Times” e escreveu para a revista “The Economist”.

Durantes os três primeiros meses do programa, atuação será para eliminar focos de reprodução da espécie transmissoras dos vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela
O “Jornal do Brasil” foi um grande jornal. Foi? O “JB” permanece vivo, exclusivamente na internet, mas não é mais a bela publicação dos tempos de ouro. Era quase uma voz oficial do país. Belisa Ribeiro está certa ao escrever “Jornal do Brasil — História e Memória” (Record, 406 páginas).
Belisa Ribeiro examina as edições mais decisivas do “JB”. O jornal era muito importante para o país e era adorado pelos intelectuais.
O poeta e crítico Mário Faustino fortaleceu seus músculos intelectuais nas suas páginas, como editor, crítico e tradutor. O poeta Reynaldo Jardim, um dos maiores editores e criadores do país, militou nas suas páginas, tanto escrevendo quanto pensando e, até, desenhando-o. A poesia concreta ganhou espaço invejável e se projetou. Ferreira Gullar deu uma importante contribuição. Janio de Freitas, hoje na “Folha de S. Paulo”, e Alberto Dines foram decisivos na transformação do jornal.
Em termos políticos, o “JB” mantinha uma cobertura de primeira linha. A sinopse divulgada pela editora informa que, com suas edições muito bem feitas e com apurações rigorosas, contribuiu para “evitar a fraude em uma eleição [tentaram garfar Leonel Brizola em 1982] ou denunciar o envolvimento de militares do governo em um atentado [o caso Riocentro] que poderia ter matado milhares de jovens em um show onde cantavam Chico Buarque e Gonzaguinha”.
O segredo do “JB” era manter equipes de repórteres que, além de investigar com rigor (tinham fontes privilegiadas), escreviam muito bem. Pensavam. Num tempo em que o jornalismo por vezes assemelha-se a datilografia de relativo luxo, com repórteres tão-somente transcrevendo declarações — como se fossem seres alienados —, rever a história do jornal é pelo menos um oásis.
Um livro, em suma, imperdível e que entra para minha lista penelopiana imediatamente.
A prostituição é uma atividade universal. Histórias divertidas (mas não só) podem ser verificadas no livro “As Senhoritas de Amsterdã — Confissões das Gêmeas Prostitutas Mais Antigas da Cidade” (L&PM, 186 páginas, tradução de Gustavo de Azambuja Feix), de Martine e Louise Fokkens. Elas se aposentaram, mas persistem como “estrelas” na Holanda

Eis um livro que não pode faltar nas estantes (ou nos computadores) dos jornalistas e dos leitores que se interessam por política internacional: “SwissLeaks — Revelação sobre a Fraude Fiscal do Século” (Estação Liberdade, 240 páginas, tradução de Guilherme J. F. Teixeira), de Gérard Davet e Fabrice Lhomme, repórteres investigativos do jornal francês “Le Monde”.
O escândalo financeiro que abalou o HSBC na Suíça, mostrando que figuras impolutas de vários países, como o Brasil, mantinham contas secretas no exterior, é rastreado minuciosamente pelos repórteres. Brasileiros como o bicheiro Capitão Guimarães, a recém-falecida atriz Marília Pêra, os apresentadores de televisão Jô Soares e Ratinho estão na lista dos felizardos milionários que têm ou tinham contas na Suíça.
O técnico em informática Hervé Falciani, insuspeito funcionário do HSBC, colheu dados, sigilosa e organizadamente, durante o ano de 2006 e, em seguida, com o apoio de jornais de vários países — no Brasil, “O Globo” e o “UOL” (Fernando Rodrigues fez jornalismo de primeira linha) foram os principais divulgadores, num excelente trabalho (inclusive sem preconceito contra os ricos, mostrando que, em alguns casos, não havia ilegalidade alguma) —, divulgou a história de que cerca de 180 bilhões de euros tinham pelo menos origem suspeita, senão ilegal. Os fatos ainda estão sendo esquadrinhados.
O prefácio da edição patropi é do jornalista Ismael Pfeifer, que situa o caso dos brasileiros com contas no HSBC suíço. A Receita Federal continua investigando caso a caso.
Alex era um craque relutante? Brilhava na maioria dos jogos, tinha uma visão integral da partida, como se fosse um observador externo, fazia belos gols e dava passes incríveis. Porém, por não ser marqueteiro de seu futebol e por não disputar espaço, não se tornou um cracaço de seleção. “Alex — A Biografia” (Planeta, 256 páginas), de Marcos Eduardo Neves, tenta explicá-lo.
Alex jogou, sempre muito bem, no Coritiba, no Palmeiras, no Cruzeiro e no Fenerbahçe, da Turquia. Era um ídolo incontestável dos torcedores de seus times, mas também era respeitado e admirado pelos torcedores dos clubes adversários. Seu futebol vistoso e produtivo, ao estilo de Leonel Messi, sempre agradou todos aqueles que iam aos estádios ou assistiam jogos pela televisão, independentemente se torciam para seu time ou não.
Quando fui ao Japão em março de 1996, encontrei-me com Zico, o estelar jogador do Flamengo e da Seleção Brasileira, e percebi que os japoneses falavam muito bem dele (utilizei como intérprete o brasileiro Manzo, professor de uma universidade em Tóquio). Eles sabiam que era um grande jogador e um técnico capacitado. Mas o que mais ressaltavam era o “caráter” do homem. Zico era bem-visto como cidadão.
Alex não é muito diferente de Zico. Além de jogador de primeira linha, é um cidadão exemplar, o que não quer dizer perfeito (perfeito nem Deus). Ninguém discordaria se a biografia tivesse o título de “Alex — Um Jogador, Um Homem”.

Ruy Castro é um dos jornalistas patropis que mais entendem de música e sabem histórias de seus criadores. “Chega de Saudade” é a biografia mais ampla, amorosa e racional da bossa nova. Não há nada igual no e fora do país. É uma delícia, para usar uma palavra, digamos, emocional. Agora, o biógrafo, crítico e historiador da música volta às livrarias com um livro que certamente vai entrar para a lista de todos aqueles que apreciam a arte dos bons cantores, compositores e músicos: “Noite do Meu Bem — A História e as Histórias do Samba-Canção” (Companhia das Letras, 560 páginas).
Sinopse da editora
“Em 1946, o presidente Eurico Gaspar Dutra proíbe os jogos de azar no Brasil. A decisão gerou uma legião de desempregados e um grande contingente de boêmios carentes.
“Os cassinos fecharam, mas os profissionais da noite logo encontraram um novo ambiente- as boates de Copacabana.
“Em vez das apresentações grandiosas, as boates favoreciam a penumbra, a intimidade, o romance. Assim como a ambience, a música baixou de tom. Os músicos voltaram aos palcos, mas em formações menores, tocando quase como um sussurro ao ouvido.
“Essa nova música, as boates e o contexto que fez tudo isso possível são o tema do novo livro de Ruy Castro, que mais uma vez nos delicia com sua prosa arrebatadora.”
George Lucas, o John Ford da ficção científica, é um fenômeno. A franquia “Star Wars” se tornou sinônimo de cinema, com influência na cultura pop. O livro “George Lucas: Skywalking — A Vida e a Obra do Criador de Star Wars” (Generale, 424 páginas, tradução de Marleine Cohen), de Dale Pollock, é um relato amplo sobre um criador em, por assim dizer, desenvolvimento.

Se o leitor é daqueles que pensam que Brasília foi construída devido unicamente aos esforços de Juscelino Kubitschek — com o apoio dos arquitetos Lucio Costa e Oscar Niemeyer e do engenheiro e político mineiro Israel Pinheiro — precisa ler urgente o livro “Uma Luz na História” (Kelps, 546 páginas), da historiadora gaúcha Nina Tubino. A obra resgata de um injusto esquecimento o engenheiro Joffre Mozart Parada, “o primeiro engenheiro a chegar no local da futura capital”.
Nina Turbino revela “que, participando da Comissão de Cooperação para a Mudança da Capital Federal, como engenheiro-chefe”, Joffre Mozart Parada “realizou a demarcação e mapeou as fazendas a serem desapropriadas, para assentar o futuro Distrito Federal”. O especialista foi um grande parceiro de Bernardo Sayão, embora, pela timidez ou simplicidade, não tenha a mesma fama. “Em 1953, Joffre é o encarregado da construção da Transbrasiliana (BR-14) e realiza o trecho-Itumbiara. Trecho muito importante para as ligações do Centro com o Sul e Leste do país.”
Só o resgate de Joffre Mozart Parada já vale o livro. Mas a obra recupera outros aspectos da história goiano-brasileira. “Brasília não nasceu do nada”, frisa Nina Turbino. Tanto a região era habitada quanto a luta pela mudança da capital é bem antiga. No período colonial e no Império, falou-se, e muito, em mudar a capital para o interior do país. Já no governo Vargas, na década de 1950, um grande mudancista foi o general e senador Aguinaldo Caiado de Castro (nascido no Rio de Janeiro e filho de goianos).
O papel de Juca Ludovico na luta pela construção de Brasília — foi o “responsável pelo ato jurídico que determinou a desapropriação das terras do quadrilátero” — é resgatada com desvelo, como as ações de Bernardo Sayão, Altamiro de Moura Pacheco, Segismundo de Araújo Melo.
Além da pesquisa exaustiva e original, Nina Turbino escreve muito bem. Sugiro apenas que, na próxima edição, a autora coloque um subtítulo para fortalecer e iluminar o belo título. “Uma Luz na História”, por si, não chama a atenção dos leitores
O livro será lançado no dia 3 de novembro, numa terça-feira, às 19 horas, no Palácio das Esmeraldas.
[caption id="attachment_49374" align="aligncenter" width="300"] Livro resgata a história do engenheiro Jofre M. Parada[/caption]

“A Queda — Rua Atacarambu, 120” (Scriptum, 403 páginas), de Antônio Nahas Júnior, é um registro bem fundamentado sobre as ações da Política Operária (Polop) e do Comando de Libertação Nacional (Colina) em Minas Gerais. O registro varia do histórico ao memorialístico.
O autor esforça-se para ser objetivo, mas, como participante da história, fica, é claro, ao lado dos esquerdistas e guerrilheiros.
Veja abaixo a capa do livro:

Um dos relatos de “Contos de Kolimá”, o brilhante registro literário da vida no Gulag, esclarece os últimos dias do poeta que ridicularizou o ditador Stálin e seu bigode de barata
[caption id="attachment_46805" align="alignright" width="250"] Obra de Primo Levi, com Leonardo De Benedetti, indica que se trata de texto mais interessável sobre Auschwitz[/caption]
O judeu italiano Primo Levi escreveu talvez o livro mais extraordinário de um homem que esteve num campo de extermínio. “É Isto um Homem?” (Rocco, 256 páginas, tradução de Luigi Del Re) não é lacrimoso e conta, de forma seca, ao estilo de Graciliano Ramos, como era a vida em Auschwitz, como os seres humanos, desumanizados — tanto as vítimas quanto os algozes —, se comportavam no dia a dia. Agora, a Companhia das Letras lança “Assim Foi Auschwitz” (280 páginas, tradução de Federico Carotti), de Primo Levi com Leonardo De Benedetti.
Quando libertou os prisioneiros de Auschwitz, na Polônia, a cúpula do Exército soviético solicitou que Primo Levi e Leonardo De Benedetti escrevessem um relatório circunstanciado do que era o campo de extermínio, notadamente sobre suas condições de saúde. Os dois italianos elaboraram o impressionante “Relatório Sobre Auschwitz”. A vida lá, a abominação criada pelos nazistas da Alemanha, era pior do que se imaginava.
O “Relatório Sobre Auschwitz” foi publicado em 1946. Além da denúncia em si, acabou sendo importante por, em seguida, revelar um escritor, Primo Levi, que escreveu outros livros sobre as agruras de se viver em Auschwitz.
Textos inéditos de Primo Levi sobre Auschwitz são reunidos no livro publicado pela Companhia das Letras. Os textos do sobrevivente de Auschwitz difere, em larga medida, de alguns depoimentos de outras vítimas do Holocausto. O autor de “A Trégua” não retira a emoção de suas histórias, mas não permite que ela turve sua capacidade de mostrar e analisar. Por vezes, sua prosa parece fria, distanciada. Mas é o modo que encontrou, com precisão, de relatar a verdade do que viu e sentiu num dos mais letais campos criados pelos alemães de Adolf Hitler.
Depois de sobreviver a Auschwitz e de viver para contar o que aconteceu na fábrica da morte, Primo Levi matou-se em 1987. Estava depressivo e, por certo, Auschwitz, mesmo depois de várias tentativas de purgação, com a publicação de livros, “vivia” incrustado no seu ser (leia mais aqui).

[caption id="attachment_46786" align="aligncenter" width="620"] Saul Bellow | Foto: Ulf Andersen/Getty Images[/caption]
Saul Bellow é, ao lado de William Faulkner, o maior escritor americano do século 20, seguido, às vezes de perto, por Ernest Hemingway, Scott Fitzgerald, John Updike, Philip Roth e Joyce Carol Oates. Por isso faz muito bem a Companhia das Letras ao publicar, num único volume (“A Conexão Bellarosa”, 424 páginas), quatro novelas de Bellow: “Um Furto”, “A Conexão Bellarosa”, “Uma afinidade Verdadeira” e “Ravelstein”.
“Ravelstein” conta a história do crítico e ensaísta Allan Bloom (não confundir com Harold), notável intelectual americano, amigo de Bellow, que, como tantos, a Aids levou. Parte da família de Allan Bloom não apreciou a crueza da novela (que mal disfarça sobre quem é o personagem), ou pequeno romance. Mas a história, verdadeira e rica, é um poderoso retrato de um homem brilhante que, como todos nós, pode ter sucumbido aos instintos, ao tormento do sexo.
A tradução é de Caetano Waldrigues Galindo (o tradutor de James Joyce) e Rogério W. Galindo.

[caption id="attachment_46782" align="aligncenter" width="620"] Patrick Cockburn | Foto: divulgação[/caption]
Livro elogiado, de modo escancarado, pelo radical Noam Chomsky é suspeito de esquerdismo. Mas há elogios dos equilibrados Elio Gaspari e “The Observer”. “A Origem do Estado Islâmico — O Fracasso da ‘Guerra ao Terror’ e a Ascensão Jihadista” (Autonomia Literária, 208 páginas, tradução de Antônio Martins), de Patrick Cockburn, é apontada como obra ponderada sobre o ISIS.
O Estado Islâmico, filho bastardo da Guerra ao Terror, “veio para ficar”, aposta Elio Gaspari. Chomsky diz que aqueles