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Haroldo Naves é presidente da Federação Goiana de Municípios e ex-prefeito de Campos Verdes por quatro mandatos

Artigo conta com a colaboração do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Ecologia, Evolução e Conservação da Biodiversidade (INCT EECBio) da Universidade Federal de Goiás

Ex-integrantes da Lava Jato abriram cova coletiva para sepultamento da honra alheia e agora estão à beira do barranco, escreve Demóstenes Torres

É inacreditável que o 2º maior bioma brasileiro não receba qualquer auxílio federal e incentivo aos programas de preservação ambiental

Há quem os critique, há quem os ame; eles já me resgataram do fundo poço e lhes sou grata: os livros de autoajuda. Acredito no “querer é poder” junto com o “querer é agir para poder”.

Empresária desabafa sobre possível abandono parental. “Pobre menino rico”, diz o título
[caption id="attachment_221458" align="alignnone" width="620"] Empresária Andressa Mendonça | Foto: Reprodução[/caption]
Wilder de Morais: pobre menino rico
Andressa Mendonça
Esta história é sobre a minha vida, mas não é uma história somente minha.
Afinal este relato é, também, o de milhares de mulheres que veem seus filhos serem abandonados pelo pai.
Tornei-me uma pessoa pública, de interesse de parte da imprensa, por circunstâncias que independeram da minha vontade. Isto trouxe, por um tempo, holofotes sobre a minha vida pessoal, meu casamento, meus filhos. Recentemente, um vídeo que circula na internet me colocou novamente em uma evidência que não pedi.
Fui casada por quase oito anos com Wilder de Morais, que se tornou conhecido quando foi senador. Hoje é Secretário de Estado em Goiás.
Esta união de duas pessoas adultas cumpriu seu ciclo, e teve como fruto mais marcante nossos dois filhos.
E é por eles que, agora, escrevo.
Em uma situação normal seria irrelevante, dada a obviedade, destacar a importância que os filhos têm na vida dos pais. A capacidade de transformação que eles têm em nossas vidas e a responsabilidade sentimental que assumimos na formação de cada um deles.
Desde a mais tenra idade até a vida adulta, os filhos guardam nos pais uma fonte límpida de exemplo, proteção, cuidado, amparo. Um pai e uma mãe são o porto seguro de cada um, um elo tão forte que até quando nos tornamos mães ainda temos em nossos pais este vínculo, que se torna sempre renovado.
No entanto, é preciso dizer tudo isto, uma vez que Wilder de Morais abandonou seus próprios filhos à própria sorte.
O abandono parental é um traço recorrente nas relações de ex-casais muito ligado ao desamparo financeiro, ao desalento econômico que historicamente assola nosso país.
O que acontece é que, a necessidade premente de todas nós de termos um compromisso financeiro com o ex-parceiro para prover o sustento dos nossos filhos, faz sombra sobre outro tipo de abandono: o distanciamento sentimental.
Arrisco dizer que este é ainda mais grave.
A decisão pessoal de Wilder de Morais em não participar da vida dos filhos em crescimento, de conviver com seus dilemas, suas evoluções, suas conquistas é uma das opções mais mesquinhas que um indivíduo pode fazer, pois torna-o comezinho, menor.
Um pai que renuncia ao amor dos filhos está morto por dentro.
Tenho dois filhos do casamento com Wilder e o privilégio de ter condições de prover sustento a eles. Igualmente tenho a sorte de ter uma nova família com um marido que provê o que é além do necessário, com conforto financeiro e emocional a todos nós. Mas, o que está em discussão aqui não é contado com as cifras e a quantidade de zeros depois dos números que Wilder de Morais tanto ama.
Abraço não tem cifrão, o amor não está na bolsa de valores, respeito não é construído com ferro, tijolo e concreto armado.
Diante da brevidade da vida, o que está na mesa é o amor paternal. O amor compartilhado por pais e filhos não pode ser adquirido à vista no cartão, com um vistoso cheque ou exposto numa garagem como um prêmio. Talvez por isto mesmo, Wilder tenha renunciado um bem que não pode ser precificado em Real, Dólar ou Euro.
É triste ver homens se julgarem bem-sucedidos pelas conquistas amorosas mediante aportes financeiros ou pela montanha de notas e moedas que conseguem amealhar em suas trajetórias profissionais e suas carreiras empreendedoras.
Não ter tempo para os filhos é um desperdício de tempo.
À época deste vídeo que circula, enfrentava problemas de saúde de ordem emocional com um dos nossos filhos e busquei ajuda, fiz contato. Busquei o compartilhamento da situação. Não precisava de dinheiro, de um cheque ou qualquer outro tipo de ajuda pecuniária. Eu mesmo não precisava nem de um aceno ou cumprimento.
Precisava de um pai para meu filho. Ele, por sua vez, na sua adolescência, precisava de um olhar, um abraço, um toque, uma palavra. Precisava do reconfortante silêncio que somente um pai é capaz de prover quando na presença de seu filho.
Busquei e não encontrei. Pior ainda: busquei e insisti, com o ímpeto que só uma mãe em defesa dos filhos pode ter. Como resultado: fui ameaçada, humilhada e impedida de levar meu filho à presença do pai que, diante do que classificou uma tentativa minha de “trazer problemas para a minha vida” usou do poder político que goza no presente no Estado de Goiás para acionar o comandante da Polícia Militar.
Meu filho e eu fomos retirados da porta da casa do pai pela força policial. O uso estatal da força serviu para que um pai enxotasse seu filho e uma mãe. “Não me venha trazer problemas”, repetia.
O “problema” que eu levava, inclusive, estava à sua frente, ouvindo o que o pai dizia sobre ele mesmo.
Saí arrasada por presumir os sentimentos de rejeição que meu filho sentia. Neste dia, prometi abraçá-lo o dobro de vezes que puder. De ouvi-lo o triplo de vezes que puder. De estar com ele para tudo, sendo mãe, sendo pai, fazendo com que ele se sinta envolto num ambiente de aceitação, de amor, de amparo.
Superar dificuldades e ocupar ausências e omissões é um dos superpoderes que toda mulher adquire ao se tornar mãe.
Aquela atitude me marcou, mas não me surpreendeu. Há pouco tempo tive de ser testemunha de uma outra mãe. Não por acaso, esta mulher era mãe de uma filha de Wilder de Morais. Ela precisou da mediação jurídica para obter o óbvio: uma pensão justa e proporcional à condição de vida do pai para criar sua filha.
Isto mostra que os problemas deste homem, empresário de sucesso cuja vaidade o empurrou para a política, que hoje está enfurnado na estrutura pública de um Governo, não são comigo, e sim em sua dificuldade em respeitar mulheres.
Seu pior martírio, no entanto, é ser incapaz de se conectar com o amor paternal, e de ser capaz de amar e deixar-se ser amado por seus filhos.
Eu vou seguir em frente. Como na canção de Marcos Valle, imortalizada pelo cancioneiro popular brasileiro, “a mão que toca o violão, se preciso, faz a guerra”. Seguirei sendo “pãe” e lutando, assim como fazem outras mulheres, para encontrar caminhos e soluções perante o abandono de todo o tipo de pais que relutam em sê-los.
De pais que veem nos filhos um “problema”, que veem a responsabilidade e o prazer de conviver com suas crias como um fardo a ser evitado.
Quando o amor é um problema, tudo em volta está apodrecido e triste.
Quem vê o mundo de forma simplória, de cima pra baixo, pela perspectiva das alturas de estar eternamente sentado uma montanha de dinheiro realmente não precisa de problemas: sua vida já é uma anomalia que irá consumi-lo de dentro pra fora.
Aos homens, que já são pais ou que ainda serão, um conselho: vivam o prazer que é a paternidade. Sintam a transformação de ver a sua própria existência ser ressignificada diante de um sentimento maior que a própria vida.
Assim, poderão ver o quanto este amor é forte a ponto de formar um ser humano, desde a sua forma mais dependente e frágil, até tornar-se um indivíduo, um cidadão, um homem ou uma mulher de fibra, de garra, de força.
Porque a luz que brilha de um ser humano iluminado nada mais é que o amor dos pais irradiado na convivência de uma vida inteira

Por Paulo Sérgio*
[caption id="attachment_196251" align="alignnone" width="620"]
Muito se tem dito sobre a nova Reforma da Previdência. Nos últimos 20 anos, nosso País já passou por duas reformas, em 1998 e 2003, apresentadas sob a justificativa de serem urgentes e necessárias para resolver o problema de sobrevivência do sistema.
Como se sabe, foi aprovado no plenário da Câmara dos Deputados o texto que introduz alterações na no sistema de Previdência Social, excluindo Estados e Municípios e retirando a previsão de eventual contribuição extra para seus servidores. As atuais regras do BPC e do Trabalho Rural, profundamente atingidos na proposta original do governo, foram preservados. Foi ainda abortada, no âmbito da União, a chamada desconstitucionalização, que atribui à lei complementar a definição de regras previdenciárias, como idade mínima e tempo de contribuição. Além disto, a pretensão do governo de instituir o famigerado regime de capitalização, onde o trabalhador, exclusivamente, faria a sua própria poupança, foi sepultada. Estes pontos, em especial, caso mantidos pelo legislativo, representariam um duro golpe na segurança dos trabalhadores brasileiros em geral, ao vulnerabilizar a rede de proteção social estabelecida na Constituição de 1988.
No âmbito dos Estados, todavia, mudanças nas regras para seus respectivos regimes próprios poderão ser feitas por meio lei complementar, exigindo quórum menor para a sua aprovação. Manter as regras de aposentadoria no âmbito constitucional significa a necessidade de um debate, em tese, mais profundo, amplo e qualificado, requerendo maior composição de forças, mitigando o risco de injustiças. A Constituição, neste caso, opera como um freio à ganância e a afronta aos princípios e objetivos nela positivados.
No caso goiano, somente nos últimos 6 anos, a alíquota de contribuição foi majorada duas vezes, ambas ilegalmente, pela falta de cálculo atuarial que as justificassem. Em razão disso, o servidor goiano contribui hoje com a 2ª maior alíquota de contribuição previdenciária do Brasil, no percentual de 14,25% sobre o seu rendimento bruto total, diferente dos trabalhadores da iniciativa privada, cuja alíquota, além de ser muito menor (varia de 8 a 11%), incide sobre remuneração-base máxima de R$5.839,45 (teto do RGPS).
Apesar das intervenções feitas pelo parlamento, a proposta da Nova Previdência continua sendo injusta com os trabalhadores da iniciativa privada, pois cerca de 90% da economia pretendida virá destes que ganham em média 2 salários mínimos. Ela também cria um profundo ambiente de insegurança para os servidores públicos estaduais e municipais, ao remeter à lei a definição de regras fundamentais de seus regimes de previdência.
“O que está sendo praticado é um total desrespeito à Constituição de 1988.”
*Presidente do Sindifisco-GO

Estudo do Sebrae revela 28,4 milhões de negócios em plena atividade no Brasil; porém 71% atuam na informalidade

Por Ubiratan da Silva Lopes, presidente do Conselho Deliberativo Estadual do Sebrae Goiás
Um terço dos brasileiros (33%) já perdeu noites de sono planejando abrir o próprio negócio. O sonho de ser o patrão de si mesmo só perde mesmo para o de comprar a casa própria (49%), viajar pelo Brasil (45%) e comprar um automóvel (34%). Os dados do instituto Global Entrepreneurship Monitor (GEM) encontram respaldo na pesquisa ‘Empreendedorismo Informal no Brasil’, recém-lançada pelo Sebrae, com dados do IBGE/PNAD. Pelo estudo, o País conta com 28,4 milhões de negócios em plena atividade.
O fato, isolado, mereceria celebração, não fosse um detalhe: 71% desses empreendimentos estão atuando na informalidade. De cada três empresas, apenas uma está registrada no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ).
Esse exército formado por 20 milhões de negócios sem registro, sendo 716.338 em Goiás, atua à margem da economia, sem regularidade fiscal e cobertura previdenciária. Além da informalidade, preocupam, também, os motivos que levaram à iniciação do negócio, como a busca de uma alternativa à falta de oportunidades de emprego no mercado formal de trabalho, a complementação da renda familiar e a tão sonhada independência financeira. Motivos classificados pelo instituto GEM como “empreendedorismo por necessidade”, onde a chance de prosperar é reduzida.
O caminho para a formalidade, é certo, esbarra na alta carga tributária, na burocracia, no excesso de exigências e nos custos elevados dos registros. Há de se considerar, ainda, a pouca instrução do empreendedor informal acerca dos procedimentos para formalizar o negócio.
Mas os avanços obtidos com a criação do Simples Nacional em 1996 (regime de arrecadação, cobrança e fiscalização que unifica oito impostos municipais, estaduais e federais), da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa em 2006 (institui um tratamento simplificado, diferenciado e favorecido para as pequenas empresas) e do Microempreendedor Individual em 2009 (figura jurídica com CNPJ, carga tributária reduzida e benefícios previdenciários) são conquistas significativas para estimular a formalidade.
Nesse contexto, ressalta-se a importância de instituições como o Sebrae, que atua na promoção e no desenvolvimento sustentável dos pequenos negócios, fomentando o empreendedorismo por meio de cursos, consultorias e uma série de programas e projetos, em sua grande maioria gratuitos. Em 2018, como exemplo, 46% dos 204.895 atendimentos do Sebrae em Goiás foram destinados aos potenciais empresários, aqueles que possuem negócio próprio sem registro, e aos potenciais empreendedores, aqueles em que o Sebrae pode contribuir para despertar seu espírito empreendedor.
Portanto, se você atua na informalidade, ou se planeja realizar o sonho de ser o próprio patrão, um bom negócio é procurar o Sebrae. Em uma empresa planejada, com o empreendedor capacitado, atuando com eficientes sistemas de gestão (há muitos gratuitos na internet), o alto custo da formalização é compensado em pouco tempo. A informalidade, além de colaborar com a evasão de impostos e a concorrência desleal com os estabelecimentos formais é, literalmente, uma terra sem lei.

Para tentar alcançar cidadãos goianos, Cristiane Schmidt escreveu artigo sobre situação do Estado que mistura elementos econômicos e culturais
[caption id="attachment_163787" align="alignnone" width="620"] Cristiane Schmidt | Foto: Reprodução[/caption]
A secretária da Fazenda de Goiás, Cristiane Schmidt, divulgou um texto em suas redes sociais para tentar, de forma pessoal, explicar como tem visto a situação do Estado e do Brasil e como uma solução viria para as dívidas e os problemas. Citando a famosa música "Comida", dos Titãs, Cristiane escreveu e enumerou, de forma simples, onde estão e quais são os débitos que assolam Goiás.
Também fica claro, no texto da secretária, que sua visão dos resultado que propõe para Goiás é otimista, mas não rápida, nem simples, como também costuma dizer durante as entrevistas. Vale lembrar, porém, que mesmo pedindo para que os poderes, os cidadãos e empresários deem as mãos neste momento, e trabalhem por uma solução, é visível que nem todos estão fazendo sua parte. Confira o artigo de Cristiane na íntegra.
A gente não quer só comida
A música dos Titãs “Comida” do final dos anos 80, escrita por Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sérgio Britto, em muito se assemelha ao sentimento de terra arrasada lamentado pelos cidadãos em alguns estados brasileiros após as eleições de 2018. Afinal, fazendo uma analogia à música, a população “não quer só comida” (ter o básico para sobreviver), quer “comida, diversão e arte” (viver com qualidade).
Apesar desse desejo social, a realidade em diversos estados acena para uma situação tão calamitosa, que nem “comida” os novos governantes conseguem oferecer no curto prazo. É fato que há um problema estrutural na ótica das despesas orçamentárias estaduais, mas, em vários casos, observou-se uma irresponsabilidade ímpar no uso do dinheiro público por alguns governantes até 2018, enquanto a sociedade carecia de serviços essenciais.
No caso de Goiás, por exemplo, aos municípios, o governo anterior olvidou de repassar por 13 meses recursos da saúde; 7, de transporte escolar e 4, de merenda para o ensino básico, dentre outras rubricas, que juntas somam um rombo ao redor de R$ 185 milhões. Ao Ipasgo (plano de saúde dos servidores públicos), o governo tomou para si os recursos retidos destes colaboradores, os quais deveriam ter sido repassados para o instituto. Por isso, mais uma monta semelhante àquela foi deixada para o novo governo pagar. As ações sociais relativas ao Fundo Protege formam outros exemplos descabidos. Com atrasos sucessivos dos repasses aos beneficiários antes de 2018, os restos a pagar por este governo somam mais outro montante parecido. E assim vai. Buracos e mais buracos que, no total, resultaram em um déficit conjuntural de R$ 3,4 bilhões no orçamento de 2019, com 14 folhas a ser paga. Uma frustração para os mais necessitados. Um desalento para o contribuinte goiano.
Os novos governantes que chegaram em 2019 lançam esperança, é verdade, mas têm um estrondoso problema fiscal a ser enfrentado: parte estrutural, parte conjuntural. Para lidar com essa adversidade, muitos governadores primaram em formar equipes técnicas, imbuídas do verdadeiro espírito público: aquele que preza por servir ao público e não por se servir dele. Ainda assim, diante de tal situação, o desafio é monumental.
No caso de Goiás, há muito trabalho a fazer, mas o time do novo governo já arregaçou as mangas e está agindo. Já foi anunciada a programação de pagamento do salário de dezembro de 2018 dos servidores públicos, que o governo anterior ignorou existir. Ao mesmo tempo, iniciou-se estudos sobre formas de aumentar a receita, diminuir a despesa e renegociar a dívida, para cobrir o deficit total (conjuntural e estrutural) de mais de R$ 6 bilhões, que, em um orçamento de ao redor de R$ 20 bilhões, é um valor representativo.
Do ponto de vista estrutural, o contexto é, também, periclitante. Atualmente, a folha de pessoal goiana consume 83% da receita do Tesouro e as dívidas, 14%. Se acrescer o repasse obrigatório aos demais poderes (1,5%) e aqueles constitucionais, chega-se a mais de 133% da receita! Inexiste, assim, recursos para os gastos fulcrais.
Esse descalabro estrutural orçamentário é compartilhado por outros estados e a sua solução nem é simples, nem rápida. Mudanças na lei deverão ocorrer para que a economia dos estados volte a respirar, na antiga simbiose do law and economics, lembrando que leis alteram os incentivos dos agentes econômicos. O legislativo e o judiciário, portanto, precisam dar as mãos ao executivo.
Mais ainda: aos 3 poderes, os empresários também devem se juntar. Ledo engano que governos estaduais falidos conseguirão gerar competitividade para as suas empresas pela via dos benefícios fiscais. É uma estratégia antiga, que não necessariamente trouxe os resultados esperados e que, certamente, não é sustentável no cenário atual para a maioria dos estados brasileiros. É, indubitavelmente, uma nova realidade a que o Brasil se depara. Enfatiza-se: todo o Brasil, não um estado ou outro.
Cabe, consequentemente, o empresário brasileiro aceitar, compreender e ajudar os governos, não exigindo mais benefícios fiscais. Há, por sua vez, que buscar a almejada eficiência produtiva de outra forma, especialmente sendo todos nós atores ativos da chamada 4a revolução industrial, onde a inteligência artificial, a robótica, a nanotecnologia, entre outros temas podem auxiliar sobremaneira no aumento de competitividade das empresas. É aí que o governo deve envidar seus esforços, além de fomentar a entrada destas firmas em novos mercados no exterior. Os governos precisam dos empresários, assim como a sociedade também os querem. Só que os esforços conjuntos precisam contemplar medidas que não sejam renuncias fiscais.
Neste contexto, diversos governantes estão buscando alternativas. Paciência de todos, assim, será fundamental, pois nenhum status quo é alterado rapidamente, ainda que seja esse o desejo. Arrumar a casa demora, mas vale a pena, pois, como bem sabe o agricultor, é somente semeando com qualidade que a colheita será exitosa e gratificante.
Governos não podem existir com o objetivo de manterem a sua própria existência. Governos devem existir para darem oportunidades aos que não têm, para tirarem as pedras do caminho dos empresários, para eliminarem as falhas de mercado e para aumentarem o bem-estar social. Devem ser, assim, enxutos e eficientes.
Neste aspecto, uma coisa é certa: conquanto almejar o equilíbrio fiscal não seja um fim em si mesmo, sem este, nenhuma política pública poderá ser implementada e, aí, todos sairão perdendo. Perquire-se, destarte, maneiras eficientes e sustentáveis de viabilizar que as necessárias ações sociais possam ser implementadas com sucesso, aquelas que modificam vidas e lares, em especial referente as dos menos favorecidos. Em uma sociedade desigual, com péssima distribuição de renda, bolsas de estudo, por exemplo, devem ser ofertadas aos cidadãos de menor renda, jamais aos ricos [aqueles que pertencem a classe B – renda domiciliar entre 10 a 20 salários mínimos (lembrando que o salário mínimo de 2019 vale R$ 1.006,00) – e a classe A – renda domiciliar acima de 20 salários mínimos].
Fazendo uma analogia à musica do Titãs, destarte, a partir de 2019 e ao longo dos próximos 4 anos, espera-se que os novos governantes, se responsáveis forem, trabalhem com vigor para lograrem oferecer, além de “comida”, “diversão e arte”, de forma sustentável, para todos os seus cidadãos. Goiás certamente é um destes estados, mas há outros nesta empreitada. Oxalá sejam todos. Deveras, se cada estado fizer a sua parte, no médio prazo, teremos um Brasil melhor e mais justo.

[caption id="attachment_148144" align="alignleft" width="300"] Foto: Rodrigo Estrela[/caption]
Gustavo Mendanha
Israel é referência em tecnologia, segurança, educação e saúde de alto nível. Mesmo sem terra fértil, sem petróleo e cercado por nações inimigas, investiu em tecnologia e agora exporta para países da Europa e Estados Unidos. Com apenas 70 anos de criação, cerca de 45% dos israelenses possuem ensino superior, uma das taxas mais altas do mundo.
Desde que assumi como prefeito, tenho buscado boas experiências para Aparecida. Para estreitar a relação, procurei a Embaixada de Israel buscando o intercâmbio de tecnologia e investidores, com o objetivo de ampliar nosso mercado exterior.
Quando estive com o embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, pela primeira vez, ele demonstrou uma simpatia especial pela nossa cidade. Desde então, se tornou meu amigo e esteve em Aparecida quatro vezes, sendo homenageado com o título de Cidadão Aparecidense. A parceria resultou na Praça Israel no Parque Trindade II, que celebra a aliança do município com o país.
Criamos também um projeto de lei, que será encaminhado para a Câmara dos Vereadores, decretando Berseba, cidade natal do embaixador, como a primeira cidade irmã de Aparecida. Com isso, será possível a troca de experiências, a realização de negócios entre empresas e entre os poderes públicos, promovendo o crescimento e desenvolvimento mútuo.
Acompanhado por Yossi, visitei TelAviv e Berseba durante missão oficial a Israel em 2017. Conheci parques tecnológicos e científicos com o objetivo de aplicar soluções exitosas do país aqui no nosso município. A expectativa é tornar Aparecida a primeira cidade inteligente do Centro-Oeste.
A aproximação entre Brasil e Israel foi fortalecida com a eleição do presidente Jair Bolsonaro. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, cumprimentou o brasileiro pela vitória e os laços de amizade entre os países estão avançando.
Me coloco à disposição do Yossi e do Bolsonaro para ajudar no diálogo entre Brasil e Israel. Aproveito a oportunidade para convidar o presidente eleito a visitar Aparecida. Bolsonaro teve mais 145 mil votos no município, sendo escolhido por mais de 67% dos nossos eleitores. Tenho um grande interesse na consolidação dessa parceria porque meu desejo, enquanto prefeito e cidadão, é tornar Aparecida referência para o Brasil, atraindo investimentos e melhorando a vida das pessoas que vivem aqui.
Gustavo Mendanha é prefeito de Aparecida de Goiânia

Diretor-geral de Administração Penitenciária lamenta que tema passou a ser usado como “palanque eleitoral”

[caption id="attachment_107534" align="aligncenter" width="620"] Imagens da Polícia Civil mostram captação ilegal de água em Goiás | Foto: PC[/caption]
Lincoln Tejota
Especial para Jornal Opção
Uma das grandes questões do futuro da humanidade é o caminho que estamos traçando para mitigar ou, como ainda predomina hoje, acelerar o aquecimento global. Esta frase pode parecer grandiloquente mas isso acontece porque temos uma capacidade limitada de enxergar além de algumas poucas décadas. Por isso é importante ressaltarmos as mudanças que já são perceptíveis e que levam tanto sofrimento à nossa população. Vivemos, no Brasil e cada vez mais em Goiás, os efeitos das grandes estiagens, que é o desastre ambiental mais frequente no país, de acordo com o Atlas Brasileiro de Desastres Naturais.
O drama vivido por moradores da região metropolitana de Goiânia tem sido a cada ano mais intenso. O mesmo acontece no Distrito Federal, dependente das águas antes acumuladas em nosso Estado. De acordo com o jornal Correio Braziliense, neste ano tivemos a pior seca dos últimos 100 anos. Os dados haverão de ser escrutinados pelo tempo, mas está claro que a estiagem não é mais aquela imagem distante que víamos no Jornal Nacional, retratada na vida do sertanejo do Nordeste do país. A seca chega cada vez mais forte a Goiás, aumentando a vulnerabilidade da população - em especial a carente, e os gastos dos poder público para tentar amenizar os danos.
Dinheiro é um assunto importante nesta equação. É preciso mudar o comportamento tanto dos gestores públicos quanto da população. É preciso mostrar a ambos os benefícios e a economia a ser gerada com ações de proteção e prevenção. É preciso endurecer leis e regras que punam quem comete atos diretos de ataque ao meio ambiente.
Um cálculo publicado em 2015 no jornal Estado de S.Paulo mostrou que a Samarco, empresa dona da barragem que se rompeu e pintou o Rio Doce, em Minas Gerais e no Espírito Santo, de lama, foi multada em R$ 372 milhões. Os danos do desastre, no entanto, são estimados em R$ 10 bilhões. Essa conta não fecha. E os prejudicados sempre somos nós e o meio ambiente.
Em Goiás, o governo se mexe para endurecer a fiscalização sobre propriedades rurais que usam água além do permitido. Sabe-se que isso intensificou a estiagem que atingiu a capital e arredores, além de outras regiões do Estado. É necessário que se aplique multas pesadas, e que o dinheiro seja revertido para ações de prevenção e combate cada vez mais intenso a desvios desse tipo.
Tive a oportunidade de participar, no mês passado da COP23, a Conferência Mundial do Clima, realizada em Bonn, na Alemanha. Lamento que as grandes decisões globais permaneçam travadas pela mesquinharia dos grandes países. Lamento que o Brasil tenha sido “agraciado” com o troféu Fóssil do Dia, devido a projeto (já aprovado no Congresso) que concede incentivo trilionário à indústria petrolífera interessada em explorar o pré-sal.
Apesar desses lamentos, podemos celebrar o fato de que milhares de pessoas reunidas ali estão realmente preocupadas em estudar, discutir e apontar soluções para os problemas climáticos. Abri esse texto falando da principal e mais difícil mudança: a do comportamento dos cidadãos, que muitas vezes não conseguem enxergar nas suas ações o dano provocado ao futuro dos seus descendentes. Eu estou comprometido com essa mudança. E você?
Lincoln Tejota é deputado estadual, presidente da Frente Parlamentar Ambientalista e participou da COP23 na Alemanha

Em um período de crises e incertezas, autores “clássicos” e contemporâneos podem oferecer caminhos para entender o país de hoje

Iuri Godinho
[caption id="attachment_80031" align="alignright" width="300"] Foto: reprodução[/caption]
Teve uma época na saúde em Goiás que não se fazia nada sem ouvir três médicos: Joffre Marcondes de Rezende, Francisco Ludovico e Luiz Rassi. Hoje estão todos mortos, sendo Luiz Rassi o que mais durou, falecendo neste sábado aos 96 anos.
Luiz foi o primeiro presidente e fundador da Associação Médica e dirigiu a sessão que deu origem ao Conselho Regional de Medicina. Foi da turma inaugural de professores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal. Nos últimos anos estava em casa, mas há uns 8, 10 anos atrás ainda atendia nos finais de tarde no Hospital São Salvador. Às vezes eu inventava uma mal qualquer apenas para ir lá conversar com ele. Quando fui o curador do Museu da Medicina ele me deu tudo o que tinha de papel, incluindo sua biblioteca. No meio dos documentos, o formulário de imigração da família quando chegou nos Estados Unidos, na Ellis Island, Nova Iorque, vindo de Cuba (onde nasceu), a caminho do Brasil. E um papel timbrado da Casa de Saúde Dr. Rassi, de seu irmão Alberto, um dos pioneiros da medicina em Goiânia.
Sei a vida de Luiz e da família de trás pra frente plantando bananeira. Por exemplo, a esquecida fatalidade da morte de um irmão vítima de bala perdida. Sua luta implacável mas sem ódio ou deslealdade contra os curandeiros nos primeiros anos da nova capital. O primeiro evento científico promovido por ele em 1951.
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Por tudo isso, ele foi o médico mais importante de Goiás no século XX. Ninguém tossia sem ouvir o diagnóstico de Luiz. Tive a oportunidade de contar sua história no meu livro da história da medicina, depois recontá-la no museu e organizar uma homenagem a ele na Câmara Municipal ano passado.
São 2:28 da madrugada e acabo de chegar do velório, na Igreja São Nicolau. A família estava indo descansar quando entrei. Lá na frente, ao lado do caixão, o jornalista Batista Custódio. Achei triste e lindo ao mesmo tempo. Batista sereno, forte, um menino de 80 anos perto do mestre Luiz de 96. Não é assim que é a vida? Nós que ficamos carregamos a bastão e passamos adiante. Nós permanecemos e resistimos. Nós resistimos. Que se exploda a morte, as tristezas, dificuldades. Nós resistimos e fazemos. Nós construímos, filhos que somos das ideias, valores exemplos de grandes homens como Luiz Rassi.
Iuri Godinho é jornalista e proprietário da Contato Comunicação
Ricardo Ramos Alves Na quarta-feira, 5, foi lançado pela Prefeitura de Goiânia, o chamado “plano de mobilidade”, visando a melhoria no padrão de circulação de pessoas e bens do município. Uma semana antes, o jornal australiano “Journal of the Royal Society Interface”, publicou estudo mostrando “planos de mobilidade”, mas a partir de uma colônia de formigas. A iniciativa brasileira parece repetir a mesma trilha do Plano Diretor de Goiânia, aprovado em 2007: boa presença e envolvimento da área acadêmica e de técnicos, porém com quase nenhuma participação dos que “usarão” o sistema. Do outro lado do mundo, os responsáveis pelo estudo resolveram inverter a “ordem das coisas” e aplicar as regras que a natureza costuma produzir, observando o comportamento das formigas para depois aplicar no cotidiano. Seja qual for o nome ou tamanho do plano, parece haver algo em comum entre eles: a desconexão entre quem planeja a cidade e seus habitantes. E os resultados demonstram a falta de sintonia entre as pessoas e sincronia entre as ações. O modelo que se traduz nos estudos na Austrália, revela que a malha viária das formigas segue a lógica da “ligação mínima”, ou seja, as mais curtas possíveis, conectando-se sempre a um ninho mais próximo e não criando outras estradas novas para chegar até as árvores. Os humanos têm preferido utilizar modelos que encarecem o custo de manutenção das redes, pois aumentam os deslocamentos e não levam em conta as diversas distâncias e características locais, chamados em sua maioria de bairros ou setores. As formigas parecem entender melhor as diferenças locais, já que adotam ações diferenciadas para cada ninho. Tratam a questão da densidade e expansão do sistema com planejamento, nunca permitindo um crescimento desordenado e que possa colocar todo o sistema em risco. Um maior envolvimento das pessoas torna uma cidade “mais sustentável”; afinal, os espaços existentes necessitam ser compartilhados de forma inteligente. E boas práticas com atitudes individuais multiplicadas resultam em bens coletivos gerando um comportamento virtuoso, como é o dos insetos citados no jornal australiano. Trafegar pelas vias de “mãos vazias” e abrir espaços nas vias para “aquelas que passam com comida”, sem ultrapassagem, são atitudes comuns — entre as formigas, segundo a reportagem. Menos solidários, os humanos não se acostumam a ficar em fila, sequer atrás de caminhões, conclui. Para colocar um plano de mobilidade em funcionamento, talvez Goiânia precisará se espelhar na resiliência das formigas que, ao invés de esperar o inverno chegar, já se preparam para isso no verão. Se iremos adotar um plano para pessoas, quem sabe não utilizemos o comportamento das formigas para refletir sobre os problemas do desenvolvimento e do planejamento urbano? Se a construção de uma cidade sustentável passa pelas pessoas, podemos nos esforçar para repensar nossos centros urbanos e — por que não? — em descentralizarmos e limitarmos o tamanho do “formigueiro”. Ricardo Ramos Alves é arquiteto e urbanista, mestre em Desenvolvimento e Planejamento Territorial. Professor adjunto no curso de Arquitetura e Urbanismo e Design de Interiores da Faculdade Estácio de Sá em Goiânia