A revista científica de renome mundial, Nature, lançou em sua edição do dia 27 de setembro, um artigo intitulado “A geografia do clima e os padrões globais de diversidade de espécies”. As descobertas deste estudo têm o potencial de influenciar e direcionar ações futuras relacionadas à preservação de nosso planeta em meio às mudanças climáticas.

O artigo conta com a colaboração do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Ecologia, Evolução e Conservação da Biodiversidade (INCT EECBio) da Universidade Federal de Goiás (UFG), que recebe apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg).

O estudo se propôs a investigar por que há uma explosão de vida, incluindo animais e plantas, nas regiões próximas ao equador (trópicos) e uma menor diversidade à medida que nos deslocamos em direção aos polos.

Marco Túlio Pacheco Coelho, o autor principal, esclarece que, contrariamente à crença convencional de que isso se deve exclusivamente ao clima, a grande descoberta de seu grupo de pesquisa reside na compreensão de que a riqueza de vida nos trópicos não se deve apenas às condições climáticas, mas também à geografia do clima.

“Nosso estudo descobriu algo novo. Observamos o quão grandes são essas áreas ‘quentes e úmidas’, e o quão “isoladas” elas são entre si. Pense em regiões montanhosas onde as pessoas vivem em vales separados umas das outras e falam diferentes línguas. O mesmo acontece com plantas e animais. Se estiverem em um lugar isolado, eles crescem e mudam de uma forma única”, explica o pesquisador.

“E aqui está nossa grande descoberta: cerca de um terço da razão de haver tanta vida nos trópicos não é apenas porque é uma região quente e úmida. É, também, porque esses tipos de clima cobrem uma vasta área e são realmente isolados. Isso significa que plantas e animais nessas áreas têm muito espaço isolado para crescer, mudar e se tornar únicos”, completa.

Aplicações futuras

Ele enfatiza que, embora o estudo não tenha sido originalmente projetado para contribuir diretamente para a proteção de espécies ameaçadas, suas descobertas têm potencial aplicação valiosa no futuro.

“Muitas vezes pensamos em quão mais quente nosso planeta pode ficar, e isso nos preocupa sobre as consequências para a biodiversidade. Mas, há outro lado da história que às vezes perdemos. Como o tamanho e a configuração de diferentes climas mudarão? Algumas zonas climáticas ficarão maiores? Outras desaparecerão? Ou ainda, se o clima do planeta fosse um quebra-cabeça, repetições de cores em múltiplas peças, algumas peças da mesma cor se dispersaram mais e outras se aproximariam?”, questiona.

Conhecer as respostas para essas perguntas é crucial, argumenta o pesquisador, lembrando que o estudo mostrou como o tamanho e o isolamento de condições climáticas se relacionam com a variedade de vida nelas. “Portanto, se soubermos como essas ‘peças do quebra-cabeça’ podem se deslocar devido às mudanças climáticas, podemos nos preparar melhor para proteger a incrível vida do nosso planeta”.

Autoria

Marco Túlio Pacheco Coelho é ex-aluno do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução da UFG.

Uma das coautoras do estudo, Elisa Barreto, também é ex-aluna do mesmo programa e, atualmente, ambos realizam pós-doutorado na Suíça, no Instituto Federal Suíço de Pesquisa Florestal, Neve e Paisagem, em Birmensdorf.

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