Armas adquiridas no governo Bolsonaro se concentram no Sul e Centro-Oeste
26 junho 2023 às 10h42
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As regiões Centro-Oeste e Sul do Brasil se destacam pela maior quantidade proporcional de armas de fogo adquiridas nos últimos quatro anos, considerando a proporção em relação ao número de habitantes. Os dados do recadastramento revelam o perfil das pessoas que optaram por se armar durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), com base nas armas adquiridas a partir de maio de 2019.
No Sul do país, foram recadastradas 1.061,8 armas a cada grupo de 100 mil habitantes. Na Região Centro-Oeste, a taxa foi de 1.034,5. Ambos os números estão significativamente acima dos índices registrados em outras regiões do país.
Bruno Langeani, gerente de projetos do Instituto Sou da Paz, explica que a Região Sul e os estados mais rurais possuem uma tradição de caça e histórico de alta posse de armas. Ele ressalta que as taxas do Centro-Oeste e do Norte chamam bastante atenção, indicando que já havia indícios de que isso ocorreria devido à expansão acelerada de clubes de tiro durante o governo Bolsonaro, mesmo em cidades pequenas dessas regiões.
Os cinco estados com as maiores taxas de armas de fogo por 100 mil habitantes são: Santa Catarina, Goiás, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Mato Grosso.
Aumento de homicídios
Bruno Langeani, autor do livro “Arma de Fogo no Brasil: gatilho da violência”, ressalta que a Região Norte teve crescimento de homicídios em 2021, na contramão do restante do país.
Além disso, o especialista apontou que vários estados do Norte e Centro-Oeste, como Mato Grosso, Rondônia, Acre e Mato Grosso do Sul, apresentam alta no número de assassinatos. “Só a taxa de armas, sozinha, não é o único fator, mas dificulta o controle de homicídios”, destaca.
Mercado ilegal
Langeani acredita que parte do aumento nas regiões Norte e Centro-Oeste foi influenciado pela infiltração de grupos criminosos que recorrem a laranjas ou registram armas em nome próprio, no Exército. Por meio desse esquema, o armamento é utilizado em atividades de milícias rurais ou em apoio a atividades ilegais, tais como o garimpo e a extração de madeira.
“É um afrouxamento do governo que contribui para crimes ambientais e faz crescer o risco para agentes públicos que atuam na fiscalização da região”, ressalta.
Membro do conselho do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o pesquisador Roberto Uchôa destaca que muitos garimpeiros tinham armas legalizadas. “A gente não pode descartar que a conexão dos mercados de arma legal e ilegal se intensificou. Se antigamente o criminoso precisava de R$ 60 mil, R$ 70 mil para comprar um fuzil, ele passou a comprar esse fuzil por R$ 15 mil no mercado interno”, pontua.