O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) está articulando um plano ambicioso para as eleições de 2026: conquistar a maioria no Congresso Nacional em 2027 e formar um “poder paralelo” capaz de confrontar o Supremo Tribunal Federal (STF). A análise é de Marianna Holanda da Folha de S. Paulo.

A estratégia de Bolsonaro mira tanto o Senado Federal, responsável por processos de impeachment de ministros do STF, quanto a Câmara dos Deputados, onde já houve tentativas de aprovar a anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro.

Mesmo em um cenário em que um presidente aliado ao bolsonarismo assuma o Palácio do Planalto, Bolsonaro quer garantir o controle do Legislativo. Em atos e entrevistas, ele tem destacado que a maioria no Congresso dá mais poder do que a própria Presidência da República.

O tema foi reforçado no ato realizado na Avenida Paulista, em São Paulo, no último domingo, 29, quando Bolsonaro afirmou: “Se vocês me derem isso [50% da Câmara e do Senado], não interessa onde esteja, aqui ou no além, quem assumir a liderança vai mandar mais que o presidente da República”.

A prioridade do ex-presidente é conquistar o comando do Senado e da Câmara dos Deputados. Com a maioria, Bolsonaro pretende eleger os presidentes das duas Casas, além de garantir o controle das principais comissões.

Segundo aliados, o objetivo é aprovar pautas de interesse do grupo, incluindo eventuais ofensivas contra ministros do STF, como Alexandre de Moraes. O plano de Bolsonaro inclui a articulação com partidos como PL, União Brasil, PP e Republicanos, priorizando candidatos que apoiem as investidas contra o Supremo.

Até mesmo os suplentes dos senadores estão sendo avaliados. A meta do PL é eleger ao menos 22 dos 81 senadores e alcançar cerca de 50 com apoio de legendas aliadas, viabilizando a presidência do Senado — com o nome do senador Rogério Marinho (PL-RN) sendo ventilado para o cargo.

Articulação

Embora o foco principal seja o Congresso, Bolsonaro também avalia nomes para disputar a Presidência em 2026. Estão no radar governadores como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (União-GO), Romeu Zema (Novo-MG) e Ratinho Jr. (PSD-PR), além da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Tarcísio lidera as pesquisas, mas sofre críticas da ala mais radical por manter diálogo com o STF. Bolsonaro pretende ainda garantir espaço para sua família no Senado.

Ele já sinalizou que Carlos Bolsonaro (PL-RJ) deve concorrer ao Senado por Santa Catarina e que Eduardo Bolsonaro seria candidato por São Paulo. Michelle Bolsonaro pode ser opção para o Senado, caso não dispute a Presidência.

Bolsonaro e seus aliados avaliam que, na prática, o Congresso tem mais condições de impor limites ao STF do que o presidente da República. A experiência do próprio Bolsonaro durante seu mandato, quando atos como o indulto ao ex-deputado Daniel Silveira foram barrados pela Corte, reforça essa percepção.

Por isso, o ex-presidente acredita que o Senado Federal será peça-chave em 2027 para colocar em prática pautas como a anistia aos condenados pelos atos golpistas.

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