PUC Goiás: 43 anos de história e 13 anos de ruptura
31 outubro 2015 às 13h55
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Altair Sales Barbosa
A antropologia nos ensinou coisas interessantes. Uma delas foi diferenciar o êmico e o ético. Uma análise êmica da realidade é uma análise realizada de dentro para fora. O observador é como se fosse parte dessa realidade, não sendo obrigado necessariamente a aceitá-la totalmente. A análise ética ocorre quando o observador enxerga e analisa a mesma realidade, mas de fora para dentro. Há um diferencial marcante entre as duas análises. Na perspectiva êmica, mesmo percebendo as coisas erradas, o observador se veste de um escudo protetor, pensando estar protegendo a coletividade à qual pertence.
Na realidade, sua atitude demonstra tão somente a busca de uma proteção pessoal. Já na perspectiva ética, a postura do observador não é a busca da proteção pessoal, mas a busca da proteção da instituição ou da coletividade. Neste sentido, a presente crônica procura apresentar de forma bem sucinta um dos aspectos que hoje caracteriza não a instituição, mas, alguns dirigentes (não todos) que compõem a cúpula diretiva da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás).
Já houve uma época, na hoje conhecida Pontifícia Universidade Católica de Goiás, em que as ideias, qual água potável correndo livremente sobre a superfície da terra, fluíam pelos cantos e corredores da então Universidade Católica de Goiás (UCG). Era uma época em que a universidade fazia jus a seu nome – o “universo dentro da diversidade” – e o pluralismo respeitoso das ideias fazia a antiga UCG crescer nos conceitos mais altos da educação brasileira. Mesmo assim, naquela época alguns intelectuais que preenchiam os espaços da universidade estavam sempre criticando ou descontentes com algumas coisas, buscando a perfeição. Aliás, a crítica é algo próprio dos intelectuais.
Mas os novos tempos trouxeram obstáculos para a crítica consciente, responsável e construtiva. Esses novos tempos estão sendo marcados por uma administração descomprometida com a história da UCG. Implantou-se uma ditadura e uma ruptura com os valores tradicionais da instituição. Hoje aqueles intelectuais devem estar pensando: “Só existe valor na alegria quando a tristeza se implanta de vez. Foi isso que aconteceu com a UCG, tiraram dela tudo que era bonito.”
A ambição, a vaidade e o personalismo derrotaram os ideais bonitos da universidade, sua missão e os elementos essenciais do cristianismo, pois substituíram o amor, o diálogo, a competência e o respeito por ódio, arrogância e ignorância. Nunca na bonita história desta universidade as trevas campearam tão soltas pelo ensino e pela pesquisa.
Você sabia que parece existir uma força-tarefa para não deixar circular os boletins da Associação de Professores e do Sindicato dos Professores do Estado de Goiás? Mesmo no auge da ditadura militar havia mais respeito. Quando uma autoridade não gostava de alguns textos ou os considerava inconvenientes, convocava o autor para um diálogo, depois o comunicava a decisão de liberar ou não tal texto. Hoje, nem isto acontece na PUC; os impressos são recolhidos imediatamente para que alguma semente da contradição não se espalhe entre professores, funcionários e alunos. Portanto, nesta época em que se comemora a fundação da antiga Universidade Católica de Goiás, em outubro de 1959, não há nada que comemorar, pois os atuais dirigentes querem apagar a história da UCG. Por isso, ao invés de se comemorar 56 anos, deveriam comemorar somente os 13 anos dessa reitoria. Porque a história daquela universidade era outra.
(texto dedicado a Dom Antônio Ribeiro de Oliveira, pela sabedoria, serenidade e coerência cristã).
Altair Sales Barbosa, doutor em Antropologia, pesquisador do CNPq, foi professor na PUC Goiás por 46 anos E-mail: [email protected]