Goiás é a terra do Serviço, e não do Agro
30 abril 2023 às 00h00
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Com alta de 8,9% em fevereiro, comparado com o mesmo mês do ano anterior, o setor de serviços em Goiás segue crescendo acima da média nacional, que foi de 5,4%. E o destaque é para o setor de transportes, que foi responsável pelo maior impacto positivo com o registro de avanço de 2,3% só no último mês. Os dados, que evidenciam a importância desse setor para a economia goiana, são da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) e foram apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última semana.
Outra atividade que puxou para cima os índices foi o turismo, que teve alta de 22,3% em feveiro de 2023, se comparado ao mesmo mês de 2022. Se pegarmos só a evolução dos dois primeiros meses deste ano, o crescimento da atividade turística goiana foi de 15,55%, maior que a média do país, de 13,8%. E isso graças aos bons resultados das empresas de locação de automóveis, restaurantes, hotéis, agências de viagens, transporte rodoviário coletivo de passageiros e serviços de bufê.
O superintendente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE) em Goiás Edson Roberto Vieira, destaca que o setor de serviços é o mais importante das economias goiana e brasileira. “Quando você tem uma evolução da economia de qualquer país, o setor de serviços vai ficando mais robusto. Se a economia cresce, o setor de serviços também cresce”, comentou.
E o superintendente do IBGE exemplificou: “quando uma indústria abre, geralmente, tem funcionários em todas as áreas. À medida que cresce, começa a terceirizar os serviços”. E isso, segundo Edson, não ocorre apenas no chão da fábrica.
“Na agricultura isso também tem acontecido em vários serviços relacionados à tecnologia ou áreas técnicas, como a pulverização de lavoura, por exemplo”, ressaltou. E segundo ele, que também é professor do curso de Economia da Universidade Federal de Goiás (UFG), o setor de serviços já é o mais importante no Estado há bastante tempo.
Para se ter uma ideia da importância do serviço para a economia em Goiás, o desempenho do setor de serviços foi melhor do que o de outros ramos da economia. Enquanto o setor de serviços apresentou um crescimento de 8,2% em 2023 até fevereiro, o comércio cresceu 0,9% e a indústria, apenas 0,3%. E não é para menos. De acordo com levantamento da Junta Comercial do Estado de Goiás (Juceg), Goiás tem hoje 165.908 empresas cadastradas no setor de serviço, distribuídas em 124 CNAEs, que é classificação nacional de atividades econômicas.
“O setor de serviços é o mais punjante do nosso Estado”, acrescentou o superintente de Desenvolvimento Regional da Secretaria da Secretaria de Indústria, Comércio e Serviços do Estado de Goiás (SIC), Danilo Arraes. Para ele, se esse setor cresce, “a economia como um todo também cresce”. Afinal, de acordo com sua visão, o serviço ajuda a melhorar os índices goianos de renda per capita e o Produto Interno Bruto (PIB).
Crescimento pós-pandemia
O chefe do IBGE e Goiás explicou que o setor sofreu muito com a pandemia uma vez que muitas atividades ficaram completamente impossibilitadas de serem executadas. E isso, na visão dele, gerou uma “demanda reprimida”. Para ele, o bom resultado de hoje tem a ver com isso. “Goiás vem registrando por vários meses consecutivos o crescimento da atividade. E crescendo muito mais que as demais atividades. Isso parece ainda ser efeito da pandemia. As pessoas demandam pelos serviços depois de terem sido impedidas de fazê-lo pela pandemia”, explicou.
O professor explicou que o setor de serviços atende tanto empresas quanto famílias. E, de acordo com ele, para que uma empresa se enquadre dentro do setor de serviços, “basta que ela preste um serviço”. Por isso, é um setor amplo e genérico, que envolve atividades completamente distintas. “Desde atividades que não requerem muita tecnologia até ramos altamente tecnológicos”, acrescentou Edson.
Por ser um setor extremamente heterogêneo, tem seus desafios. “Envolve, ao mesmo tempo, muita mão-de-obra não especializada e altamente especializada”, disse o professor. Apesar de envolver muita inovação, “a depender da atividade, tem o que os economistas chamam de menores barreiras de entrada”, acrescentou o superintendente do IBGE em Goiás. E Edson compara com a indústria. Enquanto, nesse setor, é necessário mais conhecimento do ramo e maior capital inicial, no setor de serviços isso é superado facilmente.
Para presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Goiás (Fecomércio-GO), Marcelo Baiocchi, apesar do impacto negativo que a pandemia teve no setor, a recuperação foi rápida, diferentemente da indústria, por exemplo. “Até porque o serviço não depende de equipamentos nem de suprimentos. É basicamente feito por pessoas”, destacou ao lembrar que a força motora da geração de empregos vem daí.
Geração de emprego e renda
Marcelo Baiocchi ressalta ainda que é no setor de serviço que muita gente tem o seu primeiro emprego. “É a porta de entrada para as pessoas que precisam de uma oportunidade para entrarem no mercado de trabalho”, comentou. E o superintendente da SIC lembra que o setor de serviços é o que mais contribui para a geração de emprego no Estado. “Junto com a construção civil e a indústria”.
Para o presidente da Fecomércio, a qualificação – ou melhor, a falta dela – é um dos principais fatores que impedem o crescimento mais acelerado do setor de serviços. “Nós vemos aí, principalmente na área de tecnologia, a falta de mão-de-obra qualificada. Até porque, com o advento do home office, um instrumento de trabalho muito usual na pandemia e acabou permanecendo”, pontou.
O chefe do IBGE em Goiás acrescenta que, dependendo da atividade do setor de serviços, a pessoa aluga um carro ou uma bicicleta e vai trabalhar. No entanto, atividades mais tecnológicas requerem uma capacitação maior. Além disso, “pra ter uma ascensão econômica e social maior, a pessoa tem que se qualificar. Até para ocupar posição novas que às vezes a gente nem conhece, mas estão surgindo. Por isso a questão da qualificação é fundamental”, avaliou Edson.
E tem outro ponto. Marcelo explica que, na área de tecnologia, empresas do mundo inteiro passaram a contratar em todo os países. Inclusive no Brasil. Mas, segundo ele, as entidades do sistema S estão vendo a necessidade dessa qualificação e têm feito investimentos pesados para que a mão-de obra qualificada possa suprir a necessidade do mercado.
Quem também aposta na parceria com o sistema S para sanar o gargalo da falta de mão-de-obra especializada é Danilo Arraes. “Eles são os braços impulsionadores do setor de serviço, Por isso é importante ter esse diálogo constante não apenas com as entidades parceiras, mas também com as empresas para entender quais são as principais demandas”, comentou.
Fazem parte do sistema S entidades como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o Serviço Social do Comércio (Sesc), o Serviço Social da Indústria (Sesi), o Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio (Senac), o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), entre outras.
Sem gargalos, crescimento poderia ser ainda maior
Marcelo Baiocchi acredita que não apenas o setor de seviços, mas todos os outros, esbarra em questões legais que travam o desenvolvimento da área. “A legislação às vezes cria burocracia demais para o crescimento de uma empresa”. E o superintende do IBGE alerta ainda que o setor de serviços envolve muita informalidade pela característica das atividades.
Quem concorda com Edson é o superintendente da SIC, que também lista a informalidade como um dos maiores desafios para o setor. “Precisamos quebrar o paradigma da informalidade e trazer essas pessoas que ajudam a impulsionar a área para a formalidade”, comentou. “Como é um setor muito heterogêneo, tem muita informalidade pela natureza de muitos serviços que são prestados. Muitas atividades de serviço contribuem para puxar a informalidade pra cima”, arrematou o chefe do IBGE em Goiás.
Além disso, o presidente da Fecormércio vê também na forma como os tributos são cobrados no Brasil um fator impeditivo de resultados ainda melhores do setor. “Muitas empresas da área trabalham com muita contratação de mão-de-obra e a reforma tributária, se aprovada da forma como está sendo discutida, vai causar um impacto enorme e em alguns setores pode chegar a 188%”, afirmou.
Marcelo reforça ainda que aumentar a oferta de empregos no setor de serviços tem relação direta com o crescimento da economia do Estado. “Não tem jeito da indústria, do comércio de bens, do turismo e até do agro crescer sem que o serviço esteja preparado e qualificado para fornecer mão-de-obra”, avaliou.
E Baiocchi aposta em mais crescimento para o setor de serviços em Goiás. “A área de serviços é interligada a todas as outras atividades, que precisam comprar muito serviço. Então, quando os outros começam a aquecer, o serviço recupera muito rápido”, explicou. Além disso, ele fez questão de elogiar os empresários goianos da área. “Nós temos em Goiás boas e grandes empresas prestando serviço no Brasil inteiro”, elogiou.
“Quanto maior o município, maior tende a ser a participação do setor de serviços na Economia”, acrescentou o chefe do IBGE em Goiás. Dessa forma, ele cita como exemplo as cidades de Goiânia e Aparecida, onde esse setor tem uma participação maior. “Em municípios menores, o setor da agropecuária tem importância maior, com algumas exceções”, lembrou Edson.
E, para Danilo, os bons índices são a prova de que “o Estado está fazendo o seu papel”, “Oferecemos fomento e temos projetos voltados para diversas áreas. Como é o caso do programa Cinturão da Moda, que emprega, gera renda e capacita as pessoas que querem atuar nesse ramo”, exemplificou.