Opção cultural

Obra de João Gonçalves dos Reis traça um panorama informativo, que talvez possa ser extrapolado para boa parte do Brasil profundo, sobre a vida no interior inóspito

Maratona de shows na Esplanada JK do espaço começa às 18 horas desta sexta-feira (12/5) e traz 69 apresentações, entre shows de cantores, bandas, grupos juntos no palco e DJs

Noite gratuita no Centro Cultural Oscar Niemeyer, com ingressos esgotados, terá a Orquestra, as bandas Rollin Chamas, Boogarins e o DJ Nevermind (DF)

Na quinta e na sexta-feira da próxima semana, dias 18 e 19 de maio, o Centro Cultural da Universidade Federal de Goiás (CCUFG), localizado no Setor Universitário, será palco do espetáculo de dança “Mulheres de Linhas”, com Maria Fernanda Miranda e Tainá Barreto. A direção cênica estará a cargo de Renata Lima. Em ambos os dias, a apresentação começará às 20h. Para a entrada será cobrado apenas 1 Kg de alimento não perecível. “Mulheres de Linhas” é fruto de uma pesquisa desenvolvida por Maria Fernanda Miranda sobre a relação da arte da dança com as relações socioambientais, com foco no bioma cerrado. Estas pesquisas foram feitas em treze comunidades da região do Vale do Rio Urucuia, no estado de Minas Gerais (MG). Miranda acompanhou e interagiu por cerca de 10 meses com as mulheres artesãs da região – tecelãs, bordadeiras e fiandeiras –, praticando todas essas artes e buscando observar o laço inextricável entre elas e outras práticas culturais, como a “cantoria”, que é entoada pelas artesãs enquanto fiam e bordam, bem como com a própria paisagem do cerrado. Este período de imersão nessas comunidades proporcionou a Miranda o desenvolvimento de sua dissertação de mestrado, junto ao Programa de Pós Graduação em Artes de Cena, da Universidade de Campinas (SP) – Unicamp. O espetáculo montado com direção de Renata Lima tem apoio institucional da Universidade Federal de Goiás (UFG) e do Instituto Federal Campos Aparecida de Goiânia.
Serviço
Mulheres de Linhas Dias: 18 e 19 de maio Horários: 20h Direção: Renata Lima Local: Centro Cultural da Universidade Federal de Goiás (CCUFG) Ingresso: 1Kg de alimento não perecível.
Noite de quarta-feira (10/5) já começa no Teatro Sesc Centro com um show que reúne as bandas Ventre (RJ) e E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante (SP) ao mesmo tempo no palco

Caberia até dizer que Wagner Schadeck chegou a conseguir alguns efeitos especiais na tradução das "Odes" de Jonh Keats, talvez melhores que os do original
[caption id="attachment_93967" align="aligncenter" width="620"] John Keats[/caption]
Matheus de Souza Almeida
Especial para o Jornal Opção
Recebi com alegria a notícia da edição das "Odes" de Keats traduzidas por Wagner Schadeck, lançada há pouco pela editora Anticítera. Wagner é um grande tradutor de poesia e um pesquisador erudito, capaz de retirar das catacumbas preciosidades como as versões de Vinicius de Moraes para a primeira "Elegia de Duíno" e para o "Homens Ocos". Que tenha se dedicado por quase cinco anos a traduzir seis poemas é notável, ainda mais se considerarmos que, juntos, eles não possuem uma extensão que poderíamos chamar de exaustiva. Por certo no caminho enfrentaremos problemas de tradução notórios, não só por serem poemas com todos os temíveis apetrechos (métrica, rima) como também, em última instância, por ser John Keats.
Digamos, porém, que não é porque sua incumbência é a de traduzir um poema que esta será por definição a coisa mais difícil da face da terra. Depende muito dos trejeitos da nossa vítima e do nível de minúcias a que pretendemos (e conseguiremos) chegar. Existem textos em prosa que são mais difíceis de traduzir que uma considerável fatia dos poemas, assim como existem poemas ruins que, na camisa de força de cinco acrósticos, são uma pedreira maior que um bom poema sem toda essa queima de fogos. Enfim. O fato é que com as odes de Keats nós podemos dizer seguramente que elas apresentam dificuldades, mas não sei se a ponto de embasar de forma razoável um lapso de quase cinco anos para a tradução. Imagine se seu pós-doutorado dependesse de todo esse tempo para traduzir 320 versos. Imagine explicando isso pros engravatados que pagam sua bolsa. Claro que você vai fazer outras coisas, por exemplo publicar a poesia completa de B. Lopes. Mas ainda assim. É pra tanto?
Wagner é o que ele próprio uma vez chamou de "obcecado confesso". Na ocasião falava, salvo engano, de ter passado sete anos lendo um soneto de Camões (aquele, sobre Raquel e Lia) para, assim, estar um pouquinho mais próximo do mestre. Isso sem dúvidas pode ajudar a explicar o que exatamente ele andou fazendo nesse tempo todo, mas ainda assim não é o suficiente. O alto nível de exigência estipulado pelo próprio tradutor talvez seja a principal razão, no sentido de que pretendeu "reproduzir, não apenas o conteúdo, mas também os recursos isomórficos (consonância e assonâncias) e imagens (metáforas, metonímias, etc.), fixados no mesmo esquema de rimas medidas no decassílabo com andamento iâmbico, pelo menos na maioria dos versos."
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"Odes", de John Keats (Anticítera, 2017. Tradução de Wagner Schadeck)[/caption]
Não vou aborrecer o leitor explicando o que cada uma dessas palavras feias quer dizer ("consonância", "iâmbico"). A parte do prefácio que fala da tradução de poesia como "a transcrição de uma partitura original, escrita para determinado instrumento, com arranjo para outro", é mais clara: a tradução deve preservar, "a depender do musicista e da qualidade do instrumento transposto, a harmônica e consoantemente bela." Sejamos, porém, ainda mais didáticos e digamos que você lê o original, desmonta todas as suas pecinhas e coloca-as na lâmina de ensaio. A partir daí observe, dr., a maneira como "unravish'd" (inviolada) serve de adjetivo a "bride" (noiva), bem como a maneira com que "bride" abre o leque num estalo e exibe: "of quietness" (da quietude). Que tipo de ganho a nível molecular existe em usar especificamente o adjetivo "inviolada" e não, simplesmente, "virgem"? Há algum motivo para ela ser uma noiva? Para ser uma noiva da quietude? -- E a moral da história é que todo o minucioso relato que resultar de tal operação de análise buscou ser reproduzido na tradução, o que implica, na prática, que você, investindo seu dinheirinho na simpática brochura publicada pela Anticítera, terá feito a coisa certa.
Não é a primeira vez que Keats recebe um tratamento de luxo. Convém lembrar que as "Odes" já foram apresentadas para o leitor brasileiro, nem sempre na íntegra, a partir de traduções competentes de uma galera do calibre de Péricles Eugênio da Silva Ramos, Augusto de Campos ou a dupla John Milton e Alberto Marsicano, além de tradutores esparsos como Ivo Barroso, Décio Pignatari ou Leonardo Antunes. Wagner se comunica bem com todos eles, por exemplo ao tomar emprestado a palavra "adufes" da tradução do Ivo para a "Ode sobre uma urna grega" ou então ao traduzir "Tasting" por "Sabendo", mesma opção que Augusto de Campos usara na "Ode a um rouxinol" (é um sentido meio arcaico do verbo, mas, de resto, "saber" e "sabor" possuem a mesma origem em latim: "supere").
São muitos os resultados felizes. A nível individual poderíamos citar um verso como "Que lenda à franja flórea em tua orla traça", tradução de "What leaf-fringed legend haunts about thy shape", quinto verso da primeira estrofe de "Ode sobre uma urna grega". É um verso difícil de ser traduzido, especialmente por conter em seu bojo palavras que, sem o devido cuidado, poderiam abrir as asinhas e duplicar o tamanho de um verso que precisa, de acordo com os parâmetros estipulados, ter um comprimento determinado. Mas não só: a maneira com que a consoante L suavemente deixa sua marca ao longo do verso, mesclada à rima interna entre "flórea" e "orla", ao som anasalado de "lENda à frANja" e, por fim, ao F duplo em "Franja Flórea" -- toda essa coreografia, em suma, é algo agradável (você lê e quase suspira) e consegue corresponder tintim por tintim ao que encontramos no próprio original: veja o L de "Leaf-fringed Legend", o F em "leaF-Fringed" e o jogo em "abOUt thY shApe" ("abÁU dÁI xÊIp": trate de abrir a boca se quiser pronunciar isso).
Noutros podemos elogiar a simplicidade tocante, por exemplo em "Mergulhe fundo ao fundo desse olhar", onde a repetição de "fundo", indicando ênfase e um mergulho efetivo, traduz o que está lá, no lado esquerdo do livro aberto: "And feed deep, deep upon her peerles eyes." Noto também que a ênfase na vogal U durante quase todo o verso, avançando até que feche com o A aberto de "olhar", como se de fato abríssemos os olhos após a leitura, é um modo de traduzir o E do original, que marca terreno num reino capitaneado pela consoante P até passar o bastão para o fonema aberto de "eyes".
Creio que caberia até dizermos, com uma ousadia justificável, que Wagner chegou a conseguir alguns efeitos especiais se brincar melhores que os do original, à guisa de "Ressonando num sulco arado ao meio", que possui não só a sonoridade da consoante S agilizando a leitura (é como se mais do que ler, deslizássemos), mas também a vogal U muitíssimo bem marcada de "sulco" (que recebe, claro, uma forcinha de "num") inclusa entre dois A tônicos: "ressonAndo" e "arAdo". Alie-se ao fato (e desde já me desculpem pelo jargão) de que "sulco" ocupa a posição de cesura no decassílabo heroico que temos, assim sendo, uma frase que mimetiza o sulco, precisamente, arando o verso ao meio. Ora: não consigo ver nada disso no original, que estampa: "Drows'd with the fume of poppies, while thy hook / Spares the next swath and all its twined flowers" (tive de citar os dois versos pois Wagner muda um pouquinho a ordem dos termos).
Claro: não só de sonoridades é feita a tradução. O tradutor das "Odes" se vê diante do fato de que o poeta usa uns termos um tanto quanto específicos na construção do poema. É o que os franceses chamam de "le mot juste", isto é, a palavra certa, o termo exato. Veja-se o caso de "thatch-eves" na primeira estrofe de "Para o outono". Jogue no site de buscas que você vai encontrar imagens do que são "thatch-eves". Eu explico: pense numa cabaninha de palha. Ali perto do telhado, o que é aquilo? Parece um beiral, não parece? Pois bem. Foco nesse beiral. É isso aí. Ele é o "thatch-eve".
O ápice das minúcias a que a tradução se propõe, todavia, está nos termos botânicos. Veja-se parte da quinta estrofe de "Ode para um rouxinol":
A relva, a moita, o pomarejo gaio,
Roseira-brava, branco pinheirinho,
A fugaz violeta entre a folhagem,
O rebento de maio,
A rosa almíscar a orvalhar de vinho
E o murmúrio de moscas na estiagem.
Tradução de:
The grass, the thicket, and the fruit-tree wild;
White hawthorn, and the pastoral eglantine;
Fast-fading violets cover'd up in leaves;
And mid-May's eldest child,
The coming musk-rose, full of dewy wine,
The murmurous haunt of flies in summer eves.
Que coisa mais linda, não acha? Você não tem uma planta sequer que foi esquecida na tradução. O objetivo foi esse mesmo: trazer a turma toda, mas sem rachar o acrílico das belas imagens que são apresentadas. Note, por exemplo, a maneira hábil com que "full of dewy wine" (cheia de vinho orvalhado) se transforma em "a orvalhar de vinho". É uma imagem interessante, em especial por tomar um elemento puramente natural, o orvalho, e adicionar um elemento, por assim dizer, dionisíaco: o vinho. É como se a natureza toda se transformasse numa fanfarra. O poeta começa a estrofe dizendo: "Não posso ver as flores a meus pés, / Nem a ramagem que o olor remoça." Ele apenas supõe ("guess") as flores que ali estão, tudo na base dos sentidos. E no entanto, note o grau de riqueza, de detalhes, a maneira com que ele deixa que tudo aquilo invada seu íntimo e se transforme numa bela paisagem. Perder a mão na hora de traduzir com rigor o correspondente exato para cada uma dessas plantas e flores seria uma maneira de baratear o apurado sentimento que o eu lírico demonstra nesta passagem. Fechar os olhos e genericamente imaginar flores a seus pés qualquer um imaginaria; pensar na roseira-brava e no branco pinheirinho, só Keats.
A tradução só me fez torcer o nariz quando, em algumas passagens, ela me pareceu de leitura truncada e confusa. Wagner, de um modo geral, dispensou os sinais de pontuação que Keats dispôs em seu texto, em específico o ponto e vírgula. Veja-se o final da sexta estrofe da mesma ode sobre o rouxinol:
Agora me parece bom morrer,
Cessando à meia-noite sem pesares,
Enquanto o teu espírito depões
Com êxtase do ser,
Hei de te ouvir, inda que em vão cantares,
Enxertando-lhe o réquiem em torrões.
Existe uma guinada no interior da frase brusca demais para que uma simples vírgula dê conta. Isto a partir, em específico, de "Com êxtase do ser" e "Hei de te ouvir". Ainda, a flexão do verbo "cantar" em "cantares" parece desconexa, malgrado o fato de a certo custo ligarmo-la ao rouxinol graças à segunda pessoa do singular usada ao longo da estrofe (veja o "Hei de TE ouvir"). Faltou uma vírgula, quem sabe: "inda que em vão, cantares". Todavia, de onde veio esse "lhe"? De "do ser"? Eu sinceramente não sei. Diz o original:
While thou art pouring forth thy soul abroad
In such an ecstasy!
Still wouldst thou sing, and I have ears in vain
To thy high requiem become a sod.
A tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos consegue dar conta do recado com clareza:
enquanto em tôrno a ti vais derramando tua alma
com todo êsse arrebatamento!
Cantarias ainda; mas de nada valeriam meus ouvidos,
para teu alto réquiem transformados em relvosa terra.
Não sei como este problema poderia ser resolvido no caso citado, mas poderíamos ficar também com:
E afoito amante, nunca, nunca beijes,
Embora a meta à frente, não te agraves,
Não se esvai ela, mesmo que a desejes,
Sempre a amarás, sendo ela sempre linda!
O original:
Bold Lover, never, never canst thou kiss,
Though winning near the goal yet, do not grieve;
She cannot fade, though thou hast not thy bliss,
For ever will thou love, and she be fair!
Até que está tranquilo de entender, embora esse "Não se esvai ela" tenha me parecido cacofônico demais e sem necessidade (bastaria a ordem direta: "Ela não se esvai"). O ponto que faço é que poderíamos contar com sinais de pontuação além das vírgulas indicando melhor a maneira com que as frases do original se descabelam. Era a praxe de poetas românticos.
Morrer -- é ver extinto dentre as névoas
O fanal, que nos guia na tormenta:
Condenado -- escutar dobres de sino,
-- Voz da morte, que a morte lhe lamenta --
Ai! morrer -- é trocar astros por círios,
Leito macio por esquife imundo,
Trocar os beijos da mulher -- no visco
Da larva errante no sepulcro fundo.
Isso é Castro Alves em "Mocidade e Morte". Os dois pontos e os travessões existem para realçar as gradações do sentimento, não apenas a maneira como se atropelam e sobrepõem os "dobres de sino" à "Voz da morte", mas também quando agravam a situação retratada e avançam dos "beijos da mulher" direto para o "visco / Da larva errante". Às vezes parecem até pontadas de sofrimento: "Ai! morrer". Em dois versos e se valendo de alguns travessões o poeta faz um verdadeiro trabalho de dobradura com a morte, indicando que ela existe nos dobres de sino sob a forma de uma voz que, fúnebre, lamenta a morte do condenado. Só que, graças à interjeição do poeta, é como se ele próprio se comparasse ao condenado, permitindo, assim, que se dê prosseguimento a seu périplo de guinadas violentas. Num poema que contrapõe camadas de sentido de maneira energética, claramente visto no título e em versos como "Leito macio por esquife imundo", é impensável transformar tudo num manancial de vírgulas. Faça você mesmo o teste. Não vai dar conta.
Matheus de Souza Almeida é crítico e tradutor.

Festival realiza shows nesta terça-feira (9/5) no Shiva alt-bar, Rock, Cafofo Estúdio, Complexo Estúdio & Pub, Teatro Sesc Centro e República a partir das 20 horas

Para abrir a 19ª edição do festival, serão realizadas apresentações no Teatro Sesc Centro, Retetê, Rock, República Underground Music (RUM) e Cafofo Estúdio a partir das 20 horas

“Língua Rara” será publicada em formato digital, e disponível para download gratuito
Nos últimos anos, a literatura contemporânea argentina vem conquistando seu espaço no mercado editorial brasileiro. Traduções de autores como Samanta Schweblin, Diego Vecchio, Andrés Neuman e Selva Almada ganham expressividade através de boas críticas e da formação de um grupo seleto de leitores.
O movimento contrário, porém, não se afigura um cenário animador. De acordo com o escritor Bruno Ribeiro, que morou quatro anos em Buenos Aires e fez mestrado de Escrita Criativa por lá, enquanto o Brasil recebe uma literatura argentina mais plural e em maior quantidade, a literatura brasileira ainda é encarada na Argentina por meio de seu viés exótico, figurando nas editoras como um ato de resistência.
De maneira então a encurtar essa fronteira e estimular a visibilidade de autores brasileiros em território hermano, Ribeiro organizou a antologia de contos “Língua Rara”. Publicada em parceria com o selo portenho Outsider, o livro traz textos em português e estará disponível em formato digital (epub e mobi), para download gratuito. O lançamento será neste mês, quando também entra no ar o novo site da editora.
O organizador conta que a ideia da antologia começou a ganhar corpo no ano passado, partindo da estranheza gerada entre os idiomas dos países vizinhos.
“O nosso português é uma língua estranha na América Latina, pois não compartilhamos do espanhol que une o continente. Somos queridos por todos, mas somos incompreensíveis linguisticamente. Somos estranhos em nosso próprio mundo e isso explica muita coisa sobre a relação do Brasil com os nossos hermanos latinos. Meu objetivo foi entregar essa incompreensão para o leitor de língua espanhola, deixando que ele sinta toda a raridade da nossa língua em sua leitura. Uma tensão literária, um desafio, uma overdose de brasilidade linguística”, observa.
O mesmo aspecto heterogêneo foi aplicado na escolha dos autores. Partindo da intenção prévia de ter um número equivalente de homens e mulheres, a seleção englobou, segundo Ribeiro, 16 escritores de grandes e pequenos selos, que compartilham uma coesão na linguagem dos contos. Fazem parte do grupo: Adriana Brunstein, André Timm, Camila Fraga, Carlos Henrique Schroeder, Diego Moraes, Eduardo Sabino, Irka Barrios, Letícia Palmeira, Luisa Geisler, Micheliny Verunschk, Noemi Jaffe, Priscila Merizzio, Ricardo Lísias, Roberto Denser, Roberto Menezes e Sérgio Tavares.
“Eu queria 16 autores que carregassem consigo a raridade na língua, a estranheza. Em relação a isso, fico feliz em dizer que fomos exitosos, afinal, todos os autores brincam com a nossa língua e invocam seus mundos de forma original, não reproduzindo o que já sabemos, mas nos apresentando novas maneiras de ver o que nos rodeia diariamente”.
A temática é um outro exemplo desse olhar multifário presente no livro. O organizador conta que os contos excursionam por assuntos diversos, abrangendo desde os horrores da ditadura militar a relatos absurdos, cômicos e inusitados. Uma diversidade fiel à riqueza da nova literatura brasileira, que se compara ao que hoje é produzido na Argentina, demonstrando que, ao contrário do que vende o mercado do livro no Brasil, temos muito mais em comum com nossos países vizinhos do que com os EUA e a Europa.
“A ideia é provocar e tentar refletir sobre essa raridade da nossa língua dentro do nosso próprio mundo latino. Por mais que alguns queiram, saibam que o Brasil não é uma extensão dos EUA. Somos mais gracias do que thank you”, afirma Ribeiro.
Antologia Língua Rara (Editora Outsider)
Organização: Bruno Ribeiro
Para baixar gratuitamente, o leitor pode clicar aqui.
Leia um trecho do conto "Em verdade, em verdade vos digo", de Adriana Brunstein:
"Em 1995 eu queria ser a Diane Keaton, mas me casei com um idiota. Minha carta na manga no quesito sedução era: eu choro com notícias tristes na voz do Sérgio Chapelin. Mas o fantástico show da minha vida não acaba por aí. Transar com aquele cara era como passar Grecin no cabelo. Eu passei a denominar a coisa toda de operação pente fino. Eu juro que na hora que ele me olhava e eu sentia a intenção toda eu imaginava o Cid Moreira falando: começa agora a operação pente fino. Ou ainda pior, do naipe da velha zebra da loteria esportiva rindo da minha cara. Mas a gente tem que passar pela merda dos 20 e poucos anos e meter uma aliança no dedo. A gente tem que dizer que soltamos fogos de artifício quando abrimos a porta para a primeira pizza que não foi encomendada pelos nossos pais. A ousadia tinha gosto de cheddar e a porra de um bar de mogno na sala. Mas não tinha a dignidade de uma boa dose de scotch. Era frisante, prosecca, decorada com aqueles malditos guarda-chuvinhas de papel crepom. Mas bem, eu precisava daquilo. Eu ia morar no bairro-sonho-de-consumo de toda minha infame existência até aquele momento. Higienópolis. Eu ia ter farmácias, lojinhas tipo boutique, supermercados chiques pra caramba, com tudo encaixotado e pronto pra consumo. E ia ter um maridinho chegando à noite com uma maleta daquelas com senha. Ah, Sean Connery, se ele tivesse ao menos aquele seu charme 007".

A última série da parceria Marvel-Netflix foi, na verdade, um grande desperdício de tempo e dinheiro
[caption id="attachment_93725" align="alignleft" width="620"] Finn Jones não consegue mostrar a personagem, que é mestre em kung-fu[/caption]
Ana Amélia Ribeiro
Especial para o Jornal Opção
“Punho de Ferro” é ruim, não há outra definição. É até difícil de acreditar que uma série feita pela Netflix em parceria com a Marvel consiga ser tão ruim quanto essa foi. Um dos motivos dessa crítica ter demorado a sair é esta: não consegui aceitar que “Punho de Ferro” fosse tão ruim quanto foi, assisti a série quatro vezes para que em algum momento eu percebesse um detalhe que desse sentido a todas aquelas cenas intermináveis de reunião, e que me empolgasse de verdade com as lutas, mas foi difícil encontrar esses momentos. O pior de tudo é que “Punho de Ferro” é a série que deveria fechar o ciclo dos heróis da Marvel na Netflix, antes de estrear “Os Defensores”, mas a saga de Danny Rand foi um grande balde de água fria.
Imagina um personagem que nos quadrinhos foi inspirado em grandes nomes das artes marciais dos anos 1960, que tem uma pegada no misticismo. Você conseguiu enxergar essas referências na série? Se sim, meus sinceros parabéns. Mas se você, como eu, não conseguiu enxergar no Finn Jones um lutador de Kung-Fu, #tamojunto.
O interprete de Danny Rand precisa de um dublê de luta, por isso é necessário que ele use o uniforme. A primeira cena em que ele luta é lamentável – “Mortal Kombat 2: A Aniquilação” têm cenas de brigas melhores; fica claro que Finn nem encosta nos seguranças. “Punho de Ferro” é uma série em que o personagem principal estudou artes marciais por 15 anos, mas que tem cenas de lutas mal coreografadas. É claro que não dá para cobrar a postura de um lutador de Kung-Fu de um ator, então bastava colocar um dublê; seria menos vergonhoso.
Outra coisa que deve ser dita: que roteiro difícil de digerir. São tantos flashbacks, que pode ser facilmente confundido com Arrow – série da DC produzida pelo canal de TV norte-americano CW –, que começou indo bem, mas no meio do caminho perdeu o rumo. Claro, colocar 15 anos de treinamento em 13 episódios ficaria pesado, mas não são necessários tantos flashbacks. O roteiro deixa a desejar várias vezes, pois te faz sentir preguiça na construção da história. Quando o enredo entrava em um beco sem saída, o clichê aparecia.
A trama não fica presa só em Danny. Eles focam pouco no protagonista e, às vezes, dão destaque maior a outros personagens, como os irmãos Joy (Jessica Stroup) e Ward Meachum (Tom Pelphrey), ou Colleen Wing (Jessica Henwick) e Claire “Nick Fury” Temple (Rosario Dawson). Isso rende enfadonhas cenas dentro da Rand Enterprises, que não são interessantes para quem está assistindo – fora as horas mostrando Danny tentando provar que é ele mesmo, que ele realmente ficou desaparecido numa cidade chamada K’un-Lun, que só se manifesta na Terra a cada 15 anos, e que ele só conseguiu sair de lá porque lutou contra um dragão e recebeu o título de uma entidade chamada Punho de Ferro. Repetem isso em três episódios seguidos tornando difícil continuar vendo aquela série cheia de becos (aparentemente) sem saída.
Aí vem a brilhante cena de Joy com o pacote de M&Ms: quem precisa de exame de DNA não é mesmo? Sem contar que, nessa sequência, ela chora sem lágrimas e a cara que Collen Wing faz é minha feição em todos os episódios da série. A trama não flui, não convence. São vários os momentos em que as personagens ficam presos em situações absurdas sem dar conclusão alguma às ações anteriores – criaram, em “Punho de Ferro”, uma narrativa truncada que parece uma montanha russa cheia de altos e baixos ao longo de uma única temporada. Dá a impressão de que a série só enche linguiça por ter que preencher o catálogo com treze episódios.
Quando a narrativa da série consegue vencer a barreira do clichê, conseguimos ver o desenvolvimento de todos as personagens centrais, exceto o protagonista. Collen Wing tem boas cenas de luta, e uma história bem clichê; Claire Temple segura a onda bem, apesar do roteiro ruim; Joy e Ward é que demonstram maior transformação ao longo da série. Apesar de Jessica Henwick ser uma atriz pouco expressiva e convincente, no final da série ela até engana bem.
Quem é Danny Rand nisso tudo? Ele é o personagem que sofreu um acidente de avião nos Himalaias e perdeu os pais na tragédia; que foi resgatado por monges e treinou para se tornar o Punho de Ferro. Trata-se de um ser humano cheio de falhas, mas que acredita que todas as pessoas são boas, com uma ingenuidade exagerada a ponto de confiar cegamente em tudo que as pessoas dizem a ele. Ele não tem objetivo, é confuso e leviano, quer vingança, mas não sabe de quem quer se vingar. A série não é coesa, a construção do Punho de Ferro é desconexa e confusa – não dá para saber quem é vilão e quem é mocinho. Tudo isso atrapalha o avanço da história, que fica presa na mesmice com tanta coisa para ser resolvida. É uma série de arte marcial, que não tem arte marcial. Se eu quisesse ficar assistindo reuniões, assistiria “The Office” e “Parks and Recreation” – pelo menos elas têm cenas de reuniões divertidas e interessantes.
O que quero dizer é que “Punho de Ferro” não é uma série terrível, mas também não é empolgante. “Punho de Ferro” é a definição de “ok”: fez um pouco do que havia se proposto a fazer, que é introduzir a personagem dentro do Universo Marvel da Netflix. Só. Mas, o hype que “Punho de Ferro” levou, o trailer de “Os Defensores” nos trouxe de volta. Dia 18 de agosto o “trem do hype” estaciona na estreia da série que reúne o time Demolidor, Jéssica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro. Agora só nos resta esperar, pois Finn Jones, durante sua passagem na Comic Con Experience Nordeste, disse que Danny Rand se tornará o lutador místico completo que Punho de Ferro deveria ser apenas no final de “Os Defensores”. Isso se ele conseguir fazer em oito episódios a proeza que não conseguiu em 13. A verdade é “Punho de Ferro” foi um grande desperdício de tempo e dinheiro.
Ana Amélia Ribeiro, jornalista, fã incondicional de quadrinhos, DCnauta, Marvete e muito apaixonada pela Turma da Mônica

Para que a Europa continue a ser, apesar dos problemas recorrentes, um modelo de “mundo civilizado”, é necessário que tenha em vista a preservação da “ordem da cidade”

Em “As onze mil varas”, as excursões do príncipe romeno Mony Vibescu não apresentam novas paisagens, mas levam o leitor sempre para um mesmo destino: à clausura, ao crime e ao sexo

Se tivéssemos aprendido algo com a religião, saberíamos que o homem é propenso ao pecado, que é falho, imperfeito e que o resultado das sociedades “perfeitas”, que foram anunciadas com várias revoluções, estava fadado ao fracasso

“Tempo justo” é constituído de momentos triviais, em que as personagens estão sempre estabelecendo uma ponte entre o presente e o passado

Entre a ficção e a reportagem, Nicodemos Sena reconstitui o dia em que fez uma viagem, na companhia de seu pai, às ruínas da cidadezinha amazonense de Belterra