No mais recente testemunho prestado à Polícia Federal (PF), o tenente-coronel Mauro Cid descreveu uma negociação entre o general Walter Braga Netto e o Partido Liberal (PL), liderado por Valdemar da Costa Neto, sobre o financiamento de uma viagem dos “kids pretos”, membros das Forças Especiais do Exército, para Brasília durante a articulação golpista. O grupo foi identificado nas investigações do 8 de janeiro como responsável pela invasão do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal.

É importante destacar que em fevereiro, após a operação da PF, o senador Humberto Costa (PT-PE) acionou a Procuradoria-Geral da República (PGR) para investigar o partido e solicitar a cassação de seu registro devido ao envolvimento em atividades criminosas.

Se a denúncia for aceita pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o PL corre o risco de ter seu registro cassado pela Justiça Eleitoral. Em Goiás, o partido está envolvido nas disputas pelas prefeituras de Goiânia, com o deputado federal Gustavo Gayer, e de Aparecida de Goiânia, com o Professor Alcides Ribeiro. Com a cassação do registro do PL, ambos os candidatos correm o risco de perderem seus mandatos, além do senador pelo partido, Wilder Morais.

Durante o interrogatório convocado após os depoimentos do general Freire Gomes e do brigadeiro Carlos Almeida Baptista Jr., Cid forneceu detalhes sobre a solicitação de ajuda financeira de R$ 100 mil feita pelo major Rafael Martins de Oliveira para custear a vinda de apoiadores de Bolsonaro a Brasília, de acordo com informações da colunista Malu Gaspar, do jornal Globo.

O major, que foi preso durante a megaoperação da PF contra a organização criminosa golpista em 8 de fevereiro, fazia parte do “núcleo de apoio às ações golpistas” e era responsável pela comunicação entre Bolsonaro e as Forças Especiais do Exército.

Mensagens recuperadas pela PF no celular de Mauro Cid revelam que o major solicitou recursos para transportar pessoas a Brasília para participarem de manifestações. Cid se comprometeu a fornecer o dinheiro e perguntou se R$ 100 mil seriam suficientes. A resposta foi enviada em uma mensagem intitulada “Copa 2022”, com uma estimativa das “necessidades essenciais”.

Durante seu depoimento, Cid afirmou ter procurado Braga Netto para obter os R$ 100 mil. Como vice na chapa de Bolsonaro e atual secretário nacional de Relações Institucionais do PL, o general da reserva instruiu Cid a buscar o partido para solicitar os fundos.

De acordo com informações da PF, Braga Netto utilizaria sua sala no PL como uma espécie de quartel-general do golpe. Além disso, se a corporação confirmar que foi o PL quem financiou a viagem dos “kids pretos”, o partido de Costa Neto poderá ter seu registro cassado junto ao TSE.

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