Opção cultural

“O Governo dos Povos” reúne trabalhos apresentados e discutidos por estudiosos de universidades brasileiras e portuguesas com múltiplas visões sobre o passado colonial brasileiro

Maestro, arranjador, compositor e saxofonista, com uma sólida reputação no exterior, Moacir Santos é um dos maiores nomes da música brasileira em todos os tempos

Publicado em 1917, o conto “Ninho de Periquitos” é considerado a obra-prima de Hugo de Carvalho Ramos Hugo de Carvalho Ramos
Abrandando a canícula pelo virar da tarde, Domingos abandonou a rede de embira onde se entretinha arranhando uns respontos na viola, após farta cuia de jacuba de farinha de milho e rapadura que bebera em silêncio, às largas colheradas, e saiu ao terreiro, onde demorou a afiar numa pedra piçarra o corte da foice.
Era pelo domingo, vésperas quase da colheita. O milharal estendia-se além, na baixada das velhas terras devolutas, amarelecido já pela quebra, que realizara dias antes, e o veranico, que andava duro na quinzena.
Enquanto amolava o ferro, no propósito de ir picar uns galhos de coivara no fundo do plantio para o fogo da cozinha, o Janjão rondava em torno, rebolando na terra, olho aguçado para o trabalho paterno: não se esquecesse, o papá, dos filhotes de periquitos, que ficavam lá no fundo do grotão, entre as macegas espinhosas de malícia, num cupim velho do pé da maria-preta. Não esquecesse...
O roceiro andou lá pelos fundos da roça, a colher uns pepinos temporões; foi ao paiol de palha d’arroz, mais uma vez avaliando com a vista se possuía capacidade precisa para a rica colheita do ano; e, tendo ajuntado os gravetos e uns cernes da coivara, amarrava o feixe e ia já a recolher caminho de casa, quando se lembrou do pedido do pequeno. Ora, deixassem lá em paz os passarinhos.
Mas aquele dia assentava o Janjão a sua primeira dezena tristonha de anos; e pois, não valia por tão pouco amuá-lo.
O caipira pousou a braçada de lenha encostada à cerca do roçado; passou a perna por cima, e pulando do outro lado, as alpercatas de couro cru a pisar forte o espinharal ressequido que estralejava, entranhou-se pelo grotão — nesses dias sem pinga d’água — galgou a barroca fronteira e endireitou rumo da maria-preta, que abria ao mormaço crepuscular da tarde a galharada esguia, toda tostada desde a época da queima pelas lufadas de fogo que subiam da malhada.
Ali mesmo, na bifurcação do tronco, assentada sobre a forquilha da árvore, à altura do peito, escancarava a boca negra para o nascente a casa abandonada dos cupins, onde um casal de periquitos fizera ninho essa estação.
O lavrador alçou com cautela a destra calosa, rebuscando lá por dentro os dois borrachos. Mas tirou-a num repente, surpreendido. É que uma picadela incisiva, dolorosa, rasgara-lhe por dois pontos, vivamente, a palma da mão.
E, enquanto olhava admirado, uma cabeça disforme, oblonga, encimada a testa duma cruz, aparecia à aberta do cupinzeiro, fitando-lhe, persistentes, os olhinhos redondos, onde uma chispa má luzia, malignamente...
O matuto sentiu uma frialdade mortuária percorrendo-o ao longo da espinha. Era uma urutu, a terrível urutu do sertão, para a qual a mezinha doméstica nem a dos campos possuíam salvação.
Perdido... completamente perdido...
O réptil, mostrando a língua bífida, chispando as pupilas em cólera, a fitá-lo ameaçador, preparava-se para novo ataque ao importuno que viera arrancá-lo da sesta; e o caboclo, voltando a si do estupor, num gesto instintivo, sacou da bainha o largo jacaré inseparável, amputando-lhe a cabeça dum golpe certeiro.
Então, sem vacilar, num movimento ainda mais brusco, apoiando a mão molesta à casca carunchosa da árvore, decepou-a noutro golpe, cerce quase à juntura do pulso. E enrolando o punho mutilado na camisola de algodão, que foi rasgando entre dentes, saiu do cerrado, calcando duro, sobranceiro e altivo, rumo de casa, como um deus selvagem e triunfante apontando da mata companheira, mas assassina, mas perfidamente traiçoeira...

“As Visitas que Hoje Estamos” foge ao romance tradicional, burguês e contemporâneo, sem contudo negá-lo. É pelo recorte de várias situações que o todo se impõe, sem perder o liame, ainda que não seja uma prosa costumeira e linear

Escrita pelo ex-reitor da Universidade de Oxford, Roy Jenkins, biografia resgata a vida de um dos mais importantes políticos da história, Winston Churchill. De sua trajetória como militar e correspondente de guerra ao cargo de primeiro-ministro britânico

Caracterizados, essencialmente, pelo humor corrosivo e farsesco, seus textos, por meio da crítica aos costumes e aos desvios de conduta de indivíduos que ocupam uma posição hierárquica significativa na sociedade, conseguem reverberar para além do riso momentâneo

Em “Mussum Forévis: Samba, Mé e Trapalhões”, Mussum é retratado como um ingênuo. Seu alcoolismo é diminuído a uma questão semântica (“mé”). Seus casos extraconjugais, um pequeno detalhe que em nada parece alterar sua vida. Não é que o livro seja ruim, é um livro de fã

O crítico norte-americano é um talentoso ironista: apesar de manifestar aversão à ideologia, sua obra capital é um verdadeiro manifesto político, em defesa da alta literatura no ensino acadêmico

Dentre todos os grandes criadores russos, Liev Tolstói foi aquele que maior influência exerceu nas gerações que contestariam o czarismo

Melancolicamente pessimista, Tchekhov é considerado um dos maiores contistas da história. O conto “A esposa”, publicado nesta edição, é considerado uma de suas obras-primas

Nem o mais criativo escritor de romances policiais será capaz de suplantar num livro a crueldade humana desses dias

“Livro dos Ex-Líbris”, organizado por Alberto da Costa e Silva e Anselmo Maciel, traz a história do ex-líbris, sua origem, os grandes colecionadores e o papel que desempenhou em vários períodos, além de ex-líbris selecionados de cinco grandes coleções nacionais

“Jó, Romance de um Homem Simples” agradará a leitor comum e a leitor exigente, pois Joseph Roth tem a magia de um povo milenar cujas narrativas já seduziram todo gênero de público. O romance se insere entre as grandes narrativas do princípio do século 20

Guy de Maupassant (1850-1893) é considerado um dos mais brilhantes contistas de todos os tempos. O conto “O medo” é apontado como uma de suas obras-primas

Leitores e colaboradores apontam os poemas mais significativos do mais lírico dos poetas brasileiros