Notícias

[caption id="attachment_999" align="alignleft" width="300"] Biografia relata que o general Humberto de Alencar Castello Branco, irritado com “perseguição” do general e ministro Henrique Lott e impulsionado pela política americana da Guerra Fria, se tornou o cérebro do golpe civil-militar de 1964[/caption]
O golpe de 1964 faz 50 anos e sua história começa a ser escrita com menos paixão ideologizada. Historiadores, como Daniel Aarão Reis Filho, sugerem uma linguagem “nova”: golpe civil-militar e ditadura civil-militar. Aarão Reis afirma que, ao se retirar o elemento civil, que foi decisivo tanto no golpe quanto na ditadura, reforça-se o peso do militarismo, mas a verdade passa a ser apresentada apenas parcialmente. Como ignorar que civis como Magalhães Pinto, Carlos Lacerda, Adhemar de Barros, para citar apenas três políticos, foram decisivos para o golpe? O governador goiano Mauro Borges (PSD), com mais seis governadores, ajudou a escolher o general Castello Branco como primeiro militar presidente da República (eleito pelo Congresso), no ciclo militar, em 1964.
Como rejeitar que especialistas civis — Roberto Campos, João Paulo dos Reis Veloso, Mario Henrique Simonsen, Delfim Netto, Carlos Medeiros, Gama e Silva, Francisco Campos e Leitão de Abreu — foram fundamentais na construção do planejamento econômico e do esforço fazendário e na elaboração do novo arcabouço institucional? Militares chegaram a dizer que civis propunham atos mais duros contra os adversários do regime. O AI-5 aprovado pelo presidente Costa e Silva teria sido mais “ameno” do que o proposto por um civil. Há outro aspecto que os historiadores, como Aarão Reis e Denise Rollemberg, começam a discutir, e sem receio de ferir suscetibilidades: a esquerda armada, os guerrilheiros, não era democrática. Antes mesmo de 1964, parte da esquerda já se mostrava golpista e antidemocrática. Contra a ditadura da direita, pensava-se numa ditadura da esquerda. Ruim não era a ditadura. Ruim, para a esquerda, era a ditadura da direita. Aarão Reis sugere, também, que a ditadura durou menos do que se imagina. Acabou, na sua perspectiva, em 1979. Não durou, portanto, 21 anos.
Aos poucos, depois de longo inverno, jornalistas e historiadores começam a analisar, sem a pressão do desapareço ideológico, os protagonistas militares do golpe e do regime. Gláucio Ary Dillon Soares, Maria Celina D’Araujo e Celso Castro, professores universitários com doutorado, publicaram, entre 1994 e 1995, três livros sensacionais: “Visões do Golpe — A Memória Militar Sobre 1964” (Relume Dumará, 257 páginas), “Os Anos de Chumbo” (Relume Dumará, 327 páginas) e “A Volta aos Quartéis” (Relume Dumará, 329 páginas). As obras abrem espaço para entrevistas muito bem feitas com militares que contribuíram para o golpe e para a ditadura. Em 1997, Maria Celina D’Araujo e Celso Castro lançaram em volume exclusivo “Ernesto Geisel” (Fundação Getúlio Vargas, 494 páginas), uma longa entrevista com o general que, como presidente e aliado ao general Golbery do Couto e Silva, matou a ditadura, contrariando a linha dura militar, que queria seu prosseguimento. Geisel conta que Castello Branco não queria cassar o governador Mauro Borges, em 1964, porque eram aliados e o goiano havia apoiado o golpe, depois de romper com o presidente João Goulart. “Sugeri ao presidente a nomeação do Meira Mattos para interventor”, revela Geisel.
O terceiro presidente militar, Emílio Garrastazu Médici, é o patinho feio da ditadura, embora seja o responsável pelo Milagre Econômico que levou o país a crescer 10% ao ano. “Segredos de Médici” (Marco Zero, 90 páginas, 1985), do jornalista A. C. Scartezini (analista de política nacional do Jornal Opção), é um livro raro (pequeno e importante), porque o presidente é pouco explorado. “Médici — O Depoimento” (Mauad, 94 páginas, 1995) contém a entrevista de Roberto Nogueira Médici, filho do general, aos pesquisadores Maria Celina D’Araujo e Glaucio Ary Dillon Soares. O norte-americano Daniel Drosdoff, jornalista e doutor em história por Columbia, publicou “Linha Dura no Brasil — O Governo Médici: 1969-1974” (Global, 175 páginas, tradução de Norberto de Paula Lima, 1986).
O melhor livro sobre a relação entre Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva é “A Ditadura Derrotada — O Sacerdote e o Feiticeiro” (Intrínseca, 580 páginas, edição revista), do jornalista Elio Gaspari. Trata-se de um relato empático, mas crítico, que mostra como os generais que ajudaram a formular a ditadura, em 1964, decidiram extingui-la, entre 1974 e 1979. O presidente que acabou com a censura e o AI-5 disse: “Recebi no palácio todos os donos de órgãos de comunicação. Nenhum me pediu o fim da censura”. Por que decidiu acabar com a ditadura? “Porque o regime militar, outorgando-se o monopólio da ordem, era uma grande bagunça” (o texto entre aspas é de Gaspari, traduzindo o pensamento do general). Em 1977, Geisel exonerou o ministro do Exército, Sylvio Frota, que avaliou, errado, que o presidente era um Castello Branco com pinta de alemão. Mas Geisel não era Castello Branco e Frota não era Costa e Silva. Ao derrubar Frota, Geisel enquadrou a linha dura, que havia chegado a pensar em retirá-lo do poder e, até, a matar Golbery.
Leitor do Padre Vieira
O primeiro presidente militar, o general Humberto de Alencar Castello Branco (1897-1967), foi examinado por livros de Luís Viana Filho (“O Governo Castello Branco”, Editora José Olympio, 1975) e John W. F. Dulles (“Castello Branco: O Caminho Para a Presidência”, Editora José Olympio, 1979, e “Castello Branco: O Presidente Reformador”, Editora UnB, 1983). Mas a melhor biografia é “Castello — A Marcha Para a Ditadura” (Contexto, 429 páginas, 2004), do jornalista Lira Neto. Como Castello Branco, militar legalista e adepto da democracia — apreciava a França e os Estados Unidos —, se tornou um apóstolo da ditadura? Lira Neto mostra, com mestria, como isto ocorreu. Com 1,67m, com problemas na coluna e dores permanentes nas costas, Castello Branco impressionava pela feiura (parecia não ter pescoço e era conhecido como Quasímodo) e pela inteligência. Preferia o teatro — era leitor da obra de Shakespeare — ao cinema. Leu os “Sermões” do padre Antônio Vieira e “Nova Floresta”, do padre Manuel Bernardes. Ouvia música erudita. “Colecionava, com singular entusiasmo, todos os textos, imagens e livros sobre Napoleão Bonaparte”, informa Lira Neto. No início da vida militar, seu ídolo era o advogado e político baiano Ruy Barbosa. Na intimidade, era um mestre na arte de contar piadas e tinha a língua afiada. Ao conhecer a mulher, Argentina, sua única paixão, apresentou-se como pé de valsa. (Uma irmã de Argentina, Inês, foi paixão platônica do poeta Carlos Drummond de Andrade.) Era admirador das ideias e das obras de Gustavo Barroso, líder integralista. Era, no início e durante boa parte da carreira militar, um legalista. “Acreditava, como Ruy [Barbosa], que ‘a nação governa, o Exército obedece’.” Na década de 1920, apesar da força do tenentismo, permanece contra o golpismo civil-militar. “Nós éramos revolucionários; ele [Castello Branco], um legalista”, disse o general Emídio da Costa Miranda. Apegado aos regulamentos, era um militar da ordem. Mas em 1924, suspeito de subversão, o tenente Castello Branco foi preso. Motivo: era amigo do rebelde Riograndino Kruel, irmão do também militar Amaury. Na escola militar, era um aluno aplicado. Em 1922, perdeu o primeiro lugar para o tenente Henrique Lott. Aí começava uma rivalidade que, de pessoal, se tornaria político-militar. Mais tarde, a serviço do governo federal, combateu a Coluna Prestes. [caption id="attachment_1000" align="alignright" width="620"]
Hora do conspirador
Em 1961, mais do que apoio, Castello Branco admite que o parlamentarismo era uma saída para evitar uma crise mais ampla. Em 1962, general-de-exército, se alinha com os militares golpistas, por rejeitar o presidente João Goulart e alguns de seus aliados, como Miguel Arraes, governador de Pernambuco (e avô de Eduardo Campos, atual governador do Estado). Tornou-se, afirma Lira Neto, o “mais arguto” dos conspiradores contra Jango. “Acredito que a infiltração comunista é facilitada pela colocação de propagadores do comunismo em postos de administração, do ensino e de organismos estatais” — era um ataque de Castello Branco ao presidente e aliados. Enquanto Jango se apresenta como o “general” dos soldados, cabos e sargentos, aos poucos Castello Branco afigura-se como líder dos generais e dos civis que queriam a deposição do presidente. Aconselharam o presidente a expurgar o general, mas, na sua inação habitual, o líder petebista nada fez — “o general Assis Brasil me disse que o homem é sensível e que, se for punido, poderia até se suicidar”, disse Jango a João Pinheiro Neto — e Castello Branco foi ficando cada vez mais forte. Era o general que estava desafiando o poder, quase sempre nos bastidores, ao lado de Golbery do Couto e Silva, Cordeiro de Farias, Ernesto Geisel, Adhemar de Barros, Antônio Carlos Muricy, Bizarria Mamede. Luís Carlos Guedes, Olympio Mourão Filho e de civis, como Carlos Lacerda e Magalhães Pinto. Deixando de ser legalista, por ter se tornado crítico acerbo da anarquia militar — sargentos já estavam quase mandando em generais — e por denunciar o fantasma do comunismo, Castello Branco passa a se colocar como articulador de um golpe civil-militar. Começa a se reunir com políticos da oposição, empresários (a maioria integrava o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais) e magnatas da imprensa, como Roberto Marinho, de “O Globo”, e Júlio Mesquita Filho, de “O Estado de S. Paulo”. A conspiração se dava em sua casa, em Ipanema, no Rio de Janeiro. “Castello observou que eles, militares, poderiam inclusive lançar mão da quebra da ordem institucional, desde que fosse para impedir o ‘avanço comunista’.” Depois de vários encontros com políticos, empresários e militares, o general Adhemar de Queiroz disse: “Já temos um líder”. Tinham: Castello Branco articulava o golpe com habilidade e relativa discrição. O governo dos Estados Unidos, por intermédio do embaixador Lincoln Gordon e, depois, do coronel Vernon Walters, também via Castello Branco como aliado e pró-americano. Em 31 de março de 1964, quando o general Olympio Mourão, com o apoio do general Luís Carlos Guedes, pôs o golpe em evidência, em Juiz de Fora (MG), Castello Branco ainda tentou segurá-lo um pouco mais. Não dava mais tempo. O golpe estava nas ruas, mas era possível impedi-lo, se o presidente Jango tivesse agido com mais energia. O caos, entre 31 de março e 1º de abril, era um fato dos dois lados. Levou o poder aquele que tinha um líder mais consistente, talvez por ser um militar experimentado. Uma boa história do golpe pode ser lida em “A Ditadura Envergonhada” (Intrínseca, 431 páginas), de Elio Gaspari. Mas, para compreender como um general legalista se tornou golpista e acabou se tornando o primeiro presidente militar da ditadura, é importante ler o livro de Lira Neto. (Para entender o figadal rival de Castello, recomenda-se a leitura de “O Soldado Absoluto — Uma Biografia do Marechal Henrique Lott”, de Wagner William, Editora Record, 571 páginas, 2005.)
As Ligas Camponesas ganharam estudos jornalísticos e acadêmicos e agora seu principal líder tem a vida vasculhada no livro “Francisco Julião — Uma Biografia” (Civilização Brasileira, 853 páginas), de Cláudio Aguiar. Trata-se de uma narrativa simpática ao personagem, mas não é uma hagiografia. As relações com o ditador Fidel Castro, notadamente o financiamento dado por Cuba às Ligas Camponesas, que seriam a ponta de lança da Revolução no Brasil, poderiam ter sido mais bem exploradas. Pode-se acusar o autor de “suavizar” o papel “revolucionário” de Julião, ao apresentá-lo, no geral, como moderado? Talvez não. Não deixa de ser sintomático que Luiz Carlos Prestes, o chefão do Partido Comunista Brasileiro, vivia às turras com o líder das Ligas Camponesas. Num encontro em Cuba, na presença de Fidel Castro, o Cavaleiro da Esperança passou uma descompostura no rival. O líder cubano, depois de conversar em particular com Prestes, disse a Julião: “O Cavaleiro está lá, mas toda esperança [de reconciliação com Julião] se foi”. A causa da guerrinha: o líder dos camponeses não queria ser fantoche do PCB.
[caption id="attachment_996" align="alignleft" width="240"]
Livro demonstra que a ligação de Francisco Julião, líder máximo das Ligas Camponesas, com Fidel Castro, líder de Cuba, era muito forte[/caption]
Antes de apoiar Leonel Brizola, a quem teria chamado de “El Ratón” (não há evidência de que o futuro líder do PDT tenha se apropriado do dinheiro enviado por Cuba para fins pessoais), e de bancar a guerrilha de Carlos Marighella, da Ação Libertadora Nacional (ALN), Fidel Castro financiou as Ligas Camponesas. O campo do Nordeste, teoricamente, seria a Sierra Maestra do Brasil. Não deu certo, mas as relações do cubano e do brasileiro permaneceram amistosas.
Em 1960, um ano depois da Revolução, Fidel Castro mandou um avião buscar integrantes das Ligas Camponesas para que participassem das comemorações do Dia do Trabalho em Cuba. Esso, Texaco, Atlantic e Shell não quiseram abastecer o avião cubano, mas, relata Cláudio Aguiar, “camponeses, operários e estudantes ameaçaram explodir os depósitos de uma delas. Coube à Shell a tarefa de fornecer combustível, impondo o pagamento em dólares e à vista”. Quando voltaram para o Brasil, os camponeses foram perseguidos.
Na década de 1960, Edward Kennedy, então assessor do irmão presidente, John Kennedy, visitou Pernambuco e pediu para conhecer integrantes das Ligas Camponesas. Tendo ao lado o economista Celso Furtado, seu intérprete, e o governador de Pernambuco, Cid Sampaio, o jovem Kennedy visitou o Engenho Galileia e perguntou aos camponeses: “Como desejam ver seus filhos quando eles crescerem?” O camponês Zezé da Galileia respondeu: “Doutor, o que desejamos é que o sr. peça a seu irmão presidente para dr. Cid tirar a polícia daqui. Não existe desordem e a polícia é desnecessária”. Kenndey prometeu e enviou um gerador de energia elétrica aos camponeses, mas Cid Sampaio decidiu não entregá-lo. Mais tarde, quando governador, Miguel Arraes mandou levá-lo para os proprietários legítimos, que, como não tinham dinheiro para comprar gasolina, o repassaram para uma escola.
Os movimentos camponeses são antigos no Nordeste, mas um movimento em particular influenciou a luta das Ligas Camponesas. “A revolta camponesa de Trombas e Formoso, liderada pelo camponês José Porfírio de Souza, ocorreu entre 1950 e 1957, na região norte de Goiás, em área de quase 10 mil quilômetros quadrados. A luta dos camponeses travou-se fundamentalmente contra os grileiros. (...) O movimento teve um caráter especialíssimo, pois, à medida que conquistavam o poder local, os camponeses revoltosos elegiam as autoridades — prefeitos, vereadores e juízes — e se recusavam a pagar impostos e taxas ao governo de Goiás. Talvez tenha sido uma das primeiras vitórias alcançadas por camponeses no Brasil republicano. O governador Mauro Borges foi obrigado a desapropriar a terra em conflito e a distribui-la em parcelas aos camponeses, o que pôs fim ao litígio armado. José Porfírio foi eleito deputado estadual em 1960, sendo o primeiro líder camponês a eleger-se parlamentar”, registra Cláudio Aguiar. O sucesso dos camponeses de Goiás deixou implícito que era possível mexer na estrutura agrária do Nordeste.
As Ligas Camponesas tinham seu braço militar, armado. Um dos responsáveis pelo dispositivo militar, Clodomir Morais, ao ser preso depois do golpe de 1964, disse que seu papel era mais de aconselhamento jurídico. Mas Cláudio Aguiar o corrige: “Sua participação no esquema dos ‘aparelhos clandestinos’ ultrapassou os limites de meras atividades jurídicas”. Julião mandou Clodomir “desmantelar” a organização armada, pois o considerava como “o principal articulador e ‘comandante do esquema militar’”. A história foi confirmada por Pedro Porfírio, pelo pintor Antônio Alves Dias e pelos “integrantes do grupo de Dianópolis, em Goiás [hoje, Tocantins], como Amaro Luiz de Carvalho, o Capivara, Cleto Campelo Filho, Adauto Freire”.
Julião disse: “Imediatamente tratei de pôr uma pessoa em contato com o Clodomir para lhe dizer: ‘Vocês estão cometendo uma série de erros gravíssimos, que podem comprometer o movimento’. Afinal de contas, consegui tirar toda essa gente dos dispositivos e liquidar com tudo isso. Mas eles vinham muito acelerados e era preciso metê-los em um grande movimento de massas, para ver se desaceleravam um pouco. Por isso que os meti na campanha de Pernambuco e da Paraíba e tive de aguentar o radicalismo da sua linguagem. (...) Isso influiu muito para a diminuição de meus votos e para aumentar o ataque que era feito contra mim”.
Com Julião afastando Clodomir da militância revolucionária armada, um goiano, Tarzan de Castro, assumiu o controle da estrutura militarizada. Cláudio Aguiar diz que Tarzan estava “na direção do comitê central do Partido Comunista do Brasil (PC do B), facção dissidente do PCB, recém-organizada”. O jornalista Flávio Tavares, que teve militância esquerdista, disse que se tratava de uma “esquizofrênica aventura armada das Ligas Camponesas”. Um dos militantes ativos das Ligas, Carlos Franklin Paixão de Araújo, foi casado com a presidente Dilma Rousseff.
[caption id="attachment_997" align="alignright" width="620"]
Tarzan de Castro: o goiano teria sido comandante de dispositivo armado das Ligas Camponesas em Goiás, segundo biografia[/caption]
A desmobilização do condomínio armado das Ligas Camponesas começou com a descoberta dos dispositivos de Dianópolis e Petrópolis. Cláudio Aguiar até estranha a ação da força armada em Goiás, pois o governador Mauro Borges “revelara-se aliado das esquerdas”.
“O desmantelamento do dispositivo de Dianópolis começou quando um oficial da confiança do governo Jango, designado pelo governador Mauro Borges para dirigir o serviço de repressão ao contrabando, recebeu a denúncia de que enormes caixotes contendo geladeiras estavam sendo remetidos para uma fazenda, no interior goiano, onde não havia energia elétrica”, relata Cláudio Aguiar.
Ao invadirem a fazenda, os agentes do serviço de repressão ao contrabando descobriram uma carga estranha: “os caixotes continham bandeiras cubanas, retratos e textos de Fidel Castro e de Julião, manuais de instrução de combate, além dos planos de implantação de outros futuros focos de sabotagem e informações sobre a origem dos fundos financeiros enviados por Cuba”.
O presidente João Goulart, que era apontado pela direita como esquerdista, embora não fosse, “reclamou diretamente a Fidel”. O líder cubano enviou o presidente do Banco Nacional de Cuba, Zepeda, para “apagar o incêndio provocado pelo caso de Dianópolis, em Goiás. Jango entregou ao ministro o relatório com a documentação apreendida”.
Mas o Boeing em que viajava Zepeda caiu e todos os passageiros morreram. “A pasta de couro em que o ministro Zepeda levava a documentação foi encontrada entre os destroços e entregue à CIA, que divulgou os documentos num carnaval acusatório a Cuba pelas três Américas”, conta Cláudio Aguiar.
Tarzan de Castro também esteve envolvido com o dispositivo armado em Petrópolis, segundo Cláudio Aguiar. O pesquisador diz que “nunca foram divulgados documentos comprovatórios de que as armas procediam de Cuba”. Numa entrevista, Clodomir disse era fácil comprar armas no Brasil, no início da década de 1960.
Se o dinheiro para a suposta guerrilha era ou não cubano não se sabe com certeza, mas o jornalista pernambucano Antonio Avertano Barreto da Rocha reporta a Julião que Clodomir e seus ‘guerrilheiros’ viviam praticando grandes orgias, inclusive no Rio. Diziam que Clodomir possuía 12 apartamentos no Rio, comprados com o dinheiro mandado por Cuba para as ‘guerrilhas’. Ainda eram citados como envolvidos nas orgias Amaro Luiz de Carvalho e Tarzan de Castro, além de outros que viviam à tripa forra”. Ressalve-se que Tarzan de Castro já contestou tal denúncia. Ao receber a reclamação, Julião disse: “Clodomir é o sol e vocês são os pirilampos”.
O livro conta que o poeta Ferreira Gullar e o cientista político Vanderley Guilherme dos Santos trabalharam para o jornal “Liga”, das Ligas Camponesas. Gullar denunciou o autoritarismo de seus “ideólogos”.
Torturadíssimo pelo delegado Sérgio Fleury, o frei Tito de Alencar não se recuperou. Permaneceu um torturado, mesmo exilado na França, onde se matou. Sua dolorosa história ganha finalmente uma biografia ampla: “Um Homem Torturado — Nos Passos de Frei Tito de Alencar” (Civilização Brasileira, 420 páginas), de Clarisse Meireles e Leneide Duarte-Plon. Trecho do release fornecido pela editora à Livraria Cultura: “Contar a história de Tito é se debruçar sobre o momento histórico da ditadura civil-militar, instalada em plena guerra fria, quando a luta contra o comunismo era a principal preocupação do bloco ocidental liderado pelos EUA. A ditadura, que se instalou com o incrível nome de revolução, fechou o Parlamento, governou com os atos institucionais e colocou na prisão os opositores políticos que resistiam com ou sem armas. “Frei Tito foi um dos que não se calaram e preferiram combater a ditadura sem armas, com a força das ideias e dos ideais de justiça social. Na Universidade de São Paulo, onde participava ativamente do movimento estudantil, Tito chegou a ter momentos de dúvida e de incerteza sobre a possibilidade de conciliar Marx e Cristo. “Assim como Tito, outros frades foram encarcerados porque eram considerados ‘terroristas’ por terem feito a ‘opção preferencial pelos pobres’ pregada pelo Concílio Vaticano II. Eram ‘subversivos’ por praticarem um Evangelho que tenta transformar o mundo. Eram ‘perigosos’ porque pregavam a liberdade e a igualdade. O ‘ópio do povo’ estava do outro lado, do lado da Igreja conservadora que não entendia aquele combate.”
Um relançamento fundamental (a edição anterior é disputada a tapa no Estante Virtual): “Anatomia da Crítica” (É Realizações, 584 páginas, tradução de Marcus de Martini), do grande crítico canadense Northrop Frye. Monumento da crítica (ou da teoria) literária, trata-se de um livro, que, mais do que ensina, obriga a pensar sobre como a literatura, dependendo da abordagem, pode dizer sempre mais.

“Juramento de Vingança” (“Major Dundee”, de 1965), que sai pela Versátil, é um belo faroeste de Sam Peckinpah, com atuações fortes de Charlton Heston e Richard Harris, com participação de James Coburn. A versão restaurada acrescenta “mais de 10 minutos de cenas inéditas”, além dos extras (que, sim, acrescentam).
O major Amos Dundee (Heston) lidera soldados da União e confederados, em 1864, numa caçada aos apaches que, depois de um massacre, haviam levado crianças brancas. É quase uma guerra particular, a de Dundee e de um inimigo quase cordial, dentro de outra maior, a Guerra Civil Americana. As tropas que combatem o apache Sierra Charriba têm dois comandos, o de Dundee e, sobretudo, o do capitão confederado Tyreen (Harris).
Costuma-se tratar Peckinpah, com razão, de “poeta da violência”, um lídimo precursor de Tarantino. Talvez seja apropriado acrescentar que se trata de um poeta da imagem. Além da violência, conta-se uma história, às vezes desconjuntada, porque a vida é assim, ambígua e complexa, com textos e belas imagens. Peckinpah trata seus heróis quase que como anti-heróis, tornando-os mais humanos do que alguns heróis do western, que, mesmo quando duros e implacáveis, carregam certa santidade. No Oeste de Peckinpah os homens são o que são, não são meramente idealistas, construtores de uma nação.
O diálogo entre Dundee e o reverendo Dalhstrom é um dos melhores do filme. O religioso diz: “Qualquer homem com uma causa justa deve viajar com a palavra de Deus”. O militar replica, seca e friamente: “Com todo o respeito, Deus não tem nada com isso. Eu pretendo derrotar os maus, não salvar os pagãos”. O reverendo integra-se ao batalhão brancaleônico de Dundee.
Dundee é sulista, mas luta ao lado dos ianques, contra os confederados, daí ser considerado “traidor” por Tyreen. Depois da caçada aos apaches, este jura matar aquele. No ótimo “Publique-se a Lenda: A História do Western” (Rocco, 220 páginas), A. C. Gomes de Mattos escreve que, ao perseguir os apaches, nortistas e sulistas trabalham juntos e, assim, ganham uma identidade: se tornaram “americanos”. A caçada aos índios, os primeiros americanos, consagra os novos americanos — incluindo a participação dos negros e, por intermédio da bela humanista Senta Berger (o major e o capitão a disputam), das mulheres.
Com ou sem filosofice, um belo filme. Os críticos profissionais certamente dirão: “Heston” atua como o canastrão de sempre. Quem sabe acrescentem que Harris não fica atrás. Não deixarão de ter razão. Ainda assim, os dois estão muito bem no filme, muito bem dirigidos. Nos extras, Senta Berger conta que Heston e Harris, antes das filmagens, ficavam se medindo, disputando até quem era mais alto (Heston). O depoimento de James Coburn (o batedor Sam Potts no filme) é divertido. Peckinpah, bom copo, aprontava antes e durante as filmagens.

Jornalista revela como Brizola fugiu do país, em 1964, e como, segundo um coronel da Aeronáutica, Tancredo Neves teria acobertado o assassinato do major Rubens Vaz, em 1954

Horowitz foi de esquerda e migrou para a direita. Tornou-se "o mais odiado ex-radical de sua geração"
Após se reunir com o presidente nacional do PT, Rui Falcão, o pré-candidato ao governo Antônio Gomide já fala sobre a data em que deixará a prefeitura e transferirá o poder para o - por enquanto - vice de Anápolis, João Gomes. A solenidade ocorrerá na sexta-feira, 4, na Câmara Municipal. No início da semana, havia a informação de que Falcão poderia estar presente no evento que marca a descompatibilização de Gomide. Entretanto, a informação ainda não foi confirmada. Em relação à reunião ocorrida nesta quarta-feira, 2, pelo Twitter, Gomide transcreveu uma fala do presidente nacional do PT: "Não se tem que falar em aval, a candidatura de Gomide está consolidada. Agora é por o pé na estrada". A fala mostra que, independente de decisão por parte do PMDB, o PT lançará Gomide como candidato ao governo.

[caption id="attachment_963" align="alignright" width="620"] Antônio Gomide: prefeito mais bem avaliado do País já não deverá estar à frente de Anápolis, mas seguirá o caminho para tentar o governo | Foto: Renan Accioly/Jornal Opção[/caption]
“Não nasci e não morrerei prefeito.” Essa foi a fala de Antônio Gomide em um dos encontros realizados nos últimos três meses. E ela resume bem o clima desta semana, que é de definições para o PT, sobretudo para ele, que até o sábado, 5, poderá deixar de ser o prefeito de Anápolis e pré-candidato petista ao governo para ser apenas pré-candidato.
A pré-convenção do PT estava prevista para ser realizada no sábado, 29, portanto, no fechamento da edição, no dia anterior, não havia como saber ao certo da homologação do nome do anapolino. Contudo, estava tudo certo para que isso ocorresse. É certo que dos 350 delegados com direito a voto, grande parte apoia a candidatura de Gomide. A ala do partido que ainda tinha certa resistência ao seu nome é a tendência ligado ao prefeito de Goiânia, Paulo Garcia, que tem reiterado sua posição de apoio a uma composição com o PMDB de Iris Rezende.
A coluna falou com Gomide na manhã de sexta-feira, 28, quando ele estava a caminho de inaugurar mais uma escola municipal reformada –– Escola Rosevir Ribeiro de Paiva (veja nota ao lado). Sua voz apresentava a tranquilidade habitual no trato de sua possível candidatura. Ele disse: “Acabei de falar com o [presidente nacional do PT] Rui Falcão, que está em São Paulo. Ele me disse o seguinte: ‘o que o encontro dos delegados confirmar, nós homologaremos’. Então é essa a posição. Não tem nenhum ‘senão’.”
O ‘senão’ levantado por Gomide está na fala do diretório nacional do partido quanto a possível aliança, caso Iris Rezende seja definido como pré-candidato do PMDB. Isso porque a carta-branca dada a Gomide veio com a ressalva de que o PT não aglutina com a candidatura de Júnior Friboi, mas o faz com a de Iris. Então, se Iris conseguir o que quer –– ser aclamado o candidato ––, há uma possibilidade de Gomide não ser o cabeça de chapa, tendo que, já descompatibilizado da prefeitura, aceitar ser o vice ou ir ao Senado. Quando questionado sobre isso, Gomide é direto: “Essa fala do PT nacional era válida até a nossa pré-convenção. Ou seja, a partir desta semana, se o PMDB não se decidir, eu sou o candidato do PT, inequivocavelmente.”
Com a homologação de Gomide como o pré-candidato do partido, o petista deverá se descompatibilizar da Prefeitura de Anápolis até o dia 5, deixando o cargo nas mãos do também petista João Gomes. Nesse intervalo –– uma semana –– Gomide deverá viajar para Brasília para entregar a ata do encontro ao diretório nacional. “Lá haverá a confirmação por parte da direção e diremos que a nossa parte foi feita: viajar pelo Estado, motivar a militância, realizar encontros e viabilizar a candidatura. Ou seja, nossa decisão é a mesma do partido. Temos todas as condições para fazer e faremos. Sairei da prefeitura para ser candidato a governador”, reitera.
Pergunto se está ansioso e a resposta é: “De jeito nenhum. Estou animado, tanto é que estou indo inaugurar outra escola. É a quinta reformada apenas nesta gestão, além de três outras que foram construídas. A administração continua. Anápolis está em festa”.

[caption id="attachment_960" align="alignleft" width="340"] William O’Dwyer: empresário com boas ligações no exterior,
sobretudo na Europa, deverá fazer bom trabalho na SIC, caso
seja oficializado titular da pasta[/caption]
Mesmo três meses após a saída do pré-candidato tucano a deputado federal Alexandre Baldy da Secretaria de Indústria e Comércio (SIC), o governador Marconi Perillo (PSDB) ainda não designou um nome para ser o titular da pasta. A única afirmação que fez nesse sentido foi dar a certeza de que “o” nome da SIC virá de Anápolis, assegurando mais um vez à cidade o cargo, dando continuidade à tradição de anapolinos na pasta. Os motivos para a demora na definição do nome são dois: primeiro que o secretário interino –– que, embora não seja anapolino, tem uma forte ligação com o município –– Rafafel Lousa tem feito um bom trabalho. Tem viajado bastante, inclusive acompanhado o governador em alguns eventos pelo interior. Chegou a soar pelo Palácio Pedro Ludovico de que ele poderia ser efetivado. Porém, a promessa a Anápolis já estava feita e precisa ser cumprida, pois tem também posição estratégica do ponto de vista político, o que leva ao segundo ponto: é certo que o governador estava por esperar uma definição por parte do PT quanto à homologação do prefeito Antônio Gomide como o pré-candidato ao governo do Estado. As últimas pesquisas mostraram o já esperado: Marconi perdeu muitos votos em Anápolis, cidade que historicamente concede votação estrondosa ao tucano. Assim, conceder a Anápolis um cargo de importância como o titular da SIC é uma jogada estratégica. Até o fechamento desta edição, ainda não havia definição quanto ao nome que assumirá a SIC. Sabe-se que o ex-deputado Frederico Jayme Filho foi sondado. E, como adiantado pelo Jornal Opção no início de março, poderia ser indicado o empresário anapolino William O’Dwyer, dono da Anadiesel (concessionária Mercedes-Benz) e cônsul honorário da Alemanha em Goiás. Convite oficial do governador não houve. Porém, é certo que o empresário foi sondado com ligações de pessoas ligadas ao governo, inclusive detentores de cargos de confiança em Anápolis, do ponto de vista industrial. O empresário diz que esperará ser informado oficialmente pelo governador e que se coloca em uma situação de cautela. “É bom esperar por definições concretas para me posicionar”. Mas não disse que não aceitaria.
Com a descompatibilização de Antônio Gomide (PT), o vice João Gomes assumirá a prefeitura, adiantando seu projeto, que era para 2016. Como não poderia deixar de ser, João Gomes está animado, embora entenda o tamanho da responsabilidade. Ele diz à coluna: “Entendemos que a respossibilidade aumenta e muito, pois fazemos parte de um governo com mais de 90% de aprovação por parte dos anapolinos. Contudo, tenho confiança de que estamos no caminho correto. Temos uma boa equipe e estamos focados em realizar uma boa administração”. Como delegado petista que vota a favor da candidatura de Gomide, ele relata: “É certo que Anápolis sempre emprestou bons nomes para Goiás e agora estamos emprestando o que temos de melhor.”
A entrega de uma escola recém-reformada poderá ter sido umas das últimas ações de Antônio Gomide (PT) como prefeito. Na sexta-feira, 28, o prefeito inaugurou a Escola Municipal Rosevir Ribeiro de Paiva, a quinta entregue apenas nesta gestão. A solenidade oficial marcou, também, o repasse de quatro ônibus à Secretaria de Educação para integrar a frota escolar do município, que passa a contar com 23 ônibus. O vice, João Gomes, também esteve presente. A unidade ganhou cinco salas de aula que se somam às nove já existentes, um laboratório de informática, uma biblioteca e um pátio coberto. Hoje a unidade atende 668 estudantes, nos três turnos, matriculados no Ensino Fundamental. Com a reforma, a escola alcança a marca de 22 escolas reformadas em seis anos, fora a conclusão de outras três que estão em andamento. A Escola Municipal Rosevir Ribeiro de Paiva foi inaugurada no dia 7 de fevereiro de 1966 com o nome de Grupo Escolar Número 2 Zita Duarte e possuía apenas quatro salas de aula. Em 1977 passou a se chamar Escola Municipal de 1º Grau Jardim Gonçalves, mas seu nome foi alterado novamente em 1989, para homenagear um morador da região que prestava serviços à comunidade, passando à denominação atual.

[caption id="attachment_954" align="alignleft" width="300"] Sociólogo Octavio Ianni: “Cotas raciais é o apartheid
oficial no Brasil”[/caption]
A Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei 6.738/13, do Poder Executivo, que reserva 20% das vagas em concurso público da administração direta e indireta da União a candidatos negros que assim se declararem na inscrição. O projeto segue agora para o Senado. Esse sistema de cotas terá validade de dez anos. Porém, não se enganem, ao seu final será prorrogado. Pela regra da lei, o candidato negro terá dupla vantagem em relação ao que não for negro ou não se declarar como tal, pois, além de poder concorrer a uma vaga destinada à ampla concorrência, ainda poderá pleitear outra pelo sistema de cotas. Em plenário, as polêmicas acerca do projeto foram as mais diversas. O deputado Marcos Rogério (PDT-RO) classificou-o de inconstitucional. Segundo ele, “é uma proposta que fere a Constituição Federal, que estabelece como garantia a isonomia. O Artigo 5º diz que todos são iguais sem distinção de qualquer natureza”.
O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) rotulou o projeto de “racista, separatista e imoral”. Por sua vez, o deputado Silvio Costa (PSC-PE) disse que a questão racial não é mais importante do que a questão social no Brasil. “No sertão de Pernambuco, onde há influência de colonização holandesa, os brancos é que são pobres. Então, os filhos de negros ricos serão privilegiados em detrimento dos filhos de brancos pobres”, criticou. O relator da proposta, deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ) alegou que “os dados mostram que os negros são mais de 50% da população, mas preenchem certa de 30% das vagas efetivas do governo federal”. Esta última declaração é mera repetição de uma grande mentira sobre a questão racial no Brasil. Primeiro, no Brasil não existem mais negros do que pardos, mestiços, caucasianos, brancos, etc. Segundo, se existem menos negros na administração pública ou é porque são minoria na sociedade em geral ou porque são menos dedicados ao estudo. O sociólogo Ali Kamel, diretor de jornalismo da TV Globo, desmistifica essa criação estatística sobre a “maioria negra do Brasil” ressaltando que apenas em Estados como Bahia e Maranhão os negros são predominantes.
O sociólogo Octavio Ianni disse que o sistema de cotas raciais é a implementação do apartheid oficial no Brasil. Entendo que o sistema de cotas é uma aberração sob todos os aspectos, jurídico-constitucional, social e moral. É claro que é inconstitucional. Social e politicamente é essencialmente demagógico e irresponsável. A julgar pela experiência das cotas nas universidades, verifica-se que o rendimento dos cotistas é sofrível e a evasão elevada. Do ponto de vista moral, é inconcebível que uma pessoa verdadeiramente digna possa sentir-se honrada e orgulhosa de si mesma ocupando uma função, não pelo talento ou pelo critério do merecimento, mas pelo “coitadismo” do sistema de cotas. Na administração pública, dentre os vários princípios que a norteiam, um deles é o da eficiência, não o da indolência.
Na opinião do ministro do STJ João Otávio Noronha, o curso de formação para novos juízes deve durar dois anos, prazo ideal para a preparação dos magistrados. Segundo o ministro, a Escola Nacional de Formação de Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam), deve atuar como órgão orientador, fornecendo formação profissional para o juiz aprender a lidar com a sociedade como um todo. Durante o workshop, encerrado na terça-feira, 25, foram anunciadas medidas de aprimoramento das escolas da magistratura, incluindo uma parceria com o Ministério da Justiça voltada aos cursos de mediação e conciliação e o cadastramento dos coordenadores pedagógicos de todas as unidades. De acordo com Noronha, em breve serão promovidos cursos à distância sobre temas como improbidade administrativa, gestão de unidades judiciais e violência contra a criança.
Com o objetivo de alcançar os advogados que atuam no interior pelos serviços de capacitação oferecidos na capital, a Seccional, por meio da Escola Superior de Advocacia (ESA), leva diversos cursos e palestras às subseções. Para o diretor-geral, Flávio Buonaduce, os cursos levados ao interior buscam diminuir a distância entre as subseções e a seccional. “As palestras são marcadas de acordo com a demanda, mas alguns assuntos são obrigatório, por exemplo, os cursos de processo judicial eletrônico”.