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Justiça libera biografia que diz que o cangaceiro Lampião era gay

[caption id="attachment_16910" align="alignleft" width="300"]LMAPI_O A pedido da família, magistrado de Aracaju proibiu a circulação do livro “O Mata Sete”, que tem Lampião como protagonista | Foto: Reprodução[/caption] Saber que Lampião era heterossexual ou homossexual muda sua história? Os historiadores terão de refazer seus livros sobre o rei dos cangaceiros? O bandoleiro continua o mesmo, não muda um centímetro devido à sua sexualidade. Permanece mais estudado, até no exterior — um dos mais importantes historiadores ingleses, Eric Hobsbawm, se interessou por suas ações, apresentando-o como uma espécie de “bandido social” —, do que muitos políticos brasileiros. A pedido da família, um magistrado de Aracaju proibiu a circulação do livro “O Mata Sete”, do juiz aposentado Pedro de Morais. A obra, censurada há três anos, foi liberada pelo Tribunal de Justiça de Sergipe. Morais sustenta que Lampião era homossexual. O relator do processo, o desembargador Cezário Siqueira Neto, escreveu: “Não é demais repetir que, se a autora da ação sentiu-se ‘ofendida’ com o conteúdo do livro, pode-se valer dos meios legais cabíveis. Porém, querer impedir o direito de livre expressão do autor da obra, no caso concreto, caracterizaria patente medida de censura, vedada” pela Constituição. Siqueira Neto frisou que não cabe ao Judiciário restringir a liberdade de expressão. “Cabe, sim, impor indenizações compatíveis com ofensa decorrente de uma divulgação ofensiva. As pessoas públicas, por se submeterem voluntariamente à exposição pública, abrem mão de uma parcela de sua privacidade, sendo menor a intensidade de proteção”, destacou o desembargador. O advogado Wilson Winne de Oliva, que representa duas netas de Lampião, diz que vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal, onde dificilmente terá condições de derrubar a decisão da Justiça de Sergipe. Pedro de Morais, que tem mil exemplares em sua casa e uma encomenda de mais de 10 mil exemplares, não decidiu se vai pôr a biografia nas livrarias. Ele vai conversar com seu advogado, pois teme novas ações.

Defensores de cachorros não devem exigir censura de artigo do jornalista André Forastieri

[caption id="attachment_16906" align="alignleft" width="200"]image André Forastieri: autor de artigo sobre os donos às vezes cuidam mal de seus cachorros | Foto: Portal dos Jornalistas/Reprodução[/caption] O homem, mesmo quando não religioso, matou Deus e postou-se como centro do universo. Deus é apenas uma espécie de instrumento que lhe garante a superioridade e, mesmo, impunidade. Num mundo “humanocêntrico”, as demais espécies são descartáveis. “Salvar” a humanidade significa isto mesmo: “salvar” os homens. As demais espécies merecem um rodapé-obituário na história da ciência. Uma discussão clássica de como e por quê o homem se tornou o deus da Terra pode ser encontrada no livro “Cachorros de Palha” (Record, 255 páginas), do filósofo inglês John Gray. Trata-se de um ensaio brilhante, sem uma gota de pieguice. O escritor Jonathan Safran Foer escreveu um livro de não-ficção, “Comer Animais” (Rocco, 319 páginas, tradução de Adriana Lisboa), no qual mostra o que acontece nos frigoríficos e granjas. É difícil não usar a palavra “monstruoso”. Diante de estudos sérios, como os de John Gray e Safran Foer, só resta dizer que o artigo “Seu cachorro é burro e você é porco”, de André Forastieri, é apenas uma diatribre com o objetivo de provocar polêmica. “O que desprezo é esse monte de donos dos cachorros folgados e porcalhões. Se você quer tratar seu bicho como gente, divirta-se na sua patetice. Quer impingir sua prepotência ao resto de nós, o animal é você”, afirma o jornalista, no artigo publicado no portal R-7. Imediatamente, organizações que defendem os animais, notadamente cachorros, passaram a cobrar que o artigo fosse excluído do portal. O texto, de fato, é pobre, mas há mesmo proprietários de cachorros que são “folgados” e, admito, “porcalhões”. Ademais, trata-se da opinião do autor. Censurá-lo é de uma estultice das mais primárias. Vive-se numa democracia, no Brasil, mas quase sempre tem alguém sugerindo que o Estado porte-se como ditador. Os que discordam de André Forastieri devem rebatê-lo, até duramente, mas não devem pedir ou exigir a supressão do artigo. “Minha Luta”, de Adolf Hitler, é um livro deplorável, mas, no lugar de proibir sua circulação, é mais saudável que seja lido e criticado. O mal não desaparece porque o Estado, por meio da censura, o “esconde”.

O último jogo

Paulo Lima

[caption id="attachment_16904" align="alignleft" width="620"]Revista Placar Revista Placar[/caption]

Dizem que foi mais ou menos assim... Decisão no Vigário Geral. Clima de festa, apesar de as torcidas adversárias declararem ódio uma à outra e meia dúzia de boleiros, de cá e de lá, jurarem botinadas entre si para descontar alguns estranhamentos ao longo do campeonato. O visitante, Barra da Tijuca, iria enfrentar uma barra daquelas, mesmo tendo a vantagem de jogar pelo empate, uma vez vencido o primeiro jogo no estádio [sic] do Chinelão.

Naquele ano, nenhum time havia conseguido vencer o VG no Cascalhão, seu estádio [sic de novo]. A pressão da torcida era qualquer coisa, um verdadeiro caldeirão, e seus jogadores cresciam no jogo diante do seu público fiel.

Mas a grande atração era mesmo o centroavante Oscar, carinhosamente apelidado por Linha. Reza a lenda que recebeu esse apelido porque fez teste aos 14 anos para jogar no gol, o sonho de seu pai, mas logo viram que ele não segurava nada, nem bola murcha atrasada com a mão. Então, no segundo tempo o garoto de pernas compridas foi jogar na linha e cravou cinco gols, cada um mais bonito que o outro. Nunca deu conta de explicar onde achou inspiração para fazer aquilo. Já seu pai jurava que o apelido tinha outra origem: de tão magro, ele tinha a silhueta de uma linha.

A verdade é que todo mundo torcia por ele, ainda que defendesse as cores da camisa rival. Tinha fama de bom moço e realmente era. Durante a semana, depois do batente, enquanto seus colegas de copo e de cruz se rendiam aos encantos da noite, ele no máximo bebericava dois copos de loira no bar do Lalau e logo voltava pra casa. Disciplinado, não queria perder a disposição de treinar mais à noitinha. Uma rotina que se estendia até as dez da noite, em dias alternados.

Nos fins de semana, após as pe­ladas — do futebol, bem entendido — demorava horas contando histórias que jurava serem verdadeiras e os amigos de verdade fingiam acreditar que fossem. Sua cerva mornava sobre a mesa. Bom de papo, conquistou uma outra loira de mesma idade, que conhecera no mesmo bairro, quando tinham oito anos. Casou cedo. Seu último gol tinha sido duas partidas antes, na semifinal contra o Magé. Passou em branco pela primeira vez no certame justo na primeira partida da final. O Vi­gá­rio perdeu por dois a zero e voltava a jogar contra o BT com uma desvantagem enorme no placar. Difícil de reverter, pois enfrentava o time de melhor defesa da competição. Na decisiva, teria que vencer por dois gols de diferença para levar o título, beneficiado com a combinação de resultados pontuados, o chamado placar agregado, em virtude de sua melhor campanha. Nada impossível para um time que, a despeito do revés anterior, tinha uma média de cinco gols e meio por partida.

A outra atração era a presença ilustre do olheiro do Botafogo, Eurico Salgado, que estava na arquibancada ou algo parecido, de olho em tudo. Foi ele quem havia revelado Garrincha, o que dispensava apresentações. A expectativa geral era de que ele fora pessoalmente confirmar o interesse do time da estrela solitária em levar para seu plantel o centroavante de 19 anos que arrasou no campeonato de várzea com seus incríveis 38 gols em 16 partidas.

No meio esportivo, aqui in­cluin­do-se os botecos e as acaloradas conversas entre os taxistas que fa­ziam ponto pelas praças cariocas, não se falava de outra coisa: a dupla “Ga-Linha”, futura fonte de alegrias para o Glorioso, para desespero de rubro-negros, tricolores e cruzmaltinos. Mesmo sendo a estrela maior do time, o jovem Linha podia con­tar com o apoio de uma escalação de dar inveja: Peroba, Ma­tei­ra, Elias (evitava-se chamá-lo pelo a­pelido, que ele odiava), Pe­zão, Can­gaço, Lindinho, Trigueiro, Ra­pa­dura, Jurubeba, Caixeta e An­jico, o centroavante substituto que nunca tinha chance de entrar, em­bora fosse fera também. Uma se­leção, na opinião dos especialistas!

Na esperança de faturar alto, nas imediações do campo disputavam o pouco espaço uma dezena de barraquinhas de churrasco e um batalhão de meninos defendendo o seu com laranjinhas de todas as cores e sabores. Estes, por sua vez, enfrentavam a indisfarçada hostilidade da concorrência: picolezeiros vindos de bairros próximos, com seus palitos gelados de leite condensado, frutas de todos os nomes, milho verde e creme holandês. Armado o palco, o árbitro ensaiou um rápido em nome do pai e soprou com força o apito, dando início ao último confronto do campeonato.

Não foi um jogo fácil. Naquela tarde quente de sábado, o Tijuca resolveu jogar bem de novo, muito firme na marcação, com aquela defesa marrenta, quase impenetrável. Do tanto que pulava, Macaco — o goleiro que mais parecia um gato peludo — naquele dia entrou disposto a não deixar entrar nem a própria toalhinha que, supersticioso, colocava sempre do lado de dentro da meta, no canto direito junto a um pote de água benta, procurando se defender de um inimigo que só ele via. Assessorado pela inspirada e truculenta dupla de zaga formada por Cocão e Tigrila, o ferrolho estava armado no gol do BT.

Rivalidades do futebol e nada mais. Foram amigos de escola e só defendiam camisas diferentes porque moravam em bairros distantes. Tinham até parentesco: Macaco era cunhado de Linha, da parte da irmã, e Cocão era primo da esposa dele. Mas, bons amigos, negócios à parte. Os quatro apostaram alto. O centroavante disse que faria pelo menos dois gols no trio de pernas de pau, do contrário penduraria as chuteiras. Eles também não iam deixar barato: caso isso ocorresse, prometeram lhe entregar todo o salário do mês, contadinho!

Foi um jogo disputado e sofrido. Para quem segurava o placar, o tempo andava feito tartaruga com mais de cem anos de estrada; para quem corria atrás, um cadeirante disputando prova com uma Ferrari.

O VG só conseguiu fazer um golzinho aos trinta e nove minutos do segundo tempo, quando a animada torcida já nem estava tão animada assim. De quem? Dele, claro. Mas foi gol de pênalti, para não dizer de bo­beira do lateral imprudente que botou a mão na bola meio sem querer e o juiz, na pressão, marcou in­con­tinenti para o time da casa. O guarda-metas quase pegou, e haveria de pegar se a bola não tivesse tocado an­tes num montinho artilheiro que fez a pelota subir um pouquinho a­ci­ma de suas mais sinceras pretensões.

Após rápida comemoração e a cera costumeira na reposição de bola, o final do combate prometia. Ainda restavam cinco minutos. Com uma pitada de sorte e boa vontade do juiz — e os juízes costumam ser voluntariosos nessas horas —, dava para chegar aos 48 minutos, contando os acréscimos. A esperança é a última que morre.

Mas as coisas não caminharam exatamente como a torcida vigariana queria. O Tijuca continuou dono de si e teve mais duas chances de marcar, o que é comum em jogos de várzea, onde o campo é menor e a motivação é maior. Talvez, por um desses mágicos segredos do futebol, tenha sido aí seu grande erro. O Vi­gá­rio tava acuado mas não tava mor­to. Tinha nego experiente, com lampejos de genialidade. Perce­bendo a situação, Linha fez algum sinal para Ma­teira que pareceu entender na ho­ra. E baixou a cabeça, com as mãos nos joelhos, simulando extremo cansaço, enquanto o time visitante fervia em cima dos donos da casa.

Foi aí que aconteceu. Aos 47 minutos, com o juiz pronto para dar por encerrada a batalha, Lindinho recuperou a bola e tocou de imediato para Mateira, que a empurrou dois metros à frente para fazer um lançamento de longa distância, sua especialidade. Foram quase 30 metros de um voo preciso, até a redonda chegar ao seu destino. O futuro companheiro de Garrin­cha correu por entre a zaga, que até então contava como certo que ele já estivesse batido, e recebeu a bola ainda no ar, matando a gorduchinha no peito estufado, se preparando para o chute certeiro quando ela caísse calmamente à frente do seu pé esquerdo. A torcida visitante, que apesar de em menor número fazia uma festa ensurdecedora, emudeceu. Sabia que aquele atacante era especial por muitos motivos, inclusive por uma característica matadora: era ambidestro.

Normal seria se a galera do VG soltasse gritos de comemoração antecipada, mas não foi o caso. Aconteceu muito rapidamente e quem presenciou se lembra de tudo em câmera lenta: o­lha­res atentos, esperando o desfecho que seria fatal para um dos ti­mes. Surpreendendo mais uma vez, o magricela habilidoso não chu­tou de imediato, optando por dar um lençol no zagueiro, deixando a bola limpa no outro lado. O ar­queiro anteviu o pior: seria um gol de placa, justo em cima dele que havia segurado tudo, mas não haveria de dar conta daquele balaço.

Seria. A perna direita de Linha não chegou a concluir a jogada. Antes disso, seu corpo magro caiu no chão e ali permaneceu, inerte. Tigrila, que havia ganhado de presente o último chapéu do campeonato ficou parado, olhando, sem saber se chutava a bola para bem longe ou se esperava alguém lhe dar alguma explicação. A torcida, já muda, calada continuou. O juiz segurou o apito na boca, andando devagar rumo à grande área, sem saber que decisão tomar. Só o médico, na verdade um enfermeiro com experiência em primeiros socorros, teve a iniciativa de sair correndo em direção ao local. Foi lá, de joelhos, diante do jogador estirado no chão de terra batida, que viu um par de olhos arregalados, boca aberta e arroxeada, a mão no peito e um coração sem nenhum sinal de vida. Também foi ele quem levou a notícia para a esposa, grávida, que ficara em casa aguardando pelo resultado do jogo, ansiosa.

Naquele tempo, os times não tinham departamento médico para saber antecipadamente quem estava em condições de seguir carreira ou mudar de profissão. Enquanto nos dias atuais os cardíacos são logo barrados na peneira dos clubes, o que importava era apostar no talento e ver no que daria. Linha foi mais uma vítima do despreparo do amadorismo que durante décadas reinou no futebol brasileiro. O mesmo que atingiu também o “moleque travesso”, de pernas tortas e dribles desconcertantes, que não conseguiu vencer a rotina de infiltrações e as armadilhas da bebida.

Foi a primeira vez que o time da casa perdeu um campeonato jogando em seus domínios. E, pela primeira vez, não houve vencedor nem comemoração. O time da Barra da Tijuca depositou a taça junto ao caixão, em homenagem, respeito e admiração pelo companheiro de papo e de bola.

Alguns anos se passaram, o bairro foi encurtando e a comunidade viu-se invadida pelo crescimento desordenado da cidade grande. O campinho virou estacionamento de supermercado e o técnico do virtual time campeão, o seu dono.

[caption id="attachment_16905" align="alignleft" width="620"]Werther Santana/Ae Werther Santana/Ae[/caption]

Macaco até hoje vê passar na sua memória flashes do gol antológico que o cunhado não lhe deu. Nos seus sonhos, beija com satisfação a medalha de vice como se fosse de ouro. Isso antes de acordar de madrugada, com os olhos ma­rejados, pelo menos uma vez por semana. Juntamente com a dupla de zaga do Tijuca, cumpriram a promessa e deram todo o salário e mais um pouco para bancar o funeral e auxiliar nas despesas diárias de uma jovem viúva.

O zagueiro Elias, mais conhecido como Cu Doce, montou uma oficina mecânica e foi levando a vida. Na companhia dos filhos, é visto com frequência bebendo suas Brahmas no bar do Lalau, bem ao lado.

Peroba, o goleiro, de tanta tristeza pela morte do melhor amigo, mudou-se para bem longe e, em São Paulo, conheceu a bela Ma­ria­na com quem se casou e finalmente foi feliz como vendedor de col­chões numa loja das Casas Bahia.

Mateira, com seus lançamentos precisos, chegou a treinar no Bangu, mas uma sequência de erisipelas frustrou seus planos. Juntou um dinheirinho, comprou um Ford Corcel 1.4 e atualmente vive dos rendimentos de um pon­to de taxi na Ilha do Governador.

Pezão, lateral direito, com a ajuda de um pistolão virou ator de novela na Globo. Fez sucesso nos anos 70, mas prometeu a si mesmo nunca revelar seu passado varzeano. E assim o fez. Cangaço, o lateral esquerdo, voltou para Patrocínio, sua cidade natal no sudoeste de Minas, e lá se aposentou como funcionário do Banco do Brasil.

Lindinho, o médio-volante, abriu uma escola com a esposa, professora de mão cheia, e acabou abrindo também uma academia de ginástica para o filho tocar.

Rapadura, ponta direita, montou uma fabriqueta de doces para vender sua produção nas feiras livres. Quebrou, abriu um restaurante de comida por quilo, quebrou de novo, se reergueu e hoje tem uma rede de cinco drogarias no morro do Flamengo.

Jurubeba virou policial. Foi baleado na perna numa operação de rotina, tornando-se um inválido para o serviço de rua. Desgostoso, pediu baixa da corporação e atualmente tá encostado pelo INSS.

O ponta direita Caixeta se enveredou pelas drogas e foi as­sassinado como bandido co­mum no morro do Jacaré, não se sabe pela polícia ou pelo alto comando do tráfico. Deu na TV.

Trigueiro, o ponta esquerda, abriu um centro de espírita — meio kardecista, meio de Umbanda — e dizem que já recebeu inúmeras mensagens dos falecidos, mas ninguém nunca deu muita bola pra ele.

Anjico, que nos treinos arrebentava no time reserva sem nunca participar de uma partida oficial, pendurou as chuteiras.

Urubu, o juiz, internou-se diversas vezes com crises de depressão numa clínica especializada, se perguntando por que não encerrou a peleja tão logo o Vigário recuperou a bola, evitando tudo aquilo.

Eurico Salgado nunca mais deu as caras por aquelas bandas.

Os jornais noticiaram no dia seguinte cada lance do jogo, com os detalhes e os exageros de sempre, como costumam fazer para aumentar as vendas de exemplares e conseguir mais anunciantes. As torcidas dos grandes clubes do Rio se comoveram com a tragédia, mas por motivos inconfessáveis também não lamentaram o ocorrido, exceção dos botafoguenses.

Dizem que foi mais ou menos assim. Não tenho certeza porque eu não estava lá: no campo, na arquibancada ou no alambrado. Apenas recolhi os depoimentos de alguns aqui e ali para recontar a história. Na época, só tinha quatro meses de vida e, na barriga da minha mãe, bem perto do coração, durante os meses seguintes só ouvi o choro dela, constante e doído, de saudade do meu pai.

Paulo Lima é escritor e publicitário.

Katteca é genial, mas Britvs precisa ter mais cuidado com a Língua Portuguesa

kateca0001Não há dúvida de que a principal estrela do “Pop” é a personagem Katteca, criação do Britvs. Dotado de um humor fora de série, usando a ficção para ressaltar a complexidade da realidade (agruras e prazeres) e usando a realidade para sublinhar o que há de ficcional (fantástico) em quase tudo, Britvs, com seu indiozinho esperto e atento às coisas do mundo, puxa os leitores, todos os dias, para seus quadrinhos. Pode-se dizer que, às vezes, o editorial do jornal está na fala da personagem. Katteca nos faz rir de tudo, do que é cômico e do que é trágico. De algum modo, Britvs nos torna mais saudáveis e suaves ao sugerir que é possível rir não apenas do que é cômico. Porém, mesmo gênios espontâneos, como Britvs, precisam de revisão. (O grande poema “A Terra Devastada”, de T. S. Eliot, foi revisado e, aqui e ali, editado pelo poeta e crítico Ezra Pound. Eliot, criterioso com seus poemas e raramente aceitando críticas, acolheu os comentários de Pound e mudou alguma coisa no mais importante poema do século 20.) Na quinta-feira, 2, ao realçar que o endividamento dos brasileiros é generalizado e que até os ricos, para manter o padrão de vida, recorrem ao penhor da Caixa Econômica Federal, Britvs — que é e não é o Katteca (a personagem às vezes domina o criador, numa espécie de pacto faustiano) — comete alguns erros, não percebidos pela editora do caderno “Magazine”, Rosângela Chaves. Uma mulher, vestida de azul (noutro quadrinho, o vestido já é lilás), diz: “Minha amiga Clô! Você ainda consegue abaster a sua limousine?” Lógico que “abaster” deve ser trocada por abastecer. Na tentativa de capturar o espírito dos emergentes, Britvs faz a senhora rica dizer que esteve no Nordeste, em Paris, na Suíça, em Londres e em “New York” (no Brasil, costuma-se dizer Nova York, ou Nova Iorque; é provável que os novos ricos digam “New York”). Há pelo menos dois problemas nos quadrinhos. Primeiro, Britvs escreve “depois de conhecer, Paris”. Entre conhecer e Paris não há vírgula. Segundo, ao arrolar a Suíça — e não Zurique ou Berna —, entre Paris, Londres e Nova York, fica-se com a impressão de que o criador considera o país como se fosse uma cidade. Mas talvez a Suíça surja, aí, como uma dissonância e um sinal de que os ricos têm dinheiro fora do país (os brasileiros parecem acreditar que só se deposita dinheiro de corrupção ou narcotráfico na Suíça ou em certos paraísos fiscais). Em seguida, Britvs põe a personagem para dizer: “O que mais amei foi Cancún!” — possivelmente para realçar sua perspectiva de nova rica. Numa espécie de diálogo — talvez dois monólogos, pois as duas personagens praticamente não se comunicam —, a amiga da nova rica diz: “Aah, que inveja! Mas você é poderosa né, amiga?”. Britvs é o típico autor que tem facilidade para expor a linguagem oral, para transcrevê-la com fidelidade. O “aah” pode parecer, mas talvez não seja erro. Ao acrescentar um “a”, o autor tem a intenção de ressaltar o “ah”. Mas o texto na sequência ficaria mais preciso assim, com o acréscimo de uma vírgula: “Mas você é poderosa, né, amiga?” O fecho dos quadrinhos é divertido. Depois de dizer que a vida vai bem, com limusine abastecida e viagens para o exterior, a sra. rica corre, com seu cachorrinho bem tosado, para a fila de penhores da Caixa. Fica um breve comentário: alguns jornalistas e cartunistas têm preconceito de classe contra os ricos, sempre procurando desmerecê-los, avaliando que suas fortunas não foram adquiridas honestamente? É possível. Não é mais adequado combater a pobreza — não os pobres — do que a riqueza? Por que tratar os ricos como “bandidos” e os pobres, como “santos”? São duas reduções que ajudam a compreender a pobreza e a riqueza dos indivíduos e povos? Provavelmente contribuem para aumentar a incompreensão da complexidade do real.

Diário da Manhã ignora jogo do time do Goiás no Equador

Na quinta-feira, 2, o “Pop” publicou uma reportagem precisa sobre a derrota do Goiás para o Emelec por 1 a 0. Raphaela Ferro, mostrando que entende mesmo de futebol, fez um retrato preciso da partida. A repórter frisa que graças ao goleiro Renan a vitória do time equatoriano não foi mais elástica. Há um problema, minúsculo, porque, na verdade, a jornalista está interpretando, e não sugerindo que isto aconteceu exatamente: “Na oportunidade que Mondaini teve, pouco depois, Renan tremeu, mas o atacante mandou para fora”. Vendo o jogo pela TV e sem entrevistar o jogador, como Raphaela pôde perceber que ele tremeu? “O Hoje” publicou reportagem, assinada pelo experimentado Edivaldo Barbosa. Há um problema. O repórter diz que Jordan Plata (o “Pop” escreve Jordan Jaime, como os jornais equatorianos) “fraturou a perna direita” e, em seguida, informa que “quebrou o pé”. O jornal equatoriano “El Comercio” informa que o jogador de 19 anos fraturou o pé direito. O “Pop” diz que ele fraturou “o pé”, como se tivesse apenas um pé. O “Pop” assinala que o gol ocorreu aos 42 minutos do segundo tempo. “O Hoje” garante que o gol foi feito aos 41 minutos. Já o leitor do “Diário da Manhã” ficou a ver navios. O jornal não deu uma linha sobre o jogo e, mesmo, sobre o resultado. Optou por publicar reportagens frias sobre Vila Nova e Atlético, ignorando a principal notícia do dia e sobre o time mais importante do Estado no momento, que está disputando a Copa Sul-Americana.

Utopia

Sem o pensamento utópico, o homem continuaria habitando florestas, vestido de tanga e comendo carne crua com o nariz enfiado nas carcaças

Bob Dylan merece ganhar o Nobel de Literatura? Só se Roth, Oates e Gullar não estivessem na fila

Bob-Dylan-005Jornais começam a especular sobre a possibilidade de o compositor e cantor Bob Dylan ganhar o Prêmio Nobel de Literatura. O pai da psicanálise, Sigmund Freud, dono de um texto primoroso, também quis ganhar o Nobel de Literatura. Levou o Prêmio Goethe, também importante, mas sem o renome da premiação da Academia Sueca. Bob Dylan merece mesmo ganhar o Nobel de Literatura? Talvez sim, se não estivessem na fila Ferreira Gullar, Philip Roth, Adonis, Joyce Carol Oates, António Lobo Antunes, Don DeLillo, Thomas Pynchon, Richard Ford, Milan Kundera, entre outros.

Lançamentos

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Livro diz que a Terra tem salvação. Mas é preciso controlar crescimento da população mundial

Contagem Regressiva — A Nossa Última e Melhor Esperança Para um Futuro na Terra“Contagem Regressiva — A Nossa Última e Melhor Esperança Para um Futuro na Terra” (Leya, 569 páginas, tradução de Alice Klesc), de Alan Weisman, é um livro inquietante, mas, como sugere o título, esperançoso. A editora diz que, “para escrever 'Contagem Regressiva', o autor Alan Weisman viajou para mais de 20 países para perguntar a especialistas quais seriam as questões mais importantes a respeito da Terra — e também as mais difíceis —, quantos seres humanos o planeta suportará sem uma desolação? Quão robusto deve ser o ecossistema da Terra para garantir a nossa existência? Podemos identificar quais outras espécies são essenciais para a nossa sobrevivência? Além disso, como podemos realmente chegar a uma população ideal e estável e projetar uma economia que permita uma prosperidade legítima sem crescimento desordenado?” Segundo release da Leya, “Weisman visitou uma extraordinária variedade de culturas, religiões, nações, tribos e sistemas políticos para descobrir o que, em suas crenças, histórias ou circunstâncias atuais pode indicar que, às vezes, é para benefício próprio limitar o crescimento populacional. O resultado é um relato devastador, urgente e profundamente esperançoso”.

História de preso que fugiu duas vezes de hospital parece extraída de um conto de Kafka

Diógenes Albuquerque, de 26, matou Simone da Silva, 28 anos, e, ferido nas nádegas, foi levado para o Hospital de Urgências de Goiânia. Mesmo algemado, fugiu duas vezes. É uma história que Kafka adoraria transpor para um conto. Na primeira página de sexta-feira, 3, o “Pop” publicou: “Preso foge duas vezes do Hugo e é recuperado”. “Recuperado”, diria Flaubert, não é a palavra precisa, justa.

Companhia das Letras relança edição revista de livro sobre Pagu. Augusto de Campos é o organizador

13720_ggPatrícia Galvão ficou famosa (depois, desapareceu) porque, além de escrever um romance proletário (“Parque Industrial”), foi mulher de Oswald de Andrade, o mais irreverente dos poetas da Semana de Arte Moderna de 1922. O livro “Pagu — Vida e Obra” (Companhia das Letras, 424 páginas), organizado pelo poeta e crítico Augusto de Campos, ajuda a compreendê-la. É um relançamento. O livro foi lançado primeiramente pela Editora Brasiliense, em 1982. A Edição da Companhia das Letras é revista e ampliada, incluindo novos textos e dezenas de fotografias e ilustrações.

Passaralho nas redações do Brasil e nos Estados Unidos

As empresas de comunicação continuam demitindo. Nos Estados Unidos, seu mais importante jornal, o “New York Times”, fez 100 demissões na redação. No Brasil, o jornal “Lance” afastou 65 funcionários (de todas as áreas), 37 deles no Rio de Janeiro (metade da equipe, segundo o Portal dos Jornalistas). A ESPN Brasil também fez demissões. Há uma crise na imprensa? A redução de custos pouco tem a ver com crise, e sim com a tentativa de elevar a lucratividade das empresas.

Antropóloga lança livro sobre acidente do césio em Goiânia

digitalizar0001Há um livro magnífico chegando às livrarias e que merece amplo debate. Muito bem escrito e pensado, “Césio-137: O Drama Azul — Irradiação em Narrativas” (Fapes/Cânone Editorial, 196 páginas), da antropóloga Suzane de Alencar Vieira, com mestrado pela Unicamp, será lançado na quarta-feira, 8, às 18 horas, na Livraria Nobel, no Shopping Bougainville. Produto de uma dissertação de mestrado defendida na Unicamp, o livro é apresentado pelos professores-doutores Maria Suely Kofes e Márcio Seligmann-Silva.

Bancos apresentam nova proposta aos grevistas

O comando de greve ainda vai avaliar a nova proposta e só levará para votação nas assembleias na semana que vem

Justiça Eleitoral determina Sintego a recolher panfletos contra Thiago Peixoto

Sindicato ligado ao PT está proibido de publicar qualquer material gráfico alusivo ao candidato a deputado federal e ex-secretário estadual de Educação