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Até o último dia 3, haviam sido notificados 26.743 casos de dengue e 18 mortes pela doença

Deputado eleito e já lançado pré-candidato pela oposição à sucessão em sua cidade,
o jovem empresário — que pode integrar o supersecretariado de Marconi — contesta a gestão petista no município e diz que muito do que foi feito deve-se ao governo estadual
[caption id="attachment_22668" align="alignleft" width="620"] Foto: Renan Accioly[/caption]
Em uma eleição, não importa o quanto alguém seja conhecido, ou quanto tenha de dinheiro, se seja ou não uma celebridade: o que importa é ser bom de voto. E isso só o teste da urna poderá determinar. O ex-secretário estadual de Indústria e Comércio Alexandre Baldy (PSDB) passou com louvor pela prova de fogo: chegou à casa dos seis dígitos, “com exatos 107.544 votação” para deputado federal, como ele gosta de frisar. Ao mesmo tempo, ele confidencia: “Nunca havia participado de nada em minha vida que me consumisse tanto como uma campanha eleitoral.” Foram mais de cem municípios visitados em 90 dias de campanha.
Isso prova que Baldy, um jovem empresário de sucesso, está aprovado como político. Tanto é que, como alguém já experiente na área, já observa cenários distantes e tem uma correlação especial com o tempo da política. Não esconde, por exemplo, seu desejo de participar, “direta ou indiretamente”, do processo eleitoral de Anápolis. Mesmo que não dissesse isso, ele é o pré-candidato incensado por toda base oposicionista e já passa a adotar um discurso de contestação da administração petista de João Gomes, mas centrando ataques para desconstruir o mito — como assim considera — de boa gestão que Antônio Gomide (PT) deixou.
Em curto prazo, o parlamentar eleito deve ter de decidir entre dois caminhos: ir para o Congresso e fazer um bom papel na defesa de Goiás — salienta principalmente a luta por uma reforma tributária justa para o Estado — ou ocupar o seleto secretariado de Marconi Perillo (PSDB), provavelmente na recém-criada Secretaria de Desenvolvimento Econômico, uma superestrutura que abrigará três pastas (a de Indústria e Comércio, a da Agricultura e a de Ciência e Tecnologia). Como bom político, apresenta discurso consistente para ambas as posições, mas deixa em aberto qual será a escolha.
Euler de França Belém — O sr. pretende ser candidato a prefeito de Anápolis?
Acredito que, depois do processo eleitoral, de ter sido eleito deputado federal por Goiás com 107.544 votos — e gosto sempre de agradecer a todos os eleitores que em mim votaram — e 30 mil desses votos recebidos em Anápolis, estou cacifado para participar do processo eleitoral, direta ou indiretamente. Temos agora um prazo grande para refletir e debater, mas, de toda forma, vou participar do processo eleitoral de Anápolis em 2016.
Euler de França Belém — Mas a tendência é de que o sr. seja candidato. Basta observar que, sempre que alguém de sua base concede uma entrevista, sempre lembra que o candidato em Anápolis tem de ser Alexandre Baldy.
A gente vê que isso é uma visão natural, não só da base, mas que vem do fato de o eleitorado acreditar em mim. Eu represento a renovação na política e tive uma expressiva votação na cidade, lutando contra a Prefeitura e contra o principal candidato do PT. Toda a máquina em Anápolis estava contra mim. Além dessa questão, tive um candidato local de nossa base — Frei Valdair (PTB), que teve 14 mil votos para deputado federal. Isso, querendo não, é algo que acaba influenciando, a ponto de muitos na cidade apostarem que eu teria menos votos do que ele. Tudo isso mexe no jogo político municipal a meu favor e, obviamente, me credencia. Ou seja, foi uma vitória muito importante para mim.
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Foto: Divulgação[/caption]
Euler de França Belém — Entre ser candidato a prefeito de Anápolis em 2016 ou ser candidato a governador em 2018, qual é o cenário mais viável, a partir de hoje?
Ainda é muito precipitado discutir o cenário de sucessão estadual, que vai passar também pelo resultado das eleições municipais. O governador Marconi é o maior líder político da história de Goiás, isso é inquestionável. Mas um processo de sucessão com 20 anos de poder é algo desafiador, que poderá exigir uma imagem nova, de renovação, leve para ser carregada. Obviamente, as prefeituras que poderão ser conquistadas em 2016 terão papéis estratégicos em 2018. Para a base do governador Marconi Perillo, eleger os prefeitos de Goiânia, de Aparecida e de Anápolis, além de manter as prefeituras de Rio Verde, de Itumbiara, de Luziânia e de Catalão, entre outras, é algo muito estratégico.
Para quem entra na política, o sonho é sempre ser presidente da República. Todos querem chegar o mais alto e o mais longe possível do caminho. Todo ser humano é movido a sonhos e com certeza isso não é diferente comigo. Se me perguntarem o que eu sonho, vou dizer que é ser presidente do Brasil, de ter em mãos as condições de transformar, de melhorar meu País.
Se eu tivesse a percepção de que haverá uma oportunidade de participar do processo de sucessão estadual, com certeza eu diria sim. Não vou desmerecer nenhuma outra situação, mas são 6 milhões e meio de goianos e eu sou um deles.
Euler de França Belém — O sr. sempre diz que a gestão de Antônio Gomide (PT) foi um mito, que precisa ser desnudado. O que exatamente quer dizer com isso?
Se observarmos como tem sido este ano da administração do prefeito João Gomes, os detalhes internos da gestão, as mazelas repassadas, a exemplo do que ocorreu em Goiânia, veremos que é algo muito difícil, para não dizer uma herança maldita. São contas complicadíssimas, com elevado índice de custeio com servidores, para não dizer que estão ultrapassando limites fiscais, que agora tentam corrigir para que tenham as contas aprovadas em 2014. Houve dificuldade na coleta de lixo, assim como houve em Goiânia; houve atrasos em pagamentos, como comprovam fatos mencionados no início do ano.
Andando pela cidade mais frequentemente durante a campanha, nos mais diversos bairros, a gente pôde perceber um descuido que é percebido e que é reclamado pela população anapolina. Quando falamos da gestão de Gomide, podemos dizer que foi um bom prefeito em relação a outros gestores, mas apenas mediano. Anápolis teve infelicidades nas administrações anteriores, que deixaram a cidade a desejar em termos de gestão, com falta de investimentos e dificuldades financeiras. Antônio Gomide pegou o município em trajetória ascendente em termos de arrecadação, com uma gestão feita pelo ex-prefeito Pedro Sahium para, em minha opinião, corrigir os desafios financeiros e econômicos. Sahium não investiu, mas fez uma administração visando melhorar a máquina, para que se pudesse crescer e, então, investir.
Gomide teve, portanto, condições muito melhores que seus antecessores, com arrecadação absurdamente crescente. Mas o que ele deixou pela cidade, em termos proporcionais, comparadas as arrecadações de cada período? Ele fez muito? Pode até ter feito, mas poderia fazer muito mais. O que deixou de resultado para a saúde, para a educação, para a segurança pública? O que foi feito pelos bairros mais carentes? As casas construídas no programa Minha Casa Minha Vida foram pagas pelo povo ou o povo as ganhou? De quem é esse mérito? Dar a casa é uma coisa; agora, construir a viabilidade para que o sujeito compre a casa, nessa situação o mérito é de quem a compra, com o salário suado, mês a mês. Faltou a Gomide demonstrar o que fez, dia a dia, e agora essa cortina está caindo.
Cezar Santos — Assim que João Gomes assumiu a administração, logo foi levantada a questão do problema financeiro da prefeitura. Mas, durante a gestão de Gomide, ninguém falou nada, nem mesmo a oposição, que parece ter ficado deitada em berço esplêndido, só batendo palmas.
Eu não chego a dizer que a oposição tenha ficado deitada ou batendo palmas, mas que tenha lhe dado uma carta de crédito confiando que ele faria uma boa gestão. Creio que o primeiro mandato dele indiscutivelmente foi melhor do que o segundo. Ou seja, os vereadores acreditavam que, de fato, Gomide estava fazendo uma boa gestão. Obviamente, eles, por serem da oposição, também não têm acesso às contas da Prefeitura. Isso também os impede de agir de forma mais incisiva.
Marcos Nunes Carreiro — O sr. falou que Gomide poderia ter feito muito mais. O que é esse “muito mais” que poderia ter sido feito?
A cidade cresceu muito em função dos investimentos que o governo do Estado fez e construiu. A arrecadação aumentou porque mais empresas se instalaram em Anápolis e empregou-se muito mais. Houve um círculo econômico virtuoso. Veja o que era o Daia [Distrito Agroindustrial de Anápolis] antes do governo Marconi e o que é o Daia hoje, depois da era Marconi. Isso fez uma diferença absurda na vida da cidade. O Huana [Hospital de Urgências de Anápolis], hospital referência da cidade hoje, foi construído pelo governo do Estado.
A prefeitura nunca promoveu, nesta gestão de Antônio Gomide, absolutamente nada em termos de investimento e desenvolvimento. O Estado fez esse papel para que ela colhesse os frutos.
Euler de França Belém — No caso o Daia, sem esse incentivo fiscal do Produzir, seria muito menor?
Eu arrisco a dizer que ele nem existiria mais.
Euler de França Belém — Então, mais uma vez, o governo do Estado foi decisivo nestes 16 anos.
Sim, foi fundamental.
Euler de França Belém — É verdade que fisicamente o Daia não comporta mais unidades e, por isso, há pelo menos 70 novas empresas que precisariam de espaço e procurando outros municípios ou até outros Estados. Como está realmente essa situação?
Vou lhe dar um exemplo: se você é dono de um jornal e procura uma casa para ser a sede dele, vai esperar um ano até aparecer uma casa para alugar? Claro que não. Sou empresário e abri minha empresa com dois colaboradores e comecei do nada. Aluguei um prédio no centro de Anápolis e então dei início a ela. Sei da dificuldade que é montar uma empresa e meu sonho era ir para o Daia, que era uma referência de se tornar um grande empresário, independentemente do tamanho da empresa.
Hoje, em nenhum lugar do Brasil, o empresário vai esperar por área. Acho, sim, que o Daia precisa de expansão, e o governo fez uma desapropriação para isso, em torno de 15 alqueires. Mas precisamos mesmo é repensar uma estratégia para assentar as empresas. Hoje, a concessão de área é importante, mas não é mais como era há dez anos. A concorrência é muito grande e o porte das empresas vai diminuindo. Isso faz diferença, ainda mais que o centro de consumo é a região Sudeste. Se a empresa vem para Goiás é porque há o incentivo fiscal. Dessa forma, se não temos uma reforma tributária ou algo que dê essa garantia, nem adianta ter área.
Vivemos no Brasil, desde 2012, um processo de estagnação por parte do investidor produtivo em termos de diversificação do contexto. Conversei com diversos empresários de várias partes do Brasil e do mundo e eles me falam que não vão investir agora porque não têm certeza se vão contar com o benefício do tributo. Vou dar o exemplo do polo farmoquímico, que eu conheço bem: o insumo vem da Ásia, em grande parte, e da Europa, por via marítima. Antigamente o produto era desembaraçado no porto seco, que tinha um incentivo para importações. Hoje, com o fim da guerra dos portos, o porto de Santos (SP), que já era ineficiente, aumentou ainda mais a centralização das importações, um porto. Então, eu trago o produto para Anápolis, para transformar o insumo em medicamento e revendê-lo novamente em grande parte onde? Em São Paulo.
Ora, que viabilidade financeira existe nisso? Todo mundo aqui percebe que não há conta para se fazer, que o ideal seria deixar a empresa o mais próximo possível de Santos, que fica em São Paulo, porque é de onde vem a matéria- prima e onde se vende o produto resultante. O princípio ativo vem do exterior, o material de embalagem tem cartucho, plástico e papel produzido em São Paulo e no Nordeste e alumínio vindo de São Paulo. Ou seja, nós não temos nada aqui de matéria-prima. Não há viabilidade. O mesmo ocorre com o carro. A Hyundai só está em Anápolis por causa da ousadia do governador Marconi Perillo com os incentivos para a montadora. Ora, as peças de automóveis são produzidas em São Paulo, onde estão mais de 60% das autopeças do País. Não se faz carro em Goiás sem incentivo fiscal.
Então, como pensar que a área para instalação faça diferença para uma Hyundai? Quando a Mitsubishi investiu R$ 1,2 bilhão em Catalão não houve área do Estado para expansão, a empresa comprou o terreno para isso. Se avaliarmos o mercado capitalista competitivo que vivemos hoje, veremos que não há empresa esperando área. Uma empresa não espera um cliente bater à porta dela para dizer que quer comprar um produto. Uma empresa não espera nada.
Em Anápolis há oportunidades para o município continuar crescendo, mas existem também outros gargalos que são tão ou mais importantes do que a área. A mão de obra é um deles. Se você for hoje à Praça Bom Jesus, no centro da cidade, verá que tem carro de som para chamar as pessoas para trabalhar.
Marcos Nunes Carreiro — A prefeitura, há cerca de um ano, lançou números falando sobre a qualificação profissional na cidade. O programa chama-se Qualificar e tem parcerias com entidades como Senai e Senac, entre outras. Em termos de qualificação mesmo, o que isso interfere para as empresas do Daia, que são o carro-chefe da economia local?
O gargalo principal, não só de Anápolis, mas de todos os municípios do Brasil, é a qualificação de mão de obra. Para uma empresa séria, correta, que queira de fato investir e não especular, a mão de obra é o principal, aliada ao incentivo fiscal. Qual indústria do Daia que hoje não está com placa ou faixa de “contrata-se”? Cite-me uma. Não há, todas elas estão contratando. O “turnover” — essa entrada e saída de empregados em uma empresa — é muito alto. Há empresas que mandam ônibus para Goianápolis, Gameleira e outros municípios próximos. Ou seja, o Daia reflete não só em Anápolis. E, se está vindo gente de outros municípios, é porque não estão sendo encontradas pessoas suficientes na cidade de Anápolis. Ou é mais barato uma empresa no Daia enviar um ônibus para Goianápolis ou para a Vila Jaiara [bairro de Anápolis], buscando colaboradores? Por isso tudo, digo que não vi um trabalho forte da Prefeitura em termos de qualificação de mão de obra. O que vejo é o Senai trabalhando muito bem, o sistema da Federação do Comércio, da mesma forma. Se houve parceria, a Prefeitura se beneficiou da estrutura do sistema para aprimorar a mão de obra. Mas, para mim, o gargalo principal é a falta de qualificação, associada à insegurança jurídica do incentivo fiscal.
Anápolis tem a plataforma logística multimodal, quase 4 milhões de metros quadrados, que poderia ser área bruta locável ou edificável. Estamos falando de quase 100 alqueires, quase um outro Daia que existe na plataforma, para se edificar com novas empresas. Vejo que o governo tem as ferramentas para que a expansão do Daia possa se dar sem que isso afete a vinda de novos empreendimentos. E falo como empresário: se você quer investir e fazer a cidade funcionar, o governo estadual nunca atrapalhou o crescimento produtivo de Anápolis — pelo contrário, ele só promoveu.
Precisamos agora aprimorar a forma de gestão e acredito que o governador Marconi Perillo fará isso neste quarto mandato. Os condomínios industriais têm de evoluir. Anápolis é um problema. A Prefeitura cobra o IPTU, mas o que faz dentro do polo industrial? Troca uma lâmpada? Ela roça sequer um palmo de mato? Corrige o asfalto? Constrói calçadas?
Marcos Nunes Carreiro — A manutenção do polo, então, ocorre por conta do Estado?
Tudo pelo governo do Estado, mas a Prefeitura cobra o IPTU.
Frederico Vitor — Alguns empresários do Daia se queixam do fornecimento de energia elétrica. Isso existe de fato?
A questão do problema com a energia existiu por um período, porque algumas empresas se comprometeram com a Celg a investir em subestações próprias. Esses acordos não foram cumpridos. E a Celg tinha feito um planejamento para, à medida que essas empresas investissem como estava acertado, liberariam a carga para o restante do distrito, o que tranquilamente atenderia a todo o polo. Com esses compromissos não sendo atendidos dentro do cronograma, evidentemente houve uma sobrecarga do sistema. Isso agora está sendo contornado. Existem dificuldades ainda, não vou negar, mas a Celg havia feito uma programação em cima de subestações que não foram construídas por parte de algumas empresas.
Euler de França Belém — Há queixas da população anapolina de que o IPTU do município é um dos maiores do Estado. E falam em aumento de 53% no imposto. Isso procede?
Pelo que ouvi falar, os aumentos serão ainda maiores do que isso, que seria um aumento linear. Mas alguns bairros podem sofrer aumento de 400%, 600%, até 800%. Na minha visão, como cidadão, acredito que o povo não suporta mais aumento de carga tributária. Pelo contrário, temos de tornar a máquina mais eficiente. Está aí o exemplo que Marconi dá agora, reformando a máquina administrativa para enxugar. Assim ele conseguirá diminuir custos e investir em serviços públicos. Se a opção é por aumentar impostos, daríamos o recado claro a população vai pagar o preço pelo fato de a máquina ser inoperante ou ineficiente, seja esse aumento de 1% ou 1.000%. É justo que haja a correção anual, de acordo com a inflação, mas, se deixaram de aumentar por um, dois ou dez anos, isso não é culpa do povo. Não dá para colocar tudo na conta da população de uma só vez.
Euler de França Belém — Por que o prefeito João Gomes diz que não apoiou Iris Rezende (PMDB) no segundo turno, mas o pessoal da Prefeitura demonstrou esse apoio? Por que houve isso? Gomide esteve com Iris, assim como o deputado Rubens Otoni (PT), mas o prefeito se escondeu.
Qualquer cidadão anapolino político, ou que pretenda participar de um processo eleitoral no futuro, tem de pensar duas vezes em andar com Iris na cidade. O desgaste de Iris e a percepção negativa que se tem acerca de sua imagem em Anápolis são muito grandes.
Euler de França Belém — Mas, afinal, o prefeito apoiou Iris ou não?
Acredito que não. O prefeito João Gomes sabe que participará do próximo processo eleitoral em Anápolis e sabe que andar ao lado de Iris é perder capital político.
Euler de França Belém — Qual a avaliação que o sr. faz da administração do prefeito João Gomes até o momento?
Ele tem lutado contra essas dificuldades da herança desafiadora que o ex-prefeito deixou. Creio que ele deva imprimir ritmo e identidade para sua administração a partir do ano que vem. João Gomes recebeu a Prefeitura já no começo do processo eleitoral, com todas as parcerias sendo suspensas.
“Trabalhar com Marconi foi um aprendizado”
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O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, condenou o "assassinato" de Luke Somers e do professor sul-africano Pierre Korkie

[caption id="attachment_22683" align="alignleft" width="620"] O romance “Oblómov”, de Ivan Gontchárov, mostra o parasitismo da vida da nobreza da Rússia no século 19 / Foto: The Guardian[/caption]
O que é a boa literatura? Impossível dizer. A sensação literária, aquela que nos atinge o espírito quando lemos, é por demais subjetiva para admitir uma classificação. O leitor pode gostar de “Harry Potter”, da autora inglesa J. K. Rowling, e eu posso preferir “O Sítio do Pica-Pau Amarelo”, de Monteiro Lobato. Muitos (a vendagem comprova) acham Paulo Coelho um grande escritor, enquanto outros tantos não conseguem sequer lê-lo. Para cada um, boa literatura é a que lhe deixa na consciência uma impressão mais profunda, que lhe transmite as imagens que o autor tentou deixar claras no papel. É aquela que dá uma sacudidela de satisfação quando uma cena bem descrita lhe toca num ponto sensível; é aquela que volta à lembrança tempos após terminada a leitura e fechado o livro.
Se é fácil definir o que é a boa literatura para um indivíduo, difícil, senão impossível, é defini-la de uma maneira geral. Poder-se-ia dizer, o que seria até certo ponto aceitável, que boa literatura é aquela que persistiu através dos tempos e varou a barreira de seu idioma de origem. Se afirmamos que “Guerra e Paz”, de Liev Tólstoi, “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, ou “Os Sofrimentos do Jovem Werther”, de Goethe, são bons livros, provavelmente não seremos desmentidos. A produção de Shakespeare é considerada boa literatura, quase que por unanimidade.
A busca dessa boa literatura, objeto da crítica literária e das premiações, é um exercício de boa vontade, mas não muito mais que isso. Muitos livros e autores, elogiados e premiados, não resistem a poucos anos e a uma ou duas tiragens, enquanto alguns outros, menosprezados a princípio, acabam por se impor e persistir. A maior dessas premiações, o Prêmio Nobel não deixa de ser uma busca por boa literatura, não por ação de um crítico, mas por ação de um conjunto deles, todos de alto nível: os membros da Academia Sueca.
O Nobel busca destacar os autores (não os livros) cujas obras já têm uma aceitação e permanência no tempo passado, e que no seu entender, poderão continuar a tê-las no tempo futuro. O Nobel comete erros, humano que é, mas faz também seus acertos. Desde que instituído, em 1900, para ser outorgado a partir de 1901, premiou pouco mais de uma centena de autores pelo mundo, na esmagadora maioria (cerca de 80%) europeus. Os franceses são campeões, com 14 premiações, seguidos dos alemães com 9, ingleses e americanos com 8 prêmios cada.
Interessante é que os americanos só conquistaram seu primeiro Nobel em 1930, 30 anos após sua criação, com Sinclair Lewis. E William Faulkner, que desde os anos 1920 já o merecia (escreveu “Paga de Soldado” em 1926), só foi contemplado em 1949. Em língua portuguesa, apenas José Saramago foi lembrado pelos suecos, e poucos poderão discordar de que melhor seria ter buscado Fernando Pessoa. A América do Sul é um deserto de prêmios Nobel. Espanha ou Polônia (cinco vezes cada uma) foram mais premiadas que todo o subcontinente em conjunto: dois prêmios para o Chile (Gabriela Mistral e Pablo Neruda), um para a Colômbia (Gabriel García Márquez) e um para o Peru (Mario Vargas Llosa). Os russos acumularam apenas cinco prêmios Nobel, o que é pouco, para a literatura mais pujante de todo o século XIX e começo do século XX.
Como o Nobel só contempla escritores vivos, russos como Gógol, Puchkin, Dostoiévski e Turguêniev, todos expoentes literários reconhecidos, cada um merecedor de seu Nobel, ficaram de fora, pois já eram falecidos quando o prêmio começou a ser conferido. Mas Tchekhov (que faleceu em 1904) e Tolstói (que morreu em 1910) seriam indiscutíveis, tivessem sido escolhidos pela Academia Sueca, que os preteriu. A ignorância totalitária soviética, principalmente sob Stálin, sufocou a melhor literatura do mundo. Como hoje se sabe, Stálin pretendia dirigir pessoalmente o trabalho dos escritores soviéticos. Só conseguiu anulá-los, ou fisicamente, mandando fuzilá-los se não obedeciam, ou intelectualmente, fazendo com que obedecessem suas diretrizes literárias.
O primeiro Nobel russo, Ivan Bunin (1933), era um exilado em Paris. O vigor da literatura russa vai muito além dos superautores que citamos acima. Menos lido, embora traduzido no Brasil, Ivan Gontcharóv (1812-1891) é autor, entre outras obras, de um magnífico clássico que marcou a literatura russa na época, e teve influência considerável no pensamento de então. O romance “Oblómov”, publicado em 1859, atravessou as fronteiras e foi traduzido nas línguas mais faladas do Globo. Conta a história de um aristocrata russo, cujo nome dá o título do livro, íntegro mas apático, honesto mas displicente e desestimulado com a própria existência, que vê vazia e sem sentido. É enganado pelos comerciantes, pelos empregados e pelos amigos inescrupulosos, vendo se esvaírem as rendas de sua propriedade rural, que nunca visita.
Em oposição a ele, há seu amigo Stolz, plebeu de origem alemã, homem de caráter, dinâmico, empreendedor, que faz fortuna com seu trabalho. Stolz tenta tirar Oblómov do marasmo e do descuido em que vive, cuida de suas finanças, tenta enfim salvá-lo de si mesmo. Oblómov tem uma centelha de reação ao conhecer a bela Olga Sergueiévna, por quem se apaixona, mas isso dura pouco, e ele volta à letargia displicente de sempre, enquanto Stolz acaba por se casar com Olga, sob a total indiferença de Oblómov, que ao fim, suprema indolência, casa-se com a criada, que dele cuida com desvelo, e segue até a morte abominando a vida.
Se “Oblómov” é um romance atraente, de fácil leitura, é também uma crítica ao parasitismo da nobreza russa e ao sistema econômico dos czares. Ao confrontar a letargia de Oblómov com o dinamismo de Stolz, Ivan Gontcharóv não fez mais que tecer sua crítica a um sistema econômico burocrático e semifeudal. Compara, contrastando personagens, a apatia da nobreza russa e a vontade empreendedora da sociedade industrial alemã, em franco desenvolvimento à época em que Oblómov era escrito. Dá uma mensagem de esperança no amor, que pode operar regeneração, se correspondido.
O romance de Gontcharóv penetrou fundo na sociedade russa, já quase madura para contestar o czarismo. O substantivo oblomovismo foi criado para significar displicência ou apatia, e incorporou-se à língua russa.
Reflexos de Oblómov chegaram até Goiás. O livro foi traduzido em 1966 pelo mineiro Francisco Inácio Peixoto, já falecido (Edições O Cruzeiro). Em 2001 surgiu outra tradução, agora assinada por Juliana Borges (Germinal). Só que, ao que parece, a segunda tradução era um plágio da primeira, conforme alerta lançado pelo professor Anselmo Pessoa, da Universidade Federal de Goiás ao jornalista Euler de França Belém. Euler, cotejando as duas traduções, concordou com o mestre Anselmo: haviam coincidências demais, e até nos erros das duas traduções. Tradutores da primeira estão nos tribunais contra os tradutores da segunda edição.
Perguntas para o senhor ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, diante do assalto em Goiás a três carros fortes e da morte de três vigilantes, trabalhadores e arrimos de família: 1) De que vale o Estatuto do Desarmamento que V. Excia. defende? Os bandidos portavam armas do mais grosso calibre militar. 2) O governo de V. Excia. é contra o encarceramento. Se forem presos, verá V.Excia, os bandidos são reincidentes ou foragidos. Se estivessem devidamente presos, teria ocorrido a carnificina? 3) O governo de V. Excia. premiou famílias de terroristas, assaltantes de bancos, assalariados de ditaduras, com indenizações milionárias. As famílias desses trabalhadores ficam no desamparo. É justo isso? 4) Não pensa V. Excia. que a política de direitos humanos do governo, muito voltada para os marginais, de alguma forma estimula essas ações ousadas?
A pantomima do (im)possível assassinato de Jango não acaba, mesmo após a comissão de exumação ter atestado que não encontrou traços de veneno. “Não encontrou, mas pode ter sido envenenado mesmo assim”, bradam a esquerda hidrófoba e a família do ex-presidente que não deixou marcas positivas na história. Houvesse algum indício, Jango teria sido envenenado. Como não há, ainda assim pode tê-lo sido. Para que, então, a exumação? Jango, cardiopata, fumante, beberrão, sedentário e de maus hábitos alimentares, durou muito, até que seu coração falhasse de vez, como os que com ele conviviam sabem muito bem.

“Todo Filme É Sobre Cinema”, é a seleta do trabalho autoral de Nei Duclós sobre obras e protagonistas de uma arte voltada para si mesma

Na coletânea “Ter Saudade Era Bom”, Moema Vilela acomoda nas formas breves a densidade criativa das narrativas longas

Cristiano Deveras
Era novamente eu e a estrada. A vastidão do nada à frente e a mesmice do que ficou para trás, os horizontes que atravessavam as janelas do veículo, celerados, assustados e velozes. Não, acho que era eu quem corria demais. O pé direito afundado no acelerador me dava uma vaga suspeita disso.
Tentei lembrar-me o que havia me levado ali: a) um ano dedicado aos estudos e um concurso que no fim das contas, não deu em nada; o que leva invariavelmente a um b), estar tão deslocado no seu próprio eixo, devido ao isolamento para estudo e às profundas meditações transcendentais e sem sentido, que a melhor forma de se recolocar é sair por um tempo e depois voltar, acertadamente ao seu lugar, ou fingindo metodicamente estar.
Então, meu irmão fechou animadamente um negócio com um primo meio trambiqueiro, que mora no extremo norte do Estado. Era para trazer um carro para minha mãe, um Honda Civic 2007, com todos os apetrechos que um carro deste porte deve ter. O transportador seria eu, que iria de ônibus e voltaria guiando. Não me perderei nestes detalhes. Até porque não lembro muito bem de nada depois disso. Fui colocado ou direcionado ao meu assento no banco do ônibus por algum funcionário da viação; como houve um senhor atraso no embarque, passei meu tempo ocioso na lanchonete mais próxima do embarcadouro, cervejas e whiskys falsificados me fazendo companhia. Podem não ser as melhores companhias do mundo, mas te ajudam a passar o tempo. Daí que a ida foi um sono contínuo, uniforme e vomitado. Acredito que ganhei alguma antipatia dos outros passageiros. Talvez tenha tido isso do motorista também, a contar pelo jeito que me empurrou porta afora, quando chegamos na cidade do meu destino. — E que destino! — exclamei.
Sob um calor de no mínimo cento e cinquenta graus, a rua principal esturricava abandonada. Olhei quase no fim dela e vi a garagem de meu primo, ao lado de um agradável botequim, um oásis de calma e beleza rodeado de palmeiras — Melhor pegar o tal carro e me arrancar daqui, ou corria o risco de ganhar raízes profundas.
Cheguei com cara da ressaca encarnada, ainda não havia comido nada, depois de uma noite de solavancos e sonhos entrecortados. Carlos, o parente vendedor de veículos, me deu um abraço mais falso que uma moeda de dois reais:
— Grande Juliano! Como é que tá o cara mais famoso da família Werneck? — Até que vou bem, mas não sou o mais famoso: o primo Alceu é quem tá bombando nas manchetes agora, depois daquele caso de desvio de dinheiro público. — Ah, mas isso é ficha. Em pouco tempo o povo esquece disso, vai por mim. Mas no teu caso, você é um artista, um escritor, daí que não dá para esquecer. — Isso se você escrever. Como não ando escrevendo, dane-se. É este o carro?
Ele fez um sim desconfiado, como uma raposa na porta do galinheiro. Deixei que o desdém do meu olhar demonstrasse que não me animei nada com o escolhido. Olhei em volta e todos os outros automóveis tinham o mesmo ranço estético; vários outros sedans alinhados, juntamente com alguns hatchs econômicos e algumas pick-ups monstruosas. Nenhum conversível, nenhuma motocicleta endiabrada, nenhum escape de duas ou quatro rodas. Foi então que o vi. Parado no canto, me chamando, quase ordenando que o ligasse. Era um carro de sonho. Na verdade, uma lenda. Deixei o escolhido de lado.
— Roda? — O quê, aquele ali? Você deve estar brincando, não é para sua mãe? — É, mas a gente divide o carro. Daí que acho que aquele ali é perfeito. Pega a chave.
Girei o segredo no tambor e senti o motor explodir: aquilo sim, é que era o som verdadeiro de uma engrenagem em movimento, o bom e velho carburador, não aquela coisa insossa da injeção eletrônica. O barulho do motor me impedia de ouvir o que meu primo teimava em gritar ao lado do carro. Ele apontava alguma coisa para dentro do veículo e eu somente acenava a cabeça, sorrindo maquiavelicamente como se entendesse tudo. Por fim, ele se aproximou e disse:
— ... Fora isso, tá tudo beleza. Fiz o motor, o câmbio e a suspensão, o bicho tá tinindo! Mas ainda acho melhor você colocá-lo em uma cegonha ou levá-lo sobre um caminhão. — E perder o melhor da festa? Nem na bala.
Acertei a papelada com Carlos, comi alguma coisa que pedimos diretamente do botequim e comecei o meu retorno para casa. Não via a hora de cortar o espaço com aquela máquina. Atravessei a cidade com controlada ansiedade, louco para chegar na rodovia e começar verdadeiramente a rodar. Quando as rodas de liga leve começaram a desfilar na estrada, vi o brilho do olhar dos fãs de motores chegando a corroer as fortes latarias. Meu ser começou a se integrar com o veículo logo após os oitenta por hora. Senti o volante se tornar uma extensão de minhas mãos e os pedais grudarem-se aos meus pés, o coração correndo em uníssono com o motor e minha força sendo transmitida pela transmissão daquele carro dos sonhos.
Era novamente eu e a estrada. Foi quando percebi o que meu primo tentara desesperadamente me mostrar. O painel de instrumentos, vez por outra perdia o contato, ficando estático, sem fornecer informação nenhuma. Isto me fez gostar ainda mais daquele carro, pois suas falhas em muito se assemelhavam às minhas: sem marcador de RPM, nem ele nem eu sabemos a própria força ou potência; isto geralmente atrapalha muito coisa, seja em um aclive acentuado ou em um relacionamento conturbado; sem o controle do combustível, nunca sabemos até onde teremos gás para podermos ir, seja na estrada ou na vida, mas dane-se, quem perde tempo com isso? Um dia tudo acaba mesmo. A falta do velocímetro me impede de saber a que velocidade estou indo, mas algo dentro de mim me assegura que estou indo no tempo certo, no momento exato, e que em mais ou menos tempo chegarei em algum lugar; já a falta do marcador de temperatura é grave, pois assim como o motor pode fundir devido ao excesso de calor, sua falta na vida nos deixa sem saber se nossas relações estão próximas da ebulição ou em total e completo congelamento.
Todas estas conjecturas ajudam a despertar mais uma companheira de viagem que me acompanha desde muito. Minha velha e conhecida sinusite. A dor que se espalha pela cabeça se assemelha a milhares de pequenas e pontiagudas facas distribuídas pelo crânio, com uma raiz profunda que desce por detrás do olho direito e se esgueira pela orelha, chegando a sussurrar coisas obscenas em meu ouvido; não tomo analgésicos pois eles causam dependência e a pior coisa do mundo é estar dependente (de algo ou de alguém). Por esta razão me apeguei a esta dor como um náufrago a uma tábua.
Mas acho que me enganei. A pior coisa do mundo não é a dependência, mas sim viver frustrado. É pior que morrer duas vezes; uma porque se sabe que ainda vai morrer, outra, porque realmente todo o sentido da vida se esvai com aquela imagem de quem você deveria ter sido. Neste exato momento vejo um eu bem sucedido sentado no banco detrás, rindo amigavelmente para mim, tentando me passar alguma confiança. Foda-se.
Enquanto devoro quilômetros rodas abaixo, com o pensamento solto e livre, tentando decifrar o código secreto da vida, ao lado sempre aparece um ou outro apressadinho tentando apostar corrida comigo; ao adentrar um carro poderoso (ou se destacar de qualquer outra maneira) você sempre verá as pessoas (pelo menos as pessoas mais idiotas) te chamarem para um racha, uma aposta ou uma desafio qualquer. Ao não aceitar, estarão todos te avaliando por questões de valentia ou medo, mas ninguém (salvo raras exceções) perceberá que não procedeu daquela forma justamente para não fazer aquilo que as pessoas esperem que você faça.
Acredito que exatamente por isso que trouxe este maravilhoso Maverick V8, e não o tal Honda... Apesar de meu irmão quase ter enfartado, fico sempre tocado ao saber que minha mãe é, aos quase sessenta anos de idade, a feliz proprietária de um autêntico muscle car. E sinto-me como um garotinho, toda vez que Mamãe, dirigindo seu V-oitão pelas ruas, vai me buscar em mais um sarau de poesia, enquanto vou bebericando meu Jack Daniel´s madrugada afora... A lei seca pode ter me privado de um dos meus passatempos prediletos (direção ébria pós encontro literário), mas ao menos serviu para melhorar meu relacionamento familiar.
Cristiano Deveras é escritor.

A introdução da máquina causou mudanças no modo como as pessoas viviam. Toda uma infraestrutura tecnológica começou a crescer ao redor delas. Isso fez com que alguns historiadores e críticos de arte vissem que não eram só os tempos que estavam mudando em decorrência da tecnologia, mas a nossa própria consciência

[caption id="attachment_22517" align="alignright" width="620"] M. File[/caption]
Eberth Vêncio
Especial para o Jornal Opção
Nem sei por onde começar. Fazer um recall da Big Bang. Disputar o céu com os pássaros usando apenas as minhas asas de cobra. Morrer pela boca num beijo bem velhinho dormindo num dia de domingo e despertar no paraíso com a cabeça repousada no colo da vovó com Deus uma mulher (que surpresa incrível!) a coar o café. Enterrar pessoas só de brincadeirinha única e exclusivamente na areia. Construir castelos na praia sem ter medo da maré.
Voar na maionese: cantar “Blackbird” em dueto com Paul McCartney. Ser o quinto beatle. Caminhar pela zona do baixo meretrício com a autoestima em alta. Apaixonar-me pela prostituta tímida meiga bonita e tirá-la daquele lugar. Casar uma aposta com véu e grinalda. Roubar flores no jardim da minha vizinha rabugenta onde hoje levantam duas torres monumentais com oito apartamentos por andar três vagas na garagem e nenhuma rosa para ser cobiçada. Ser reconhecido como um poeta.
Ficar famoso o suficiente para que todos prestem atenção quando eu disser em rede nacional “Eu preciso de um pouco mais de respeito”. Então pedir que me esqueçam. Me mandar do planeta num foguete para a lua. Flutuar com a consciência tranquila na gravidade zero. Engravidar um grande amor no banco de couro de um Maverick quatro cilindros ao som de “Born to be wild”. Rir de tudo que não tiver a menor graça. Plantar bananeira no meio da rua e semáforos no pomar.
Almoçar em casa todo santo dia. Ir a pé pro trabalho. Acordar no meio de um enorme problema e constatar que tudo não passava de um pesadelo. Ouvir na cama os segredos picantes que os seus grandes lábios têm pra me contar. Morar em casa própria tipo rancho à beira de um lago e ter um monte de filhos com uma pá mecânica. Lavar a minha égua no “Poema Sujo”. Cuspir com classe e estilo do alto da Torre Eiffel. Gritar na Wall Street que dinheiro não traz felicidade. Cavar um túnel até fugir da prisão chegar ao Japão ou fazer calos nas mãos o que acontecer primeiro. Matar a curiosidade: fazer sexo com uma japonesa.
Desvendar os segredos da maçonaria. Descobrir a cura para o câncer da corrupção. Decorar a última parte do Hino Nacional. Beber leite misturado com manga e não enlouquecer. Passar no vestibular da vida. Ter uma árvore. Plantar um livro. Escrever um filho. Investir num consórcio, operar o períneo, fazer uma lipo, levantar os peitinhos e de quebra entender as mulheres. Juntar meu primeiro milhão de amigos. Ganhar na loteria dos pênaltis. Deitar e rolar com você para que os corpos não criem limo.
Acabar com a violência a miséria e as fronteiras entre os países para que o mundo seja finalmente um único quintal. Curar-me do sarcasmo e do cinismo. Sonhar sonhos mais factíveis. Amadurecer o suficiente mas sem cair de maduro. Crescer tornar-me um adulto resolvido e nunca mais querer ser alguém nessa vida além de eu mesmo.
Eberth Vêncio é escritor e médico.
via Revista Bula[caption id="attachment_22506" align="alignright" width="620"] Foto: Presidente do Sisepe-TO, Cleiton Pinheiro: “Estamos solicitando auditorias” / Divulgação[/caption]
A gravidade da situação em que se encontra o Fundo de Previdência do Instituto de Gestão Previdenciária do Estado do Tocantins (Igeprev) foi o principal assunto da audiência ocorrida na semana que passou, na sede do Ministério da Previdência Social (MPS), em Brasília. A audiência com o ministro Garibaldi Alves e o secretário da Previdência Social, Benedito Adalberto, contou com a participação de representantes de dez entidades classistas tocantinenses que representam os servidores públicos estaduais, junto com o deputado federal Oswaldo Reis (PMDB) e o deputado estadual eleito Paulo Mourão (PT).
Ao ministro da Previdência e sua equipe, os sindicalistas tocantinenses manifestaram a preocupação com a falta de transparência na divulgação dos repasses mensais relacionadas à contribuição dos servidores e à contribuição patronal (do Estado). “Estamos solicitando duas novas auditorias específicas. Uma nos fundos de risco e outra nos repasses feitos ao Fundo de Previdência, incluindo os repasses do pagamento de retroativos dos acordos firmados com os servidores públicos”, explica Cleiton Pinheiro, presidente do Sindicato dos Servidores Públicos do Estado do Tocantins (Sisepe-TO), que também participou da audiência em Brasília.
Na conversa com os sindicalistas, o MPS também destacou que a vigência do Certificado de Regularidade Previdenciária (CRP) do Igeprev vence no próximo dia 30 de dezembro. “O CPR é essencial para qualquer governo estadual ou municipal para receber verbas de transferências voluntárias, firmar convênios e fazer investimentos. É algo que garante a governabilidade. Sem o CRP, um Estado fica absolutamente bloqueado nessas ações inovadoras fundamentais para a sociedade”, explicou Benedito Adalberto. Hoje, o Tocantins tem CRP em função de uma liminar da Justiça Federal. Com o fim da vigência, só uma eventual nova liminar garantirá a manutenção deste certificado a partir do ano que vem, conforme informou o próprio MPS.
O Ministério contou que a Advocacia Geral da União (AGU), por meio do Parecer nº 047/
2014/DECOR/CGU/AGU, de 3 de julho deste ano, opinou pela imediata rescisão do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado em 6 de dezembro de 2012. Sendo assim, por descumprimento, o TAC está suspenso.
Ao apresentar um breve histórico dos investimentos do Estado do Tocantins, o Ministério da Previdência confirmou que ainda existem fundos desenquadrados, em face da Resolução CMN nº 3.9422/2010. “Estão desenquadrados com relação à Resolução do Conselho Monetário Nacional. O Estado foi notificado e tem que tomar alguma providência para a regularização da situação. Essa é a expectativa que nós temos”, contou o secretário da Previdência Social. Os fundos em questão são Ipiranga e Diferencial.
Se o Igeprev não providenciar o enquadramento dos investimentos até o dia 30 de dezembro, o CRP poderá não ser renovado, já que a decisão proferida na cautelar restringe-se aos investimentos dos dois.
Os sindicatos também falaram sobre déficit atuarial e questionaram quem seria o responsável por arcar com prejuízos se, futuramente, o Igeprev não tiver recursos financeiros suficientes para arcar com a aposentadoria dos servidores estaduais. Neste caso, o MPS esclareceu que se a situação chegar a esse ponto, o Estado do Tocantins terá que fazer o aporte financeiro necessário para que os servidores não sejam prejudicados. “Não tem como afastar a obrigação do Estado em cumprir isso. O Estado terá que arcar, em último caso, caso haja déficit atuarial. Terá que fazer aportes”, argumentou.
O presidente do Sindicato dos Servidores do Tribunal de Contas do Tocantins (Sinstec) e presidente interino da Federação Nacional dos Servidores do Tribunal de Contas (Fenacontas), Paulo Henrique Vilanova, reuniu na terça-feira, 2, em Brasília, com o presidente Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcus Vinícius Furtado Coelho, e o conselheiro Federal da OAB, Gedeon Pitaluga. Na reunião foram discutidos assuntos relevantes, como reforma política e principalmente a criação de um órgão responsável pelo controle dos tribunais de contas estaduais. “Durante este encontro percebi a sensibilidade do presidente nacional da OAB em relação a esta causa. Ele se colocou à disposição para a aproximação entre as entidades que discutem assuntos importantes de interesse da sociedade brasileira. Este apoio é muito importante,” destacou Vilanova.
Os membros da comissão especial da Assembleia Legislativa aprovaram a indicação de Alberto Sevilha para o cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Tocantins (TCE). A decisão será encaminhada para ser votada pelo Plenário. A comissão especial criada exclusivamente para avaliar a escolha do governado Sandoval Cardoso (SD) para o Pleno do TCE é composta por Raimundo Palito (PEN), como presidente; Jorge Frederico (SD), vice-presidente; Josi Nunes (PMDB), relatora; além de José Bonifácio (PR) e Stálin Bucar (SD). Durante a primeira reunião da comissão, ficou definido que será dispensada a sabatina com Alberto Sevilha, sugerida pelo deputado Sargento Aragão (Pros). A decisão dos membros levou em consideração os artigos 203 e 204 do capítulo seis do Regimento Interno, que estabelece normas para esse tipo de comissão. Os artigos, conforme destacou Raimundo Palito, apenas definem que a votação deve ser realizada em único turno e escrutínio secreto, em até 48 horas após a instalação da comissão. Os membros poderão solicitar informações, caso julguem necessário, mas, segundo ele, já foi analisado e dispensado pelos integrantes da Comissão Especial.
O diretor-geral do Hospital Geral de Palmas (HGP), Paulo Faria, em comunicado à imprensa, assumiu que unidade não tem como servir refeições a servidores, pacientes e acompanhantes “por motivo de suspensão do fornecimento de insumos”. Ele disse no comunicado que recebeu esta informação da Litucera, responsável pelo serviço. Faria informa que está autorizando a entrada de refeições no HGP “até a normalização do serviço”. No comunicado, ele pede aos coordenadores dos setores que organizem as escalas para que os funcionários possam sair para fazer suas refeições (almoço e jantar). “Pedimos desculpas aos colegas, pacientes e acompanhantes desta unidade, pois essa situação foge da capacidade de resolução por parte desta direção, e esperamos que esta situação seja normalizada o mais breve possível.” A questão que os tocantinenses estão se perguntando, a menos de um mês para o fim da atual gestão estadual: será que ainda há tempo?