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Quanto dura um poema?

“Naquele sarau você leu um poema lindo”, ela me disse de um modo inesperado. Eu tive que revirar a memória pra me lembrar daquele sarau. Com a ajuda dela, concluí que deve ter sido há uns sete anos, na casa de um amigo comum. E foi o último. Já o poema... Ela reteve a imagem da beleza daquelas palavras, como quem retém a imagem de uma bela figura sem rosto e sem nome. Se o ouvisse outra vez, talvez o reconhecesse, como quem reconhece por intuição a imagem de uma bela figura antes vista. Mas eu – minha desmemória --, meu profundo desalento por não saber um só verso de cor. Terá sido de Pessoa, de Drummond ou de Vinicius o poema em branco retido pela moça? Naquele tempo eu também empunhava os meus próprios versos. Será que? Milton Hatoum, o romancista de “Relato de um certo Oriente”, costuma dizer que o poema é a obra perfeita da palavra. O romance e o conto, mesmo os grandes, têm seus altos e baixos; uma peça teatral só faz realmente sentido quando encenada; e a crônica é o gênero menor, com variações (mais pra menos que pra mais). Já o poema – cada belo poema – contém em si a perfeição traduzida em palavra. Vem daí sua força comovedora (“O amor dos homens”, de Vinicius), seu poder de mobilização dos sentidos (“A metafísica do corpo”, de Drummond), sua capacidade de perpétua fixação nalgum (não) momento do tempo ou desvão da memória (“tabacaria”, de Pessoa-Álvaro de Campos). O alumbramento, pela leitura ou audição do poema-perfeito, é como a fruição de um preciso e imprevisto gol a favor, de um lancinante orgasmo, da contemplação do sublime. É por isso que, para a moça que reteve o poema-perfeito lido por mim nalgum (não) lugar, esse poema não tem fim. E nem é preciso que ela recorde seus versos, seu nome, seu autor. Essa é talvez a mais incomum das peculiaridades do poema: é feito para se ler num instante, mas pode durar uma vida. É quanto soará minha voz nos ouvidos daquela moça, ainda que vagamente, a ler um incógnito poema-perfeito. Prerrogativas de mensageiro da poesia.

Armando Vergílio está com PMDB, mas Solidariedade deverá ir com Gomide

[caption id="attachment_8513" align="aligncenter" width="2014"]Armando Vergílio fica com Iris Rezende, mas o SDD anapolino apoia a candidatura do petista Antônio Gomide Armando Vergílio fica com Iris Rezende, mas o SDD anapolino apoia a candidatura do petista Antônio Gomide[/caption] Armando Vergílio é o presidente estadual do Solidariedade (SDD) em Goiás. Sua presença na chapa majoritária do PMDB, somada a de Ronaldo Caiado (DEM), deu força a Iris Rezende nesse período decisivo visando às eleições de outubro. A chapa é: Iris  na cabeça, Ar­man­do na vice e Caiado ao Sena­do. Porém, se confirmado como vice na chapa peemedebista, Armando irá causar desconforto dentro de seu partido em Aná­polis. Isso deverá ocorrer por dois motivos: primeiro, porque parte do Solidariedade anapolino quer ir com o PT, pois apoia a candidatura do ex-prefeito Antô­nio Gomi­de. Segundo, devido à alegada resistência que o povo anapolino tem ao nome de Iris. Acontece que o Solidariedade é parceiro do PT em Anápolis, ten­do, inclusive, uma secretaria: Il­mar Lopes da Luz ocupa a cadeira da secretaria do Trabalho, Em­prego e Renda. Ele diz que não houve consulta aos membros do partido para consolidar a aliança com o PMDB de Iris. Assim, ele e os três vereadores do Solidariedade em Anápo­lis — Amilton Filho, Mauro Seve­riano e Vespasiano dos Reis  — não mudarão sua posição de apoio à candidatura de Gomide. “O partido não mudou. Os três vereadores continuam na base do ex-prefeito Antônio Gomide e eu continuarei na secretaria. Até porque minha vinda para a prefeitura não foi uma escolha do partido, mas uma escolha pessoal do ex-prefeito Antônio Gomide”, diz Lopes. Segundo ele, seu apoio a Gomide não trai o Solidariedade. “Acredito que devemos ser leais com quem é leal com a gente. Apoiar Gomide não é uma traição ao partido, mas uma decisão coerente, pois eu e os vereadores somos responsáveis, junto com Gomide, pelo desenvolvimento da cidade nos últimos cinco anos e agora não podemos virar as costas ao projeto de Gomide. Caminharei com ele, respeitando o partido e a decisão do deputado federal Armando Vergílio.”

Resistência ao nome de Iris Rezende em Anápolis faz partido seguir com Gomide

O anúncio da aliança entre o Solidariedade de Armando Vergílio e o PMDB de Iris Rezende pegou todos de surpresa, inclusive os prórios membros do primeiro partido no interior. O vereador anapolino, Amilton Filho, do Solidariedade, diz que “foi uma surpresa o anúncio de Armando na chapa do Iris Rezende. Não fomos avisados”. E não só ele. Outros membros do partido em Anápolis garantem que não houve consulta, mas imposição. “A decisão veio de cima”, diz um anapolino. Assim, pelo que se nota a aliança com o PMDB não recebeu a aceitação de todo o partido, mas ainda está “em fase de convencimento”. É um quadro semelhante ao do DEM de Ronaldo Caiado, em que um bom número de prefeitos deverá apoiar a candidatura à reeleição do governador Marconi Perillo. Além disso, há o fato de que Iris Rezende tem certa dificuldade de penetração em Anápolis e isso não é novidade. Enquanto a aliança entre PMDB e o PT do ex-prefeito Antônio Gomide estava engatilhada, o nome de Iris era visto de uma maneira melhor na cidade, devido ao prestígio do petista. Desfeitos rumores de aliança, Iris voltou a desfrutar da má reputação que o PMDB tem em Anápolis. Os anapolinos entendem que no período peemedebista no governo, a cidade foi mal cuidada, o que não ocorreu durante os governos de Marconi Perillo.

Devido a programa de inclusão digital, Anápolis já é considerada a 6ª capital digital do país

As praças digitais de Anápolis, inauguradas no fim do ano passado, fecham este primeiro semestre com uma grande adesão por parte dos anapolinos. Dados da prefeitura apontam para mais de 150 mil acessos individuais nos mais de 20 pontos de internet gratuita distribuídos em Anápolis e nos distritos de oialândia, Joanápolis, Interlândia e Souzânia. Entre os pontos de maior acesso estão os parques da Liber­dade e Ipiranga. As praças digitais fazem parte do projeto de inclusão digital da prefeitura, que conta também com as ações desenvolvidas pelos Telecentros Comunitários, a Casa Brasil e o Centro de Recondi­cio­namento de Compu­tadores. De acordo com o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomuni­cações, em parceria com a Momento Editorial, Anápolis foi considerada a sexta cidade digital do País.

PHS quer João Campos candidato ao Senado na chapa com Marconi Perillo

Com a saída de Júnior Friboi da disputa majoritária em Goiás, temos um cenário em que dois dos quatro postulantes ao Palácio das Esme­raldas têm base no meio evangélico: Iris Rezende e Vander­lan Cardoso. Fora isso, com a ida de Ronaldo Caiado para a chapa irista, esse cenário tomou maiores dimensões,   por dois motivos: 1) Caiado está sendo apoiado pelo bispo Manuel Ferreira,  presidente da Assembleia de Deus de Madureira; 2) Até a sexta-feira, 26, — fechamento desta edição — o de­putado estadual Luiz Carlos do Carmo (PMDB), que é da As­sem­bleia de Deus, era o suplente anunciado de Caiado. [caption id="attachment_8509" align="alignleft" width="300"]32 e 33 - coluna anapolis_toques.qxd João Campos seria ideal ao Senado?[/caption] Essa soma de fatores faz o vice-presidente estadual do PHS, Elismar Veiga, acreditar que o melhor nome para disputar o Senado na chapa do governador Mar­coni Perillo (PSDB) era o do deputado federal João Campos. “A meu ver uma chapa consistente traria Vilmar Rocha de vice e João Campos, senador”, declara o anapolino. Outros fatores importantes, segundo Elismar Veiga, são os assuntos que entrarão em pauta no Congresso no próximo ano. “É importante lembrar que os evangélicos estão de olho na reforma do Código Penal que tramita no Senado. “Além disso, assuntos como aborto, pedofilia, drogas e ideologia de gênero serão discutidos e votados na próxima legislatura. Dessa forma, não tenha dúvida, antes de escolher um Senador o segmento evangélico levará esses fatores em consideração”, diz. Por isso, o anapolino defende que seria uma boa estratégia por parte da  base aliada atrair para a chapa majoritária um nome com amplo espaço no meio evangélico. “E o deputado João Campos seria o nome ideal, pois é pastor da Assembleia de Deus,  é atuante no Congresso em defesa dos temas que nos são caros e, principalmente,  tem musculatura eleitoral capaz de atrair o voto evangélico para a reeleição de Marconi”.

Crefa retoma, nesta semana, atendimento em seu novo prédio

O Centro de Reabilitação e Fisioterapia de Anápolis Dr. Syrio Quinan, o Crefa, que não funcionou em grande parte do mês de junho, volta a atender nesta segunda-feira, 30. O motivo da paralisação foi a transferência da unidade da Vila Jussara para o Bairro Jardim Calixto, ao lado do Hospital Dia do Idoso. A mudança foi realizada devido à necessidade de um espaço maior para realização dos atendimentos com maior conforto. Após a reabertura a unidade amplia o horário de atendimento, que será das 7 às 19 horas. Todos os pacientes das unidades já estão sendo informados sobre as mudanças e as consultas que estavam agendadas entre os dias 16 e 20 de junho estão sendo remarcadas. O Crefa é referência nos serviços de fisioterapia, psicologia, fonoaudiologia, e terapia ocupacional da Rede  do SUS em Anápolis.

“Goiânia não tem identidade”

Carlos Augusto Silva cartas.qxdNos links da Rede Globo antes do jogo Brasil 4 x 1 Camarões, mostrando as capitais, vi como eu tenho razão a respeito de Goiânia: uma cidade cuja identidade é não ter identidade alguma. Essa, inclusive, foi minha resposta ao filósofo Roberto Machado quando passeávamos pelo Rio em 2012 e ele me falava, nordestino que é, de seu amor pelo Rio, cidade que escolheu para viver, ao me perguntar a respeito de Goiânia. Em Salvador, em Recife, em Sampa, no Rio, a tradição aparecia no canal global — as pessoas na rua, os traços característicos. Em Goiânia, um bando de gente insossa em um bar da moda, uma dupla “sertaneja” que de sertaneja nada tem: cabelos com chapinha e camisetas baby look cantando letras que em nada refletem uma realidade rural. A TV Anhanguera, previsível e deslumbrada, com seu time de repórteres despolitizados que sonham em ser atores da novela das oito, optaram pelo óbvio burguês idiota de Goiânia. Diferen­temente do Recife, de Salvador com o Olodum, de Sampa com o Vale do Anhangabaú, do Rio com a alegria imersa em samba no meio da rua. Goiânia não tem identidade, e por isso sempre achei essa cidade tão triste, tão pálida, tão sem — sem isso, sem aquilo, sem nada. Quisera eu ter visto cantos de vitória ao som de passos de catira, traços verdadeiramente caipiras, berrantes tocando, e não uma dupla “sertaneja” acéfala com canções de que ninguém se lembrará daqui a dois meses. Essas coisas rurais que preferiria ter visto nada têm a ver comigo, com meus gostos, mas reconheço-as como coisas legítimas de Goiás. Não estou virando as costas para os traços do meu Estado, apenas desejando uma forma mais legítima de se colocar no mundo dos habitantes dessa terra em que nasci. Triste constatação. Nesse caso, como é horrível ter razão. Carlos Augusto Silva é professor de Literatura, escritor e crítico literário.

“Xingamento à presidente mostra nossa incapacidade de debater”

José Hélio cartas.qxdEm relação ao comentário que o ministro-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, fez sobre o xingamento à presidente Dilma Rousseff (PT) na abertura da Copa, tenho a dizer que infelizmente ações como essa não justificam nem alteram o quadro lamentável da nossa atual conjuntura. Mostram apenas nossa real falta de educação, forma comum de expor nossa incapacidade para debater, para criar novas discussões. É mais fácil falar palavrão ou brigar que tomar outras altitudes. Não da para entender certas altitudes, contraditórias diante dos fatos. Quanto à aposentadoria do ministro Joaquim Barbosa, creio que existe algo muito sério por trás disso. Não há razão para alguém como ele se aposentar tão cedo. Vai sair em seu momento de destaque. E-mail: [email protected]

“Excelente texto de Cezar Santos”

Valério Seccadio Excelente o artigo “Se torcedor vaia até minuto de silêncio, por que não vaiaria Dilma?” (Jornal Opção 2033), de Cezar Santos na coluna “Ponto de Partida”. Fazia tempo que eu não via, na internet, texto tão bem elaborado e preciso. E-mail: [email protected]

“Condenam as pesquisas, mas usam o que vem delas”

cartas.qxd Rogiane Oliveira De fato, existem linhas de radicalidade e de radicalismos para qualquer questão, seja política, religiosa, social... e a ciência, certamente, não seria exceção. Radicalidade aconteceu e acontece todas as vezes que pessoas inquietas, indignadas e inconformadas com certa realidade resolvem ser e fazer diferente. Foi talvez o que pensaram os primeiros cientistas, cansados do empirismo mal fundamentado, ao decidir dar luz às propostas de cura por medicamentos, por exemplo, usando animais. Isso foi radical, em uma era cheias de tabus, conceitos indissolúveis e preconceitos. Agora, radicalismo foi quan­do Hitler, por exemplo, quis provar a “pureza” da raça ariana eliminando todos os que pudessem ofender sua genética perfeita. Talvez se ele tivesse usado ervilhas ou ratos, funcionasse também. Mas, ele aderiu ao “ismo” para sua cau­sa. Assim, são aqueles que con­denam as pesquisas com animais. Usam e abusam de tudo o que advém delas, mas adoram a pose de um suposto respeito à natureza. Ainda não considero que os animais vêm sendo abusados pelos seres humanos nesse sentido. Diferentemente, por exemplo, daqueles que têm um cãozinho em casa, dizendo ser este seu melhor amigo, e o deixam morrer de fome. Ou de alguns mauricinhos que botam fogo em índios ou num cavalo i­nocente no meio da rua. As­sim, quando um ratinho é mor­to num laboratório, por mais que o cientista não sinta um mí­nimo de remorso, o ecossistema não acabou ali. Muito pelo contrário. Foi mais uma tentativa para combater o câncer, a aids ou a ignorância de alguns. E-mail: [email protected]

“Escolher entre a brasa e o espeto”

Edergenio Vieira A democracia representativa nasce dos ideias da Revolução Francesa. Lógico que o modelo de democracia que temos, inclusive esse que existe em quase todo o Ocidente, origina-se da Grécia, mas essa democracia, que alguns dizem ser democracia burguesa, não à toa vem da França pós-revolução burguesa, em 1789. Essa democracia, foi responsável por grandes avanços no mundo ocidental contemporâneo, mas faliu. Isso mesmo, leitor, a democracia representativa faliu. A prova disso é que um dos motes para instituição de regimes democráticos é a alternância de poder. Contudo, ao ver uma cha­pa com Iris Rezende (PMDB), Ronaldo Caiado (DEM) e Armando Vergílio (SDD), isso é prova estrondosa de que é o velho “muda para não mudar nada”. Qual a diferença de um projeto Marconi para um projeto Iris-Caiado-Armando? Nenhum. São todos representantes do projeto das elites goianas e lutam pelo poder não pelo “povo” (termo amplamente genérico), mas por seus próprios umbigos. Pobres de nós, ter de escolher entre a brasa e o espeto. E-mail: [email protected]

Quem, afinal, iniciou a 1ª Guerra Mundial (1914-1918)?

Os arquivos de muitas cidades europeias guardam uma riqueza ímpar de documentos, livros e registros de épocas passadas. É um valioso legado, uma fonte variada de informações que contribuem para trazer à memória acontecimentos que merecem e costumam ser festejados, comemorados ou simplesmente lembrados. Cada país tem seu próprio calendário festivo. A soma de todos é inesgotável. Por esta razão a agenda anual de eventos costuma estar repleto de datas comemorativas que lembram acontecimentos históricos. Muitos desses eventos, por sua natureza, são lembrados apenas a nível regional ou nacional; outros são lembrados e festejados a nível europeu e, não raro, a nível mundial. No ano de 2013, por exemplo, Giuseppe Verdi e Richard Wagner, ambos compositores nascidos em 1813, foram lembrados por seus bicentenários de nascimento; no decorrer do ano suas composições constavam em programas de milhares de concertos, palestras, cursos musicais e de regência em todos os Continentes. No corrente ano a Itália lembra a morte do imperador romano Gaius Octavius Augustus que morreu há 2 mil anos, em 19 de agosto do ano 14 D.C. Segundo o Novo Testamento, Augustus foi o imperador responsável pelo recenceamento na época do nascimento de Jesus Cristo. Os romanos lembram também a Coluna de Trajano, construída há 2 mil anos pelo imperador Trajano (98-117 D.C) nos anos 113/14 (Há fontes que indicam a data 112/13). A Coluna de Trajano encontra-se até hoje, firme em seu pedestal, no centro de Roma, perto do Quirinal. Também Carlos Magno que morreu há 1200 anos, em 28 de janeiro de 814 em Aachen (Alemanha), está sendo lembrado em vários países europeus. Inúmeros órgãos da imprensa publicaram artigos sobre esta grande personalidade da história europeia; além disso há exposições sobre a história de sua época, palestras e seminários especiais em escolas, universidades etc. Em Constança, cidade às margens do Lago de Constança, espremido entre o sul da Alemanha, a Áustria e a Suíça, está sendo lembrado o Concílio de Constança que, há 600 anos, durou de 1414 a 1418. Foi o maior congresso da Idade Média. Na época Constança contava apenas com 6 mil habitantes mas teve que abrigar 72 mil visitantes. Foi neste concílio, ao norte dos Alpes, que terminou o cisma da Igreja, período no qual três papas sentiam-se no direito de ocupar o trono de São Pedro. No fim, nenhum dos três o conseguiu pois foi eleito um novo papa. Constança lembra o concílio com amplo programa que termina em 2018 do qual faz parte uma impressionante exposição de conteúdo histórico sobre a época que o antecedeu, sobre as consequências do concílio, um evento que, entre outros, abriu o caminho à Re­nascença. Há palestras, discussões e publicações referentes ao assunto. Os ingleses comemoram o 450° aniversário de nascimento do maior poeta da língua inglesa e um dos maiores expoentes da literatura mundial, William Shakespeare, nascido em 1564. Durante o ano grandes espetáculos estão programados não só em sua cidade natal, Stratford-upon-Avon, mas em muitas outras cidades ao redor do mundo. Exemplos de tais comemorações são infindáveis e as pessoas interessadas têm, em cada ano, rica oferta para assistir a programas ou a eventos condizentes a seus interesses. O ano de 2014, neste sentido, é um ano marcante. Na maioria dos países europeus, alguns países da África, da Ásia, da América, da Austrália lembram (não festejam e nem comemoram, pois não é evento que se festeje) o centenário do início da 1ª Guerra Mundial. Em 28 de junho de 1914, há exatamente 100 anos, o príncipe-herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro, o arquiduque Francisco Fernando, e sua esposa, Sophie Chotek, duquesa de Hohenberg, foram mortos em atentado em Sarajevo, capital da Bósnia-Herzegovina. Um mês depois o atentado causou a “Crise de Julho” que culminou com a deflagração da 1ª Guerra Mundial que o historiador norte-americano George F. Kennan (1904-2005) em 1979 denominou “the great seminal catastrophe of this century” (A grande catástrofe seminal deste século). A denominação foi usada posteriormente também por outros historiadores. A Alemanha Imperial foi vista como a culpada pela eclosão. Entre estudiosos do assunto existe, entre outras, a discussão sobre as consequências da 1ª Guerra Mundial e não são poucos os afirmam que estas seriam bem mais abrangentes do que as da 2ª Guerra Mundial. De fato, o estudo da 1ª Guerra Mundial é deveras um tema interessante pois a “grande catástrofe do século” não apenas mudou os rumos da história europeia, mas teve grande influência histórica, política, econômica e geoestratégica em grande parte do mundo. Eis aí também a razão pela qual os ingleses continuam a chamar a 1ª Guerra Mundial de “The Great War” e os franceses “La Grande Guerre” (A Grande Guerra). Para quem quiser aprofundar-se na matéria encontrará um obstáculo: a enorme quantidade de material complica o trabalho tanto aos leigos quanto aos historiadores profissionais. Há especialistas que afirmam que a historiografia sobre a 1ª Guerra Mundial chega a 325 mil publicações entre livros, estudos, análises, pesquisas, dissertações e informações afins. Diz-se que a história das guerras é escrita pelos vencedores. Na 1ª Guerra Mundial houve muitos vencedores e cada qual contou-a a sua maneira. Talvez reside aí uma parte da explicação sobre a razão de tão ampla historiografia. Duas questões cruciais foram discutidas durante todo este século, de 1914 até hoje, sem que houvesse consenso entre os historiadores. (Houve consenso apenas no que diz respeito a culpa da Alemanha). Várias publicações recentes, as quais mencionaremos no decurso deste texto, contribuíram ou contribuirão para esclarecer estas duas questões e quiçá eliminar a centenária discórdia histórica em relação ao assunto. Eis as questões: 1ª – Por quê a Alemanha foi o único país culpado pela deflagração do conflito e por isso condenada, no Tratado de Versalhes, a pagar altas indenizações? 2ª – Como foi possível que o atentado ao herdeiro do trono austro-húngaro, arquiduque Francisco Fernando, em Sarajevo, na Bósnia, um pequeno país periférico da Europa, pudesse desencadear uma guerra de dimensões globais? São estas as questões cruciais sobre as quais já se discutiu durante um século. Respondê-las ou abordá-las convenientemente num espaço de página de jornal é tarefa hercúlea. Alguns detalhes só poderão ser tocados de leve o que talvez estimula leitores mais interessados a saciar sua sede por informações em outras fontes. A fim de podermos entrosar-nos nas duas questões acima postas, é necessário conhecer o espírito reinante na época na Europa por volta do ano de 1900 e analisar a situação nos Bálcãs a partir de então. Muitos historiadores viam no Imperialismo das nações europeias o motivo principal para a deflagração da 1ª Guerra Mundial. Gerd Krumeich, professor de História Moderna na Universidade Heinrich Heine de Düsseldorf (Alemanha), autor da impressionante “Enciclopédia sobre a 1ª Guerra Mundial” (Editora C.Beck, Munique) explica: “Em verdade, por volta do ano de 1900, para as nações europeias o Imperialismo foi (diferentemente do Colonialismo desde o século 16) uma espécie de desenvolvimento e uma estratégia de sobrevivência. A posse de territórios na África e na Ásia foi efetuada na convicção de que a ‘Velha Europa’ não mais teria espaço suficiente para alimentar adequadamente a sempre crescente massa da população e dar-lhe chances para participar do bem-estar”. A maioria dos países da Europa viviam numa época de exacerbado orgulho patriótico. Já à partir do século 16, pouco a pouco, o patriotismo e o nacionalismo começaram a tomar vulto comungando, cada vez mais, com o Estado. O resultado de tais sentimentos culminou com a criação dos Estados nacionais, evolução na qual a Revolução Francesa teve marcante influência. Neste contexto citemos, mais uma vez, Gerd Krumeich: “Por volta de 1900 tinha-se, em quase todos os países (europeus), uma extremada, quase que religiosa, idéia de Nação (“God’s own cuntry”, “Dieu avec nous”, “Gott mit uns”). A Alemanha formou-se como Estado Nacional apenas em 1871. Mas, entre todos os países, talvez a Alemanha tenha sido, na época, o país no qual esses sentimentos nacionalistas tenham-se desenvolvido de forma mais expressiva. Segundo Krumeich: “O nacionalismo transformou-se numa espécie de histeria coletiva”. Gerd Krumeich defende a tese de que “o novo imperialismo teve influência marcante neste desenvolvimento pois este, diferentemente do colonialismo tradicional, entendia-se como necessidade vital para a sobrevivência dos impérios e nações”. A ideia da necessidade vital foi assimilada também por Adolf Hitler durante a 2ª Guerra Mundial. Hitler falava do “Lebensraum” (espaço vital) do qual já falamos neste jornal em outra coluna. Curioso é que também a teoria de Charles Darwin, sem que ele mesmo tivesse pensado nisso, teve influência nestes desenvolvimentos que, enfim, culminaram com a 1ª Guerra Mundial. Em 1859 Darwin publicou a “A Origem das Espécies” com a qual fundamentou a moderna “Teoria da Evolução”. Darwin argumenta que na na Natureza, sempre houve processos de adaptação. A evolução (na natureza) baseia-se no princípio do “survival of the fittest” (Sobrevivência do mais forte). Não tardou e as teses de Darwin, essencialmente naturalistas, foram popularizadas causando grande impacto. Não decorreram nem dez anos após o lançamento e já as teses de Darwin começaram a ser aplicadas em sociedades e classes sociais. O “survival of the fittest” começou a se tornar ideia mestra dos defensores da expansão territorial. Partindo desta ideia não demorou que se desenvolvesse outra, ainda pior, a da “superioridade do homem branco” em relação a outras raças, ideia que permaneceu e se tornou catastrófica do decorrer da 2ª Guerra Mundial. Com estas considerações passaremos a analisar a situação nos Bálcãs entre 1870 e 1913. Durante este período já houve várias guerras nesta região multifacetada por suas etnias, religião, minorias perseguidas, fronteiras não definidas, uma região esprimida entre interesses de outras potências, nomeadamente do Império Austro-Húngaro, da Rússia e do Império Otomano. Mais ou menos à partir de 1900 falava-se da região como sendo o barril de pólvora da Europa, designação esta que, em parte, ainda é válida hoje. Em 1912/13 houve uma acirrada disputa diplomática entre a França e a Alemanha em virtude do Marrocos. Enquanto estes dois países discutiam, a Itália apodera-se da Líbia, que na época fazia parte do Império Otomano. A Turquia era fraca, não tinha condições de defesa e não recebeu apoio de outras potências. Com isso o Império Otomano, que há anos já era visto como o “homem enfermo do Bós­foro”, entrou numa situação difícil. Vários Estados Balcânicos que já desde 1870 ansiavam por separar-se das garras do Império Otomano, aproveitaram-se da situação para resolver definitivamente seus anseios por independência. A situação não definida de fronteiras entre vários países balcânicos acrescida de litígios por áreas não delimitadas fez com que as grandes potências, que tinham interesses políticos e econômicos próprios na região, acabaram se intromentendo nos conflitos. Em 1912, sob liderança russa, foi criada a Liga Balcânica, uma união entre a Bulgária, Grécia, Sérvia e Montenegro. O interesse russo em apoiar a criação desta liga consistia no fato de evitar, a todo custo, que a Turquia conseguisse o, já há décadas cobiçado, controle sobre o Estreito do Mar Negro. Este desenvolvimento foi visto pelas grandes potências com grande preocupação. A Rússia, por sua vez, argumentava que não haveria motivos para preocupação já que a criação da Liga Balcânica fora uma medida tomada com o objetivo de controlar os pequenos países balcânicos. Tal não se concretizou pois em 18 de outubro de 1912 a Liga Balcânica declarou a guerra contra a Turquia a qual, em maio de 1913, após várias derrotas, foi obrigada a assinar um contrato elaborado em Londres pela Grã-Bretanha e outras grandes potências. A Rússia saíu perdendo, pois o documento foi elaborado de forma tal que a Turquia (estreita aliada da Alemanha) permanecesse com o controle do Estreito do Mar Negro. [caption id="attachment_8440" align="alignleft" width="300"]carta da europa.qxd Morte do arquiduque Francisco Ferdinando foi o estopim da guerra[/caption] Nestas gestões foi tomada outra medida de marcante influência na região. Há longo tempo a Sérvia, que alimentava ideias nacionalistas e visava a criação de uma Grande Sérvia, vinha reclamando uma saída para o Adriático. As grandes potências, no entanto, não simpatizavam com os desejos sérvios. A fim de impedir tal anseio, foi criado o Estado da Albânia. É compreensível que dentro deste ambiente, aqui apenas descrito de forma suscinta, surgissem grupos clandestinos, especialmente entre os nacionalistas sérvios, que atuavam contra a supremacia do governo em Viena. Todos esses grupos, embora atuassem de forma distinta, tinham um objetivo comum: livrar-se do jugo do Império Austro-Húngaro e eliminar a influência russa e turca. Já antes da volta do século houve vários atentados na região. Alexandre I, rei da Sérvia de 1889 a 1903, foi morto em 16 de junho de 1903 com toda a sua família e vários membros de seu governo. Para Viena a Sérvia passou a ser um inimigo figadal. A crise teve o seu auge com o atentado em Sarajevo, no domingo ensolarado de 28 de junho de 1914 no qual foi morto o herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro, o arquiduque Fran­cisco Fernando e sua esposa. Gavrilo Princip, 19 anos, de nacionalidade sérvia nascido na Bósnia, foi o assassino. Ele mesmo não foi o autor da ideia, mas como membro de uma sociedade ultranacionalista secreta sérvia denominada “Unidade ou Morte”, conhecida também como “Mão Negra”, serviu, junto com outros, de intrumento para concretizar um atentado que mudou os rumos da história não só da Europa. Talvez tenha sido o atentado de maior influência mundial. Todos os envolvidos foram presos, alguns fuzilados, outros condenados a longas penas. O assassinato de Francisco Fernando é uma ironia da história. Os autores do plano não foram suficientemente cautelosos no que diz respeito a escolha da vítima. Francisco Fernando era conhecido como reformador. A fim de evitar o desmembramento do Império Austro-Húngaro, o arquiduque herdeiro já arquitetara vários cenários e não ocultava a sua ideia de um Estado federativo com mais direitos às minorias em relação aos húngaros. Tal “abertura” em vista em nada contribuíu para amainar o profundo ódio que os nacionalistas sérvios alimentavam em relação à Áustria na pessoa de Francisco Fernando que, não tardaria (seu pai já andava na casa dos 90), assumiria o trono. Guilherme II, imperador da Alemanha, forte aliado da Áustria e inimigo figadal dos sérvios em virtude de seus planos de uma “Grande Sérvia” informou o governo em Viena: “Façam o que quiserem, mas em tudo que fizerem, terão o nosso irrestrito apoio”. É provável que não o assassinato de Francisco Fernando tenha deflagrado a 1ª Guerra Mundial. Mais provável é que a frase solta de Guilherme II tenha sido o estopim de tudo pois foi interpretada, tanto em Viena como nas outras potências, como uma “carte blanche”, uma carta branca para tudo. Um outro fato que complicou a situação do imperador Guilherme II encontra-se em um documento preservado e enviado por aqueles dias pelo governo de Viena ao imperador da Alemanha. À margem do documento encontra-se a anotação manuscrita do imperador: “Arrasem os sérvios. Quanto antes, melhor!” O explicado nestes dois últimos parágrafos é o motivo do qual muitos historiadores deduzem a responsabilidade da culpabilidade da 1ª Guerra Mundial: A Alemanha, unicamente a Alemanha, é a culpada, por ter dado carta branca a tudo. Foi esta também a base para a condenação da Alemanha no Tratado de Versalhes. O professor Gerd Krumeich constata: “Nenhum episódio da História Mundial foi discutido tão ampla e azedamente como o da responsabilidade da erupção da 1ª Guerra Mundial”. Houve um período no qual prevaleceu a argumentação de David Lloyd George, político britânico, que defendeu a tese de que “todos os Estados envolvidos, de uma forma ou outra, foram catapultados a esta catástrofe”. Esta ideia prevaleceu até o início dos anos 60, quando o historiador alemão  professor Dr. Fritz Fischer, de Ham­burgo, lançou a sua muito discutida obra “Der Griff nach der Weltmacht”, reeditada recentemente pela editora Droste Verlag GmbH, Düsseldorf. Trata-se de uma obra seminal sobre a 1ª Guerra Mundial cuja leitura é imprescindível a todos que pretendem estudar o assunto. O professor Fischer defende a ideia de que a Alemanha planejou esta guerra “longamente com atecedência e concretizou os objetivos metodicamente”. Esta tese originou uma disputa histórica que durou 30 anos até que se cristalizou a tese de que “um planejamento a longo prazo por parte da Alemanha não é sustentável mas que a política irresponsável do governo da Alemanha, indubitavelmente, tem contribuído para a catástrofe”. O renomado historiador australiano Christopher Clark, professor de Moderna História Europeia no St. Catherine’s College em Cambridge, em 1913 publicou a obra “The Sleepwalkers – How Europe Went to War in 1914” (Editora Allen Lane, Londres). O livro, enquanto isso, traduzido em varias línguas, tornou-se um best-seller. Já antes Clark havia escrito outra obra sobre a história da Prússia que também faz parte da lista dos “mais vendidos”. Christopher Clark reanimou a discussão em torno da culpabilidade e refuta a teoria da culpabilidade única. Clark defende a tese de que todos os países que participaram naquela guerra não fizeram justiça à responsabilidade que tinham. Nesta questão não há “culpado que se possa pegar posteriormente, de arma na mão”. A hipermoralização da questão da culpa por parte do Tratado de Versalhes Clark define como a “hipoteca do século”. A tese de Clark é compatível com os argumentos de David Lloyd George. Segundo Clark o “culpado” não existia no Direito Internacional antes da 1ª Guerra Mundial. O que existia era o “jus ad bellum” (o direito à guerra) e este não tinha nada a ver com moral; tinha apenas interesses. (Nada mudou: vejamos a Ucrânia). Em todo caso, o “The Sleepwalkers” (Os Sonâmbulos) é obra capital. O único país que não a aceita é a Sérvia, que se sente difamada a ponto de o livro ser tema de discussão a nível de governo naquele país. Outra obra recente é a do historiador alemão Herfried Münkler “Der Grosse Krieg – Die Welt 1914-1918” (A Grande Guerra – O Mundo em 1914-1918) da editora Rowohlt, Berlim 2013. A obra também já existe em várias línguas. Münkler defende, em grande parte, as mesmas teses de Christopher Clark. Vale menção também a obra do historiador estadunidense Adam Hochs­child “The End all Wars – A Story of Loyalty and Rebellion 1914 -1918”, já traduzida, lançada em 2011 pela editora Houghton Mifflin Har­court de Boston, USA. A segunda pergunta formulada inicialmente fica, para hoje, sem resposta em virtude de espaço. Voltarei ao assunto em coluna separada para tratá-la em seus devidos detalhes. A questão da culpabilidade, neste momento, está sendo vista sob novo ângulo.

A ameaça terrorista e o novo Oriente Médio

Ha 2,8 mil anos o profeta Isaías narrou a tensão política e militar vivida por Israel: o perigo vem do Leste

Quem matou José Arcadio?

O primogênito dos Buendía, a família que atravessou em Macondo os “Cem anos de solidão” magistralmente engendrados pelo escritor colombiano Gabriel García Márquez, foi morto em misteriosas circunstâncias. José Arcadio, diferentemente de seu irmão Aureliano, e principalmente de seu pai,  era um gigante sem imaginação. Ainda adolescente, fugiu de casa com os ciganos, deixando para trás um filho que jamais saberia seu. Voltou um homem descomunal, tão pobre como partira, após ter cruzado os mares do mundo inteiro. Viveu de michê e de jogos de força até se casar com Rebeca Buendía, sua irmã postiça. O casamento o transformou num pacato lavrador de terras de ninguém, até o início da guerra em que se meteu seu irmão, o agora coronel Aureliano Buendía. A corpulência de José Arcadio não o estimulou a ir à guerra, mas da família Buendía foi ele quem mais se beneficiou dela. Tirando proveito da fama e valentia do coronel Aureliano, ele grilou todas as terras de Macondo. Contra quem resistiu, usou sua descomunal força bruta. José Arcadio contava com a remunerada proteção do administrador da cidade, nomeado pelo coronel Aureliano – o último a saber das tramóias do irmão. Esse administrador cruel e rapace – belamente  chamado alcaide de Macondo – era ninguém menos que Arcadio, o filho deixado para trás por José Arcadio na fuga com os ciganos. Mas pai e filho ignorariam até a morte seu verdadeiro parentesco. Arcadio, o filho, foi fuzilado pelos inimigos quando a maré da guerra virou. José Arcadio sobreviveu ao filho incógnito e à guerra, mas foi misteriosamente assassinado com um tiro no ouvido em seu quarto, em pleno fim de tarde, ao voltar de uma caçada. Rebeca, a viúva, estava em casa durante o ocorrido, mas alegou nada ter visto nem ouvido. Segundo disse, se fechara no banheiro após a chegada do marido. Embora pouco crível, a versão prevaleceu, à falta de outra melhor. Além do quê, ninguém acreditou que Rebeca pudesse ter matado o homem com quem era escandalosamente feliz e por quem rompera um longo noivado e enfrentara a família. Se o assassinato de José Arcadio tivesse sido investigado, não faltariam suspeitos. Além de Rebeca, no rol estariam: os fundadores de Macondo, de quem ele usurpara as terras; os camponeses pobres que explorara; os muitos homens dos quais ganhara apostas de quedas de braço; e as tantas mulheres que o tiveram e o perderam para Rebeca, o cobiçaram ou foram por ele desdenhadas. Na delicada teia familiar, o principal suspeito seria o coronel Aureliano Buendía. Orgulhoso e honrado, ele seria capaz de matar o irmão para reparar o criminoso uso de seu nome e devolver as terras griladas aos seus verdadeiros donos. Poderiam ser levantadas outras factíveis ou descabidas suspeitas, mas agora tanto faz. Afinal, o assasssinato de José Arcadio “foi talvez o único mistério que nunca se esclareceu em Macondo”. Mas certamente não foi o primeiro nem o último crime sem solução. Ultimamente, aliás, garantia de resultado em investigação de crimes, só em novela das oito.

O silêncio dos inocentes: a polêmica sobre o caso do padre César Garcia

Rafael Carneiro Rocha Qualquer pessoa adulta que viva em sociedade deve ter a imaginação devidamente abastecida de episódios que envolvem relacionamentos entre homens e mulheres. Temos um repertório considerável de exemplos reais (vindos da família, dos amigos e dos vizinhos) e imaginários (vindos dos filmes, dos livros, das músicas e das novelas) de juras de amor eterno, paixões arrebatadoras, namoros secretos, crimes passionais e adultérios. Somos muito hábeis para reter informações sobre relacionamentos dos outros, mas temos também, graças à nossa inteligência, a capacidade de emitir juízos sobre esses assuntos. Quando lemos uma notícia sobre um crime passional, opinamos facilmente que, se um determinado namorado amasse, verdadeiramente, a jovem amada, ele não a teria assassinado brutalmente por uma crise de ciúmes. Quando sabemos que uma mulher é avisada, de antemão, pelo marido que ele dá escapulidas periódicas, mas que ainda assim, pretende manter o casamento, nos compadecemos facilmente com a indignação dela. Os nossos juízos, nestes casos, são fundamentados a partir de convicções bastante razoáveis. A razão, simplesmente, nos orienta a repudiar o que é contraditório ao conceito do qual pensamos. Imaginemos o seguinte jogo, cujo conteúdo é tão somente um acordo de razão. Duas pessoas aceitam, livremente e de comum acordo, um dado princípio. Uma delas desobedece, em seguida, àquele princípio. Se formos solicitados, a partir desse caso, a utilizar a razão para apontar quem está certo e quem está errado, não teremos dificuldade alguma em estabelecer essa relação. Quem guardou o princípio está certo e quem o desobedeceu está errado. Infelizmente, certos debatedores públicos, por falharem no exame meticuloso dos conteúdos dos quais opinam, ao considerarem um impasse entre dois elementos de um problema como uma rivalidade entre quem tem razão e quem não tem, não hesitam em considerar como certo o traidor do princípio e, como errado, o guardião. Isso ocorre, na maioria das vezes, não porque quem faz o discurso é, necessariamente, um estúpido, mas porque adotou como ponto de partida um conceito precário. Se retornarmos ao exemplo do namorado assassino, caso nos fosse acrescentado que esse indivíduo defendia, conceitualmente, que tinha amor pela vítima, a nossa razão nos inclinaria a afirmar que ele a amava segundo critérios precários. A possibilidade de assassinar uma pessoa por causa de ciúme não é algo que uma pessoa sensata atribuiria à definição de amor. De qualquer forma, esse é um exemplo de reconhecimento imediato da vítima. Somente um advogado cínico, de boa retórica, poderia defender aquele namorado. Por outro lado, em alguns casos, precisamos examinar com mais agudeza as regras do jogo para que não tachemos como vítima o elemento que fugiu do compromisso assumido. Imaginemos, portanto, um contexto em que dois elementos, livremente e de comum acordo, estabelecem que o amor seja explicado a partir de atributos estabelecidos por uma tradição religiosa, tais como obediência e fidelidade ao Magistério. O elemento daquele contexto que atribuir conceitos que contradizem a tradição religiosa estará, no âmbito da análise racional, errado. Isso se explica porque a afirmação de tal erro parte de uma imposição da nossa própria razão, e não dos conteúdos daquele credo. O observador externo àquele contexto, que tem dúvidas acerca dos conceitos da religião, pode participar legitimamente de um debate racional, mas será fatalmente irracional o elemento que aceitou o acordo religioso e que quer mantê-lo paralelamente à sua desobediência aos princípios dos quais jurou livremente ser um fiel guardião. É nesse sentido que se deve aplicar coerência de princípios à Arquidiocese de Goiânia, que recentemente emitiu uma polêmica nota, com o seguinte trecho: “O Pe. César recebeu a ordenação sacerdotal aos 12 de dezembro de 1984, pela imposição das mãos de Dom Fer­nando Gomes dos Santos, primeiro arcebispo de Goiânia. Na ocasião, o novo padre assumiu o grave compromisso de anunciar a Boa Nova, ensinar a doutrina católica, administrar sacramentos e oferecer bênçãos segundo a Tradição da Igreja e em comunhão com o Magistério Eclesiástico. O neossacerdote assim se comprometeu livremente, sendo acolhido como padre diocesano, um colaborador do ministério dos arcebispos de Goiânia”. Talvez estejamos entorpecidos por relatos de amor que nos vêm das fofocas dos vizinhos, dos slogans politicamente corretos e da cultura popular, de modo que não nos preocupemos mais em refletir sobre os princípios que regulam histórias de amor cada vez mais raras. Talvez o compromisso de um sacerdote em amar a Igreja seja algo estranho aos nossos entendimentos exigentes por exemplos “práticos”, imediatos e tanto mais sensacionalistas para que possamos compreendê-los devidamente. O problema é que um conceito de caráter misterioso como o amor, não se revela necessariamente a partir de estardalhaços retóricos, de discursos autopiedosos e de preferências apetitivas. A própria Igreja nos propõe a amar muito mais a partir de um convite ao profundo exame de consciência do que no conhecimento dos discursos de seus dois milênios de Magistério vigoroso e rico sobre o assunto (ainda mais a partir de frases selecionadas do papa, interpretadas fora do contexto da tradição de que ele é o depositário principal). No contexto da tradição católica, todos aqueles que são tidos como exemplos de pessoas que muito amaram, muito se re­colhiam em orações, meditações e mortificações silenciosas. Antes de falar de amor, é preciso se calar um pouco. O silêncio é bom para todos. É bom para os parceiros de negócios, para os ateus, para os indecisos, para os estudantes, para os casais, para o jovem que precisa discernir se deve ou não ser sacerdote e para os debatedores públicos, que precisam escolher argumentar a partir de princípios bem fundamentados. Rafael Carneiro Rocha é servidor público, jornalista e especialista em Filosofia pelo Instituto de Filosofia e Teologia de Goiás (Ifiteg).

“Que exemplo estamos dando a nossos filhos?”

Edna Freitas Sobre a nota “‘Foi um horror’, diz Joaquim Barbosa sobre xingamentos contra a presidente Dilma” (Jornal Opção Online), que exemplo esses pais estão dando para seus filhos? Estamos no fim do mundo mesmo. Se achamos que o governo não esta correto, então vamos mostrar para eles que somos piores? Não concordo com as atitudes dessas criaturas, que ao invés de dar o bom exemplo, vão ao estádio fazer baixarias para que os outros países vejam como o Brasil está ficando. Concordo com o sr. ministro. E-mail: [email protected]  

“Gestão da Cemig é um exemplo a ser seguido”

Helton Junior A Celg sempre foi usada como instrumento de fornecimento de financiamento de campanha de políticos inescrupulosos. Os gestores sempre foram políticos. Estava na cara de que nunca iria para frente. Apontem-me alguma coisa que um político, nos tempos atuais, fez, que não teve o intuito de levar o dele? Parabéns aos gestores da Cemig [Companhia Energética de Minas Gerais], um exemplo a ser seguido. Uma pena Goiás não ter sido gerido por vocês. E-mail: [email protected]

“Verdade contada e sentida nas obras de Gabriel García Márquez”

Serginho Brasil Ao passo que li cada linha do artigo “Nunca consegui sair de Macondo”, de Larissa Parente (Jornal Opção 2031, caderno Opção Cultural), percebi que os admiradores de Gabo (olha a minha intimidade) sentem toda a paixão que esse homem dedicou sobre cada palavra de suas obras. Mais do que isso, somaram às suas vidas a verdade contada e sentida em cada obra. Sinto não escrever sobre a morte, ela que vem para tirar o homem de dentro do mundo que ele construiu. E-mail: [email protected]

“Grande dom para a escrita”

Lenna Borges Encantada com o texto de Larissa, apesar de conhecedora de sua admiração/paixão por Gabriel García Márquez. Não tenho intimidade (ainda) de chamá-lo pelo apelido carinhoso. Estou tentando (ano corrido demais) ler sua maior obra, por sua influência, e assim compartilhar contigo minhas considerações. Abraços, você tem um grande dom para a escrita. Pratique mais vezes. E-mail: [email protected]

“Barbosa se aposenta por ser honesto”

Josuelina Filgueiras Creio que a antecipação da aposentadoria do ministro Joaquim Barbosa é devido a sua honestidade. Não deve ser fácil para ele abrir mão de seus princípios, relevar aquilo que considera errado, fora da lei. Dizem que ele é orgulhoso, vaidoso, sei mais lá o quê. Se fosse, não abriria mão de 10 ou 11 anos a que tem direito de permanecer no STF. Seu temperamento não é de gratidão. Quem o nomeou como o primeiro ministro negro da Corte pensando que poderia manipulá-lo se ferrou feio, principalmente no julgamento do mensalão. Na vida do ministro não cabe o dito: se não pode com o inimigo, alie-se a ele. Bravo, bravo, ministro Joaquim Barbosa! E-mail: [email protected]  

Secretário de Indústria e Comércio realiza nova visita técnica ao Centro de Convenções

[caption id="attachment_7867" align="alignleft" width="620"]William O’Dwyer (centro) e engenheira Waléria Câmara em vistoria à obra / Foto: Milena Assis William O’Dwyer (centro) e engenheira Waléria Câmara em vistoria à obra / Foto: Milena Assis[/caption] Na sexta-feira, 20, o secretário de Indústria e Comércio, William O’Dwyer, vistoriou as obras do Centro de Convenções de Anápolis, às margens da BR-153. A ida dele ao local, um mês depois da última vistoria, é justificada pelas grandes intervenções que serão feitas a partir de agora. Algumas dessas obras dizem respeito às vias de acesso, o asfaltamento de vias internas e a finalização dos auditórios, que terão capacidade para 150 lugares, cada. A vistoria foi acompanhada pela engenheira da SIC Waléria Câmara e pelos engenheiros Júlio César Ramalho, Robson Lobo e Reinal­do Bastos, que trabalham diretamente na obra. O secretário diz que as obras estão em ritmo acelerado, sempre reafirmando que o local será um marco não somente para a cidade de Anápolis, como para toda a região Centro-Oeste, dada sua amplitude. “É uma obra importante e mais: feita com extrema qualidade. É possível dizer que será a melhor obra feita em Goiás nos últimos anos, em termos de material e qualidade de construção”, afirma William, que tem acompanhado o serviço de perto, desde que tomou posse como secretário, no fim de abril. Cumprindo o cronograma, a primeira etapa da obra deverá ser entregue no próximo mês, sendo que a inauguração está prevista para o fim deste ano.

Prefeito minimiza situação criada por vídeo polêmico postado no Facebook

[caption id="attachment_7878" align="alignleft" width="620"]João Gomes: “Houve um calor maior, mas logo os ânimos se acalmaram” / Foto: Fernando Leite/Jornal Opção João Gomes: “Houve um calor maior, mas logo os ânimos se acalmaram” / Foto: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption] Na semana passada, um vídeo causou polêmica nas redes sociais ao mostrar o prefeito de Anápolis, João Gomes, “batendo boca” com um morador. No vídeo, João Gomes aparece gritando com uma pessoa, que o teria xingado momentos antes durante uma manifestação dos moradores do Jardim Primavera I. Porém, não há cenas mostrando o momento que o morador ofende o prefeito. O vídeo foi compartilhado centenas de vezes, sobretudo no Facebook. A polêmica gerada pelo vídeo é minimizada quando contextualizado. A coluna falou com João Gomes, que deu sua versão dos fatos. Ele conta que há mais ou menos um ano, os moradores da região fizeram esse mesmo movimento, do qual o próprio João Gomes não tira a razão. Segundo ele, foi feito o asfalto num bairro adjacente — ou seja, do outro lado da rodovia GO-560 —, mas o Jardim Primavera I ficou sem asfaltamento. Assim, os moradores do bairro ficaram ressentidos. “E é legítimo isso, porque a poeira lá é realmente muito ruim e incomoda os moradores. Além disso, é importante dizer que a Saneago está trocando a adutora da região e, por conta disso, uma parte grande da cidade, inclusive a que envolve o Jardim Primavera I, ficou sem água por três dias. Ou seja, a insatisfação dos moradores é legítima. E por isso, fui lá e andei com os moradores na poeira para reconhecer a situação. E junto conosco levamos as máquinas, que não vão sair de lá enquanto não acabarem o asfalto”, frisa o prefeito. João Gomes relata que, ao saber do protesto, que contou com queima de pneus, foi ao encontro dos moradores. “Assim, logo quando chegamos, houve ali um calor maior, mas logo os ânimos se acalmaram. Falei com os moradores, os bombeiros tiraram os pneus que tinham sido usados no protesto e tudo se resolveu.” O problema, segundo o prefeito, foi que uma pessoa de fora do movimento e que nem sequer é do bairro, passou do ponto nas provocações a ele. “Infelizmente, a provocação foi muito forte e eu o chamei para provar o que ele falou, mas não houve briga, tanto que depois esse mesmo morador pediu às pessoas que estavam comigo, inclusive alguns policiais e outros servidores da prefeitura, para falar comigo. Eu disse que tudo bem, ele veio a mim, me pediu desculpa, reconhecendo que havia exagerado e que entrou no jogo que haviam armado ali, justamente para filmar tal situação. Eu aceitei suas desculpas e nós nos abraçamos ali mesmo no meio da rua. Tudo certo”, declara o prefeito. Em relação ao que se ventilou sobre a retirada das máquinas, o prefeito disse que houve um problema com o convênio que assegurava a verba e, por isso, a empresa retirou as máquinas do local. “Por um interesse da empresa, que ficou alheio à prefeitura”, afirma. Contudo, João Gomes assegura que o problema já foi resolvido. “A obra é grande. São R$ 9 milhões. A galeria, que é o mais demorado e mais caro, já está pronta. Acredito que nesta semana o asfalto começa a ser colocado.”

Planetário Digital de Anápolis tem média de 5 mil visitantes por mês

Obra inaugurada recentemente, o Planetário Digital e Obser­vatório Astronômico de Anápolis está tendo um razoável sucesso. Desde sua inauguração, em janeiro deste ano, o espaço tem recebido uma média de 5 mil visitantes por mês. O planetário foi inaugurado com a presença do astronauta brasileiro Mar­cos Pontes, que, na ocasião, palestrou para estudantes — que são o público majoritário do local. Quem visita o planetário conta geralmente com uma série de atividades, como sessões de cúpula com observação no deck ao céu aberto; e visita aos painéis que a­tualmente contam com uma mostra internacional de Astro­nomia organizada pela Nasa e pela comunidade europeia, além de poder observar o céu pelo telescópio. Telecóspio esse que foi adquirido por uma licitação internacional, sendo melhor, inclusive, do que os das Universidades de Bra­sí­lia (UnB) e Federal de Goiás (UFG). Estudantes das redes municipal e estadual, além de alunos da rede privada, têm horários especiais de visita ao planetário. Outras cidades também prestigiam o espaço. Segundo a equipe que gerencia o local, já foram registrados público de Goiânia, Brasília, Silvânia e Valparaíso.

Embaixadores de Alemanha, Áustria e Canadá vêm a Anápolis para um jantar em homenagem a Goiás

No fim da última semana, o secretário de Indústria e Comércio e Cônsul Honorário da Alemanha em Goiás, William O’Dwyer, recebeu os embaixadores do Canadá, Jamal Khokhar; da Alemanha, Wilfried Grolig; e da Áustria, Marianne Feldmann. A reunião aconteceu em Anápolis e foi considerada como um jantar em homenagem a Goiás. O jantar antecedeu o encontro realizado na embaixada do Canadá, em Brasília. Como adiantado aqui, o secretário foi a Brasília para tratar de assuntos comerciais que beneficiam Goiás frente a aproximadamente 17 países, fora Canadá, Alemanha e Áustria. Já há previsão de conversas sendo realizadas com dois empresários canadenses, embora ainda não se saiba seus nomes. É certo, porém, que há notícias de bons investimentos a serem realizados no Estado.