Carlos Augusto Silva

cartas.qxdNos links da Rede Globo antes do jogo Brasil 4 x 1 Camarões, mostrando as capitais, vi como eu tenho razão a respeito de Goiânia: uma cidade cuja identidade é não ter identidade alguma. Essa, inclusive, foi minha resposta ao filósofo Roberto Machado quando passeávamos pelo Rio em 2012 e ele me falava, nordestino que é, de seu amor pelo Rio, cidade que escolheu para viver, ao me perguntar a respeito de Goiânia.

Em Salvador, em Recife, em Sampa, no Rio, a tradição aparecia no canal global — as pessoas na rua, os traços característicos. Em Goiânia, um bando de gente insossa em um bar da moda, uma dupla “sertaneja” que de sertaneja nada tem: cabelos com chapinha e camisetas baby look cantando letras que em nada refletem uma realidade rural. A TV Anhanguera, previsível e deslumbrada, com seu time de repórteres despolitizados que sonham em ser atores da novela das oito, optaram pelo óbvio burguês idiota de Goiânia. Diferen­temente do Recife, de Salvador com o Olodum, de Sampa com o Vale do Anhangabaú, do Rio com a alegria imersa em samba no meio da rua. Goiânia não tem identidade, e por isso sempre achei essa cidade tão triste, tão pálida, tão sem — sem isso, sem aquilo, sem nada.

Quisera eu ter visto cantos de vitória ao som de passos de catira, traços verdadeiramente caipiras, berrantes tocando, e não uma dupla “sertaneja” acéfala com canções de que ninguém se lembrará daqui a dois meses. Essas coisas rurais que preferiria ter visto nada têm a ver comigo, com meus gostos, mas reconheço-as como coisas legítimas de Goiás. Não estou virando as costas para os traços do meu Estado, apenas desejando uma forma mais legítima de se colocar no mundo dos habitantes dessa terra em que nasci. Triste constatação. Nesse caso, como é horrível ter razão.

Carlos Augusto Silva é professor de Literatura, escritor e crítico literário.

“Xingamento à presidente mostra nossa incapacidade de debater”

José Hélio

cartas.qxdEm relação ao comentário que o ministro-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, fez sobre o xingamento à presidente Dilma Rousseff (PT) na abertura da Copa, tenho a dizer que infelizmente ações como essa não justificam nem alteram o quadro lamentável da nossa atual conjuntura. Mostram apenas nossa real falta de educação, forma comum de expor nossa incapacidade para debater, para criar novas discussões. É mais fácil falar palavrão ou brigar que tomar outras altitudes. Não da para entender certas altitudes, contraditórias diante dos fatos.

Quanto à aposentadoria do ministro Joaquim Barbosa, creio que existe algo muito sério por trás disso. Não há razão para alguém como ele se aposentar tão cedo. Vai sair em seu momento de destaque.

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“Excelente texto de Cezar Santos”

Valério Seccadio

Excelente o artigo “Se torcedor vaia até minuto de silêncio, por que não vaiaria Dilma?” (Jornal Opção 2033), de Cezar Santos na coluna “Ponto de Partida”. Fazia tempo que eu não via, na internet, texto tão bem elaborado e preciso.

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“Condenam as pesquisas, mas usam o que vem delas”

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Rogiane Oliveira

De fato, existem linhas de radicalidade e de radicalismos para qualquer questão, seja política, religiosa, social… e a ciência, certamente, não seria exceção. Radicalidade aconteceu e acontece todas as vezes que pessoas inquietas, indignadas e inconformadas com certa realidade resolvem ser e fazer diferente. Foi talvez o que pensaram os primeiros cientistas, cansados do empirismo mal fundamentado, ao decidir dar luz às propostas de cura por medicamentos, por exemplo, usando animais. Isso foi radical, em uma era cheias de tabus, conceitos indissolúveis e preconceitos.

Agora, radicalismo foi quan­do Hitler, por exemplo, quis provar a “pureza” da raça ariana eliminando todos os que pudessem ofender sua genética perfeita. Talvez se ele tivesse usado ervilhas ou ratos, funcionasse também. Mas, ele aderiu ao “ismo” para sua cau­sa. Assim, são aqueles que con­denam as pesquisas com animais. Usam e abusam de tudo o que advém delas, mas adoram a pose de um suposto respeito à natureza.

Ainda não considero que os animais vêm sendo abusados pelos seres humanos nesse sentido. Diferentemente, por exemplo, daqueles que têm um cãozinho em casa, dizendo ser este seu melhor amigo, e o deixam morrer de fome. Ou de alguns mauricinhos que botam fogo em índios ou num cavalo i­nocente no meio da rua. As­sim, quando um ratinho é mor­to num laboratório, por mais que o cientista não sinta um mí­nimo de remorso, o ecossistema não acabou ali. Muito pelo contrário. Foi mais uma tentativa para combater o câncer, a aids ou a ignorância de alguns.

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“Escolher entre a brasa e o espeto”

Edergenio Vieira

A democracia representativa nasce dos ideias da Revolução Francesa. Lógico que o modelo de democracia que temos, inclusive esse que existe em quase todo o Ocidente, origina-se da Grécia, mas essa democracia, que alguns dizem ser democracia burguesa, não à toa vem da França pós-revolução burguesa, em 1789. Essa democracia, foi responsável por grandes avanços no mundo ocidental contemporâneo, mas faliu. Isso mesmo, leitor, a democracia representativa faliu. A prova disso é que um dos motes para instituição de regimes democráticos é a alternância de poder. Contudo, ao ver uma cha­pa com Iris Rezende (PMDB), Ronaldo Caiado (DEM) e Armando Vergílio (SDD), isso é prova estrondosa de que é o velho “muda para não mudar nada”. Qual a diferença de um projeto Marconi para um projeto Iris-Caiado-Armando? Nenhum. São todos representantes do projeto das elites goianas e lutam pelo poder não pelo “povo” (termo amplamente genérico), mas por seus próprios umbigos. Pobres de nós, ter de escolher entre a brasa e o espeto.

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