Imprensa
O Serpes é um instituto de pesquisa de nível nacional. No entanto, algumas reportagens do “Pop” que interpretam seus dados, como uma do jornalista Caio Salgado (Fabiana Pulcineli, embora às vezes idiossincrática, interpreta-os de maneira muito mais qualificada), são de um primarismo atípico. Algumas vezes, o levantamento diz uma coisa e a reportagem, outra.
Ao entrevistar o governador Marconi Perillo, na Rádio 730, o jornalista Vassil Oliveira, um profissional correto e competente, insistiu num ponto: o blog Goiás 24 Horas conta com a anuência do tucano-chefe? Marconi disse que, se o repórter tiver provas de que “orienta” o blog, que apresente-as e, se necessário, que recorra à Justiça. O blog é editado por Cristiano Silva. Não seria o caso de Vassil Oliveira perguntar diretamente ao jornalista e escritor quais são os autores dos textos? Aos que querem saber sobre supostos colaboradores anônimos do Goiás 24 Horas, deixo a pergunta: quem escreve os editoriais do “Estadão”, da “Folha de S. Paulo” e de “O Globo”? Não se sabe. Certamente são várias pessoas. Nós, jornalistas, apreciamos criticar, porém, se criticados, ficamos “revoltados”. Recentemente, a apresentadora do “Jornal Nacional”, Patrícia Poeta, irritou-se com a publicação de uma nota, na coluna “Radar”, da revista “Veja”, que revelou que havia adquirido um apartamento, em Ipanema, por 23 milhões de reais. Todos os dias, jornalistas escarafuncham a vida das pessoas e fazem revelações, às vezes explosivas, sobre aquisições de bens, separações, namoros. Então, por que não podem ter suas notícias divulgadas? Com um salário de 1 milhão de reais, menos apenas do que o de William Bonner no telejornalismo global, Poeta comprou o apartamento legalmente. Talvez seja mais apropriado, no lugar de vasculhar os nomes dos “autores” do blog, Vassil criar um blog para criticar seus críticos.
O historiador Antonio Pedro Tota lança um livro de qualidade sobre o povo da terra de Thomas Jefferson, Abraham Lincoln e Barack Obama: “Os Americanos” (Contexto, 304 páginas). É um belo livro de história e de interpretação de um povo. A pesquisa é rigorosa, o texto é delicioso e os americanos são examinados sem preconceito. Uma obra nuançada.
Sinopse da editora: “Quem são os verdadeiros americanos? Sofisticados moradores de Nova York ou jecas da ‘América profunda’? Intelectuais vencedores do prêmio Nobel ou truculentos senhores da guerra?
“Para uns, os Estados Unidos da América são um paradigma da modernidade, para outros, um monstro tentacular imperialista. Gostemos ou não, os americanos são importantes. E muito. Todos os dias eles bombardeiam o mundo com filmes, séries de tv, hambúrgueres e Coca-Cola. Suas músicas são ouvidas em todos os continentes. Seus ícones transformaram-se em símbolos mundiais e o inglês é uma espécie de língua franca universal.
“Qual a origem da autoconfiança e soberba dos americanos? E mais: como esse gigantesco vizinho do norte se tornou o que é, rico e poderoso? Com texto denso, brilhante e provocativo, o historiador Antonio Pedro Tota rastreia origens, costumes e paradoxos desse povo, desde o início até a eleição do primeiro presidente negro. Fala também de expansionismo, anos dourados, guerras, escândalos, jazz, cinema e muito mais.”
“Exílio e Literatura — Escritores de Fala Alemã Durante a Época do Nazismo” (Edusp, 296 páginas, tradução de Karola Zimber), de Izabela Maria Furtado Kestler, revela que dezesseis mil exilados da Alemanha nazista e da Áustria vieram para o Brasil. Vários eram intelectuais e escritores. O período discutido pela autora é de 1933, ano da ascensão de Adolf Hitler, a 1945, ano de sua queda. A obra apresenta o que escritores e jornalistas exilados publicaram e analisa a literatura escrita no exílio, especialmente obras de autores como Stefan Zweig, Ulrich Becher e Hugo Simon.
Aldo Vannucchi conta, no livro “Alexandre Vannucchi Lemes — Jovem, Estudante, Morto Pela Ditadura” (Contexto, 176 páginas), a história do líder estudantil na USP e militante da esquerda. Aldo é seu tio e biógrafo. O livro é apresentado como um testemunho pessoal, dolorido. Não é uma vingança, e sim uma espécie de esclarecimento.

[caption id="attachment_16266" align="alignright" width="350"] O Pintassilgo é um livro belo e estranho, com misturas de tempo, em termos de narrativas, personagens e hábitos[/caption]
O cartapácio “O Pintassilgo” (Companhia das Letras, 719 páginas, tradução de Sara Grünhagen), da escritora americana Donna Tartt, desconcerta a crítica, mesmo um especialista como James Wood, da “New Yorker”, que não soube apreciá-lo. Os motivos? Aponto um: o romance é uma catedral do século 19 com frequentadores (com hábitos) do século 21. Há um cruzamento hábil, com movimentos rápidos e lentos — simulando um jogo ardiloso, nem sempre visível numa leitura apressada —, da prosa mais convencional do século 19, mais lenta e discursiva, com a prosa experimental do século 20, mais rápida e contida.
Donna Tartt escreve muitíssimo bem, arquiteta e amarra sua história à perfeição, mas deixando que as ambiguidades da vida frequentem suas linhas, com pontos não muito bem esclarecidos, e, ao final, faz um discurso filosófico, à moda mais de Fiódor Dostoiévski filtrado por Nietzsche e, quem sabe, Thomas Bernhard (que não a influencia, diga-se).
As influências literárias de Donna Tartt são espraiadas no romance, às vezes às claras, às vezes de maneira subterrânea. Dickens e Dostoiévski são as influências mais perceptíveis, e em vários trechos. A autora escreveu um romance americano que é filho das literaturas russa e inglesa. O estilo é meio lerdo, como o da prosa russa do século 19, e com personagens (dois meninos, seus pais e um restaurador de móveis) meio dickensianos.
A história é intrincada, às vezes parece não correr, com aparente enrolação (meia russa). Theo Decker visita um museu, nos Estados Unidos, com sua mãe. Há uma explosão, provocada por um ato terrorista, e ela morre. Theo leva do museu o quadro “O Pintassilgo”, do holandês Carel Fabritius (1622-1654) — o pintor morreu na explosão de um paiol —, e recebe de um moribundo um estranho anel.
Inicialmente, Theo vive com uma família rica, em Nova York, e, depois, vai morar com o pai, um escroque, em Las Vegas. Quando o pai morre, num acidente, o garoto volta para Nova York e vai morar com James Hobart, um personagem tipicamente dickensiano, ligeiramente modificado. Há, até, uma espécie de Raskólnikov, o criminoso Boris, um garoto de origem russo-ucraniana. Boris é quase uma Sônia, de “Crime e Castigo”, de calça? Quase é o termo. Porque Sônia, religiosa, não tem uma visão cínica do mundo, ao contrário de Boris. Agora, sem tirar nem pôr, Theo é um “filho” de Dickens plantado por Donna Tartt na América. É uma história policial? Também. Na prática, uma história literária refinada. A relativamente reclusa Donna Tartt é autora de mais dois romances de alta qualidade.

[caption id="attachment_16256" align="alignleft" width="350"] Livro de pesquisadora norte-americana revolve a crise que levou à falência total do socialismo no Leste Europeu[/caption]
Trecho do excelente livro “A Cortina de Ferro — O Fim da Europa de Leste” (Civilização Editora, 697 páginas, tradução de Miguel Freitas da Costa), da historiadora e jornalista Anne Applebaum, ex-professora de Yale e Columbia: “Num epílogo posterior a ‘As Origens do Totalitarismo’, Hannah Arendt escreveu que a Revolução Húngara ‘foi totalmente inesperada e apanhou toda a gente de surpresa’.
“Como a CIA, o KGB, Kruchev e Dulles, Arendt tinha chegado a acreditar que os regimes totalitários uma vez que se infiltrassem na alma de uma nação eram praticamente invencíveis.
“Estavam todos enganados. Os seres humanos não adquirem ‘personalidades totalitárias’ com essa facilidade toda. Mesmo quando parecem enfeitiçados pelo culto do chefe ou do partido, as aparências podem ser enganadoras. E mesmo quando parece que estão totalmente de acordo com a mais absurda propaganda — mesmo quando estão a marchar em paradas, a entoar slogans, a cantar que o partido tem sempre razão —, o feitiço pode repentinamente, inesperadamente, dramaticamente, ser quebrado” (página 584).
O jornalista Alexandre Braga lançou, na semana passada, o jornal “Diário Canedense” (www.diariocanedense.com.br). O “DC” cobre bem a cidade, faz um jornalismo popular, mas não é inteiramente popularesco.
Uma jornalista da CBN Goiânia gagueja, com frequência, ao ler notícias do dia. O editor da rádio deveria encaminhá-la para um fonoaudiólogo. A CBN Goiânia precisa também investir mais em jornalismo e evitar, pelo menos em parte, o popular “gilete press”.
A “Veja” publica uma reportagem exclusiva revelando que o porão dos governos do PT é mais sujo do que se imaginava. Na capa, a revista posta o título: “Exclusivo — O núcleo atômico da delação”. Acrescentando a informação: “Paulo Roberto Costa diz à Polícia Federal que em 2010 a campanha de Dilma Rousseff pediu dinheiro ao esquema de corrupção da Petrobrás”.
Os depoimentos de Paulo Roberto Costa, como ele prometeu, pode mesmo derrubar a República, ainda que seja feita a eleição. Até agora, a presidente Dilma Rousseff “passeava” incólume, mas as denúncias começam a colar na petista, que, breve, pode deixar de ser teflon.

[caption id="attachment_16174" align="alignleft" width="620"] Professor Weslei (à esquerda) ultrapassou Antônio Gomide na última rodada Ibope | Fotos: Reprodução[/caption]
Devido ao possível erro na pesquisa divulgada na quinta-feira, 25 — que apontou o professor Weslei Garcia, candidato do PSOL a governador de Goiás, com 5% (o dado provável é de 0,5%) —, o Ibope dará uma nova pesquisa para a TV Anhanguera, a ser divulgada na quarta-feira, 1º.
A nova pesquisa sugere que, indiretamente, o Ibope sinaliza que errou na intenção de voto de Weslei Garcia. Não se trata de um erro com intenção de elevar um candidato ou prejudicar outros candidatos, como o do PT, Antônio Gomide, que caiu de quarto para quinto lugar. Provavelmente, trata-se menos de um erro de tabulação que de digitação.
Se Cabo Verde é Cesária Évora, Moçambique é Elsa Mangue. A cantora moçambicana, de bela voz, morreu na segunda-feira, 22. O jornal “Notícias”, o mais importante do país, disse que a causa da morte não foi revelada pelos médicos do Hospital Central de Maputo e pela família. Ela estava internada “há alguns dias”.
Elsa Mangue era uma das principais estrelas da música de Moçambique e, em 1987, ganhou o Prêmio de Música Rádio França Internacional (RFI). Foi a primeira cantora do país a ganhar um prêmio mundial de música. Naquele ano, foi consagrada como “cantora revelação africana”. Ela também ganhou prêmios da Rádio Moçambique, a mais ouvida do país.
“Fim de estrada”, “Tindjombo”, “Ma original” e “Xindzekwana” estão entre as músicas mais conhecidas do público moçambicano, como ampla repercussão na África de Língua Portuguesa e em Portugal.
Elsa Mangue era uma artista engajada, preocupada em discutir questões sociais em seu trabalho musical. “A violência, discriminação e marginalização da mulher são os principais temas da obra musical da artista, que, apesar da longa carreira, continuava a atuar em casas de pasto da capital moçambicana e arredores, mas de forma intermitente, devido à doença”, publicou a agência de notícias Lusa.
O jornal português "Diário de Notícias" chama Elsa Mangue de "a diva da música de Moçambique".
Confira a música de Elsa Mangue no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=A9xPbJKisEA

Portugal está em festa, ao menos na imprensa: a Porto Editora lança na terça-feira, 23, “Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas” (136 páginas), romance inédito de José Saramago.
O Nobel de Literatura de 1998 não concluiu o romance. O editor Manuel Alberto Valente disse à imprensa portuguesa que o livro mostra o “testemunho empenhado” de Saramago. A presidente da Fundação José Saramago, Pilar del Río, sugere que a obra é “uma forma de repúdio à violência. São poucos capítulos, mas o tema fica claro, o texto tem unidade.
Nas notas que escreveu a respeito do romance, “Saramago antecipa o andamento e o desenlace da história que pretendia contar”, afirma Pilar del Río.
O livro, cujo título do livro é inspirado em versos de Gil Vicente, “tem como protagonista o funcionário de uma fábrica de armas que vive um conflito moral decorrente de seu trabalho”, diz o jornal “Diário de Notícias”.
Gavetas limpas e oportunismo editorial
O romance certamente será avaliado por críticos literários especializados, acadêmicos ou não — que explicarão se a obra tem qualidade —, mas há sempre o risco de, por interesse financeiro, herdeiros e editores “limparem” as gavetas de escritores famosos, como Saramago, e publicarem tudo que encontrarem. Lançaram há pouco tempo um livro inacabado de Vladimir Nabokov. Como curiosidade, tudo bem. Mas, em termos literários, o livro é de uma fragilidade que seria condenada prontamente pelo exigente crítico Nabokov.
O governo do PT estaria avacalhando institutos de pesquisas como o IBGE? Pode ser que não. Pode ter sido um equívoco do próprio Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, sem manipulação do petismo, a pesquisa sobre desigualdade social no país. Na dúvida, fiquemos com o humor, como o de Sinfrônio, do “Diário do Nordeste”.
[Amauri Soares e Patrícia Poeta, da Globo]
Patrícia Poeta foi demitida ou demitiu-se do “Jornal Nacional”. Depois do disse-me-disse, parece que a apresentadora não foi afastada e que vai mesmo fazer um programa de variedade. O colunista da “Veja” Lauro Jardim, que havia publicado a informação de que ela havia adquirido um apartamento por 23 milhões de reais, em Ipanema, publicou na terça-feira, 23, que a Globo deve criar um programa para Poeta nas “tardes de sábado”.
Recentemente, Poeta, seu marido, Amauri Soares, e Ali Kamel, chefão do jornalismo da Globo, assinaram um carta coletiva a um colunista do UOL esclarecendo que, ao contrário do que este publicou, não são “brigados” nem estão em “guerra permanente”. Kamel e William Bonner não teriam puxado o tapete da apresentadora. Uma irmã de Poeta garante ela só quer ser “feliz”.