Bastidores

[caption id="attachment_2087" align="alignleft" width="300"] Vanderlan Cardoso: candidato não tem “puxadores” de votos | Fotos: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption]
Quem acompanha o processo político fica com a impressão, lendo os jornais, que só importa mesmo o candidato a governador. Especialistas em campanhas eleitorais pensam diferente. Quatro deles disseram praticamente a mesma coisa ao Jornal Opção.
Frisaram que, se o candidato a governador for ruim, não há solução. Apontaram que o PT tem um excelente candidato, Antônio Gomide, mas falta-lhe uma rede sólida de candidatos a deputado federal e estadual. Ressaltaram que o caso de Vanderlan Cardoso (PSB) é ainda mais grave, pois, ao menos até agora, não apresentou nenhum candidato consistente a deputado federal. Mesmo a deputado estadual, não tem um puxador de votos.
Os especialistas dizem que o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), sempre faz a coisa certa, articulando para montar grandes chapas de candidatos a deputado estadual e federal. Porque são eles que “puxam” a campanha. É sempre complicada uma campanha sem “puxadores” de voto.
Os craques na arte de fazer campanha, de articular e conectar apoios, disseram ao Jornal Opção que um dos pré-candidatos a governador pelo PMDB, Júnior Friboi, está bem orientado. Porque começou sua pré-campanha trabalhando para montar a chapa para deputado estadual e federal. Os especialistas sugerem que quem está orientando o empresário entende do riscado. Quem não tiver uma boa chapa de candidatos a deputado, afirmam os arquitetos das campanhas, terá dificuldade na campanha. Quem vai recebê-los no interior e reunir as pessoas para ouvi-los?
O Jornal Opção pergunta a José Nelto: “O que os políticos querem de Iris Rezende e de Júnior Friboi?” Nelto pensa um pouco e diz, a sério: “Os políticos querem os votos de Iris e o dinheiro de Friboi”. Uma síntese perfeita. Nelto, por sinal, aposta que Iris será candidato a governador, possivelmente com Friboi na vice. “O PMDB, se estiver unido, é imbatível. Nós temos plenas condições de eleger o próximo governador”, aposta. “Divididos, seremos ambrosia para Marconi Perillo.”
Ser jovem não é o mesmo que ser moderno e ético. Veja-se o caso do PMDB de Goiás. Os primeiros a trair Iris Rezende e correr para o lado de Júnior Friboi não foram os políticos veteranos — estes, no geral, ficaram ao lado do decano do partido. Mas os jovens, encantados com o “cheiro” das verdinhas do empresário, saíram logo de perto de Iris, alegando que o veterano líder “tem uma cascavel no bolso”. Políticos que Iris contribuiu para eleger em 2010 estão quase todos no “iate” de Friboi.
O prefeito de Alexânia, Ronaldo Queiroz, é da linha de frente do PMDB, especialmente do irista. Político dos mais articulados, disse a um deputado federal que, se houver disputa na convenção, vai se verificar uma zebra. Queiroz diz que a visão convencional sugere que Júnior Friboi, por ter uma ampla estrutura financeira, tem o controle do PMDB. O prefeito sustenta que o controle da maioria dos diretórios não significa necessariamente controle dos delegados que votam na convenção. São os delegados que decidem, não os prefeitos ou os integrantes do diretório. O prefeito vota em Iris Rezende e diz ter informação de que há um movimento subterrâneo pró-Iris em todo o Estado. Em Inhumas, José Essado dormiu irista e, picado pelas verdinhas, acordou friboizista. Mas a maioria dos delegados vota em Iris. Friboi estaria disposto a ser vice de Iris? É o que se diz no mercado persa da política. Quem está reagindo não é tanto o empresário, mas os friboizistas.
Numa entrevista ao Jornal Opção, o deputado Waguinho Siqueira, do PMDB, disse que devia tudo, em termos políticos, ao ex-prefeito de Goiânia Iris Rezende. De fato, em 2010, contrariando líderes do interior, Iris bancou alguns jovens da capital, com o objetivo de iniciar a renovação do partido. Waguinho, que não tinha pretensão política, depois de ter sido alçado ao importante cargo de presidente da Comurg, disputou mandato de deputado estadual e foi eleito. Iris o “carregara” nas costas. Pois agora, nos bunkers do irismo, Waguinho tem sido chamado de “J do C.”. Quando alguém pergunta o que isto significa, iristas, sorridentes e nada constrangidos, dizem: “Não é nada — J. do C. significa apenas Judas do Cerrado”. O parlamentar estaria criticando Iris duramente, e não apenas nos bastidores. Ao saber que Waguinho havia trocado de ídolo — Iris por Júnior Friboi, o homem da grana farta —, um peemedebista disse: “Se fosse o Bruno Peixoto, a gente até entenderia”. Sabe-se que Peixoto flanou ao lado de Friboi, mas, depois de receber um puxão de orelha de seu pai, recuou e, após de ter virado friboizista, voltou a ser irista.
O secretário de Planejamento e Gestão, Leonardo Vilela (PSDB), deve ser o próximo conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, na vaga de Milton Alves. Aliados do governador Marconi Perillo temem que, se indicado, o deputado Helder Valin se una a Kennedy Trindade e, juntos, criem um poder paralelo, incontrolável, no TCE.
É quase certo que Valin será indicado para uma vaga no Tribunal de Contas dos Municípios. Um conselheiro do TCM não causa “problemas” para as contas de um governador.
No encontro de Brasília, no qual Eduardo Campos e Marina Silva foram oficializados como candidatos a presidente e vice-presidente da República pelo PSB, o pré-candidato a governador de Goiás, Vanderlan Cardoso, foi tratado como estrela. Campos e Marina fizeram questão de ressaltar que virão a Goiás para participar da campanha do empresário goiano. Marina, espécie de rainha do Distrito Federal, vai fazer uma campanha intensiva no Entorno de Brasília tanto para o candidato a governador do DF pelo PSB, Rodrigo Rollemberg, quanto para Vanderlan. Rollemberg e Vanderlan vão fazer campanhas casadas no Entorno. “Vanderlan é o novo ‘marineiro’”, brincou Campos.

Até Lula da Silva anda fazendo piada sobre o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, que todos chamam, pública e privadamente, de Agnulo. Piadista nato, Lula prefere nominar o petista de “Argh!nulo”. De fato, é bem mais razoável e verdadeiro.
Curiosidade: Agnelo trabalha, mas sua publicidade não consegue “identificar” as obras à persona.Argh!nulo é visto como o lado “B” do ex-governador José Roberto Arruda (PR), mais conhecido como “mister Arrogância”. Ressalve-se que Arruda, embora acusado de corrupção, é visto pela população como um gestor capaz. Já Agnelo, por mais que trabalhe — e trabalha muito —, é sempre visto como um gestor e político “nulo”, sem brilho, insosso. “É o Geraldo Alckmin que não deu certo. Ou, noutras palavras, o verdadeiro picolé de chuchu do Planalto”, afirma um integrante do PDT de Brasília.
O resultado é que Argh!nulo se tornou, às avessas, o principal cabo eleitoral de Rodrigo Rollemberg, que não é lá essas coisas, mas, ante a vigência de Agnelo e Arruda, é visto como quase um Deus da ética, ou pelo menos uma espécie de Noé que não tem como comandar nenhuma arca. Porque falou em arca, em Brasília, alguns políticos vão logo enfiando a mão — pensando que é cofre.
As pílulas do PMDB mostraram Iris Rezende e, principalmente, Júnior Friboi desatualizados. Friboi descobriu, dois mil anos depois de Jesus Cristo, que o governo de Goiás precisa fazer escola de tempo integral. Fica-se com a impressão de que, ao falar em escola de tempo integral, Friboi está inventando a roda. Seu marketing, talvez feito por quem não conhece Goiás, parece mais apropriado para o Haiti. Num debate, se um adversário perguntar como realmente funciona uma escola de tempo integral, Friboi saberá o que dizer? É provável que dê informações desencontradas.
De um peemedebista jovem, que não é friboizista e é uma espécie de irista recalcitrante: “Júnior Friboi está se comportando como se o PMDB fosse uma unidade do JBS. Isto vai pegar mal, muito mal, na campanha eleitoral. Júnior não está percebendo, mas, já na sua pré-campanha, está fornecendo elementos para formatar as críticas de seus adversários”. O peemedebista sugere que Friboi parece avaliar que já “abateu” o PMDB e seus principais líderes.
De um marqueteiro experimentado: “Júnior Friboi (PMDB) não pode ser subestimado, até porque de fato é, ao lado de Antônio Gomide (PT), o novo na campanha deste ano. Mas, do ponto de vista das alianças e do marketing políticos, está cometendo um grave erro e ninguém parece alertá-lo enquanto é tempo. O empresário está sugerindo, em suas falas, que tudo sempre esteve errado em Goiás – tanto na fase do PMDB, com Iris Rezende, Henrique Santillo, Maguito Vilela, Naphtali Alves e Helenês Cândido, entre 1983 e 1998, quanto na era tucano-pepista, com Marconi Perillo, do PSDB, e com Alcides Rodrigues, ex-PP, de 1999 a 2014. Na campanha, se isto for bem explorado por seus adversários, Friboi pode ficar isolado politicamente”. O marqueteiro afirma que Friboi pode correr o risco de passar a imagem de arrogante. “Se fixar a imagem de que só ele sabe fazer as coisas direito, os goianos poderão entender que estão sendo chamados de ineptos e, até, de idiotas. Se quiser conquistar os goianos, o empresário também precisa admitir que alguma coisa foi feita de proveitosa no Estado.”
De um friboizista: “Vive-se uma situação complicada no peemedebismo. O problema é que, se Júnior Friboi for candidato a governador pelo PMDB, mas sem o apoio de Iris Rezende, o eleitor vai ficar com a impressão de que o ex-governador de Goiás e ex-prefeito de Goiânia estará dando um apoio discreto ao petista Antônio Gomide”. O friboizismo não teme tanto Gomide, frisando que não tem estrutura política nem recursos financeiros suficientes para fazer face a um adversário duro e competente como o governador Marconi Perillo. Ainda assim, teme que, se conseguir o apoio de Iris, mesmo que velado, pode-se tornar um forte candidato a governador.
Uma coisa é certa: o empresário Júnior Friboi pode até desistir da disputa – ele teria cogitado jogar a toalha em duas ocasiões –, abrindo espaço para Iris Rezende ser candidato a governador de Goiás, este ano, pelo PMDB. Porém, se depender de alguns de seus aliados, como Maguito Vilela, Leandro Vilela, Daniel Vilela, Pedro Chaves, José Essado, Wagner Siqueira, Sandro Mabel, José Essado, Eronildo Valadares, Marcelo Melo, o neopeemedebista não desiste aqui nem na China. São aliados peso-pesados e meio-pesados. Os peemedebistas sugerem que, sem Friboi no páreo, o PMDB pode não eleger o governador e poderá eleger a menor bancada de deputados estaduais e federais de história. Com Friboi candidato, acredita-se que, mesmo ele perdendo a eleição para governador, o partido fará uma grande bancada na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados.
Os luas vermelhas de Antônio Gomide, pré-candidato do PT a governador de Goiás, mandam um recado seco para o PMDB: não vai alisar seu candidato na campanha. Para confrontar com o governador Marconi Perillo, apresentando-se como a alternativa real, o gomide-petismo terá de fazer a crítica ao peemedebismo... e vai fazê-la sem dó nem piedade. Acredita-se que, se alisar o PMDB no primeiro, para conquistar seu apoio em um possível segundo turno, o PT acabe ficando de fora do processo.
O pré-candidato do PT a governador de Goiás, Antônio Gomide, está mandando nada enviesado para o peemedebismo, sobretudo: seu alvo não é apenas o governador Marconi Perillo, do PSDB. Possivelmente, ao menos num primeiro momento, talvez no primeiro turno, o alvo será muito mais o PMDB.