Por Walacy Neto

Ao todo, 71 projetos foram atendidos na terceira e última etapa do pagamento

Segundo a assessoria, foi repassado por um agente da Centro de Prisão Provisória de Aparecida de Goiânia, onde Tiago Rocha está detido

Secretária Municipal Saúde confirmou a informação na tarde desta terça-feira e disse que o resultado dos exames na criança será divulgado em coletiva no Paço Municipal às 17h

Ela estava retirando o lixo do supermercado em que trabalha, próximo a região, quando encontrou o pedaço de corpo humano

A lista dos concorrentes para a Bola de Ouro deste ano foi divulgada pela Fifa nesta terça-feira (28/1) e inclui 23 jogadores

[caption id="attachment_18938" align="alignnone" width="620"] O vírus é transmitido pelo vulgo mosquito-prego que tem hábitos alimentares noturnos | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption]
Cinco casos de malária foram identificados recentemente em Goiás, causando alerta geral na população. Nos três primeiros casos, os infectados moram na região próxima ao Parque Flamboyant, e a quarta pessoa infectada é frequentadora assídua do parque. Com o foco da doença possivelmente no local, uma força-tarefa foi criada pelas Secretarias Estadual e Municipal de Saúde para combater o agente transmissor, o mosquito Anopheles. A ação conjunta visa verificar outros possíveis focos do mosquito e outras pessoas que apresentem sintomas da doença, a fim de encerrar a cadeia de transmissão. O vírus é transmitido pelo mosquito-prego (nome popular do Anopheles), que tem o hábito de sair no final da tarde ou ao anoitecer para obter sangue. “O Anopheles fica em águas paradas e rios mansos, com correnteza leve, e uma pessoa infectada pode ficar com o vírus incubado por duas semanas até 60 dias”, explica.
Depois da infecção, o quadro clínico é variável, mas geralmente inclui calafrios, febre alta, sudorese abundante, cansaço, dor de cabeça e no corpo. Em 2014, o Estado registrou 39 casos da doença, sendo que 8 aconteceram com pessoas que haviam viajado para Guiana Francesa, África do Sul, Guiné Bissau ou Somália. Outras dez pessoas foram infectadas em outros Estados.
UE recusa aliança com Síria para combater terrorismo
Os chefes da diplomacia da União Europeia (UE) rejeitaram aliar-se ao presidente sírio Bashar al-Assad para derrotar o movimento extremista de Estado Islâmico, na Síria e no Iraque. “Em consequência das suas políticas e ações, o regime de Assad não pode ser um parceiro na luta contra o Estado Islâmico”, declararam os 28 Estados-membros, nas conclusões aprovadas pelo Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros, em que responsabilizam Assad de ter permitido o “florescimento” de grupos terroristas. No total, a UE sancionou 211 pessoas e 63 entidades sírias. Os Estados-membros ainda proibiram a exportação de combustível para aviões e outros aditivos para a Síria.Obras requalificarão a Praça Cívica
As empresas Construtora Biapó e Marson Engenharia apresentaram, no início da semana passada, propostas para as obras de requalificação da Praça Pedro Ludovico Teixeira. O projeto de requalificação da também conhecida como Praça Cívica está entre os 425 projetos selecionados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pelos Ministérios de Cultura e do Planejamento, Orçamento e Gestão. Os recursos serão utilizados para obras de reestruturação, reconstrução e conservação de imóveis e espaços públicos. Segundo o secretário municipal de Desenvolvimento Urbano e Sustentável, Paulo César Pereira, as propostas devem respeitar os aspectos históricos, a importância da execução do projeto e a acessibilidade do local. “A nossa intenção é devolver a Praça Cívica às pessoas.”Além de confessar outras mortes, suposto serial killer ameaça presos e agride repórter fotográfico
O delegado titular da Delegacia Estadual de Investigação de Homicídio (DIH), Murilo Polati, afirmou na quinta-feira, 23, que o suposto serial killer Tiago Henrique Gomes da Rocha, 26 anos, confessou, em segundo depoimento, a morte de 29 pessoas, entre mulheres e pessoas em situação de rua. “Ao lado da nova defesa, ele negou cinco mortes, não quis se manifestar a respeito de quatro, e um dos crimes ditos por ele não foi consumado”, disse. Inicialmente, depois da prisão realizada no dia 14 deste mês, o vigilante Tiago Henrique declarou aos delegados da força-tarefa que assassinou 39 pessoas. Na quarta-feira, Tiago Henrique foi transferido para o Núcleo de Custódia do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia (CPP). Segundo o delegado, ao chegar ao presídio ele quis manifestar um poderio. “Conforme situação repassada pelos agentes prisionais, ele disse que mataria lá dentro como matou aqui, mas foi retaliado na mesma hora pelos demais presos e não causou mais problemas”, finalizou. Durante a transferência, ele agrediu um profissional de imprensa. Ele desferiu um chute no abdômen do repórter fotográfico Edilson Pelikano.Dólar tem maior alta desde 2005
O dólar comercial fechou com alta de 1,35%, a R$ 2,514 na venda na quinta-feira, 23. O valor de fechamento é o maior desde 29 de abril de 2005, quando ficou em R$ 2,528. A alta é a quarta seguida da moeda, acumulando um ganho na semana de até 3,34%. Em 2014, o dólar acumula valorização de 6,63%. Um dos motivos principais é a defensiva dos investidores na penúltima sessão, antes do segundo turno das eleições presidenciais no Brasil. A alta do dia foi registrada em meio às expectativas de que a presidente Dilma Rousseff (PT) poderia aparecer à frente do candidato Aécio Neves (PSDB) nas pesquisas eleitorais seguintes, que foram confirmadas pela Datafolha e Ibope.Sindicato determina fim da greve de PF
Os 27 sindicatos regionais da Federal Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) decidiu pôr fim a greve da categoria em reunião na terça-feira, 21, um dia após o anúncio de paralisação feito pela Polícia Federal (PF). A decisão foi aprovada por conta da intervenção do ministro interino da Casa Civil, Valdir Simão, e do ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini. Os representantes firmaram o compromisso de solucionar a crise da Polícia Federal. A greve foi motivada por uma medida provisória, encaminhada ao governo, que cria prerrogativas políticas para o cargo de delegado e o transforma numa espécie de “policial-juiz”. Os policiais afirmam que a mudança tira a autoridade e a perspectiva profissional dos demais cargos policiais.

Petista dedicou parte do seu horário eleitoral para afirmar que a matéria publicada na revista é uma "barbaridade, infâmia e crime"

Terceiro mais votado na base aliada para a Câmara dos Deputados, ex-secretário de Planejamento diz que Marconi Perillo é o melhor para Goiás continuar no caminho do desenvolvimento
[caption id="attachment_18884" align="alignnone" width="620"] Foto: André Sadi[/caption]
“O Brasil não aguenta mais protelar reformas importantes como a política, a previdenciária e a trabalhista. Ou fazemos isso ou vamos nos aprofundar num caminho que está nos levando ao atraso econômico.” É com essa disposição que o tucano Giuseppe Vecci quer chegar ao Congresso para seu primeiro mandato como deputado federal, a partir de janeiro de 2015. Terceiro mais votado na base governista, Vecci fala de seus projetos primordialmente voltados para a área econômica. Sobre a disputa pelo governo do Estado, Vecci afirma que Marconi Perillo é o melhor nome para continuar comandando o Estado. “Marconi é jovem, inquieto, ousado e tem visão de futuro, por isso reúne melhores condições que o adversário dele, Iris Rezende, para continuar conduzindo nosso Estado a um crescimento econômico e social.”Euler de França Belém – A revista britânica “The Economist” e outros veículos dizem que o Brasil não cresce menos pela crise internacional e mais pelos erros da política econômica local. Como o sr. vê essa crítica? É um conjunto de fatores que temos que observar para entendermos um pouco melhor. Para crescer o país precisa ter investimento. Que, por consequência, tem que ter poupança da iniciativa privada ou do governo, das contas internacionais ou nacionais. É preciso ter poupança para investir. E não sobra dinheiro. O governo não tem poupança. A capacidade de investimento do Brasil é muito pequena em comparação a outros países, que têm subido, este ano, a 16,5% do PIB (Produto Interno Bruto). China e outros países têm 30% ou 40%. Sem investimento como gerar riqueza? Investimento é a base do crescimento. Portanto, nós estamos privilegiando o gasto corrente em detrimento do investimento. O governo federal vem aumentando o gasto corrente, aumentando o consumo via crédito e outras formas, e isso é em detrimento de investimentos fundamentais para o nosso crescimento. Investimento, hoje, a infraestrutura corresponde a 2% ou 3% do PIB do Brasil. É muito pequeno para um país que tem estradas, portos e aeroportos a serem feitos, que precisa de obras para fornecer eletricidade, falta armazenamento e outras coisas. Ou seja, os investimentos são fundamentais. E, para isso, é preciso mexer em toda estrutura, porque para ter investimento tem que reduzir o gasto corrente, que é o custeio, o serviço da dívida. Para isso ocorrer, vai dar choque com tudo que pensa o governo atual. Lula falou que o povo brasileiro já fez todos os sacrifícios que tinha a fazer e, hoje, tem que ser recompensado. Ele fala isso, enquanto outros países estão se matando para crescer e cada vez mais melhorar. Aqui, nossa política é de que já fizemos tudo que tínhamos que fazer. Isso nos acomoda, acomoda o país. O Brasil fica acomodado frente aos nossos concorrentes. Por isso, é necessário fazer uma reforma, que o Brasil evita. Há quanto tempo foi feita a última reforma? A presidente Dilma disse que, nem que a vaca tussa, ela fará reforma trabalhista e previdenciária. E se não fizer, não terá recurso para fazer investimento e gerar riqueza. É difícil, é uma questão complicada. Marcos Nunes – De que forma se solucionaria os problemas da previdência? Quais seriam os mecanismos? Seria necessária coragem de aproveitar esse momento em que nós estamos vivenciando no Brasil de gerarmos riqueza para depois envelhecermos. Pois, imagina, do jeito que estamos vivendo agora na previdência, todos querem aposentar com 50 anos de idade, enquanto temos capacidade de trabalhar até os 74 anos de idade ou, ao menos, é o que as estatísticas colocam. Não é retirar os direitos das pessoas. É ter consciência de que não podemos viver do curto prazo e o Brasil teima em não resolver esses problemas graves, e continua protelando decisões vitais. O Brasil leva em banho-maria coisas que são vitais para o crescimento sustentável do país. Todos querem ficar mais velhos. O Brasil ficou mais velho. A taxa [expectativa de vida] pulou de 64 anos de idade para 74 anos e, em algumas regiões, até 75; ou seja, se a pessoa fica velha é algo bom, significa que não morreu cedo, mas todos querem aposentar cedo. Há um déficit na previdência e ninguém quer tocar no assunto. Evita falar no fator previdenciário. “O Brasil já fez seu sacrifício, não pode mais...” está errado. Se não tem coragem de fazer a reforma da previdência, os mais novos terão que pagar por vocês e por todos que aposentaram mais cedo. O cidadão continua trabalhando, apenas continua. Veja a contradição, vivemos com o menor nível e desemprego no país, mas em compensação, o seguro desemprego dobrou, o gasto dobrou. Ou seja, tem alguma coisa errada. Como eu posso ter o menor índice de desemprego e dobrar os gastos com o seguro desemprego? Essas são questões fundamentais que nós precisamos ter coragem e não levar em banho-maria, para não deixar como está e ver como é que fica. É necessário coragem. Por isso comentei, há pouco, a indisposição do PT em fazer reforma: “Não, não, o povo brasileiro não precisa fazer reforma”. Cezar Santos – Seria uma concepção diferente na forma de ver a questão social? Não há tanta diferença, de considerar que o PT é social e o PSDB é mais da economia. Não é nada disso. Nós precisamos ter uma visão mais ampla. Ninguém precisa de esmola. Precisa, sim, de oportunidade para crescer na vida. E eu até diria que temos muita oportunidade, mas a educação e o trabalho são as grandes oportunidades das pessoas. A educação porque propicia a alguém que tenha nascido pobre, economicamente, ter condições de crescer na vida. A educação é que diminui o abismo entre ricos e pobres. É ela que cria oportunidades. E o trabalho dignifica as pessoas, faz com que tenham condições de ter oportunidades na vida e com dignidade. Não há dignidade maior para uma pessoa que ela, com seu próprio esforço, gerar seu sustento. Proteção para os pobres é fundamental num país tão desigual como o Brasil. Mas, isso não é para a vida inteira. [caption id="attachment_18902" align="alignnone" width="620"]

“Marconi Perillo é o melhor nome para Goiás”
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tem melhores condições que o adversário dele para continuar conduzindo os rumos do nosso Estado” | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption] Cezar Santos — O estímulo ao empreendedorismo fica muito na boca dos políticos, mas percebemos que não passa de retórica. Falta financiamento, há muita burocracia e outros entraves que desestimulam. Isso não deve ser encarado numa forma mais séria? Temos que deixar de protelar algumas decisões de fundamental importância para o crescimento do Brasil, como a simplificação tributária e a desburocratização. São coisas que devem ser enfrentadas. Isso traz desgaste? Sim, mas deve ser enfrentada. O País precisa enfrentar a burocracia, o emaranhado de entulhos que não se traduzem em um avanço ao empreendedorismo. Cezar Santos — Diferentemente de outros países, no Brasil de hoje as pessoas pensam em se tornar funcionário público, pois não há incentivo ao empreendedorismo. Temos uma cultura que abomina a competitividade, incentiva a desconfiança dos vitoriosos e simpatiza com os fracassados. Quando vejo a simpatia do Brasil por Bolívia, Cuba e Venezuela noto uma forte simpatia pelos fracassados. E internamente no Brasil vemos isso. Nós não valorizamos mais o esforço e o resultado. O sofrimento do percurso redime o fracasso da chegada, de uma forma geral. Nos outros países é o contrário, ou seja, o resultado que redime o sofrimento e o esforço do percurso. Não há no Brasil uma cultura de resultado, de luta e de crescimento pelo próprio esforço. Vemos inúmeras pessoas no Brasil que não se curvam diante das dificuldades, dos problemas, que têm garra e determinação. É esse o Brasil que vai para frente. Há muita gente que mesmo com um salário mínimo, vai para frente, compra carro, constrói sua casinha e são verdadeiros heróis. Em contrapartida há outro Brasil, acomodado e esperando o governo. É precisa dar o choque nas pessoas no bom sentido. Cezar Santos – O sr. tem sido talvez o principal auxiliar de Marconi Perillo em sucessivas administrações. Qual o principal argumento que o sr. diz ao eleitor para dar mais um mandato ao governador? Marconi, por sua garra, pela sua competência, por sua capacidade de renovar, de inovar, pela visão estratégica de futuro que ele tem, é o melhor candidato que Goiás tem para continuar comandando nosso Estado. Isso não quer dizer que não haja falha ou defeito em nosso governo, mas estou dizendo que Marconi é jovem, aguerrido, inquieto e ousado, por isso tem melhores condições que o adversário dele para continuar conduzindo nosso Estado a um crescimento econômico e social. Marconi é um homem moderno, de percepção, que reúne experiência e maturidade e por isso saberá fazer os ajustes para que o governo continue melhorando. E não podem dizer que estamos de salto alto, não é isso, mas Marconi poderá fazer os ajustes necessários. Ele já disse que não tem compromisso nem com partidos nem com pessoas para formar sua equipe, e isso é muito bom porque lhe dará mais condições para escolher pessoas pelo mérito de competência. Com essa liberdade política ele vai chamar gente nova para seu governo, gente comprometida com o que ele sempre quis focar, a geração de desenvolvimento e crescimento. Há muito ainda a ser feito, temos de ter a humildade em reconhecer isso, mas também temos de vangloriar o que foi feito até agora. Na comparação com os outros Estados, Goiás vive um momento muito positivo do ponto de vista de riqueza e social. Mas repito, ainda temos muito que avançar e pelo peso político que Marconi vai ganhar no quarto mandato, ele conseguirá manter alianças e parcerias positivas com governo o federal. [caption id="attachment_18901" align="alignright" width="300"]


Em “Paisagem de Porcelana”, Claudia Nina dá voz a uma protagonista atacada por diversos níveis de opressão, que desmorona passivamente

O mundo criado pelo nazifascismo era ao mesmo tempo antigo e novo, “revolucionário” e retrógrado. Nele os valores ligados à ideia do indivíduo, verdade, liberdade, direito, razão, ficariam inteiramente debilitados e rejeitados, assumindo um significado totalmente diferente do que tiveram nos séculos precedentes

“Uma Voz e o Silêncio” é um livro que fala das várias faces do amor — entre esposos, entre pais e filhos, entre irmãos, entre cristãos — e fala também do sofrimento. Mesmo diante das vicissitudes, a poetisa não abandona a esperança, âncora que lhe dá firmeza e não a deixa à deriva
Graça Taguti Especial para o Jornal Opção Desde a mais tenra idade se habituou a gostar de misturas e de contrastes no seu dia a dia iluminado de curiosidade. As manias, obsessões, compulsões renitentes não interessavam a essa menina-menino. Considerava as repetições de qualquer ordem sempre previsíveis e esvaziadoras de sentidos maiores da vida. As experiências, ahhh, sim, as experiências alquimizavam as cores do horizonte dela-dele trazendo nuances de rosa, tons pastel em degrades delicados, quando se punha a pintar aquarelas para decorar seu quarto de sonhos. Ainda na infância, o menino-menina brincava com bonecas diversificadas, algumas artesanais, de madeira ou de algodão, que seu paciente e talentoso tio fazia. Nada de brinquedos prontos. Nada de alegrias serializadas, com cheiro de indústria cega e fria. Nada de diversão comoditizada, com Barbies ou Falcons bocejando entediados nas prateleiras das lojas. Na hora das refeições, nossa personagem saboreava as delícias do tudo-junto-e-misturado. Arroz com feijão, pato com molho de laranja, doces e salgados entrelaçados, convivendo em placidez com as papilas e a gula de sua língua tão acesa. Eram muitos desejos morando dentro. Ela-ele desde cedo também descobriu que possuía hormônios mesclados em sua fisiologia e glândulas. Estrógenos, testosteronas e afins. Aí achou engraçado ao detectar sua energética determinação, proatividade e dinamismo no exercício de certas tarefas. Bem como observou seu olhar lânguido e contemplativo, debruçado sobre o passeio das nuvens em mutantes e transitórias formas, que lhe preenchiam de surpresas o teto maior, acoplado lá no firmamento, de sua sagaz existência. Ao crescer, ele-ela farejou outras demandas, que lhe atiçavam comichões nos neurônios. Estudar astrologia, ciências, dedicar-se a atividades ao ar livre, manter romances explícitos com as rajadas de vento e as lambidas dos raios de sol, deliciosamente tingindo sua pele de puro ouro. Eram muitos anseios morando dentro. Percebeu a paixão gradual pela literatura de todos os gêneros, a poesia, o levitar de sua alma inquieta e buliçosa. Caminhou suavemente pela mitologia, as histórias da medusa e as serpentes, o Cérbero, sátiro, centauro, cujas naturezas mesclavam frequentemente o humano, o monstruoso e o animal. Volta e meia, nossa personagem refletia sobre sua condição irisada, caleidoscópica, como se flagrasse sendo mais que uma criatura no planeta, um verdadeiro “risoto de pessoa”. Ele-ela dirigiu-se então, já na idade adulta, à esfera dos pensamentos e emoções. Todos importa sublinhar, turbulentos, contrastantes e paradoxais. Detectou logo de saída uma enorme bagunça na alma. Ódio e amor, Inveja e benevolência, mesquinhez e generosidade, individualismo e fraternidade, ciúmes e desapego, egocentrismo e solidariedade. Tantas emoções e sentimentos acotovelando-se apertados, entre uma e outra respiração entrecortada ou desabafos solitários. Eram muitas contradições morando dentro. De repente, deu-se conta de que, no laboratório de suas vivências, estes sentimentos não poderiam excluir-se mutuamente. Nem se desgarrar uns dos outros. A fusão, a mistura de opostos tornava-se, no caso, imprescindível para a manutenção e fortalecimento de sua saúde mental. Abrindo um parêntesis, quantos de nós alijamos o que aparentemente nos enfeia e apodrece, como ódio cumulativo e rancores em profusão, erguendo suas soturnas moradas no desterro da inconsciência. Talvez seja perigoso ou danoso, imaginamos, agregarmos todos, a um só tempo, no mesmo laboratório, submetendo-os a transformações e metamorfoses substanciais. Fel e mel. Dor e Alívio. Amargura e Amar cura. Certa vez pegou-se na leitura de Orlando, de Virgínia Wolff obra na qual se observa a alternância dos gêneros masculino e feminino. Nossa personagem flagrara-se homossexual, bissexual, transexual talvez neste episódio? Não. Mas dispunha-se a acolher, a partir de então, as premências de aceitar, intimamente, a livre expressão de desejos sexuais amplos e diferenciados. Desejos, aliás, que nem sempre precisava externalizar ou colocar em prática. Como, por sinal, aquelas súbitas raivas e fúrias propulsoras de instintos assassinos. Você se pergunta neste instante: ele-ela tem um nome? — é a inquietação inevitável. Sim, pencas deles. Daniel, Joana, Flávia, Paulo, Ana, Rogério, você, eu e todos os iniciados por cada letra do alfabeto. O vizinho estranho da porta ao lado, seu pai, mãe e aparentados. É muita gente disputando espaço dentro de você. Enfim, cai a ficha: percebemos reunir em nosso psiquismo um vasto espectro de possibilidades e mosaicos mentais, emocionais e atitudinais. Mas nos dá medo, muito medo, admitirmos essa realidade e tentarmos conviver civilizadamente com nossos anjos e demônios. O mais cômodo e auto apaziguador é atirarmos uns nos outros, como em uma agitada partida de paint ball, tudo o que nos mancha, desagrada e até envergonha. Teimamos esconder essa bagagem maldita nos armários da dissimulação cotidiana ou sob as penumbras do tapete da nossa comportada sala de visitas social. Escondemos tudo. Nossos gritantes defeitos, hábitos perniciosos, falhas de caráter eventuais e permissivas faltas de ética. Afirmamos, porém, que tudo é lindo e maravilhoso. A harmonia existe, embora você duvide. O sol se casa com a lua, as alvoradas com os crepúsculos, Os eclipses com as estrelas. A proposta é deixar estas uniões acontecerem. Faz bem à nossa felicidade aceitarmos e aplaudirmos todo o tipo de sinergias que permeiam nossa personalidade. Uma provocação: que tal dispor-se a saborear, em sua próxima refeição, o eventual exotismo de um frango flambado na cerveja, um linguado ao molho de maracujá… Hum… Só falta fecharmos os olhos e entregarmos o corpo, o espírito e o paladar a deleites inusitados. Porque aí você já compreendeu que — deixando todos os receios e senões de lado — convém sentar-se à mesa com todas as pessoas que moram em você. Mas não para por aí. As sensações vão além e excedem qualquer expectativa para quem admite ser múltiplo. Creia. Há indescritíveis orgasmos à sua espera. Experimente oferecer-se a eles. Graça Taguti é jornalista e escritora. via Revista Bula

Itaney Campos Não, não guardo raiva ou pesar pelo que me aconteceu. Aqui e agora já não há espaço para esse tipo de sentimento. As tragédias têm reduzida a sua dimensão, passam a representar apenas um infortúnio a mais, no oceano de carnificina que é a existência humana no mundo. No entanto, não posso negar que me pesa algum desconforto, uma certa insatisfação, algo que me constrange fundamente. Não, não chega a ser um aborrecimento. Na verdade, não sei definir essa sensação. Percebo que o que não me satisfaz é a consciência que esse fato, de que fui vítima, e seus protagonistas, não estejam completamente identificados e suas circunstâncias efetivamente desvendadas. Agora, em olhar retrospectivo continuo tendo dificuldades de reconstituir a ocorrência, de visualizar os seus personagens e individualizar as condutas de cada um. Eu me vejo inicialmente no interior de um veículo, reconheço que ali estou a contragosto, alimentando uma sensação de insegurança. Gostaria de saltar do automóvel, mas algo me impede. Já nem sei se estava amarrado ou algemado ou preso à lataria do veículo. O motorista não me ouve, faz ouvidos de mercador às minhas súplicas. Logo em seguida, já me vejo sob a mira de uma arma, um sujeito estranho profere ameaças, me insulta, brada que eu mereço a sova que vou levar, o sofrimento que vou ter de expiar. Observo que havíamos saído da estrada municipal e, depois de seguir por uma estradinha vicinal, numa distância aproximada de quinhentos metros, o veículo estacionou no meio do cerrado, a cerca de cinquenta metros daquele trilho. São dois os elementos que me mantém imobilizado, amarrado com os braços para trás. Posso vê-los, estão de pé, do lado de fora, ambos armados. Não os reconheço, mas a intuição me diz que meu fim se aproxima. Eles mencionam meu envolvimento com uma mulher, cujo nome declino de registrar aqui, acrescentando os meus algozes, aos gritos, que eu devia aprender a respeitar família alheia, comportar-me como pai e marido de mulher honesta, e não como um desgraçado que faz a desgraça dos outros. Naquele momento, percebi nitidamente que suas palavras iradas serviam de alimento à sua raiva, queriam encher-se de ira, provocar-me, para, então, descarregar sobre mim o seu ódio. Tento argumentar, no pouco espaço de tempo deixado por suas maledicências, por suas maldições, procuro mostrar que fui seduzido por aquela mulher, que não fui o primeiro com quem ela mantivera um caso clandestino, traindo o marido. E foi aí que me dei conta de que estava sendo alvo de vingança, que se tratava ali de crime encomendado, e minha morte era a empreita. Reparei que as armas se tratavam de dois revólveres cromados, de cano longo, provavelmente de calibre 38.0. Quando pronunciei as primeiras palavras para tentar convencê-los a desistir da empreitada, porque teriam maior ganho com o que eu lhes poderia pagar, senti o relâmpago da dor percorrendo meu corpo, penetrado por uma sequência de balas. O barulho seco dos estampidos feriu duramente os meus ouvidos. Uma dor agudíssima no peito me fez consciente de que uma das balas me transfixiava o pulmão. Ou, quem sabe, o coração. Senti-me desfalecer, a friagem que me avassalou o corpo era indicativo seguro de que um processo de hemorragia interna se desencadeara. Fui perdendo a consciência como se mergulhasse na escuridão de um poço sem fundo. No entanto, eu ainda percebia alguns sons, tinha consciência do meu corpo fragilizado, um último lampejo de lucidez exigia que eu lutasse contra aquele torpor mortal. Foi nesse momento crucial, de agonia inigualável, que senti a violência de mãos segurando-me a cabeça, puxando-me os cabelos, expondo meu rosto desfigurado e forçando-o para cima. Aquele que se jogou sobre mim tinha uma faca na mão direita. Meu corpo, que já pendia para a esquerda, foi violentamente empurrado contra a lateral do carro, vindo a ficar apoiado na lataria, meio fletido. A cena que se seguiu já não posso precisar se tive consciência dela no momento mesmo de sua ocorrência ou se só agora, em consideração retroativa, apreendo a sequência de sua execução. Lembro-me bem e, ainda me dói de forma lancinante essa lembrança, que algum resquício de consciência latejava em meu cérebro. De alguma forma, ainda que minha pressão sucumbisse, a friagem enrijecesse meus músculos e doessem os meus ossos, eu sentia que uma facada impiedosa seria desferida sobre o meu corpo inerte. Os meus carrascos tinham pressa em concluir o seu serviço macabro. Só não pressentia, e nem pressenti no ato, porque possivelmente só agora tomo consciência disso, que o golpe cruel se dirigia para o meu globo ocular. A lâmina entrou rasgando no meu olho direito, em meio ao sangue que esguichava. O executor não se perturbou, aparentemente, com o jato de sangue que escorria por sua mão, seu antebraço e atingia sua camisa. Nervoso, cortava os nervos, veias e artérias, na tentativa de extrair o globo ocular, provocando um fluxo contínuo de sangue que se espalhava pelo encosto do banco e respingava no meu rosto, no seu rosto, na lataria e nas imediações das poltronas traseira e dianteira. O procedimento e a crueldade compulsiva repetiram-se no outro olho. Consumada a tarefa, as órbitas vazias exibiam uma massa de sangue a extravasar pelo rosto, entranhando-se à barba mal feita. De posse da prova da execução do serviço, retiraram-se os malfeitores do local, em um outro veículo. Havia mais de duas horas que se fizera noite fechada. Só na madrugada do dia seguinte as diligências empreendidas pela família e pela polícia lograram localizar-me, sem vida e sem os olhos, no local da minha morte. Da minha morte matada. Como disse, já não guardo mágoas, nem ódios, nem ressentimentos ou qualquer outro sentimento que me comova. Nem mesmo a alegria das lembranças dos convívios, dos amores, do bons negócios que realizei. Observo os eventos tumultuados ou não da minha vida como se observasse uma nuvem que passa, uma mosca que pousasse sobre uma mesa, guardando distanciamento e quase indiferença. Mas me perturba ainda constatar a ignorância humana sobre os fatos mais evidentes. As circunstâncias da minha morte continuam envoltas por um véu de imprecisões, de indefinições, de interesses escusos e especulações malévolas. Há quem tire proveito, evidentemente. Não que eu pretenda que os meus carrascos e o mandante sejam punidos. O que incomoda e estarrece são as invenções, as fantasias e a cegueira generalizada, a despeito da evidência solar dos fatos. Noticiada a minha morte, que comoveu a família e alguns poucos amigos — porque espantoso número aprovou tacitamente o episódio ( “agiota geralmente termina assim”; “ele sempre foi impiedoso nos negócios”) — fez-se circular a versão de que, por haver denunciado uma rede de tráfico de drogas na cidade — eu fora executado, como queima de arquivo, pois presenciara, em um dos meus imóveis alugados, os inquilinos estocando pacotes de cocaína. Mais do que isso, eu teria testemunhado o grupo a aspirar cocaína, enquanto se divertiam com um carteado, na varanda da casa que há pouco lhes alugara. Algumas testemunhas relataram que no dia do meu assassinato me teriam visto em um bar, bebendo em companhia de pessoas estranhas, novatas na cidade, Outras informaram ter presenciado comportamento estranho da minha parte, com aparência de estar embriagado ou mesmo drogado, e houve até quem comentasse ter havido murmúrios do meu envolvimento com drogas proibidas. À meia boca, discutiu-se se não seria a droga o fator determinante de minha impulsividade sexual. Quanta fantasia, quantas mentiras e maledicências. É certo que se chegou a aventar a possibilidade de crime passional, a título de vingança de algum marido traído, porque a fama que corria é de que eu não poupava as mulheres dos amigos, e nem dos inimigos. Sedutor incorrigível, eu semeava chifres nas testas de conhecidos e desconhecidos. A pobre da minha companheira passava horrores, suportando os meus incontáveis envolvimentos com mulheres. Mas essa hipótese foi logo descartada. A suposta amante foi ouvida e jurou, de mãos postas e joelhos, ao chão, sua fidelidade ao marido, a bondade angelical deste e sua completa aversão à minha pessoa. Ela, que ameaçara matar-se por mim, caso eu renegasse os seus carinhos ardorosos. Ela, que todas as noites sonhava estar imersa no azul profundo dos meus olhos. A cidade preferiu dar vazão à versão que relacionava o assassinato ao negócio de drogas, à execução a mando de traficantes. Pouco a pouco, à medida que a investigação se desenvolvia, emergia dos depoimentos, encarnado em minha pessoa, um dos mais importantes chefes do tráfico de drogas da região. As investigações estenderam-se por meses. O processo tramitou ao longo de cinco anos. No dia do julgamento, os sete jurados, por unanimidade, declararam a absolvição, por insuficiência de provas, dos dois acusados de minha morte, notórios usuários de drogas da cidade, molambos que não tinham onde cair mortos. Um deles foragira e fora julgado à revelia. O outro, catador de lixo e furador de covas no cemitério, após levar uma esfregada do Delegado, foi colocado na rua, por ordem do juiz, em consequência de sua absolvição. O meu desconforto, repito, não se deve à impunidade dos meus executores e do mandante de minha morte, mas à rede de intrigas e invencionices que se tramou em torno do triste episódio. Não julgo, apenas constato. E encerro minhas confidências parafraseando a Bíblia: os que tem olhos para ver, que vejam; os que tem ouvidos para ouvir, que ouçam! Itaney Campos é escritor. Desembargador do TJGO.

“O Último Concerto”, dirigido pelo cineasta Yaron Zilberman, é um pequeno grande filme que discute valores (e arte, e amor, e a vida) de forma delicada e sem ser piegas embalado por música emocionante

Geraldo Lima Especial para o Jornal Opção Morar próximo à natureza tem seu preço. É romântico e saudável, mas tem seu preço.Normalmente esse “morar próximo” significa invadir o habitat natural de algumas espécies de animais. Somos nós, seres humanos, os invasores em todos os casos. Por mais que tenhamos boas intenções e ideias preservacionistas, ainda assim somos invasores. A natureza dispensa nossa presença. Ela basta a si mesma. E, quanto for preciso, ela vai nos cobrar por esse espaço que lhe foi subtraído. Agora mesmo, mal começou o mês de outubro, trazendo as primeiras chuvas, eis que uma horda de besouros “Onthophagus taurus” da ordem Coleoptera, conhecido vulgarmente como “besouro rola-bosta”, procura a todo custo invadir a nossa residência. Buscam, ansiosos e persistentes, gretas nas portas e janelas que lhes permitam ganhar o interior da casa. Vêm atraídos pela luz. O gesto é fanático e suicida. Amanhã estarão todos mortos, geralmente de pernas pro ar, numa demonstração trágica do quanto lutaram pela vida na frieza da cerâmica. Embora saibamos que esses insetos não representam nenhum perigo à nossa saúde, nos sentimos incomodados com sua presença — eles, como kamikazes, chocam-se contra a parede, estatelam-se no chão, giram ruidosos em volta da lâmpada, tiram a nossa concentração, obrigam-nos a ficar de portas e janelas cerradas, e, vez ou outra, ouvimos o estalar de um deles sob a sola dos nossos calçados. Minha esposa, por pouco, não juntou um desses bichinhos frenéticos ao cozido de carne e batata. Para outros povos isso seria só um ingrediente a mais, mas não é o nosso caso. Disse que nos sentimos incomodados com a presença desses insetos. Para eles, com certeza, a recíproca é verdadeira. Aqui estamos nós, na divisa com uma reserva ambiental, trazendo incômodo e sedução fatal para esses pequenos seres em busca de acasalamento. Esse é o momento em que as larvas saem da terra, já como besouros, para se reproduzirem. Poucos indivíduos da espécie alcançarão, no entanto, o seu objetivo. Dizem as pesquisas que setenta por cento deles morrem, ficando a cargo dos trinta por cento que sobrevivem a responsabilidade da procriação e preservação da espécie. Sabendo disso, tento fazer a minha parte para ajudá-los: procuro sempre devolver os invasores à escuridão da noite, onde a luz artificial não funcione como armadilha. Sei que o gesto é meio inútil, alguns já nem têm mais forças para voar. Jogo fora, na verdade, seres sem vida. Como não posso ir dormir assim, cercado de cadáveres, procuro alívio para minha consciência na teoria darwinista da “seleção natural das espécies”, dando-me conta de que a natureza acha, assim, seu modo de se manter em equilíbrio. Geraldo Lima é escritor, dramaturgo e roteirista.