Por Walacy Neto

Encontramos 319 resultados
Secretaria da Fazenda repassa últimos valores referentes ao Fundo de Cultura

Ao todo, 71 projetos foram atendidos na terceira e última etapa do pagamento

Sapejus desmente boatos de nova tentativa de suicídio por serial killer

Segundo a assessoria, foi repassado por um agente da Centro de Prisão Provisória de Aparecida de Goiânia, onde Tiago Rocha está detido

Criança passa por exame e pode ser a sétima vítima de malária em Goiânia

Secretária Municipal Saúde confirmou a informação na tarde desta terça-feira e disse que o resultado dos exames na criança será divulgado em coletiva no Paço Municipal às 17h

Mulher encontra seio feminino dentro de lixo em Goiânia

Ela estava retirando o lixo do supermercado em que trabalha, próximo a região, quando encontrou o pedaço de corpo humano

Neymar é o único brasileiro que concorre ao prêmio de melhor jogador de 2014

A lista dos concorrentes para a Bola de Ouro deste ano foi divulgada pela Fifa nesta terça-feira (28/1) e inclui 23 jogadores

Após dengue e chikungunya, casos de malária alertam goianienses

[caption id="attachment_18938" align="alignnone" width="620"]O vírus é transmitido pelo vulgo mosquito-prego que tem hábitos alimentares noturnos | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção O vírus é transmitido pelo vulgo mosquito-prego que tem hábitos alimentares noturnos | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption] Cinco casos de malária foram identificados recentemente em Goiás, causando alerta geral na população. Nos três primeiros casos, os infectados moram na região próxima ao Parque Flamboyant, e a quarta pessoa infectada é frequentadora assídua do parque. Com o foco da doença possivelmente no local, uma força-tarefa foi criada pelas Se­cretarias Estadual e Mu­nicipal de Saúde para combater o agente transmissor, o mosquito Anopheles. A ação conjunta visa verificar outros possíveis focos do mosquito e outras pessoas que apresentem sintomas da doença, a fim de encerrar a cadeia de transmissão. O vírus é transmitido pelo mosquito-prego (nome popular do Anopheles), que tem o hábito de sair no final da tarde ou ao anoitecer para obter sangue. “O Anopheles fica em águas paradas e rios mansos, com correnteza leve, e uma pessoa infectada pode ficar com o vírus incubado por duas semanas até 60 dias”, explica. Depois da infecção, o quadro clínico é variável, mas geralmente inclui calafrios, febre alta, sudorese abundante, cansaço, dor de cabeça e no corpo. Em 2014, o Estado registrou 39 casos da doença, sendo que 8 aconteceram com pessoas que haviam viajado para Gui­ana Francesa, África do Sul, Guiné Bissau ou Somália. Ou­tras dez pessoas foram in­fec­tadas em outros Estados.

UE recusa aliança com Síria para combater terrorismo

Os chefes da diplomacia da União Europeia (UE) rejeitaram aliar-se ao presidente sírio Bashar al-Assad para derrotar o movimento extremista de Estado Islâmico, na Síria e no Iraque. “Em consequência das suas políticas e ações, o regime de Assad não pode ser um parceiro na luta contra o Estado Islâmico”, declararam os 28 Esta­dos-membros, nas conclusões aprovadas pelo Conselho de Ministros dos Negócios Estran­geiros, em que responsabilizam Assad de ter permitido o “florescimento” de grupos terroristas. No total, a UE sancionou 211 pessoas e 63 entidades sírias. Os Estados-membros ainda proibiram a exportação de combustível para aviões e outros aditivos para a Síria.

Obras requalificarão a Praça Cívica

As empresas Construtora Biapó e Marson Engenharia apresentaram, no início da semana passada, propostas para as obras de requalificação da Praça Pedro Ludovico Tei­xeira. O projeto de requalificação da também conhecida como Praça Cívica está entre os 425 projetos selecionados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pelos Minis­té­rios de Cultura e do Planejamento, Or­çamento e Gestão. Os recursos serão utilizados para obras de reestruturação, reconstrução e conservação de imóveis e espaços públicos.  Segundo o secretário municipal de Desenvolvimento Urbano e Sus­tentável, Paulo César Pereira, as propostas devem respeitar os aspectos históricos, a importância da execução do projeto e a acessibilidade do local. “A nossa intenção é devolver a Praça Cívica às pessoas.”

Além de confessar outras mortes, suposto serial killer ameaça presos e agride repórter fotográfico

O delegado titular da Dele­gacia Estadual de Investigação de Homicídio (DIH), Murilo Polati, afirmou na quinta-feira, 23, que o suposto serial killer Tiago Henri­que Gomes da Rocha, 26 anos, con­fessou, em segundo depoimento, a morte de 29 pessoas, en­tre mulheres e pessoas em situação de rua. “Ao lado da nova de­fesa, ele negou cinco mortes, não quis se manifestar a respeito de quatro, e um dos crimes ditos por ele não foi consumado”, disse. Inicial­mente, depois da prisão realizada no dia 14 deste mês, o vi­gilante Tiago Henrique decla­rou aos delegados da força-tarefa que assassinou 39 pessoas. Na quarta-feira, Tiago Henrique foi transferido para o Núcleo de Custódia do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia (CPP). Se­gundo o delegado, ao chegar ao presídio ele quis manifestar um po­derio. “Conforme situação repassada pelos agentes prisionais, ele disse que mataria lá dentro co­mo matou aqui, mas foi retaliado na mesma hora pelos de­mais presos e não causou mais pro­blemas”, finalizou. Durante a transferência, ele agrediu um profissional de imprensa. Ele desferiu um chute no abdômen do repórter fotográfico Edilson Pelikano.

Dólar tem maior alta desde 2005

O dólar comercial fechou com alta de 1,35%, a R$ 2,514 na venda na quinta-feira, 23. O valor de fechamento é o maior desde 29 de abril de 2005, quando ficou em R$ 2,528. A alta é a quarta seguida da moeda, acumulando um ganho na semana de até 3,34%. Em 2014, o dólar acumula valorização de 6,63%. Um dos motivos principais é a defensiva dos investidores na penúltima sessão, antes do segundo turno das eleições presidenciais no Brasil. A alta do dia foi registrada em meio às expectativas de que a presidente Dilma Rousseff (PT) poderia aparecer à frente do candidato Aécio Neves (PSDB) nas pesquisas eleitorais seguintes, que foram confirmadas pela Datafolha e Ibope.

Sindicato determina fim da greve de PF

Os 27 sindicatos regionais da Federal Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) decidiu pôr fim a greve da categoria em reunião na terça-feira, 21, um dia após o anúncio de paralisação feito pela Polícia Federal (PF). A decisão foi aprovada por conta da intervenção do ministro interino da Casa Civil, Valdir Simão, e do ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini. Os representantes firmaram o compromisso de solucionar a crise da Polícia Federal. A greve foi motivada por uma medida provisória, encaminhada ao go­verno, que cria prerrogativas políticas para o cargo de delegado e o transforma numa espécie de “policial-juiz”. Os policiais afirmam que a mudança tira a autoridade e a perspectiva profissional dos demais cargos policiais. semana1

Após depoimento de Yousseff, revista Veja responde críticas feitas por Dilma em horário eleitoral

Petista dedicou parte do seu horário eleitoral para afirmar que a matéria publicada na revista é uma "barbaridade, infâmia e crime"

“No Congresso, vou lutar por mudanças que o País precisa”

Terceiro mais votado na base aliada para a Câmara dos Deputados, ex-secretário de Planejamento diz que Marconi Perillo é o melhor para Goiás continuar no caminho do desenvolvimento [caption id="attachment_18884" align="alignnone" width="620"]Foto: André  Sadi Foto: André Sadi[/caption]

“O Brasil não aguenta mais protelar reformas importantes como a política, a previdenciária e a trabalhista. Ou fazemos isso ou vamos nos aprofundar num caminho que está nos levando ao atraso econômico.” É com essa disposição que o tucano Giuseppe Vecci quer chegar ao Congresso para seu primeiro mandato como deputado federal, a partir de janeiro de 2015. Terceiro mais votado na base governista, Vecci fala de seus projetos primordialmente voltados para a área econômica. Sobre a disputa pelo governo do Estado, Vecci afirma que Marconi Perillo é o melhor nome para continuar comandando o Estado. “Marconi é jovem, inquieto, ousado e tem visão de futuro, por isso reúne melhores condições que o adversário dele, Iris Rezende, para continuar conduzindo nosso Estado a um crescimento econômico e social.”
Euler de França Belém – A revista britânica “The Economist” e outros veículos dizem que o Brasil não cresce menos pela crise internacional e mais pelos erros da política econômica local. Como o sr. vê essa crítica? É um conjunto de fatores que temos que observar para entendermos um pouco melhor. Para crescer o país precisa ter investimento. Que, por consequência, tem que ter poupança da iniciativa privada ou do governo, das contas internacionais ou nacionais. É preciso ter poupança para investir. E não sobra dinheiro. O governo não tem poupança. A capacidade de investimento do Brasil é muito pequena em comparação a outros países, que têm subido, este ano, a 16,5% do PIB (Produto Interno Bruto). China e outros países têm 30% ou 40%. Sem investimento como gerar riqueza? Inves­timento é a base do crescimento. Portanto, nós estamos privilegiando o gasto corrente em detrimento do investimento. O governo federal vem aumentando o gasto corrente, aumentando o consumo via crédito e outras formas, e isso é em detrimento de investimentos fundamentais para o nosso crescimento. Investimento, hoje, a infraestrutura corresponde a 2% ou 3% do PIB do Brasil. É muito pequeno para um país que tem estradas, portos e aeroportos a serem feitos, que precisa de obras para fornecer eletricidade, falta armazenamento e outras coisas. Ou seja, os investimentos são fundamentais. E, para isso, é preciso mexer em toda estrutura, porque para ter investimento tem que reduzir o gasto corrente, que é o custeio, o serviço da dívida. Para isso ocorrer, vai dar choque com tudo que pensa o governo atual. Lula falou que o povo brasileiro já fez todos os sacrifícios que tinha a fazer e, hoje, tem que ser recompensado. Ele fala isso, enquanto outros países estão se matando para crescer e cada vez mais melhorar. Aqui, nossa política é de que já fizemos tudo que tínhamos que fazer. Isso nos acomoda, acomoda o país. O Brasil fica acomodado frente aos nossos concorrentes. Por isso, é necessário fazer uma reforma, que o Brasil evita. Há quanto tempo foi feita a última reforma? A presidente Dilma disse que, nem que a vaca tussa, ela fará reforma trabalhista e previdenciária. E se não fizer, não terá recurso para fazer investimento e gerar riqueza. É difícil, é uma questão complicada. Marcos Nunes – De que forma se solucionaria os problemas da previdência? Quais seriam os mecanismos? Seria necessária coragem de aproveitar esse momento em que nós estamos vivenciando no Brasil de gerarmos riqueza para depois envelhecermos. Pois, imagina, do jeito que estamos vivendo agora na previdência, todos querem aposentar com 50 anos de idade, enquanto temos capacidade de trabalhar até os 74 anos de idade ou, ao menos, é o que as estatísticas colocam. Não é retirar os direitos das pessoas. É ter consciência de que não podemos viver do curto prazo e o Brasil teima em não resolver esses problemas graves, e continua protelando decisões vitais. O Brasil leva em banho-maria coisas que são vitais para o crescimento sustentável do país. Todos querem ficar mais velhos. O Brasil ficou mais velho. A taxa [expectativa de vida] pulou de 64 anos de idade para 74 anos e, em algumas regiões, até 75; ou seja, se a pessoa fica velha é algo bom, significa que não morreu cedo, mas todos querem aposentar cedo. Há um déficit na previdência e ninguém quer tocar no assunto. Evita falar no fator previdenciário. “O Brasil já fez seu sacrifício, não pode mais...” está errado. Se não tem coragem de fazer a reforma da previdência, os mais novos terão que pagar por vocês e por todos que aposentaram mais cedo. O cidadão continua trabalhando, apenas continua. Veja a contradição, vivemos com o menor nível e desemprego no país, mas em compensação, o seguro desemprego dobrou, o gasto dobrou. Ou seja, tem alguma coisa errada. Como eu posso ter o menor índice de desemprego e dobrar os gastos com o seguro desemprego? Essas são questões fundamentais que nós precisamos ter coragem e não levar em banho-maria, para não deixar como está e ver como é que fica. É necessário coragem. Por isso comentei, há pouco, a indisposição do PT em fazer reforma: “Não, não, o povo brasileiro não precisa fazer reforma”. Cezar Santos – Seria uma concepção diferente na forma de ver a questão social? Não há tanta diferença, de considerar que o PT é social e o PSDB é mais da economia. Não é nada disso. Nós precisamos ter uma visão mais ampla. Ninguém precisa de esmola. Precisa, sim, de oportunidade para crescer na vida. E eu até diria que temos muita oportunidade, mas a educação e o trabalho são as grandes oportunidades das pessoas. A educação porque propicia a alguém que tenha nascido pobre, economicamente, ter condições de crescer na vida. A educação é que diminui o abismo entre ricos e pobres. É ela que cria oportunidades. E o trabalho dignifica as pessoas, faz com que tenham condições de ter oportunidades na vida e com dignidade. Não há dignidade maior para uma pessoa que ela, com seu próprio esforço, gerar seu sustento. Proteção para os pobres é fundamental num país tão desigual como o Brasil. Mas, isso não é para a vida inteira. [caption id="attachment_18902" align="alignnone" width="620"]Deputado federal eleito Giuseppe Vecci: “Marconi sabe da gravidade do problema das drogas e está enfrentando” | Foto: André  Sadi Deputado federal eleito Giuseppe Vecci: “Marconi sabe da gravidade do problema das drogas e está enfrentando” | Foto: André Sadi[/caption] Cezar Santos – A concepção do Bolsa Família está errada? O Bolsa Família não pode ser para a vida inteira. Ela tem que ser por dois, três ou até cinco anos. Não é pelo gasto com a Bolsa Família, é pela cidadania. As pessoas não podem passar pela vida como dependentes de um político, de um governo; elas têm de crescer com seu próprio esforço, com sua própria luta. Houve problema de desigualdade, algum problema social grave? Que venha uma proteção social, o Bolsa Família. Mas, que seja apenas como porta de entrada. É necessário capacitar, qualificar essas pessoas para que elas possam ter uma porta de saída e que, assim, possamos gerar riqueza, crescimento para o país. Ninguém é contra a proteção social, que é fundamental. Mas, é necessário por um pingo no “i” nessa questão. Cezar Santos – Os países europeus fizeram reformas trabalhistas. Pois é, e por que ela é necessária? Não é para tirar poder ou ganhos da classe trabalhadora. A Alemanha, o país mais rico da Europa e um dos mais ricos do mundo, fez isso. A Espanha e a Itália fizeram isso, para ter uma flexibilidade, para gerar mais empregos, para ter um efeito multiplicador na economia. Mas o Brasil evita qualquer tipo de reforma. Isso traz uma dificuldade muito grande para que possamos crescer com sustentabilidade. Enquanto não tivermos a coragem de fazer algo que agradará um tanto e desagradará a outro tanto, nós não teremos aquilo que é fundamental para o país crescer. Cito um exemplo: Fernando Henrique Cardoso quebrou o monopólio da Petrobrás, em 1997, e fez as licitações das áreas, etc. Houve um investimento grandioso. Hoje ainda estamos com um viés que o investimento estatal que é bom e o da iniciativa privada é perigoso, não presta. E o que precisamos é investimento, é crescimento da riqueza, não é apenas criar as condições de crescimento do país via poder público. Por isso, acredito que devemos parar com esse viés ideológico. Devemos ter coragem de dizer que o investimento privado é bom no interesse público, que nós precisamos do capital do mundo inteiro para investirmos em diversas áreas. Aliás, a presidente da República, depois de 13 ou 14 anos, reconheceu isso. Ela está fazendo concessão de rodovia, concessão de aeroportos, de portos. Nós não temos poupança interna, não temos condições de fazer os investimentos necessários. E, quando digo nós, estou dizendo o Estado brasileiro, seja em nível nacional, os Estados e municípios. Cezar Santos – Os indicativos mostram que a economia vai mal, mas parece que pouco está influenciando a campanha. O sr. percebe isso? Se estivesse influenciando decisivamente, o PT estaria fora do processo eleitoral. Não chegaria nem ao segundo turno. Portanto, certamente essa questão influencia, mas não é tão fortemente, uma vez que estamos vivendo um momento delicado, com um crescimento econômico pífio, a inflação em alta. E, além disso, problemas de corrupção, problemas disso, daquilo e etc. Isso não tem abalado o discurso dos candidatos. Cezar Santos – No caso de vitória de Aécio Neves, evidentemente, a condução errática da economia mudaria. Mas se Dilma se reeleger, ela também terá que fazer alguma coisa ou poderá continuar com essa política econômica desastrosa? Quem ganhar a eleição terá que fazer algo, não importa quem seja. Não tem outro jeito. Pois, volto a repetir, nós precisamos ter crescimento econômico no Brasil e, para isso, é preciso ter investimento, é preciso melhorar a eficiência do gasto público e da iniciativa privada, o que requer melhorias na produtividade. A palavra, hoje, para poder crescer é produtividade. É poder fazer mais com o mesmo tanto ou com menos. Fazer mais com mais, qualquer pessoa dá conta. Fazer mais com o mesmo tanto ou com menos que é fundamental. E, para isso, você vê os discursos na política, eles só falam em dobrar o número de efetivos, fazer isso e aquilo e nada de produtividade. Ninguém fala sobre o que é fundamental. O mundo inteiro fez assim, cresceu em cima da produtividade. E como se faz isso? Nós definimos novos processos de trabalho, qualificamos e capacitamos o trabalhador e investimos em tecnologia. Isso aumenta a produtividade. No agronegócio, a produtividade aumentou muito, pois teve essa soma. Para melhorar a eficiência do país de forma geral, é preciso melhorar a produtividade. A China, que é comunista, chamou o mundo inteiro para poder investir em infraestrutura quer seja econômica, produtiva e, no Brasil, ainda estamos com esse viés de que queremos privatizar o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, e não precisamos de nada disso. Quer seja no governo do Aécio ou da Dilma, eles terão que chamar a iniciativa privada com concessão, com outras formas, para atrairmos investimentos e termos essa infraestrutura no país inteiro. Ao fazer a infraestrutura, se diminui os custos de produção, aumenta a produtividade, cria condição de ganhos maiores. Portanto, em alguns setores, nós temos crescido e gerado riqueza de uma forma muito positiva, como no setor do agronegócio. Mas no campo da indústria, o país está fechado. Está parecendo a época da ditadura, quando tinha reserva de mercado para a informática. Nós estamos fechados, não estamos conseguindo nos relacionar com o mundo. Os países que estão ao nosso lado, como o Peru, o Chile, a Colômbia e outros estão conseguindo fazer acordos no mundo inteiro, estão criando uma condição de maior desenvolvimento. Marcos Nunes Carreiro – Já há um monte de propostas de reforma tributária no Congresso. Por que não anda? Eu fui secretário da Fazenda e, em 2003, participava das reuniões do Confaz [Conselho Nacional de Política Fazendária], que reúne todos os secretários da Fazenda do Brasil. Naquela época, todas as discussões que existem sobre simplificação tributária dentro de uma reforma já estavam postas à mesa. O que não conseguíamos era ter consenso. As propostas são inúmeras. É outra coisa que não damos conta de fazer. Não conseguimos fazer a reforma política, a reforma tributária, previdenciária, trabalhista, o pacto federativo, nada disso. Nós não conseguimos fazer nada que seja estruturante para o país. Marcos Nunes – Dessas propostas para reforma tributária, quais seriam as mais efetivas e de que maneira podem ser feitas? Existem muitas, como a de criar o Imposto sobre Valor Agregado (IVA), acabando com ICMS, com o PIS, o Cofins e, certamente, há uma modificação grandiosa do que é o imposto hoje no Brasil. Há outra proposta de se manter com o ICMS, mas reduzindo seu valor, por exemplo, 4%. São inúmeras as propostas no Congresso Nacional e que ferem diversos interesses de Estados ricos ou de medianos como o nosso. Ou seja, certamente para se fazer uma reforma de envergadura, é preciso de um pacto político. E as pessoas têm que aprender a perder, não é só ganhar. As pessoas precisam ter compreensão, ter desprendimento para que avancemos no Brasil, mesmo que um ou outro perca algo, momentaneamente. No caso das reformas, todos tinham noção que tínhamos um fundo de compensação de perdas. E, mesmo assim, nada foi para frente. Não houve consenso. Para ter consenso é preciso ter vontade política. O governo tem que ser forte, tem que colocar sua proposta, tem que ter coragem em sofrer desgaste. Os políticos precisam deixar de pular no muro, pois tudo que fazemos na vida tem o lado do sim e do não. E não podemos viver apenas do lado do sim, precisamos ter coragem de fazer a reforma ainda que sejamos criticados, para o bem do país. Frederico Vitor – O sr. falou sobre o acordo do Pacífico, entre Chile, Peru, Colômbia e até mesmo o México. E o nosso Mercosul? É um acordo mais ideológico que econômico? Com certeza. Nós nos apequenamos, nos reduzimos, nos estreitamos com essa visão do Mercosul. Só que o mundo hoje é globalizado. E, há muito tempo, precisamos ter a coragem de fazer as reformas tão fundamentais para que possamos auferir rendas, ganhos, com o comércio mundial. É preciso abrir, o que ferirá alguns segmentos da economia brasileira, vai chocar um ou outro segmento. A importação de bens de capital, máquinas, tecnologia, etc., é fundamental para o crescimento do país, para que possamos criar um parque industrial voltado a produzir com valor agregado e não só com commodities. Não que commodities seja algo errado, de forma alguma. O Brasil ganhou dinheiro com commodities. Goiás também está ganhando dinheiro com minérios de ferro, com soja, com milho, com carne e precisamos continuar ganhando. Não é defeito, pelo contrário. Mas temos que avançar para outras questões que não só essa. Com valor agregado, com conhecimento, para melhorarmos um pouco mais a situação e evitar que ela se dificulte mais ainda. Cezar Santos – Mesmo porque a China está crescendo menos do que vinha crescendo, e já diminuiu as importações. Em 2015 o cenário para o Brasil, que tem a China como principal comprador, será mais complicado? Isso é fundamental e aí vamos entrar em outra questão. O Brasil ainda é muito dependente do Estado, que é intervencionista. A economia do Estado e seu poder é muito grande. Se não conseguirmos melhorar a produtividade do setor público, fica difícil avançar e melhorar todas essas questões. Volto a repetir. O Estado precisa ter poupança para priorizar os gastos para investimentos. Não é só para o custeio. É preciso destinar mais do que 18% do PIB do País para investimentos. Só para tomar como o exemplo, o Estado de Goiás cresceu mais do que a média nacional, graças a um conjunto de fatores que levou que nós tivéssemos uma formação bruta de capital. Isso teve um efeito multiplicador na economia que é bom para todo mundo. Quando a economia cresce é um jogo de ganha-ganha. Ganha todo mundo. Cresce a riqueza e circula o dinheiro. Ganha desde o feirante, o dono do açougue, os empresários, mas em especial a população que tem a possibilidade de emprego, renda e a melhoria da qualidade de vida. Cezar Santos — É incrível como isso é tão óbvio, mas o governo federal não enxerga. Quando se faz a crítica ao baixo crescimento há um desdém das autoridades econômicas, que dizem que PIB não é tudo, etc. Não é uma visão curta do problema? Em longo prazo não podemos criar um contingente de dependentes do Estado. A melhor coisa que podemos fazer pelas pessoas é libertá-las do Estado. Da dependência exacerbada em relação ao Estado brasileiro. E para isso ocorrer é preciso ter geração de riqueza. Essa dependência não é o que desejo aos meus conterrâneos brasileiros. Não isso que desejo como político e como economista. Como gestor público desejo que o Estado gere divisas e todos possam compartilhar e contribuir para a geração dessa riqueza. Se num primeiro momento foi com a ajuda do Es­tado, no segundo momento as pessoas possam desprender dele com seu próprio esforço. O Pronatec, um programa do governo federal de qualificação da mão de obra foi positivo. A educação é vital.

“Marconi Perillo é o melhor nome para Goiás”

[caption id="attachment_18897" align="alignleft" width="249"]Marconi é jovem, inquieto e ousado, por isso  tem melhores condições que o adversário dele para continuar conduzindo os rumos do nosso Estado” | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção Marconi é jovem, inquieto e ousado, por isso
tem melhores condições que o adversário dele para continuar conduzindo os rumos do nosso Estado” | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption] Cezar Santos — O estímulo ao empreendedorismo fica muito na boca dos políticos, mas percebemos que não passa de retórica. Falta financiamento, há muita burocracia e outros entraves que desestimulam. Isso não deve ser encarado numa forma mais séria? Temos que deixar de protelar algumas decisões de fundamental importância para o crescimento do Brasil, como a simplificação tributária e a desburocratização. São coisas que devem ser enfrentadas. Isso traz desgaste? Sim, mas deve ser enfrentada. O País precisa enfrentar a burocracia, o emaranhado de entulhos que não se traduzem em um avanço ao empreendedorismo. Cezar Santos — Diferentemente de outros países, no Brasil de hoje as pessoas pensam em se tornar funcionário público, pois não há incentivo ao empreendedorismo. Temos uma cultura que abomina a competitividade, incentiva a desconfiança dos vitoriosos e simpatiza com os fracassados. Quando vejo a simpatia do Brasil por Bolívia, Cuba e Venezuela noto uma forte simpatia pelos fracassados. E internamente no Brasil vemos isso. Nós não valorizamos mais o esforço e o resultado. O sofrimento do percurso redime o fracasso da chegada, de uma forma geral. Nos outros países é o contrário, ou seja, o resultado que redime o sofrimento e o esforço do percurso. Não há no Brasil uma cultura de resultado, de luta e de crescimento pelo próprio esforço. Vemos inúmeras pessoas no Brasil que não se curvam diante das dificuldades, dos problemas, que têm garra e determinação. É esse o Brasil que vai para frente. Há muita gente que mesmo com um salário mínimo, vai para frente, compra carro, constrói sua casinha e são verdadeiros heróis. Em contrapartida há outro Brasil, acomodado e esperando o governo. É precisa dar o choque nas pessoas no bom sentido. Cezar Santos – O sr. tem sido talvez o principal auxiliar de Marconi Perillo em sucessivas administrações. Qual o principal argumento que o sr. diz ao eleitor para dar mais um mandato ao governador? Marconi, por sua garra, pela sua competência, por sua capacidade de renovar, de inovar, pela visão estratégica de futuro que ele tem, é o melhor candidato que Goiás tem para continuar comandando nosso Estado. Isso não quer dizer que não haja falha ou defeito em nosso governo, mas estou dizendo que Marconi é jovem, aguerrido, inquieto e ousado, por isso tem melhores condições que o adversário dele para continuar conduzindo nosso Estado a um crescimento econômico e social. Marconi é um homem moderno, de percepção, que reúne experiência e maturidade e por isso saberá fazer os ajustes para que o governo continue melhorando. E não podem dizer que estamos de salto alto, não é isso, mas Marconi poderá fazer os ajustes necessários. Ele já disse que não tem compromisso nem com partidos nem com pessoas para formar sua equipe, e isso é muito bom porque lhe dará mais condições para escolher pessoas pelo mérito de competência. Com essa liberdade política ele vai chamar gente nova para seu governo, gente comprometida com o que ele sempre quis focar, a geração de desenvolvimento e crescimento. Há muito ainda a ser feito, temos de ter a humildade em reconhecer isso, mas também temos de vangloriar o que foi feito até agora. Na comparação com os outros Estados, Goiás vive um momento muito positivo do ponto de vista de riqueza e social. Mas repito, ainda temos muito que avançar e pelo peso político que Marconi vai ganhar no quarto mandato, ele conseguirá manter alianças e parcerias positivas com governo o federal. [caption id="attachment_18901" align="alignright" width="300"]A palavra, hoje, para crescer é produtividade. É poder fazer mais com o mesmo tanto ou com menos. Fazer mais com mais, qualquer pessoa dá conta.” A palavra, hoje, para crescer é produtividade. É poder fazer mais com o mesmo tanto ou com menos. Fazer mais com mais, qualquer pessoa dá conta.”[/caption] Cezar Santos – Independente­mente de quem for eleito presidente da República? Se for com o Aécio, melhor, muito melhor. Mas se for com a Dilma não haverá problema, Marconi já soube fazer de forma republicana. Marcos Nunes Carreiro – O sr. tem uma vasta experiência em planejamento estratégico e foi um dos mais votados na base aliada, o que lhe dá condições de ocupar mais espaços. Isso faz parte de seu projeto? Seria muita presunção al­guém que nem pisou no Congresso Nacional ainda falar nisso. Eu espero fazer um bom trabalho como parlamentar e a partir daí ver o que vai ocorrer. Meu interesse primeiro é trabalhar efetivamente nessa nova função. Euler de França Belém – O sr. tem pretensão de disputar a Prefeitura de Goiânia em 2016? Não, estou com pretensão de ser deputado federal. Frederico Vitor – Marconi Perillo tem vasto currículo político. O sr. acha o quarto mandato de governador o cacifa para um voo nacional? Com certeza. Marconi é o maior nome da política de Goiás e não temos de ter timidez, não. Certamente ele vai enfrentar um mandato difícil, porque não há nada fácil, e terá de tomar medidas que possam cada vez mais colocar o Estado no rumo do desenvolvimento. Na próxima eleição, acredito que ele terá possibilidade sim de se candidatar em nível nacional. Ele é o melhor nome que temos. Acredito que ele, depois de quatro mandatos de governo, também vai aspirar a cargos nacionais. Marcos Nunes Carreiro — De que forma a renovação no Legislativo pode ajudar, independentemente de quem seja o presidente, a fazer o País voltar a crescer? Hoje há um misto de indignação do povo brasileiro com a classe política. Alta carga tributária, serviço público de baixa qualidade, desvio e corrupção, tudo isso faz ferver o caldeirão. Há uma apatia com a classe política no Brasil. É preciso que o político capte esse sentimento com esse novo eleitor que, com razão, está cobrando transformações e reformas. Mas por que essas reformas não são feitas? Porque gera desgastes. Vai fazer reforma da previdência, política e trabalhista e acaba em desgaste. Mas é preciso fazer, se não, a classe política vai continuar descreditada e a apatia com os políticos vai permanecer por parte do eleitorado. Temos que dar mais condições para que cada vez mais pessoas vindas dos diferentes estratos sociais possam se candidatar. É preciso retomar, como foi no passado, as condições para que os empresários, sindicatos, movimentos populares e as pessoas comuns possam participar. Mas para isso é necessário uma reforma política. Marcos Nunes Carreiro — O sr. é um dos novos que está entrando agora na Câmara dos Deputados. Vai defender tais mudanças? Com certeza. Logicamente, como qualquer político, desejo angariar a simpatia das pessoas, mas terei a coragem de fazer mesmo que tenha desgaste. Quero fazer a reforma que o Brasil precisa. Apesar de que a minha foto pode ficar estampada nos postes e outros lugares desagradáveis qualquer, tenho que ter a coragem de não fazer as reformas e fugir da mesmice. Se não for para fazer isso, não seria necessário eu ir para lá. Não me sinto melhor do que ninguém, mas me sinto qualificado e preparado para fazer aquilo que preciso fazer. Efetivamente, o que discutimos aqui é fundamental para se fazer no Congresso Nacional. Quero me somar a outras pessoas que lá estão, porque ninguém faz nada sozinho. Lá são 513 parlamentares, quero me somar à maioria e certamente poder contribuir nesse processo. Marcos Nunes Carreiro — O sr. foi o quarto deputado federal mais bem votado, com 120 mil votos. Esse discurso favoreceu essa votação expressiva em Goiás? O que facilitou não foi só o discurso, a minha história é de um longo tempo na administração pública, como empresário e economista. Tudo isso significa que sou político para poder realizar. Sou político para ajudar as pessoas a crescerem por meio de políticas públicas que geram oportunidades. Sou político para ajudar os municípios a não ficarem com o pires na mão pedindo bênção para governo A, B ou C. Sou político para ter coragem de ir ao Congresso Nacional e propor um novo pacto federativo que distribua direitos e deveres entre a União, Estados e municípios. Sou político para ajudar o Estado de Goiás a continuar crescendo mais do que a média nacional. Sou político para ajudar o Brasil a fazer a reforma tão fundamental ao chamado crescimento sustentável, que está virando só discurso. Ninguém aguenta mais essa gangorra. Temos que dobrar a renda per capita do Brasil, que hoje é de aproximadamente 18 mil dólares e em outros países chega ser 40 mil. Só lengalenga não vai resolver. Cezar Santos – Nesta campanha, pela primeira vez o sr. foi pedir voto para si, já que nunca havia sido candidato. O que lhe causou mais impacto na campanha? É árduo fazer política e não é igual para todos. Alguns se baseiam em um setor, na religião, em esportes, enquanto outros em ideias e realizações. Então, isso é desigual, sendo necessário haver uma aproximação do eleitor e poder colocar suas ideias. Fiz inúmeras reuniões, palestras e discussões. Caminhei pelo Estado inteiro e tive votos em 245 dos 246 municípios de Goiás. Cezar Santos – Em qual o sr. não teve? Lagoa Santa foi o único município em que não tive nenhum voto. Marcos Nunes Carreiro – O sr. esteve lá? Não. Mas houve outros municípios em que não estive presente, mas tive votos. E isso reflete uma responsabilidade muito grande. Eu sentia claramente no olhar das pessoas toda essa apatia, mas também percebi toda a esperança que elas ainda depositam em políticas públicas e espero, sem me sentir melhor que ninguém, honrar essas pessoas com o meu mandato. Marcos Nunes Carreiro – O sr. ocupou cargos importantes em vários governos no Estado. Por que resolveu agora disputar um cargo eletivo? Como já disse, para continuar realizando. Talvez eu esteja um pouco na contramão da história, pois as pessoas vão ficando mais maduras e querem cuidar dos seus afazeres particulares. Eu fiz o contrário, um pouco mais maduro resolvi entrar na política. Muita gente, incluindo o jornalista Euler Belém, que muitas vezes me cutucou para entrar na política, me falava disso; o Marconi também, me dizia que sou muito crítico, então deveria ter cargo eletivo. É uma experiência nova e nela vou continuar realizando. Por mais responsabilidade social que você tenha na iniciativa privada, ainda é muito pouco diante do que pode fazer um agente público, que pode fazer muito mais, já que faz políticas públicas. Ser um parlamentar, poder estar no Congresso Nacional para poder realizar coisas para os municípios, para o Estado, para o País, é um desafio. Estou levando isso muito a sério e quero apender um pouco mais como parlamentar. Cezar Santos – O grande ideólogo do seu partido, Fernando Hen­rique Cardoso, é a favor da legalização das drogas. Qual sua opinião como economista? Do ponto de vista econômico, seria vantajoso para o País? Um assunto que ocorreu na semana passada. A Itália aumentou seu PIB contabilizando a prostituição e as drogas. Mas não falo isso por defesa a aumentar o PIB por causa de drogas. Isso não é, a meu ver, relevante, como mostra a ineficácia das atuais políticas públicas em relação às drogas. E vemos pessoas com muito senso de responsabilidade e religiosidade como Fernando Henrique Cardoso e Bill Clinton [ex-presidente dos Estados Unidos] se preocupando em criar alternativas para quebrar esse paradigma da repressão, para poder criar uma alternativa. Eu acredito que o Uruguai está criando uma experiência da qual certamente poderemos tirar lições para enfrentar esse gravíssimo problema, que não é um problema apenas de consumo, mas de violência. A maioria dos homicídios cometidos em Goiás e no Brasil advém das drogas. Não é apenas a questão econômica, isto é, o que ela gera de riqueza para os traficantes, mas o que ela gera de desastre para as pessoas. Então, acho que devemos ter a capacidade de conciliar e entender que a família cuida dos valores e dos princípios de cada um de nós. E dentro desse cuidar, a questão das drogas precisa ter um olhar. Não pode passar despercebido. O país precisa abrir uma discussão sobre o assunto, mas sem paixão. Frederico Vitor – A segurança pública é, depois da saúde, o tema de maior relevância no momento. O sr. acha que a redução da maioridade penal terá, em curto prazo, uma solução eficaz? Eu preciso aprender muito sobre isso, mas, a princípio, não sou muito favorável. Acredito que, primeiro, precisamos fazer uma revisão no nosso Código Penal, porque não adianta prender o cidadão de manhã e precisar soltá-lo à tarde. Feita essa revisão, diminuiremos a impunidade no País. A partir daí, teríamos condições de enxergar outros pontos. Até lá, acho que não adianta reduzir a maioridade penal, pois acontecerá o mesmo que já acontece hoje. Frederico Vitor – A União concentra, hoje, a maior parte do “bolo” orçamentário e os Estados reclamam que ela não está atendendo à demanda por segurança nas unidades federativas. Isso passa também pela questão do pacto federativo. Nos próximos quatro anos, essa questão será um ponto de debate importante? Sim. Educação, saúde e segurança não são para ser cuidados apenas por um ente federativo, mas pela nação. Então, precisamos somar esforços da União, dos Estados e dos municípios para enfrentar a questão da segurança. Um dos principais problemas da segurança são as drogas, que estão ligadas às fronteiras do país. As fronteiras têm a ver com o governo federal, que não consegue defendê-las como deveria. Isso cria problemas para os Estados. Assim, precisamos ter um plano nacional ou algo que possa somar essas forças a fim de combater a insegurança, pois é uma epidemia nacional. Marcos Nunes Carreiro – Em Goiás, o governo apostou nos Credeqs. O sr. acha que essa, que é uma política de risco, foi uma decisão acertada por parte do governador Marconi Perillo, no que concerne tanto à saúde quanto à segurança? Não tenho a menor dúvida. Participei das discussões e ajudei a elaborar as propostas não apenas dos Credeqs como também das comunidades terapêuticas. Quer dizer, é preciso ter coragem para enfrentar os problemas que batem a sua porta. Se o dependente químico consegue ficar na família, que irá assisti-lo, ótimo. Mas quantos não podem? Quantos precisam de atendimento feito pelo Estado ou pelas instituições que tratam do assunto? Então, acho que não podemos nos abster de enfrentar esse problema e o governador Marconi Perillo sabe a gravidade dessa questão no Estado. Tanto que criou não apenas os Credeqs como também um grupo executivo de combate às drogas, que está fazendo alianças e parcerias com todas as comunidades terapêuticas pelo Estado. E são muitos os modos de fazê-lo: preventivamente, tratamento e repressão. O Estado precisa trabalhar nesse tripé e acho que isso está sendo feito. Ou seja, acabou a inércia. O Estado chamou para si e está enfrentando essas questões. Eu já conheci pessoas, em próprio local de trabalho, que saíram perambulando por aí à procura de uma local para colocar o filho depende químico, sem conseguir um local próprio para recebê-lo. Marcos Nunes Carreiro – Não se trata apenas de construir, mas colocar esses locais para funcionar com mão de obra qualificada. Isso será feito de modo satisfatório ou pode haver alguma dificuldade? Esse é um problema do país. Há clínicas particulares pelo Brasil inteiro que cuidam do tratamento para famílias que podem pagar. Mas quem tem um poder aquisitivo baixo vai tratar seu familiar onde? Então, acho que já há pessoas qualificadas nisso. O governo irá fazer concursos e criar condições para isso. Cezar Santos – O sr. acha viável a proposta do candidato a governador Iris Rezende de dobrar o efetivo da PM? A primeira ação que precisamos tomar é melhorar a produtividade das pessoas. Se tivéssemos dinheiro sobrando, não teria problema nenhum. Dobraríamos o número de policiais, de médicos, de professores, entre outros. Mas não há recursos sobrando, logo, é preciso fazer com que as pessoas produzam mais. E como fazemos isso? Melhorando a qualificação, a capacitação das pessoas e com tecnologia. É disso que a segurança pública precisa. É necessário trabalhar com inteligência, como foi feito agora com a prisão desse serial killer, em que a polícia trabalhou com criatividade e inteligência de segurança. É lógico que há uma defasagem no número de efetivos, mas, com todo o respeito a essa proposta de dobrá-lo, me soa eleitoreira e sem a menor condição de ser realizada, pois o custo disso ultrapassaria a Lei de Respon­sa­bilidade Fiscal. O Estado ficaria inviabilizado. Ou seja, isso deverá ser feito de modo gradativo e melhorando a produtividade. Se o policial consegue desvendar dez casos por mês, é preciso melhorar sua qualificação para que ele passe a desvendar 12, 13 casos por mês, além de dar condições para que ele possa fazer isso: materiais, físicas, etc. E isso tem que ocorrer em toda a administração pública, em toda a economia do país. Euler de França Belém – Conte uma história interessante da sua campanha. Na primeira caminhada que fiz, em Mineiros, entrei numa loja com meu material de campanha, e o dono me disse essas pessoas entram na loja da gente e nem pedem licença. Eu quase morri de vergonha (risos). Depois disso, em nenhum local que fui no Estado inteiro, eu entrei sem antes pedir licença. Dá licença, dá licença para pedir seu voto? São coisas simples que podem fazer a diferença. Eu aprendi isso na primeira caminhada, foi pedagógico pra mim. Euler de França Belém – Do ponto de vista técnico, quando começa a crise da Celg? Ou ela sempre esteve em crise? Todas as circunstâncias levam a crer que começou quando ela vendeu Cachoeira Dourada. Já no governo Ary Valadão pensava-se transformar a Celg numa geradora, com Corumbá, Ca­choeira Dourada, São Domingos e outras usinas. Como foi feita com a Cemig, que virou uma grande geradora. A venda de Cachoeira Dourada [em 1998, no governo Maguito Vilela-PMDB] matou a galinha dos ovos de ouro da Celg. Soma-se a isso ela não ter se estruturado, criado condição para enfrentar esse baque. Num dia tinha energia, no outro dia tinha de comprar energia. Para piorar, apenas uma ínfima parte do dinheiro da venda de Cachoeira Dourada foi aplicada em investimento na Celg, a maior parte foi para o caixa do Tesouro para fazer outros tipos de obras. Então, a Celg ficou numa situação de penúria, que se agravou de lá para cá. Foi deteriorando. Há outras distribuidoras no Brasil também sem geração, mas a Celg ficou com a dívida e sem a receita de Cachoeira Dourada, aí é cruel. Euler de França Belém – Como especialista em gestão, como analisa o momento ruim porque passa Goiânia? É problema de gestão? Há um déficit mensal de R$ 30 milhões, que chegou totalizou R$ 400 milhões. Segundo o ex-secretário de Finanças da Prefeitura Cairo Peixoto, é incontrolável isso aí, há dois anos não se consegue resolver. Cairo disse que só se resolve se conseguir dinheiro extra. Tudo no setor público é gestão. Comparando, quem está no leme de um barco está fazendo gestão. No remo pode estar qualquer um, mas quem está no leme é que dá as cartas. Muitas coisas podem ser feitas pela iniciativa privada, ninguém elegeu político para ficar chorando dificuldade financeira, que todos sofrem, uns mais outros menos. Eleitor elege político para ser criativo, para ter ideias, para fazer gestão, para fazer gerência, para ter capacidade de catalisar os anseios da sociedade e dar os ru­mos. Não há nada que não pos­sa ser consertado. Em Goiânia tam­bém dá para consertar, mas tem de ter coragem para tomar me­didas difíceis, coragem para inovar, para ser criativo, para chamar a iniciativa privada. Quantas concessões tem a Prefeitura de Goiâ­nia? Quanta coisa ela pode fa­zer usando o poder permissionário dela? O problema é que tudo esbarra num viés ideológico de A ou de B, os interesses políticos. Euler de França Belém – O que o sr. está lendo no momento? Estou lendo um livro intitulado “Complacência” [dos economistas brasileiros Fabio Giam­biagi e Ale­xandre Schwartsman], cujo subtítulo é Entenda Por Que o Brasil Cres­ce Me­nos Que Pode. Os autores têm uma afinidade maior com a social-de­mocracia, com o PSDB. Fa­zem uma análise do Brasil. É um livro muito interessante, di­dático, e não é apenas para economista ler. Qualquer pessoa consegue ler o livro e entender, um pouco, de economia. Os autores também são muito críticos. Dizem que, quando três economistas se reúnem, certamente haverá quatro propostas. Não há convergência, não há nada. In­te­res­sante que um dos autores, Sch­wartsman, ex-diretor do Banco Cen­tral, foi alvo de uma queixa-crime do BC por ter criticado medidas equivocadas da instituição. Eles fazem uma análise interessante do momento econômico brasileiro e a leitura é muito fácil. Euler de França Belém – Por que o título “Complacência”? Eu não sei ainda. Talvez em relação ao Brasil. A complacência que nós mesmos temos conosco.

Decurso de quedas

Em “Paisagem de Porcelana”, Claudia Nina dá voz a uma protagonista atacada por diversos níveis de opressão, que desmorona passivamente

Thomas Mann e um grito de alerta antifascista

O mundo criado pelo nazifascismo era ao mesmo tempo antigo e novo, “revolucionário” e retrógrado. Nele os valores ligados à ideia do indivíduo, verdade, liberdade, direito, razão, ficariam inteiramente debilitados e rejeitados, assumindo um significado totalmente diferente do que tiveram nos séculos precedentes

Poesia em estado de graça

“Uma Voz e o Silêncio” é um livro que fala das várias faces do amor — entre esposos, entre pais e filhos, entre irmãos, entre cristãos — e fala também do sofrimento. Mesmo diante das vicissitudes, a poetisa não abandona a esperança, âncora que lhe dá firmeza e não a deixa à deriva

Mostre quantas pessoas moram dentro de você

Graça Taguti Especial para o Jornal Opção Desde a mais tenra idade se habituou a gostar de misturas e de contrastes no seu dia a dia iluminado de curiosidade. As manias, obsessões, compulsões renitentes não interessavam a essa menina-menino. Consi­derava as repetições de qualquer ordem sempre previsíveis e esvaziadoras de sentidos maiores da vida. As experiências, ahhh, sim, as experiências alquimizavam as cores do horizonte dela-dele trazendo nuances de rosa, tons pastel em degrades delicados, quando se punha a pintar aquarelas para decorar seu quarto de sonhos. Ainda na infância, o menino-menina brincava com bonecas diversificadas, algumas artesanais, de madeira ou de algodão, que seu paciente e talentoso tio fazia. Nada de brinquedos prontos. Nada de alegrias serializadas, com cheiro de indústria cega e fria. Nada de diversão comoditizada, com Barbies ou Falcons bocejando entediados nas prateleiras das lojas. Na hora das refeições, nossa personagem saboreava as delícias do tudo-junto-e-misturado. Arroz com feijão, pato com molho de laranja, doces e salgados entrelaçados, convivendo em placidez com as papilas e a gula de sua língua tão acesa. Eram muitos desejos morando dentro. Ela-ele desde cedo também descobriu que possuía hormônios mesclados em sua fisiologia e glândulas. Estrógenos, testosteronas e afins. Aí achou engraçado ao detectar sua energética determinação, proatividade e dinamismo no exercício de certas tarefas. Bem como observou seu olhar lânguido e contemplativo, debruçado sobre o passeio das nuvens em mutantes e transitórias formas, que lhe preenchiam de surpresas o teto maior, acoplado lá no firmamento, de sua sagaz existência. Ao crescer, ele-ela farejou outras demandas, que lhe atiçavam comichões nos neurônios. Estudar astrologia, ciências, dedicar-se a atividades ao ar livre, manter romances explícitos com as rajadas de vento e as lambidas dos raios de sol, deliciosamente tingindo sua pele de puro ouro. Eram muitos anseios morando dentro. Percebeu a paixão gradual pela literatura de todos os gêneros, a poesia, o levitar de sua alma inquieta e buliçosa. Caminhou suavemente pela mitologia, as histórias da medusa e as serpentes, o Cérbero, sátiro, centauro, cujas naturezas mesclavam frequentemente o humano, o monstruoso e o animal. Volta e meia, nossa personagem refletia sobre sua condição irisada, caleidoscópica, como se flagrasse sendo mais que uma criatura no planeta, um verdadeiro “risoto de pessoa”. Ele-ela dirigiu-se então, já na idade adulta, à esfera dos pensamentos e emoções. Todos importa sublinhar, turbulentos, contrastantes e paradoxais. Detectou logo de saída uma enorme bagunça na alma. Ódio e amor, Inveja e benevolência, mesquinhez e generosidade, individualismo e fraternidade, ciúmes e desapego, egocentrismo e solidariedade. Tantas emoções e sentimentos acotovelando-se apertados, entre uma e outra respiração entrecortada ou desabafos solitários. Eram muitas contradições morando dentro. De repente, deu-se conta de que, no laboratório de suas vivências, estes sentimentos não poderiam excluir-se mutuamente. Nem se desgarrar uns dos outros. A fusão, a mistura de opostos tornava-se, no caso, imprescindível para a manutenção e fortalecimento de sua saúde mental. Abrindo um parêntesis, quantos de nós alijamos o que aparentemente nos enfeia e apodrece, como ódio cumulativo e rancores em profusão, erguendo suas soturnas moradas no desterro da inconsciência. Talvez seja perigoso ou danoso, imaginamos, agregarmos todos, a um só tempo, no mesmo laboratório, submetendo-os a transformações e metamorfoses substanciais. Fel e mel. Dor e Alívio. Amargura e Amar cura. Certa vez pegou-se na leitura de Orlando, de Virgínia Wolff obra na qual se observa a alternância dos gêneros masculino e feminino. Nossa personagem flagrara-se homossexual, bissexual, transexual talvez neste episódio? Não. Mas dispunha-se a acolher, a partir de então, as premências de aceitar, intimamente, a livre expressão de desejos sexuais amplos e diferenciados. Desejos, aliás, que nem sempre precisava externalizar ou colocar em prática. Como, por sinal, aquelas súbitas raivas e fúrias propulsoras de instintos assassinos. Você se pergunta neste instante: ele-ela tem um nome? — é a inquietação inevitável. Sim, pencas deles. Daniel, Joana, Flávia, Paulo, Ana, Rogério, você, eu e todos os iniciados por cada letra do alfabeto. O vizinho estranho da porta ao lado, seu pai, mãe e aparentados. É muita gente disputando espaço dentro de você. Enfim, cai a ficha: percebemos reunir em nosso psiquismo um vasto espectro de possibilidades e mosaicos mentais, emocionais e atitudinais. Mas nos dá medo, muito medo, admitirmos essa realidade e tentarmos conviver civilizadamente com nossos anjos e demônios. O mais cômodo e auto apaziguador é atirarmos uns nos outros, como em uma agitada partida de paint ball, tudo o que nos mancha, desagrada e até envergonha. Teimamos esconder essa bagagem maldita nos armários da dissimulação cotidiana ou sob as penumbras do tapete da nossa comportada sala de visitas social. Escondemos tudo. Nossos gritantes defeitos, hábitos perniciosos, falhas de caráter eventuais e permissivas faltas de ética. Afirmamos, porém, que tudo é lindo e maravilhoso. A harmonia existe, embora você duvide. O sol se casa com a lua, as alvoradas com os crepúsculos, Os eclipses com as estrelas. A proposta é deixar estas uniões acontecerem. Faz bem à nossa felicidade aceitarmos e aplaudirmos todo o tipo de sinergias que permeiam nossa personalidade. Uma provocação: que tal dispor-se a saborear, em sua próxima refeição, o eventual exotismo de um frango flambado na cerveja, um linguado ao molho de maracujá… Hum… Só falta fecharmos os olhos e entregarmos o corpo, o espírito e o paladar a deleites inusitados. Porque aí você já compreendeu que — deixando todos os receios e senões de lado — convém sentar-se à mesa com todas as pessoas que moram em você. Mas não para por aí. As sensações vão além e excedem qualquer expectativa para quem admite ser múltiplo. Creia. Há indescritíveis orgasmos à sua espera. Experi­mente oferecer-se a eles. Graça Taguti é jornalista e escritora. via Revista Bula

Confidências póstumas de um cego

Itaney Campos Não, não guardo raiva ou pesar pelo que me aconteceu. Aqui e agora já não há espaço para esse tipo de sentimento. As tragédias têm reduzida a sua dimensão, passam a representar apenas um infortúnio a mais, no oceano de carnificina que é a existência humana no mundo. No entanto, não posso negar que me pesa algum desconforto, uma certa insatisfação, algo que me constrange fundamente. Não, não chega a ser um aborrecimento. Na verdade, não sei definir essa sensação. Percebo que o que não me satisfaz é a consciência que esse fato, de que fui vítima, e seus protagonistas, não estejam completamente identificados e suas circunstâncias efetivamente desvendadas. Agora, em olhar retrospectivo continuo tendo dificuldades de reconstituir a ocorrência, de visualizar os seus personagens e individualizar as condutas de cada um. Eu me vejo inicialmente no interior de um veículo, reconheço que ali estou a contragosto, alimentando uma sensação de insegurança. Gostaria de saltar do automóvel, mas algo me impede. Já nem sei se estava amarrado ou algemado ou preso à lataria do veículo. O motorista não me ouve, faz ouvidos de mercador às minhas súplicas. Logo em seguida, já me vejo sob a mira de uma arma, um sujeito estranho profere ameaças, me insulta, brada que eu mereço a sova que vou levar, o sofrimento que vou ter de expiar. Observo que havíamos saído da estrada municipal e, depois de seguir por uma estradinha vicinal, numa distância aproximada de quinhentos metros, o veículo estacionou no meio do cerrado, a cerca de cinquenta metros daquele trilho. São dois os elementos que me mantém imobilizado, amarrado com os braços para trás. Posso vê-los, estão de pé, do lado de fora, ambos armados. Não os reconheço, mas a intuição me diz que meu fim se aproxima. Eles mencionam meu envolvimento com uma mulher, cujo nome declino de registrar aqui, acrescentando os meus algozes, aos gritos, que eu devia aprender a respeitar família alheia, comportar-me como pai e marido de mulher honesta, e não como um desgraçado que faz a desgraça dos outros. Naquele momento, percebi nitidamente que suas palavras iradas serviam de alimento à sua raiva, queriam encher-se de ira, provocar-me, para, então, descarregar sobre mim o seu ódio. Tento argumentar, no pouco espaço de tempo deixado por suas maledicências, por suas maldições, procuro mostrar que fui seduzido por aquela mulher, que não fui o primeiro com quem ela mantivera um caso clandestino, traindo o marido. E foi aí que me dei conta de que estava sendo alvo de vingança, que se tratava ali de crime encomendado, e minha morte era a empreita. Reparei que as armas se tratavam de dois revólveres cromados, de cano longo, provavelmente de calibre 38.0. Quando pronunciei as primeiras palavras para tentar convencê-los a desistir da empreitada, porque teriam maior ganho com o que eu lhes poderia pagar, senti o relâmpago da dor percorrendo meu corpo, penetrado por uma sequência de balas. O barulho seco dos estampidos feriu duramente os meus ouvidos. Uma dor agudíssima no peito me fez consciente de que uma das balas me transfixiava o pulmão. Ou, quem sabe, o coração. Senti-me desfalecer, a friagem que me avassalou o corpo era indicativo seguro de que um processo de hemorragia interna se desencadeara. Fui perdendo a consciência como se mergulhasse na escuridão de um poço sem fundo. No entanto, eu ainda percebia alguns sons, tinha consciência do meu corpo fragilizado, um último lampejo de lucidez exigia que eu lutasse contra aquele torpor mortal. Foi nesse momento crucial, de agonia inigualável, que senti a violência de mãos segurando-me a cabeça, puxando-me os cabelos, expondo meu rosto desfigurado e forçando-o para cima. Aquele que se jogou sobre mim tinha uma faca na mão direita. Meu corpo, que já pendia para a esquerda, foi violentamente empurrado contra a lateral do carro, vindo a ficar apoiado na lataria, meio fletido. A cena que se seguiu já não posso precisar se tive consciência dela no momento mesmo de sua ocorrência ou se só agora, em consideração retroativa, apreendo a sequência de sua execução. Lembro-me bem e, ainda me dói de forma lancinante essa lembrança, que algum resquício de consciência latejava em meu cérebro. De alguma forma, ainda que minha pressão sucumbisse, a friagem enrijecesse meus músculos e doessem os meus ossos, eu sentia que uma facada impiedosa seria desferida sobre o meu corpo inerte. Os meus carrascos tinham pressa em concluir o seu serviço macabro. Só não pressentia, e nem pressenti no ato, porque possivelmente só agora tomo consciência disso, que o golpe cruel se dirigia para o meu globo ocular. A lâmina entrou rasgando no meu olho direito, em meio ao sangue que esguichava. O executor não se perturbou, aparentemente, com o jato de sangue que escorria por sua mão, seu antebraço e atingia sua camisa. Nervoso, cortava os nervos, veias e artérias, na tentativa de extrair o globo ocular, provocando um fluxo contínuo de sangue que se espalhava pelo encosto do banco e respingava no meu rosto, no seu rosto, na lataria e nas imediações das poltronas traseira e dianteira. O procedimento e a crueldade compulsiva repetiram-se no outro olho. Consumada a tarefa, as órbitas vazias exibiam uma massa de sangue a extravasar pelo rosto, entranhando-se à barba mal feita. De posse da prova da execução do serviço, retiraram-se os malfeitores do local, em um outro veículo. Havia mais de duas horas que se fizera noite fechada. Só na madrugada do dia seguinte as diligências empreendidas pela família e pela polícia lograram localizar-me, sem vida e sem os olhos, no local da minha morte. Da minha morte matada. Como disse, já não guardo mágoas, nem ódios, nem ressentimentos ou qualquer outro sentimento que me comova. Nem mesmo a alegria das lembranças dos convívios, dos amores, do bons negócios que realizei. Observo os eventos tumultuados ou não da minha vida como se observasse uma nuvem que passa, uma mosca que pousasse sobre uma mesa, guardando distanciamento e quase indiferença. Mas me perturba ainda constatar a ignorância humana sobre os fatos mais evidentes. As circunstâncias da minha morte continuam envoltas por um véu de imprecisões, de indefinições, de interesses escusos e especulações malévolas. Há quem tire proveito, evidentemente. Não que eu pretenda que os meus carrascos e o mandante sejam punidos. O que incomoda e estarrece são as invenções, as fantasias e a cegueira generalizada, a despeito da evidência solar dos fatos. Noticiada a minha morte, que comoveu a família e alguns poucos amigos — porque espantoso número aprovou tacitamente o episódio ( “agiota geralmente termina assim”; “ele sempre foi impiedoso nos negócios”) — fez-se circular a versão de que, por haver denunciado uma rede de tráfico de drogas na cidade — eu fora executado, como queima de arquivo, pois presenciara, em um dos meus imóveis alugados, os inquilinos estocando pacotes de cocaína. Mais do que isso, eu teria testemunhado o grupo a aspirar cocaína, enquanto se divertiam com um carteado, na varanda da casa que há pouco lhes alugara. Algumas testemunhas relataram que no dia do meu assassinato me teriam visto em um bar, bebendo em companhia de pessoas estranhas, novatas na cidade, Outras informaram ter presenciado comportamento estranho da minha parte, com aparência de estar embriagado ou mesmo drogado, e houve até quem comentasse ter havido murmúrios do meu envolvimento com drogas proibidas. À meia boca, discutiu-se se não seria a droga o fator determinante de minha impulsividade sexual. Quanta fantasia, quantas mentiras e maledicências. É certo que se chegou a aventar a possibilidade de crime passional, a título de vingança de algum marido traído, porque a fama que corria é de que eu não poupava as mulheres dos amigos, e nem dos inimigos. Sedutor incorrigível, eu semeava chifres nas testas de conhecidos e desconhecidos. A pobre da minha companheira passava horrores, suportando os meus incontáveis envolvimentos com mulheres. Mas essa hipótese foi logo descartada. A suposta amante foi ouvida e jurou, de mãos postas e joelhos, ao chão, sua fidelidade ao marido, a bondade angelical deste e sua completa aversão à minha pessoa. Ela, que ameaçara matar-se por mim, caso eu renegasse os seus carinhos ardorosos. Ela, que todas as noites sonhava estar imersa no azul profundo dos meus olhos. A cidade preferiu dar vazão à versão que relacionava o assassinato ao negócio de drogas, à execução a mando de traficantes. Pouco a pouco, à medida que a investigação se desenvolvia, emergia dos depoimentos, encarnado em minha pessoa, um dos mais importantes chefes do tráfico de drogas da região. As investigações estenderam-se por meses. O processo tramitou ao longo de cinco anos. No dia do julgamento, os sete jurados, por unanimidade, declararam a absolvição, por insuficiência de provas, dos dois acusados de minha morte, notórios usuários de drogas da cidade, molambos que não tinham onde cair mortos. Um deles foragira e fora julgado à revelia. O outro, catador de lixo e furador de covas no cemitério, após levar uma esfregada do Delegado, foi colocado na rua, por ordem do juiz, em consequência de sua absolvição. O meu desconforto, repito, não se deve à impunidade dos meus executores e do mandante de minha morte, mas à rede de intrigas e invencionices que se tramou em torno do triste episódio. Não julgo, apenas constato. E encerro minhas confidências parafraseando a Bíblia: os que tem olhos para ver, que vejam; os que tem ouvidos para ouvir, que ouçam! Itaney Campos é escritor. Desembargador do TJGO.

O último concerto de Philip Seymour Hoffman

“O Último Concerto”, dirigido pelo cineasta Yaron Zilberman, é um pequeno grande filme que discute valores (e arte, e amor, e a vida) de forma delicada e sem ser piegas embalado por música emocionante

Vizinhos incômodos

Geraldo Lima Especial para o Jornal Opção Morar próximo à natureza tem seu preço. É romântico e saudável, mas tem seu preço.Normalmente esse “morar próximo” significa invadir o habitat natural de algumas espécies de animais. Somos nós, seres humanos, os invasores em todos os casos. Por mais que tenhamos boas intenções e ideias preservacionistas, ainda assim somos invasores. A natureza dispensa nossa presença. Ela basta a si mesma. E, quanto for preciso, ela vai nos cobrar por esse espaço que lhe foi subtraído. Agora mesmo, mal começou o mês de outubro, trazendo as primeiras chuvas, eis que uma horda de besouros “Onthopha­gus taurus” da ordem Coleo­pte­ra, conhecido vulgarmente como “besouro rola-bosta”, procura a todo custo invadir a nossa residência. Buscam, ansiosos e persistentes, gretas nas portas e janelas que lhes permitam ganhar o interior da casa. Vêm atraídos pela luz. O gesto é fanático e suicida. Amanhã estarão todos mortos, geralmente de pernas pro ar, numa demonstração trágica do quanto lutaram pela vida na frieza da cerâmica. Embora saibamos que esses insetos não representam nenhum perigo à nossa saúde, nos sentimos incomodados com sua presença — eles, como kamikazes, chocam-se contra a parede, estatelam-se no chão, giram ruidosos em volta da lâmpada, tiram a nossa concentração, obrigam-nos a ficar de portas e janelas cerradas, e, vez ou outra, ouvimos o estalar de um deles sob a sola dos nossos calçados. Minha esposa, por pouco, não juntou um desses bichinhos frenéticos ao cozido de carne e batata. Para outros povos isso seria só um ingrediente a mais, mas não é o nosso caso. Disse que nos sentimos incomodados com a presença desses insetos. Para eles, com certeza, a recíproca é verdadeira. Aqui estamos nós, na divisa com uma reserva ambiental, trazendo incômodo e sedução fatal para esses pequenos seres em busca de acasalamento. Esse é o momento em que as larvas saem da terra, já como besouros, para se reproduzirem. Poucos indivíduos da espécie alcançarão, no entanto, o seu objetivo. Dizem as pesquisas que setenta por cento deles morrem, ficando a cargo dos trinta por cento que sobrevivem a responsabilidade da procriação e preservação da espécie. Sabendo disso, tento fazer a minha parte para ajudá-los: procuro sempre devolver os invasores à escuridão da noite, onde a luz artificial não funcione como armadilha. Sei que o gesto é meio inútil, alguns já nem têm mais forças para voar. Jogo fora, na verdade, seres sem vida. Como não posso ir dormir assim, cercado de cadáveres, procuro alívio para minha consciência na teoria darwinista da “seleção natural das espécies”, dando-me conta de que a natureza acha, assim, seu modo de se manter em equilíbrio. Geraldo Lima é escritor, dramaturgo e roteirista.