Por Natália — Livraria Palavrear

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Há oito anos é tempo de Palavrear

A Livraria Palavrear fará 8 anos, sexta-feira, 24 de outubro. É o aniversário do meu sonho. A livraria que a Natália menina/adolescente/mulher sempre sonhou.

Desse jeitinho, como se alguém tivesse materializado, literalmente, cada pensamento que sempre tive de como seria uma livraria. E foi. A escrita, sempre que é para falar da Palavrear, será emocionada e apaixonada, porque é assim que eu a vivo.

Livrarias de rua parecem sempre ter um ar utópico, algo pertencente à categoria de negócios feitos para não dar certo.  Ainda bem que não o são. Ainda.

Pois a Palavrear está aqui, como uma celebração de que os livros ainda resistem, permanecem e seguem como uma das formas para ler o mundo.

Sempre digo que, por trás de cada livraria, há uma pessoa sonhadora. Assim, vou continuar sonhando com muitos anos a mais para a Palavrear, mesmo que um de cada vez.

Acreditando na sobrevivência, resistência e lutas, mínimas e necessárias, de uma livraria de rua. Pois investir nos livros exige um bocado de otimismo e perseverança. E otimismo. E paciência. E paciência. E mais uma dose de otimismo.

Sou, por natureza, uma otimista angustiada, e é assim que conduzo uma livraria de rua. Vejo um mercado que sangra aos poucos, mas que sempre tem os que, como eu, são afeiçoados pelo passeio nas estantes, pela descoberta de novos livros, autores, editora; pela epifania de que, em uma livraria de rua, o tempo pode ter seu descompasso.

A Palavrear ter nascido no mesmo dia do aniversário de Goiânia não é uma coincidência. Faz parte da nossa essência o senso de comunidade, de criar um espaço vivo e acolhedor para as pessoas se encontrarem, trocarem ideias e celebrarem a cidade através dos livros.

Nossa comemoração esse ano é mais modesta. As agruras de um comércio esbarram também em um negócio afetivo, mas ainda assim é uma celebração e agradecimento a cada cliente.

Modesta, mas nem por isso menos importante no nosso principal objetivo: agradecer a cada um dos clientes que apoiaram e mantiveram a Palavrear viva nesses 8 anos.

Na sexta, feriado aqui em Goiânia, teremos a nossa tradicional feira de livros, com muitos descontos. E mais do que uma feira, a celebração é um agradecimento aos leitores e à cidade que ajudaram a construir a história da Palavrear. Um presente para quem acolhe a literatura.

Além de oito editoras com um desconto ainda mais especial, sendo elas: 

  • Cia das Letras;
  • Record;
  • Unesp;
  • Dublinense; 
  • Veneta; 
  • Carambaia; 
  • Boitempo;
  • Editora 34.

E também um brunch, das 09h às 12h, pensado especialmente para a data, também em homenagem ao aniversário de Goiânia. Um convite para festejar a existência e a resistência das boas histórias nessa cidade.

Sabemos que nosso desconto não vai ser nem de perto o que a Amazon pratica em algumas datas, e nem é nossa intenção isso. Afinal, para ela ter esse desconto, como já destacamos várias vezes, ela sufoca pequenas editoras e, futuramente, a bibliodiversidade e pequenas livrarias, que deixarão de existir.

Ela é uma gigante que trabalha com volumes enormes, e muitas vezes vende livros até abaixo do preço de custo, porque ganha em outras frentes.

Nós, livrarias de rua, fazemos o oposto: cada livro vendido ajuda a manter o espaço vivo, a pagar os salários da equipe que te atende, a luz que acende o cantinho de leitura, o café quentinho que te espera, o aluguel dessa casa linda que acolhe, os eventos literários gratuitos que a gente faz com tanto carinho.

Comprar aqui é escolher fazer parte de uma comunidade que acredita que livro é mais do que produto. Ele é encontro, é conversa, é afeto. 

Para evitar o predadorismo, temos aí a Lei Cortez, que é o respeito ao preço de capa, onde os lançamentos devem ter o mesmo preço por 12 meses.

Mais justo para todo mundo, não é mesmo?

Ano passado li ou ouvi, em algum lugar, não me lembro ao certo, que “7 anos para uma livraria de rua é como 91”. Gostei da analogia e, seguindo essa lógica, 8 anos da Palavrear equivalem a 104.

8 anos para uma livraria de rua é uma vitória! Não só para quem está envolvido no negócio, mas para a comunidade que se cria em torno dela: a livraria.

Livrarias são ponto de encontro, espaços de trocas e afetos. Por aqui, já vimos amizades serem feitas, relações estreitadas, afeições serem construídas, relacionamentos iniciarem. Vimos crianças crescerem, famílias aumentarem, casamentos acontecerem.

Somos muito mais que uma livraria. Uma comunidade. Afeto. Dedicação. Amor em cada evento que fazemos gratuito.

Dedicação em cada lembrancinha presenteada como experiência a mais no Clube Contemporâneo. Afeto em toda decoração do Clube Palavreando pelo Mundo. Comunidade em cada um que chega para o Clube de Poesia Goiabeira.

E temos um orgulho danado de abrigar, aos pés da nossa goiabeira, esse clube de poesia, que nasceu e foi fundado por três queridos participantes do Clube Contemporâneo: Adriana, Renato e Ricardo.

Fica aqui registrado meu agradecimento por me acolher nesse caminho e fazer da Palavrear o cenário onde a poesia se encontra.

Obrigada por nos escolherem.

Agradeço a cada um que permanece nos clubes, aos que ocupam a livraria, aos que confiam em nossa curadoria, nossa indicação.

A quem prioriza a compra aqui, nesse espaço físico.

A quem escolhe esperar o livro chegar, na contramão da pressa, da entrega rápida, ao avesso de um mundo que não pensa em pausas.

A quem caminha ao lado, que vive, respira e faz a Palavrear.

A quem escolhe a casa e suas sombras para clubes de leitura, mesmo com as adversidades externas.

A cada cliente que passa para um café. Aqueles que vêm todos os dias. Os que vêm de vez em quando. Os que vão a todos os clubes. Os que vão só em um. Os que acompanham os livros, mas não vão, mas sempre estão por aqui, entre nossas prateleiras.

A cada um, de verdade: meu muito obrigada por fortalecer, manter e gostar da minha, da sua, da nossa Palavrear.

P.S: não posso finalizar sem agradecer a duas pessoas, em especial:

José, meu eterno livreiro. Acho sempre inconcebível, chegar na Palavrear e não te ver.

Adriana Crispim, representando todos os clientes Palavrear: meu eterno obrigada por ser, viver, pensar e respirar a Palavrear. Se chegamos até aqui, aos oito anos, foi graças também a sua amizade, amor pelos livros/livraria, e sua incondicional parceria. Seguimos juntas!

Então, nesse aniversário de oito anos, a gente te convida pra celebrar com a gente:

Para aproveitar o desconto especial, claro, mas também para brindar à história que construímos juntos, página por página. A celebrar a livraria de rua, independente, feita de pessoas para pessoas, com alma.

Feita de quem ama livros.

Vem comemorar com a gente, esses oito anos de muita paixão, muita dedicação, muito trabalho. Pois é amor, mesmo quando existe medo, angústias e preocupação.

 “Onde termina a identidade de um livreiro e começa a sua livraria?” Jorge Carrión

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Para evitar o predatismo, estamos lutando pelo respeito ao preço de capa, que é a Lei Cortez, onde os lançamentos devem ter o mesmo preço por 12 meses. Mas enfim, vamos ao que pensei em realmente em escrever nesse espaço.

Poderia ser sobre o aniversário da 7 anos da Livraria Palavrear, que acabamos de completar na última quinta-feira. Poderia ser sobre os eventos em comemoração a esse aniversário: o jazz com Fabiano Menezes, Marcelo Maia e Fred Valle, em uma noite linda aqui na livraria, seguido pela nossa já tradicional feira de livros promocionais, que acontece todo ano, no dia 24 de outubro, como um presente para a cidade e para nossos clientes/amigos, que fazem a Palavrear junto com a gente, e finalizando em um sarau, sábado, no jardim, em uma feirinha de troca de livros, mostrando que a literatura é isso, pulsante, viva, dinâmica.

Ou ainda escrever sobre um livro que acabei de ler e não me canso de indica-lo, na Palavrear e com todo mundo que converso (e que vai ficar para uma próxima coluna).

Mas decidi falar, ou melhor, escrever, sobre um tema que a dias venho pensando: em livros que gosto de indicar, mas confesso que não sei se gosto.

Assim, aqui estão quatro livros para os quais inventei essa nova categoria, a de livros que talvez eu goste:

  • Estação atocha – Bem Lerner
  • A terceira vida de Grange Copeland – Alice Walker
  • Tudo de bom vai acontecer – Sefi Atta
  • Indígenas em férias – Thomas King

Estação Atocha, um livro que ainda me pergunto se gostei ou não: tem uma escrita diferente, daquelas que devemos ter cuidado para não perder nenhum detalhe.

Adam Gordon é um americano vivendo em Madri com um bolsa de estudos. Se diz poeta, mas passa mais tempo flanando e fumando pelas ruas do que propriamente escrevendo.

A princípio, ele nos parece um personagem intragável, mas ao longo da narrativa percebemos que tudo que ele faz, ou deixa de fazer, são maneiras de disfarçar sua insegurança e ansiedade.

Um livro simples, vemos que Adam é bem fruto da sua geração: aquela que não consegue vivenciar os momentos que está vivendo, seja emocional ou material.

Como uma espécie de observador externo do próprio momento em que vive. Isso define bem o Adam.

É escrito de maneira muito sincera, e é uma leitura divertida. Faz várias referências a obras de arte, literatura e acontecimentos históricos. Mas ainda não sei se gostei.

Já em A terceira vida de Grange Copeland, acredito que o livro tenha desempenhado sua função, pois vira e mexe, me vejo pensando nessa história escrita de maneira tão crua, como uma narrativa carregada de tensão, que mesmo ao fim da leitura, não terminou em mim.

Racismo, machismo, violência contra a mulher, dificuldade de romper ciclos de violência, tudo isso está aqui, no primeiro livro da autora do famoso “A cor púrpura”, Alice Walker.

Nos Estados Unidos pós-guerra civil, vemos os resultados psicológicos e traumáticos de uma exploração e violência que não terminou com o sistema escravocrata.

As insatisfações dos homens no livro são todas descontadas nas mulheres, sejam esposas ou filhas dos personagens, mostrando que o patriarcado é o sistema dominante, sempre, sobre as mulheres.

Gosto como Alice Walker mostrou a origem da violência dos personagens, ao mesmo tempo em que não usa desse passado para justificar a violência que esses personagens perpetuam no presente, passando de oprimido a opressor.

Não foi um livro fácil nem otimista, e nos mostra a violência direta, crua, real.

Outro livro dessa categoria de livros que não sei se gosto, mas acho que você deve ler, é o Tudo de bom vai acontecer, de Sefi Atta.

Durante a leitura, a impressão que tinha era de alguém me contando, enquanto tomávamos um café, os últimos acontecimentos políticos e como foi a vida em Lagos, na Nigéria. O contexto político marcado pela corrupção, ditadura militar e opressão de gênero na Nigéria dos anos 70 e 80.

Quem nos conta essa história é Enitan, que começa aos 11 anos e vai narrando até a vida adulta. É legal ver como Enitan vai se desconstruindo ao longo da narrativa: de uma menina que perpetrou o machismo estrutural em que foi criada, a uma mulher que luta pela liberdade e independência financeira, mesmo que isso lhe custe seu casamento e convívio com aqueles que ama.

Enitan me fez pensar muito sobre o papel da mulher nos serviços domésticos. Como a gente emancipa a mulher deles sem colocar alguém no lugar? Não substituindo pessoas, mas padrões de comportamento.

A mesma temática abordada por Chimamanda em “Meio sol amarelo”, mas de uma perspectiva totalmente diferente.

De todos que citei até agora, o que eu mais tenho dúvidas se gostei ou não, é Indígenas em férias. Thomas tem uma escrita cheia de humor e ironia, e já subverte os preconceitos no próprio título, em que “índio”, um termo genérico imposto aos povos originários, nos mostra um casal de férias tipicamente ocidental, uma atitude que a maioria das pessoas não imagina que os nativos possam ter. É uma perspectiva interessante esse livro, desde o título subvertendo nossa lógica estereotipada.

E o autor, em uma entrevista, disse que esse livro foi uma tentativa de destruir essa noção estereotipada dos indígenas, já que ele próprio, Thomas King, foi um dos primeiros escritores indígenas norte-americanos.

Conseguiu construir personagens longe dos clichês, personagens indígenas contemporâneos e, ao mesmo tempo, preservando as tradições da oralidade.

Ele usa muito ironia e humor para tratar assuntos sérios, dando um certo ar de leveza.

Blackbird e Mimi Bull Shield são o casal indígena em férias na República Tcheca. Ao mesmo tempo em que vão nos mostrando os pontos turísticos e histórias das cidades, eles resgatam a história colonial do Canadá e das Américas.

Uma das reflexões que o livro traz, é a respeito da saúde mental de Blackbird. Com depressão, ele não consegue aproveitar tudo que a viagem proporciona. Mas a impressão que temos, é que ele se sentirá assim em todo e qualquer lugar.

Enfim, pode parecer estranho, indicar livros que talvez goste, talvez não, mas é que eu ainda acredito que esses livros tem o que Kafka dizia ser a função da literatura: algo que me “incomodou” de alguma forma, que me faz pensar neles mesmo depois de tempos lidos. E também sempre defenderei a ideia de que sempre tem um livro para cada leitor.

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