Por Euler de França Belém

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Morre Joffre Rezende, uma lenda da medicina brasileira

Morreu na segunda-feira, 26, em Goiânia, uma lenda da medicina brasileira (e não apenas goiana): o gastroenterologista Joffre Marcondes de Rezende (foto acima), de 93 anos. Ele era um dos maiores estudiosos mundiais da doença de Chagas. Joffre Rezende nasceu em Piumhi, em 19 de maio de 1921, e mudou-se para Goiânia em 1954. Ele foi professor da primeira turma de Medicina da Universidade Federal de Goiás e fundador da “Revista Goiana de Medicina” e seu primeiro editor. Editou-a durante 45 anos. É também o criador da biblioteca da Faculdade de Medicina. Era um professor do estilo enciclopedista, segundo ex-alunos. Autor de livros e artigos, Joffre Rezende era um sábio. Escrevia muito bem e sabia mais português do que muitos gramáticos. Seus textos são primorosos. No livro “Memórias de Nossa Gente”, editado pelo médico Hélio Moreira, há um excelente ensaio-biográfico sobre Joffre Rezende. Hélio Moreira escreve: “O Dr. Joffre Marcondes de Rezende é uma figura cuja imagem de homem culto ultrapassou os limites das suas circunstâncias; no entanto, sua personalidade extremamente reservada não tem permitido que a coletividade goianiense e, por extensão, a brasileira, o conheça na sua intimidade. Gostaria de exemplar o que estou afirmando com um simples fato: em 2009, ano em que se comemorava o centenário da descoberta da doença de Chagas, a Fundação Oswaldo Cruz/Editora publicou um livro que é um marco na literatura médica brasileira; foram selecionados para figurar nesta edição os 15 mais importantes artigos publicados nos últimos 100 anos a respeito do assunto — doença de Chagas, incluindo neste rol os do próprio descobridor da doença em 1909; para nosso orgulho, um dos artigos da lavra do Dr. Joffre foi um dos escolhidos; apenas para reforçar o valor desta seleção, sabemos que até 1999 haviam sido publicados, somente no Brasil, cerca de 10.100 artigos sobre a doença de Chagas. Dr. Joffre comentou este fato com poucos e mais próximos amigos, nada foi divulgado em Goiânia a este respeito!". Hélio Moreira, que sabe das coisas, está certo: Joffre Rezende era um grande médico, um mestre dos superiores e um homem de vasta cultura. Um humanista em tempo integral — sábio, civilizado e discreto. [A fotografia acima é da Universidade Federal de Goiás]

Ernesto Roller diz que Tião Caroço perdeu prestígio e não luta pra manter cargos estaduais em Formosa

O deputado estadual eleito Ernesto Roller (PMDB) disse ao Jornal Opção que não quer ficar discutindo a possibilidade de o conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios Sebastião “Caroço” Monteiro ser candidato ou não a prefeito de Formosa. “O que posso dizer, sem receio de errar, é que Tião Caroço não tem mais tanto prestígio em Formosa. Uma candidatura dele não é para ajudar a cidade, mas sim para tentar me atrapalhar. Há políticos que não percebem que os eleitores não toleram perseguição.” Ernesto Roller afirma que o governo de Goiás está fechando diversos órgãos em Formosa e transferindo-os para Luziânia. “Por que, se diz que tem prestígio político, Tião Caroço não trabalha para a permanência dos órgãos em Formosa?” O líder do PMDB frisa que o prefeito Itamar Barreta deveria ser mais enfático na defesa dos interesses do município. “Como nona cidade de Goiás, em importância político-eleitoral e em termos de economia, Formosa merece respeito.”

PMDB vai tirar o máximo de proveito da gestão de Paulo Garcia e, na hora agá, vai deixá-lo na chapada

O PMDB adotou a tática da dubiedade na relação político-administrativa com o PT do prefeito de Goiânia, Paulo Garcia. Um grupo vai se manter como bombeiro, diplomático e outro grupo, comandado pelo deputado estadual eleito José Nelto, vai ficar na trincheira — como franco-atirador. É o famoso jogo duplo combinado. Na hora agá, se a gestão do petista-chefe continuar nocauteada, o PMDB certamente não vai ser o responsável por carregar a maca ou, na pior das hipóteses, a alça do caixão político do petismo.

Morre Aloysio Campos da Vaz, o médico que criou a excelência do Hospital Sarah Kubitschek

“Alguém com domínio da técnica sem uma visão humanista torna-se uma pessoa perigosa”, disse o médico que reinventou o atendimento ortopédico, num hospital público, a partir de Brasília

Júlio da Retífica trabalha para manter órgãos estaduais em Porangatu

Dulci Moura Deputado Júlio da Retífica(PSDB) na tarde desta terça-feira, 13/01, participou de uma reunião na ACIAP ( Associação Comercial Industrial e Agropecuária de Porangatu), com varias lideranças e moradores de Porangatu. A pauta da reunião coordenada pelo presidente da entidade, Célio Bueno, fala sobre a possível desativação de alguns órgãos estaduais em Porangatu. O deputado, em suas palavras manifestou que já está trabalhando para reverter este caso. “O que eu posso dizer neste momento a todos, que não tem nada definido sobre o que será realmente fechado! Quem define é o governador. Coloquei uma Emenda Parlamentar das Secretarias Regionais de Porangatu, assegurando-as na cidade e foi aprovado na Assembleia por unanimidade! Caso o governador tenha vetado essa Emenda, será devolvido para Assembleia para uma nova votação. Num primeiro momento o que o Marconi Perillo busca é a redução de despesas para realizar um governo mais ágil, eficiente e produtivo para todos os goianos. Quero dizer a todos que como amigo do governador e suplente de deputado e representante da região norte vou fazer o possível e o impossível para manter esses órgãos em Porangatu, agora cabe a todos, cobrar e buscar apoio também dos deputados eleitos com votos em nossa cidade.” Veja vídeos do discurso do tucano no evento: Dulci Moura é assessora de Marketing Político e coordenadora da Mídia Digital do deputado Júlio da Retífica (PSDB).

Sai em fevereiro a biografia de Divaldo Franco, o sucessor de Chico Xavier

A jornalista Ana Landi, segundo a revista “Veja”, vai lançar, em fevereiro, a biografia do médium Divaldo Franco, de 87 anos, apontado como sucessor do médium dos médiuns, Chico Xavier. Lauro Jardim, da coluna “Radar”, afirma que Franco sustenta que se comunica “com os espíritos desde os 4 anos”. Ele já psicografou 300 livros e “adotou 700 crianças e jovens”. No texto de Ana Landi, publicado abaixo, fala-se em mais de 600 órfãos. Divaldo é o sucessor de Chico Xavier? Pai adotivo de mais de 600 órfãos, Divaldo Pereira Franco é considerado o maior médium do país. Especialistas creem que total de simpatizantes do espiritismo supere 30 milhões Ana Landi O Brasil é a nação com o maior número de seguidores do espiritismo, doutrina criada no século 19 por Allan Kardec, que teve em Chico Xavier sua maior expressão no país. Segundo o Censo 2010 do IBGE, cerca de quatro milhões de pessoas são espíritas. O número é considerado subestimado, pois o instituto considera apenas quem se afirma especificamente kardecista. Especialistas acreditam que o total de simpatizantes do espiritismo supere os 30 milhões. O cenário, no entanto, era muito diferente no início da década de 1930, quando, em uma Feira de Santana (BA) provinciana e predominantemente católica, as primeiras visões começaram a amedrontar o pequeno Divaldo Pereira Franco. Algumas visões eram terríveis. Por vezes tão cruéis, que o menino só conseguia dormir se refugiando na cama dos pais, de mãos dadas com a mãe, dona Ana. Outras, mais amorosas, tentavam consolá-lo ou enviar recados. Uma das primeiras a se identificar foi a avó dele, Maria Senhorinha. O espírito apareceu para o menino de 4 anos, pedindo que chamasse a filha. Divaldo não sabia o significado da palavra avó ou avô. Todos haviam morrido antes de seu nascimento. Dona Ana também não conheceu a mãe, morta por complicações no  parto. Mas o filho insistiu e ela o levou correndo à casa de uma irmã mais velha, Edwirges. Lá, a tia pediu a descrição da mulher que apareceu para Divaldo e ele a descreveu com detalhes. Desse momento em diante, Divaldo ganhou o apoio irrestrito da mãe. Com o pai, as coisas não foram fáceis. Durante anos, o homem simples,  comerciante de fumo, teve um único aliado para fazer o filho parar de falar com os mortos: um chicote feito de cipó de goiabeira. Como tudo começou O primeiro contato de Divaldo com o espiritismo foi em 1944. Mal tinha se recuperado de uma tragédia familiar envolvendo o suicídio da irmã Nair, ele enfrentou novo golpe. Um de seus irmãos, José, morreu vítima de um aneurisma. Em poucas horas, Divaldo deixou de andar e uma paralisia o deixou preso à cama por mais de seis meses.  Quem o curou foi uma famosa médium de Salvador, Ana Ribeiro Borges. Assim que o visitou, ela viu que o problema era espiritual. Seria reflexo da presença perturbadora de José. Aturdido pela morte inesperada, o moço estaria preso ao único na casa portador de mediunidade ostensiva. No mesmo dia, Divaldo voltou a andar. A partir daí, Divaldo iniciou suas atividades como espírita e não parou mais. Mudou-se para Salvador (BA) e abraçou em tempo integral a doutrina e as ações de caridade por ela pregadas. Em maio, ao completar 86 anos, celebra também mais de 65 anos ininterruptos dedicados à população carente e à atividade mediúnica. O médium já fez quase 15 mil palestras no Brasil e em 64 países lá fora. Psicografou mais de 250 livros que, juntos, venderam 10 milhões de exemplares. Nunca ficou com um único centavo das vendas. A renda é doada, em cartório, à sua maior obra: a Mansão do Caminho, entidade beneficente fundada há 60 anos, em Salvador. O complexo, obra social do Centro Espírita Caminho da Redenção, fundado em 1947, tem 83 mil metros quadrados, mais de 50 prédios e atende diariamente a quase 5 mil crianças e jovens de famílias de baixa renda do bairro Pau da Lima, um dos mais carentes e violentos da capital baiana.Tem creche, escolas de ensino fundamental e médio e cursos complementares. Mantém ainda moderno centro de parto normal e laboratório de análises clínicas. Toda essa estrutura emprega mais de 300 funcionários e 400 voluntários em caráter permanente. Acolhimento de órfãos O trabalho assistencial de Divaldo começou no centro da cidade, com o recolhimento de órfãos. Centenas foram chegando, jogados às portas da instituição. Com o tempo, a casa ficou pequena. Com a ajuda de colaboradores, Divaldo e Nilson de Souza Pereira, seu braço direito, compraram o terreno de Pau da Lima, à época um grande aterro sanitário. Ali, construíram tudo praticamente com as próprias mãos. As crianças continuaram chegando. Divaldo adotou, em seu nome, mais de 600. E elas continuam chegando. (Texto extraído do site: http://irmasheila.blogspot.com.br/2013/03/divaldo-sucessor-de-chico.html)

PVC desmaia ao vivo durante apresentação de programa da Fox Sports. Virose e desidratação

Durante o programa “Rodada Fox”, da Fox Sports, no sábado, 24, o jornalista Paulo Vinicius Coelho, PVC, desmaiou ao vivo. Depois do susto, o apresentador Gustavo Villani esclareceu que PVC luta contra uma virose e teve queda de pressão. “Ele teve uma queda de pressão, perdeu estabilidade e teve uma queda no estúdio. Menos mal que não foi nada grave. A gente pode garantir que está sendo devidamente atendido aqui”, afirmou Villani. Ao final do programa, PVC reapareceu e disse que havia se desidratado. “Estou com uma virose e desidratado. Junto com o calor, me fez perder o centro de mim por um instante. Mas estou bem. Amanhã tem jogo, Cruzeiro x Shakhtar, e eu tô nessa. Juro”, disse.

Historiador Marco Antônio Villa adere à crítica panfletária aos governos do PT?

[caption id="attachment_26790" align="alignleft" width="250"]Livro de oportunidade e superficial escrito por um historiador gabaritado Livro de oportunidade e superficial escrito por um historiador gabaritado[/caption] Marco Antônio Villa é um dos historiadores mais brilhantes de sua geração. Pesquisa seus temas de maneira exaustiva e escreve bem, numa linguagem que, sem perder a disciplina acadêmica, o rigor com os dados, é inteligível para além dos campi universitários. “Vida e Morte no Sertão — História das Secas no Nordeste nos Séculos XIX e XX” e “Canudos — O Povo da Terra” são livros memoráveis, vazados numa prosa de escritor. “A História das Constituições Brasileiras”, embora sintético, tem seu valor, explicando, de maneira didática, as principais características de cada Carta Magna e o significado em seu tempo. “Jango — Um Perfil” é uma análise contundente do presidente João Goulart. Nada comparável à solidez de “João Goulart — Uma Biografia”, de Jorge Ferreira. Mas é um bom livro. Porém, de repente, os livros de Villa perderam densidade. Não que sejam ruins ou desonestos. Não são. Mas o historiador rigoroso parece que, encantado pelo discurso liberal de seus “parceiros” na revista “Veja”, se tornou um “cruzado”. Digo “pa­re­ce” porque ainda estou avaliando suas obras. “Um País Partido — 2014: A Eleição Mais Suja da História” é seu último livro. O objetivo de um título é “vender” reportagens e livros. Só que, no caso, o título é por demais abrangente. Claro que se trata da história do Brasil, mas isto não aparece na capa. O principal problema é que a obra não prova, comparando todos os períodos da história do País, que as eleições de 2014 foram as mais sujas “da história”. Fica-se com a impressão de que Villa escreveu uma reportagem, até apressada, e não um livro de história. “Década Perdida — Dez Anos de PT no Poder” não é um livro ruim, mas, de novo, parece mais uma reportagem, talvez um ensaio (ou artigo) longo, do que um exame detido dos anos petistas. A obra apresenta os problemas “criados” pelo PT no poder, tanto políticos quanto econômicos, para não incluir os morais, mas um economista e um cientista políticos atentos certamente, examinando a análise de Villa e os dados do período, não concluirão que a década foi (inteiramente) perdida. É possível que concluam que, apesar de tudo, o País avançou, em vários campos, e não apenas no social. É provável que o “ensaio” de Villa seja tributário, ao menos em parte, das análises da revista “The Economist”. Faltam elementos para conclusões taxativas. Pesquisas nuançadas e distanciadas são escassas e faltam análises detidas, menos engajadas, a respeito dos governos do tucanato e do petismo. O que há são textos de combate político-ideológico. Esta nota é uma ressalva de um leitor que respeita a massa crítica reunida por Villa, mas lamenta uma certa superficialidade nos trabalhos recentes. Sua obra abriu espaço para um certo tom panfletário.

Irismo cria grupo para incensar e grupo para atacar o prefeito Paulo Garcia

Conta-se, nos bastidores, que Iris Rezende, espertamente, criou dois grupos no PMDB. Um para incensar e outro para bater no prefeito Paulo Garcia (PT). O grupo de peemedebistas que incensa o líder do paulo-garcismo quer, única e exclusivamente, manter os cargos e os nacos de poder na Prefeitura de Goiânia. Já o grupo que bate em Paulo Garcia tem como objetivo sugerir, com vistas a disputa de 2016, que o PMDB não era assim tão chegado no desgastado prefeito.

O marqueteiro brasileiro que elegeu sete presidentes da República em vários países

livro_1qUIbeLuiz Maklouf Carvalho, um dos mais experimentadores repórteres brasileiros e autor de livros importantes na área de história — sobre a Guerrilha do Araguaia e a respeito do PT —, lança pela Editora Record a obra “João Santana — Um Marqueteiro no poder” (252 páginas). Trata-se de um perfil biográfico. Duda Mendonça “fabricou” o primeiro Lula, revestindo sua imagem e ideias de certa modernidade, tornando o mais clean e contemporâneo. Mas quem consolidou Lula da Silva, sobretudo depois do desastre do mensalão, foi o marqueteiro e jornalista João Santana, que arrancou o ex-presidente das cinzas e, até, de uma suposta depressão (ou pelo menos melancolia). A segunda missão de João Santana era transformar um poste, Dilma Rousseff, numa candidata a presidente da República aceitável e “comprável”. Por ser inflexível — consta que, pessoalmente, é incorruptível (certas corrupções são mais morais do que financeiras) —, durona e intelectual, a petista era resistente ao trabalho do marqueteiro. Aos poucos, sob pressão e orientação de Lula da Silva (espécie de pai postiço para a presidente), foi aceitando ser moldada, ou ligeiramente “construída”. O resultado é que, embora não tenha se tornado muito simpática, tornou-se mais palatável e foi eleita e reeleita presidente. É provável que João Santana tenha cristalizado, sobre toda a lama pisada e repisada pelo PT e seus aliados, uma espécie de imagem de esfinge para Dilma Rousseff. Com habilidade, firmou a ideia de que se trata de uma política séria — aliás, mais técnica do que política — e não contaminada pelo lodaçal do petrolão. A fama de João Santana alastrou-se pela América Latina e ele fez campanha em outros países. O estelar baiano parece ter tomado a fama de mago do marketing político de Duda Mendonça.

A Lebre Com Olhos de Âmbar é um autêntico diamante para o cérebro dos leitores. Cita Proust e Laforgue

[caption id="attachment_26783" align="alignleft" width="250"]Ao contar uma história familiar, livro resgata história da cultura europeia Ao contar uma história familiar, livro resgata história da cultura europeia[/caption] “A Lebre Com Olhos de Âm­bar” (Intrínseca, 318 páginas, tradução de Alexandre Barbosa de Souza), de Edmund de Waal, é um autêntico diamante para o cérebro. Não é obra de ficção. É a história da família Ephrussi, que, após ganhar dinheiro com o comércio de trigo em Odessa, na Rússia, mudou-se para Paris e Viena, onde, assimilada, se tornou banqueira. Eram judeus refinados e investidores profissionais. Charles Ephrussi não quis ser banqueiro e se tornou mecenas de pintores impressionistas, como Renoir e Degas, e crítico de arte. Ele convencia a elite parisiense, notadamente os milionários judeus de seu convívio, a posar para os artistas e a comprar seus quadros. Ao mesmo tempo, publicava críticas perceptivas sobre sua pintura. Logo atraiu o interesse de Marcel Proust, autor de “Em Busca do Tempo Perdido”. Tornaram-se amigos e Charles Ephrussi é, com alterações típicas formuladas por ficcionistas do primeiro time, Charles Swann. O objetivo de Edmund de Waal é contar a história da coleção de 264 netsuquês — esculturas em miniaturas feitas (de marfim e madeira) por artistas japoneses — que Charles Ephrussi, seu parente, comprou no século 19, em Paris. Quando o banqueiro Viktor Ephrussi e Emmy se casaram, Charles Ephrussi presenteou-os com os netsuquês. Quando Hitler anexou a Áustria, em 1938, os nazistas tomaram todos os bens de Viktor Ephrussi, que foi obrigado a se mudar para Londres. A família ficou sem nada. Não se falou mais dos netsuquês. Porém, mais tarde, ao visitar Viena, Elisabeth, filha do ex-banqueiro, encontrou-se com Anna, ex-empregada da família. Ela havia escondido os netsuquês. Elisabeth Ephrussi, formada em Direito e amiga de Rilke, com quem trocava cartas sobre o fazer poético, levou os netsuquês para a Inglaterra e, de lá, seu irmão Ignace “Iggie” Ephrussi levou-os de volta para o Japão. Edmund de Wall, que é ceramista e professor da Univer­sidade de Westminster, herdou os netsuquês, que voltaram a Londres. A capacidade narrativa de Edmund de Waal, que envolve o leitor com rara delicadeza, é o forte do livro. Resulta que a obra é um qualificado painel cultural do século 19, sobretudo, e do século 20. Uma pequena obra-prima — com rara percepção para o detalhe relevante —, que, acredito, Proust adoraria. Na orelha do livro há um erro. Proust não foi secretário de Charles Ephrussi. A editora confundiu-o com Jules Laforgue. Trecho do livro de Edmund de Waal em que cita Proust e o caso Dreyfus Paris havia se transformado para Charles [Ephrussi, imagem acima]. Ele era um mondain de portas fechadas, um mecenas no ostracismo por decisão de alguns de seus artistas. Imagino como deve ter sido, e lembro-me de Proust escrevendo sobre a raiva do duque de Guermantes: “No tocante a Swann (...) dizem-me agora que ele é abertamente dreyfusista. Eu jamais teria acreditado nisso da parte dele, um epicurista, um homem de juízo prático, um colecionador, conhecedor de livros antigos, membro do Jockey, um homem que desfruta do respeito de todos, que conhece todos os bons endereços e costumava nos mandar o melhor vinho do porto que se pode desejar, um diletante, um homem de família. Ah! Estou muito decepcionado.” Em Paris vasculho os arquivos e trafego entre casas velhas e escritórios, vadiando pelos museus, ora a esmo, ora com excesso de propósitos. Estou planejando uma viagem na memória. Tenho o netsuquê de um lobo malhado no bolso. É quase estranho demais ver como a figura de Charles está entrelaçada à figura que Proust constrói de Swann. Continuo indo aos lugares onde as vidas de Charles Ephrussi e de Charles Swann se interceptam. Antes de iniciar minha jornada, eu já sabia que em linhas gerais meu Charles era um dos dois principais modelos do protagonista de Proust — o menos importante dos dois, segundo dizem. Lembro-me de ter lido um comentário desdenhoso sobre ele — “um judeu polonês (...) robusto, barbado e feio, seus modos eram graves e rudes” — na biografia de Proust publicada por George Painter nos anos 1950 e toma-lo ao pé da letra. O outro modelo admitido por Proust era um encantador dândi e homem da sociedade chamado Charles Haas. Um sujeito mais velho, que não escrevia e não colecionava. Se era preciso admitir existir um primeiro dono do meu lobo, preferiria que fosse Swann — motivado, amado e gracioso —, mas não quero que Charles desapareça em meio às fontes, que ele vire uma nota de rodapé. Charles se tornou tão real para mim que receio perdê-lo nos estudos de Proust. E me importo demais com Proust para converter sua ficção em uma espécie de acróstico da Belle Époque. “Meu romance não tem chave”, disse Proust diversas vezes. Tento mapear as correspondências diretas que meu Charles e o Charles ficcional compartilham, o delineamento de suas existências. Digo ‘diretas’, mas quando começo a passa-las a limpo, elas se revelam uma lista e tanto. Ambos são judeus. Ambos são homens du monde. Possuem relações sociais que vão da realeza (Charles levara a rainha Vitória para passear em Paris, Swann é amigo do príncipe de Gales), passando pelos salões, até os ateliês dos artistas. São amantes da arte profundamente apaixonados pela Renascença italiana, em especial Giotto e Botticelli. Ambos são experts no misterioso campo de medalhões venezianos do século XV. Colecionadores, mecenas dos impressionistas, deslocados ao sol na festa do amigo pintor junto ao rio. Ambos escreveram monografias sobre arte: Swann sobre Vermeer, meu Charles sobre Dürer. Usam sua “erudição em matéria de arte (...) para aconselhar damas da sociedade sobre quais quadros comprar e como decorar suas casas”. Tanto Ephrussi quanto Swann são dândis e ambos são Chevaliers da Légion d’honneur. Suas vidas haviam passado pelo japonismo e chegado ao novo gosto pelo estilo Império. E eram ambos dreyfusistas que descobriram que suas vidas cuidadosamente construídas estavam profundamente rachadas por seu próprio judaísmo. Proust jogou com a interpenetração do real e do inventado. Seus romances possuem um arsenal de figuras históricas que aparecem como elas mesmas — a madame Straus e a princesa Mathilde, por exemplo — mescladas com personagens reinventados a partir de pessoas identificáveis. Elstir, o grande pintor que abandona sua paixão pelo japonismo para se tornar um impressionista, possui em si elementos de Whistler e de Renoir, mas é dono de outra força dinâmica. De modo similar, os personagens de Proust postam-se diante de quadros reais. A textura visual dos romances abarca não só referências a Giotto e Botticelli, Dürer e Vermeer, além de Moreau, Monet e Renoir, mas também o ato de ver pinturas, o ato de colecioná-las e lembrar como foi ver determinada coisa, com uma lembrança do momento dessa apreensão. Swann capta semelhanças de passagem: Odette e um Botticelli, o perfil de um soldado durante uma recepção e um Mantegna. Assim como Charles fazia. Não posso deixar de me perguntar se minha avó, tão composta, tão alinhada em seu vestido branco engomado naqueles caminhos de cascalho do jardim do chalé suíço, sabia o que fizera Charles se agachar e fazer um carinho no cabelo da irmãzinha bonita e compará-la ao seu Renoir da ciganinha. E enquanto Swann, ele é divertido e encantador, mas possui algo reservado, “como um armário trancado”. Move-se pelo mundo deixando as pessoas mais atentas às coisas que ele ama. Penso no modo como o jovem narrador, apaixonado pela filha de Swann, visita sua casa, é recebido com muita cortesia e é apresentado a sua sublime coleção. Esse é o meu Charles, submetendo-se a agruras infinitas para mostrar livros ou quadros aos jovens amigos, a Proust, escrevendo sobre objetos e esculturas com acuidade e honestidade, animando o universo das coisas. (O longo trecho do livro “A Lebre Com Olhos de Âmbar” está entre as páginas 103 e 106. Proust é citado várias outras vezes, inclusive lamentando a morte de Charles Ephrussi, seu amigo, aos 55 anos)                  

Texto da Piauí sobre Chico Buarque sugere que jornalismo é o escorpião de suas fontes

chicoA “Piauí” deste mês publicou dois textos muitos bons. “O irmão brasileiro”, escrito por Fernando de Barros e Silva, é sobre a peregrinação de Chico Buarque, autor do romance “O Irmão Alemão”, em busca da história de seu irmão Sergio Günther, na Alemanha. “O Palestrante Cético” é um perfil, assinado por Rafael Cariello, do economista Eduardo Giannetti. O clima entre Chico Buar­que e Fernando de Barros, autor de um o­púsculo de qualidade sobre o compositor-cantor, é, percebe-se no tex­to, de camaradagem. Mas qualquer repórter é uma espécie de escorpião. Em Berlim, Chico Buarque encontra-se com uma filha de Sergio Günther, Kerstin Prügel, com a filha desta, Josepha Prügel, e com uma das ex-mulheres do irmão, Monika Knebel. Todas ganharam presentes do brasileiro. Menos Michael, marido de Kerstin, cujo sobrenome não é mencionado (deve ser Prügel). Chico Buarque esclarece que a cachaça comprada para Michael havia sido apreendida em Paris, no aeroporto. “Fiquei com a sensação de que havia acabado de inventar a história”, diz o às vezes sutil Fernando Barros. Depois, Chico Buarque diz que Josepha Prügel, sua parente, “lembra a Scarlett Johansson, com um pouco de boa vontade”. Fernando Barros, meticuloso, registra tudo. Sobre a sobrinha, Kerstin Prügel, o escritor diz que tem “cabeça de manga”. Como a família alemã não entende português, portanto não vai ler a “Piauí”, Chico Buarque e Fernando Barros, assim como os leitores, podem rir em paz.

Tatiana Salem detona Ian McEwan e é detonada por Luís Augusto Fischer

i3Curiosidades da vida. Na edição de sexta-feira, 16, do “Valor Econômico”, na resenha “McEwan em obra burocrática”, Tatiana Salem Levy detonou “A Balada de Adam Henry”, do inglês Ian McEwan, numa leitura superficial e apressada do ro­mance. Talvez seja aquela história de pegar um “grande” para sugerir capacidade de divergir de críticos mais gabaritados. É provável que a crítica de Tatiana Salem a McEwan, se se tirar o nome deste, é adequada para o romance da escritora brasileira. Ela está falando de si, quem sabe, ao falar do outro. Na “Folha de S. Paulo” de sábado, 17, Luís Augusto Fis­cher, um dos principais críticos brasileiros da atualidade — que alia talento e coragem —, escreveu, na resenha “Tatiana Salem Levy erra a mão em livro de poucos elementos”, que o romance “Paraíso” é frágil. “Um começo espetacular, num romance fraco, com vários problemas, que termina péssimo. (...) O romance erra a mão em quase toda a linha.”

Surge uma Tchekhov em Goiás. Terezinha Fonseca é uma escritora de raro brilho

i1Há um livro surpreendente circulando em Goiâ­nia, mas fora das livrarias. É literatura de primeira, mas não deve fazer sucesso, por falta de divulgação. O título “À Moda da Casa: Contos Goianos” não ajuda, porque sugere uma literatura provinciana, limitada. Mas não é nada disso. Os contos, baseados em informações reais mas transformadas pela imaginação poderosa da autora, Terezinha Fon­seca, nada têm de provincianos, apesar de as histórias serem provinciais. Há, por assim dizer, alguma coisa do russo Antón Tchekhov nos relatos precisos e não sentimentais de Terezinha Fonseca. A autora mora nos Estados Unidos.

Assim como o Jornal Nacional receava dizer o nome de Tommaso Buscetta, a Fox esconde o nome Caraglio

Quando Tommaso Buscetta (1928-2000) foi preso no Brasil, os apresentadores de telejornais, notadamente os do “Jornal Nacional”, torciam a língua para pronunciar o sobrenome do mafioso italiano. Na terça-feira, 20, ocorreu algo semelhante. Na disputa entre o Vélez Sarsfield e o Boca Juniores, pelo Torneio de Verão 2015, uma das estrelas era o atacante Milton Caraglio. Inicialmente, a Fox Sports começou a chamá-lo de Caraglio, como é conhecido, porém, de repente, o narrador e os comentaristas passaram a nominá-lo de Milton. Ordem superiores, admitiu o narrador Marco de Vargas. Na Copa do Mundo de 2006, segundo o Portal Imprensa, “os narradores brasileiros” fizeram “malabarismos para anunciar o goleiro costarriquenho José Porras”. Nada mais infantil. Quem ficar constrangido devido à citação de nomes como Buscetta, Caragligo e Porras, que não têm nada de acintoso, precisa de analista — quem sabe, com certa urgência. Editores de jornais e emissoras e redes de televisão comportam-se como se fossem tutores dos leitores e telespectadores.