Por Euler de França Belém

Acatando conselho do jornalista e marqueteiro Nilson Gomes, Carlão Alberto Oliveira, candidato do PSDB a prefeito de Goianira, deve convocar para ser seu vice um político mais jovem, possivelmente Christian Pereira. Carlão lidera as pesquisas de intenção de voto, mas, seguindo conselho de Nilson Gomes — da equipe do senador Wilder Morais —, não vai apostar na tese do “já ganhou”. Daqui para frente, vai falar menos e trabalhar mais.
Um conselheiro relata: “Não há no Tribunal de Contas do Estado alguém tão articulado quanto o conselheiro Kennedy Trindade, ex-presidente da Agetop (no tempo em que era Crisa) e ex-deputado estadual. Ele deverá ser o próximo presidente do órgão. Seu principal objetivo será concluir e mobiliar a nova sede do TCE”. Helder Valin é o principal articulador da candidatura de Kennedy Trindade. Eles são carne, unha e, por vezes, cutícula.

[caption id="attachment_62681" align="aligncenter" width="620"] Fotos: Y. Maeda / Alego[/caption]
O deputado estadual Chiquinho Oliveira está dizendo, para quem quer e para não quer ouvir, que não vai abrir espaço para José Vitti substituir o presidente da Assembleia Legislativa de Goiás, Helio de Sousa.
Chiquinho Oliveira articula nos bastidores e garante que está conquistando apoios de deputados novatos e de deputados veteranos. Ele tem dito que o Palácio das Esmeraldas — leia-se o governador Marconi Perillo — tem simpatia por sua postulação.
José Vitti, por seu turno, não dorme no ponto e está conversando com deputados aliados e da oposição. Petistas e peemedebistas simpatizam mais com ele, porque avaliam que Chiquinho Oliveira é mais governista do que o governador Marconi Perillo.

Marcus Vinicius Queiroz, marqueteiro de primeira linha — com uma eleição presidencial no currículo e vitórias importantes no Tocantins —, negociou com o candidato do PSDB a prefeito de Goiânia, Giuseppe Vecci. Mas não fecharam — nem interromperam — a negociação. Giuseppe Vecci, vale dizer, aprecia as ideias de Marcus Vinicius. O principal problema pode ser financeiro.

[caption id="attachment_63236" align="aligncenter" width="620"] Ao fundo, Carlos Sampaio, e o deputado Rogério Rosso | Foto Fábio Pozzebom / ABr[/caption]
O deputado Rogério Rosso, do PSD-DF, é apontado como charmoso, mas sem conteúdo. Ele é conhecido como o mais eduardocunhista dos defensores do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Na Comissão do Impeachment quem dá um banho, pelo conhecimento, é o deputado federal Carlos Sampaio, do PSDB de São Paulo. É craquíssimo.
O prefeito de Goiandira, Erick Marcus dos Reis e Cruz, é apontado como o político mais folclórico do Sudeste de Goiás. Recentemente, organizou um jejum coletivo contra a dengue e a zika, despertando a atenção do país para o “mesmerismo”. Mas o jejum mais frequente é o de falta de qualidade de sua gestão. Esperto, trocou a canoa do PT, que está afundando, pelo barco do PTB. Mas em outubro vai enfrentar uma pedreira — Odemir Moreira, candidato do PSDB a prefeito. Ligado ao prefeito de Catalão, Jardel Sebba, ao deputado Gustavo Sebba, ao secretário Sérgio Cardoso, do governo do Estado, e à Igreja Católica, o tucano é apontado como favorito para a disputa. Trata-se de um político bem avaliado, com capacidade de agregação.
O marqueiteiro Alberto Araújo fechou com o deputado Lissauer Vieira, do PSB, na campanha para prefeito de Rio Verde. Lissauer Vieira está crescendo e seus aliados apostam que ele vai acabar disputando, pau a pau, com Paulo do Vale, do PMDB. Sua campanha pode desidratar Heuler Cruvinel, apontado como “doutor em arrogância” .

[caption id="attachment_63128" align="aligncenter" width="620"] Paulo Garcia e Marconi durante coletiva no Paço Municipal | Foto: governo de Goiás[/caption]
O governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB, e o prefeito de Goiânia, Paulo Garcia, do PT, trataram-se como velhos amigos na solenidade de renovação da concessão da Saneago. Eles estão numa fase de lua de mel administrativa. Desde que abandonou Iris Rezende — “karma negativo” —, que, no fundo, não queria seu sucesso administrativo, e aproximou-se do governador Marconi Perillo, que tem lhe dado apoio, Paulo Garcia tem feito uma administração mais ousada e eficiente.

Na solenidade de renovação da concessão da Saneago em Goiânia, o governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB, brincou com a deputada estadual Adriana Accorsi, pré-candidata do PT à prefeita da capital: “Vou te apoiar no segundo turno — a não ser que você não queira”. A delegada não titubeou e foi rápida no gatilho: “Claro que quero!” A petista dirigiu a Polícia Civil, a convite do tucano, e os dois sempre se deram bem. Eles se respeitam e se admiram.

O ex-deputado federal Leandro Vilela comunicou, agora oficialmente, aos prefeitos Maguito Vilela, de Aparecida de Goiânia, e Humberto Machado, de Jataí, que não será candidato a prefeito de Jataí. Leandro Vilela é um dos políticos que estão fugindo da judicialização da política. Ele prefere trabalhar como executivo do grupo criado há pouco pelo empresário Júnior Friboi.

Júnior Friboi reabriu conversações sobre política em Goiânia. O empresário deve apoiar um candidato que tenha condições de derrotar Iris Rezende — o principal responsável por seu expurgo do PMDB. Friboi ainda não definiu o nome que vai apoiar. Mas pode ser Giuseppe Vecci, do PSDB, Vanderlan Cardoso, do PSB, ou Waldir Soares, do PR. O empresário parece ser adepto da tese de que vingança é um prato que se come frio.

O recado da revista de Mino Carta é tolstoiano: todas as famílias têm problemas — inclusive as de Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso

[caption id="attachment_63221" align="aligncenter" width="620"] Lula da Silva e Jaques Wagner: políticos do PT inventaram o “machismo do bem” e o “machismo do mal” | Fotos: Lula Marques / Agência PT[/caption]
Nos Estados Unidos, na Inglaterra e na França, a imprensa vasculha a fundo a vida privada de políticos, empresários e artistas (nem jornalistas, que se protegem, escapam). A linguagem pode ser até respeitosa, mas os fatos são mostrados sem contemplação. Na primeira campanha de Barack Obama, que disputava a possibilidade de ser candidato à Presidência dos Estados Unidos com Hillary Clinton, pelo Partido Democrata, a pancadaria, inclusive em termos de intimidade, era intensa. A equipe de Obama vazava para a imprensa novas histórias sexuais do ex-presidente Bill Clinton. Monica Lewinsky era apenas uma de suas muitas conquistas.
Algumas das histórias podem ser conferidas no excelente “Virada no Jogo — Como Obama Chegou à Casa Branca” (Intrínseca, 462 páginas, tradução de Clóvis Marques), dos jornalistas John Heilemann e Mark Halperin.
Na semana passada, a revista “IstoÉ” publicou uma reportagem de capa, com o título de “As explosões nervosas da presidente”, na qual diz que Dilma Rousseff grita e xinga pessoas e joga objetos no chão. Estaria histérica. Seria possível inventar uma história dessa? Seria. Mas a revista, aqui e ali, cita nomes. Na iminência de um impeachment, que a deixará marcada na história do país como uma presidente que, embora aparentemente honesta, terá caído por equívocos administrativos e desgastes provocados por corrupção de aliados, é possível que esteja mesmo nervosa e agitada. Talvez se julgue incompreendida e, sobretudo, não possa dizer que a corrupção não é sua, em termos pessoais, e sim do grupo que a bancou duas vezes para presidente. Ela paga o preço por ter aliados pouco católicos. Há, é evidente, o que se pode chamar de corrupção moral. O gestor não partilha da bandalheira, mas, para obter apoio, pode fazer vistas grossas. Nenhum presidente da República é ingênuo e todos recebem informações privilegiadas sobre o que ocorre às claras e nos porões do governo. Portanto, se não há corrupção financeira pessoal — e tudo indica que não há —, há, ao menos, corrupção moral.
O “ministro” Jaques Wagner, chamado de “Passivo” pela Odebrecht — na propalada lista da propina —, disse que a “IstoÉ” se comportou de maneira machista. Pode ser que haja algum machismo mesmo. Porque, quando um homem grita e bate na mesa, quase todos aceitam como uma coisa normal ou natural. É visto como “macho” e “poderoso”. A mulher logo é apodada de “histérica” e “descontrolada”. O que se espera de uma mulher “insatisfeita” com algum fato é que seja uma lady, uma dama silente.
Porém, quando o ex-presidente Lula da Silva disse que era preciso convocar as mulheres de “grelo duro” — sugerindo que o clitóris é um pênis — para defendê-lo das acusações das oposições, sobretudo das críticas publicadas na imprensa, não se ouviu a voz de Jaques Wagner apontando uma espécie de machismo visceral. Aquilo que diz o “machão” que é nosso aliado, por menos politicamente correto que seja, deve ser perdoado. A esquerda parece ter inventado o “machismo do bem”, o dela, e o “machismo do mal”, o de seus críticos.
A ginástica de algumas feministas, notadamente professoras universitárias, para justificar o machismo de Lula da Silva — na opinião do petista-chefe, as feministas do PT têm grelo duro, quer dizer, são “quase homens” —, beira o cretinismo político. Intelectuais, quando se tornam tarefeiros ideológicos, são tudo — menos intelectuais. Intelectuais podem apoiar Lula, não há problema algum, mas não precisam concordar com tudo o que diz. Afinal, Lula da Silva não é Stálin — os acadêmicos não correm risco algum de morrer ou de ser exilados em Garanhuns, Cuba ou Venezuela se discordarem do guia genial dos petistas.

[caption id="attachment_63219" align="aligncenter" width="620"] Vladimir Putin (político), Mario Vargas Llosa (escritor), Lionel Messi (jogador) e Roberto Carlos (cantor): offshores em paraísos fiscais[/caption]
O jornal alemão “Südedeutsche Zeitung” recebeu documentos sobre as operações de um escritório panamenho, o Mossack Fonseca, especializado em abrir offshores, e decidiu compartilhá-los com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos. Há parcerias em vários países. No Brasil, estão credenciados repórteres de “O Estado de S. Paulo”, UOL e Rede TV. Maior do que o WikiLeaks e ainda não inteiramente dimensionado, o Panama Papers — Papéis do Panamá — é apontado como o grande escândalo do século 21.
Na lista dos que, com o apoio do Mossack Fonseca, abriram offshores estão Vladimir Putin, o poderoso chefão da Rússia; o primeiro-ministro da Inglaterra, David Cameron, e o presidente da Argentina, Mauricio Macri. Descoberto, o primeiro-ministro da Islândia renunciou. Também foram listados o cantor Roberto Carlos; o jogador Messi, do Barcelona; o escritor Mario Vargas Llosa, Nobel de Literatura, e, entre muitos outros, o conselheiro Robson Marinho, do Tribunal de Contas de São Paulo.
Por que as pessoas — empresários, políticos, esportistas e artistas — abrem offshores em paraísos fiscais, como Panamá, Ilhas Virgens Britânicas, Bahamas, Seychelles e Samoa? Há vários motivos. No caso de narcotraficantes, lavam dinheiro “sujo” e, quando querem, podem recambiá-lo, “limpo”, para outros países, às vezes suas próprias bases, como a Colômbia. Há artistas e jogadores de futebol que planejam tornar seu dinheiro mais rentável. Há políticos que procuram esconder dinheiro que “ganharam” de maneira ilegal. No fim, todos querem ter controle sobre seus próprios recursos financeiros. A seguir exponho uma tese, mais uma hipótese, nada ortodoxa.
O que é, de fato, a sonegação de impostos? De certo ponto de vista, é um modo de o mercado não repassar sua contribuição aos governos. A sonegação, portanto, é um crime. Não pagar impostos ou pagar menos impostos do que se deveria é uma atividade criminosa.
Mas quem de fato faz da sonegação um crime: o governo ou a sociedade? O governo, é claro. Por quê? Porque os governos se tornaram a parte mais cara da sociedade, com vida própria, e precisam ser alimentados diariamente, pois seu apetite é insaciável. Porém, para “tomar” o dinheiro dos indivíduos, para se financiar, precisam criar leis que legitimem o ato de “expropriação”.
Do ponto de vista estrito do governo — ou do Estado —, a sonegação é crime. Mas do ponto de visto estrito da sociedade — ou do mercado — deveria mesmo ser um crime? É possível que quem sonega, sobretudo o empresário estabelecido e legal (sem envolvimento com atividades ilegais, como o narcotráfico), o faz com o objetivo de aumentar o seu lucro mas também, quiçá sobretudo, de não repassar mais recursos para “engordar” a máquina pantagruélica do Estado.
Pode-se sugerir que o combate à sonegação é, assim, uma forma de o Estado arrancar mais dinheiro do mercado-sociedade. Para tanto, precisa criar uma “moral” — quer dizer, transformar a sonegação em crime, portanto uma ação abominável — para justificar o ato de arrancar mais dinheiro do mercado-sociedade.
O discurso do Estado, amparado por leis que formula por intermédio de seus representantes — parlamentares, executivos e técnicos —, é assimilado por todos, inclusive pelos sonegadores. Deste modo, todo sabem que, quando sonegam, cometem uma ilegalidade e, assim, um crime. Mas, como sugerimos, trata-se de uma condenação moral, legitimada pelo legal e criada pelo Estado, que, para manter-se, precisa arrancar o máximo de recursos dos indivíduos. Quanto aos serviços prestados à sociedade, como paga pelos impostos, são lamentáveis — notadamente no campo da segurança pública, saúde e educação.
Por trás da condenação das offshores, com a imprensa contribuindo para criar um “ar” de mistério, de coisa pavorosa, está a moral criada pelo Estado — cuja raiz é o seu dispendioso financiamento. Como notamos acima, o que se expõe aqui é mais uma hipótese do que uma tese e que pode e deve ser ampliada por economistas, sociólogos e advogados tributaristas. Estudos detidos, mais abertos à iniciativa da sociedade e seus agentes, como os empresários e pessoas que ganham muito dinheiro (artistas, jogadores de futebol, beisebol e basquete e jornalistas, como Galvão Bueno e William Bonner), certamente poderão reavaliar o que os governos tacham de sonegação.

[caption id="attachment_63217" align="aligncenter" width="620"] Dilma Rousseff e Richard Nixon: o segundo cometeu erros, mas é um estadista; a primeira não terá um lugar ao lado de Getúlio Vargas e JK[/caption]
A “New Yorker”, mais prestigiosa revista de cultura dos Estados Unidos, comparou a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, com o ex-presidente americano Richard Nixon. Há mesmo “parentesco” político entre ambos? Só em parte.
A despeito do que aconteceu, a história de Richard Nixon tem sido reavaliada. É possível sugerir que merece figurar entre os grandes presidentes americanos — e será muito difícil inserir Dilma Rousseff entre os principais presidentes brasileiros, como Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. Se sofrer impeachment, e mesmo se escapar ao julgamento do Congresso, terá um lugar, é provável, ao lado de Fernando Collor, que foi impedido, em 1992.
Seu lugar não será nem mesmo ao lado de Lula da Silva.
Richard Nixon teve consciência geopolítica para retirar os Estados Unidos do atoleiro chamado Vietnã, quando não se acreditava que um presidente de direita — uma espécie de Donald Trump com cultura — pudesse fazer isso. Abriu conversações políticas e comerciais com a China, o que possibilitou que o país asiático se tornasse um pouco mais aberto. Tratava-se de um estadista.
Mas há grandes políticos que, por vezes, pensam pequeno (é o caso de Lula, que é maior do que seu comportamento, em alguns casos, enuncia). Richard Nixon é um deles. O presidente estava envolvido, até a medula, com atividades ilegais, como o grampo na sede do Partido Democrata, no edifício Watergate. Os homens que entraram no escritório político dos democratas eram aloprados, mas não eram quaisquer aloprados — eram homens escolhidos por Richard Nixon, fora do esquema oficial (CIA e FBI), para espionar os democratas.
Com o apoio de um diretor adjunto do FBI, Mark Felt, repórteres do “Washington Post”, notadamente Bob Woodward, publicaram centenas de reportagens sobre os malfeitos de Richard Nixon e seus aliados. O presidente, se não renunciasse, sofreria o impeachment. Sobretudo, era presidente, mas não administrava mais — havia um descompasso entre o governante e a nação, que é o mesmo que está ocorrendo no Brasil, com Dilma Rousseff. Sob pressão, com a imprensa denunciando-o diariamente, o líder do Partido Republicano renunciou.
Ao contrário de Richard Nixon, a presidente Dilma Rousseff não operou pessoalmente os malfeitos de seu governo. Pegou uma estrutura montada, não participou diretamente dela, mas nada fez para desmontá-la. Tal estrutura garantiu três vitórias presidenciais para o PT — a primeira, em 2002, possivelmente não. Uma para Lula e duas para a petista. Mas, como o presidente americano, se não quiser sofrer o impeachment, terá de renunciar (ela frisa que não renuncia). Se continuar no governo, terá o Brasil contra e não conseguirá debelar a crise econômica, que, na raiz, é cada vez mais política. Para o país voltar aos eixos e se tornar um local de investimentos seguros, o próximo presidente, seja Michel Temer ou outro, precisará ter credibilidade — o que Dilma não tem mais.