Por Elder Dias


Com saída marcada para as 8 horas, evento deste ano incorpora passeio ciclístico e vai denunciar problemas ambientais

Um amigo meu brinca comigo, dizendo que não sabia que jornalista também era dublê de educador físico. Claro, é uma referência ao pique que a repórter Renata Costa deu para tentar continuar a entrevista com uma fantasminha da Assembleia Legislativa — aliás, nossa Casa de Leis goiana está mais para uma mansão mal-assombrada, não? Na cultura popular, a expressão "boi de piranha" é o animal sacrificado, jogado às feras, para que o restante sobreviva. É o que parece estar ocorrendo com Ednair Moraes, que virou meme na internet com sua fuga patética da jornalista-perseguidora. A comissionada Ednair foi exonerada do gabinete de Marlúcio Pereira (PTB), depois da repercussão nacional do escândalo, do qual era virou ícone. Uma medida sumária demais, já que o deputado disse que, sim, ela trabalhava, não acham? Não, eu não acho. Mas ela não pode ser boi de piranha, ou bode expiatório, de toda essa polêmica vergonhosa. A pergunta que fica é: vão mesmo continuar essa política de exonerar todos os que usam desse expediente para fraudar o erário? Ou ficará só para a turma que apareceu na TV? Pelo que conhecemos da Assembleia mal-assombrada, fico com a segunda hipótese. Ficarei surpreso se for o contrário.
"Tributo Amy & Adele" tem grandes clássicos das duas cantoras e será apresentado nesta sexta-feira, 25
Quando você pensa que já viu de tudo no Goiás, espere que ele vai surpreendê-lo. E está aí: o Goiás traz de volta, para o lugar de Julinho Camargo, o carioca Arthur Neto. O treinador que levou o time à final da Copa Sul-Americana de 2010. Mas que também terminou o ano deixando o time rebaixado à Série B. Será que é para o torcedor já acostumar-se à ideia? Um detalhe é que o último time que Arthur treinou é o adversário de domingo, o Joinville. Em 2013. E foi demitido em março daquele ano. Ou seja: faz dois anos e meio que o novo treinador do Goiás não treina ninguém. Ainda bem que não joga, então não vai precisar de ritmo de jogo. Ou vai?
Depois da derrota desta quarta-feira, 16, para a Ponte Preta, o técnico Julinho Camargo passou a sofrer a ameaça iminente de queda do comando técnico do Goiás. A demissão se efetivou no começo da tarde desta. Uma decisão precipitada e, ao meu ver, inócua senão negativa: tenho sérias dúvidas de que outro treinador fará melhor com esse elenco que aí está. Mas essa é outra questão. O que está cada vez mais evidenciado nesta temporada patética do Goiás (e olha que foi campeão goiano) é a invisibilidade do diretor de futebol Harlei nas horas "difíceis". Para falar sobre a questão da saída do treinador, tanto depois do jogo como no anúncio oficial, quem "deu a cara para bater" foi o presidente Sérgio Rassi. O mesmo já tinha ocorrido várias outras vezes, depois de resultados vexatórios, contratações frustradas ou demissões de outros técnicos. Precisa de outro sintoma para dizer que o problema principal do Goiás não está na comissão técnica?
A declaração de um major da Polícia Militar de Goiás sobre a morte de um filho de militares por bandidos provavelmente ligados ao tráfico foi tremendamente infeliz. Vinda de alguém com o cargo que ocupa beira ao inaceitável. O único atenuante é o efeito empatia, por ter talvez se colocado na pele do casal de colegas de farda que perdeu um garoto. Mas, obviamente, não é matando criminosos e suas famílias(!) que se resolverá o problema. Muito pelo contrário: policiais e bandidos em guerra mútua é o pior cenário que pode existir para a paz de qualquer sociedade. Seria a PM virando milícia. É responsabilidade do poder público, do governador em especial, fazer com que a situação não degringole. A morte do rapaz é um momento chave para isso. É preciso ações operacionais (no âmbito da secretaria) e políticas (em termos de pressão nacional por mudanças nas leis). Quando a este segundo aspecto, por que não começar por Goiás? A segurança pública no Brasil, como também a saúde e a educação, são problemas crônicos. Devemos assumir a incompetência e tentar novos modelos, porque o que aí está posto não dá certo. Insistir nele é errar duas vezes.
A economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, esteve em Goiânia nesta terça-feira, 15, para falar a um seleto grupo de empresários, economistas e jornalistas. O tema não poderia ser outro: o cenário macroeconômico brasileiro, a crise e a relação disso com o resto do mundo. Entre as (muitas) coisas importantes que pontuou — entre elas a da necessidade de um ajuste fiscal o mais duro possível, em sua opinião —, uma questão ficou clara: a presidente Dilma Rousseff não soube entender a demanda de seu tempo de governo. Doutora em Economia pela Universidade de São Paulo (USP), Zeina disse que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso soube ver que seu governo deveria primar pela busca da estabilidade do País (e conseguiu); que seu sucessor, Lula, deveria fazer o País crescer e diminuir as desigualdades (e fez); mas que Dilma não entendeu qual deveria ser seu alvo de atuação, talvez por ser uma técnica e não uma política. Dilma tem três anos, três meses e 15 dias para mostrar que se encontrou. Mas precisa fazer isso "para ontem". Ou seja: ela tem esse tempo todo em teoria; na prática, talvez não tenha mais.
Olha, eu não falei na época, mas falo agora: nada justifica um atentado a qualquer lugar, mas o humor dos franceses chargistas do "Charlie Hebdo" não me pega. Já fizeram muita porcaria, mas a última foi agora com as zombarias com que transformaram a tragédia do menino sírio em Aylan Kurdi em humor negro na internet. Dizem que é censura se tirar do ar, e realmente é. Prefiro dizer que ter o desprazer de ver uma charge dessas ou um stand-up televisivo do Danilo Gentili é o preço oneroso que temos todos de pagar pela liberdade de expressão. Resumindo: é melhor ter essas aberrações chamadas "Charlie Hebdo" e Danilo Gentili do que ser tolhido no direito de se expressar.
Depois do pacote desta segunda-feira, 14, em que o governo federal anuncia medidas que praticamente só atingem sua própria base de sustentação e não dá a esta nenhum argumento para acreditar que deva continuar apoiando Dilma Rousseff, só resta uma dedução a fazer: o Planalto está imbuído na busca da popularidade zero. Seria realmente uma "marca" inesquecível. Quem te viu, quem te vê, PT. Ah sim: os neoliberais lhe mandam cumprimentos efusivos.
Geralmente todo mundo que é roubado no futebol sabe qual é o culpado da história: o juiz. Só a torcida do Goiás é diferente. O time foi "operado" pelo árbitro Bruno Arleu de Araújo (RJ), que não viu falta em um dos lances decisivos mais evidentes do Campeonato Brasileiro. O goleiro Renan falhou? Sim. Teria sido gol se não houvesse falta nele, cometida pelo atacante André Lima? Não. E aí o esmeraldino prefere falar da falha do seu goleiro do que do erro grotesco da arbitragem. Fosse um atleticano, um gremista ou um vascaíno, a culpa da derrota (justa, no caso) seria do juiz. Por aqui, preferem dizer "ah, mas se o Renan não tivesse soltado a bola..." Vai entender, vai.

Direção do jornal optou por extinguir o “Almanaque” e o “Magazine TV”, que se tornaram páginas de outro suplemento

[caption id="attachment_41517" align="alignleft" width="620"] Romário, irreverente, posa da Suíça após negativa sobre conta: “Chateado”[/caption]
A edição de “Veja” que circulou na semana passada trouxe uma matéria que envolvia Romário em um escândalo internacional, quase um Swissleaks particular: o ex-jogador e hoje senador pelo PSB teria cerca de R$ 7,5 milhões em conta na Suíça e não teria declarado esse patrimônio à Receita, o que seria grave, ainda mais para um político. Brasileiros que tenham a partir de US$ 100 mil (cerca de R$ 350 mil, atualmente) no exterior precisam comunicar o fato às autoridades nacionais.
A matéria da “Veja” vinha com o título “Romário tem conta milionária na Suíça – e não a declarou ao Fisco”. O “Baixinho” respondeu com sarcasmo, em nota no Facebook. Disse que recebia a notícia como alguém que ganha na Mega-Sena, porque desconhecia que tivesse feito tal aplicação, “ainda mais em 2013”, como anunciou a revista. E foi até a Suíça para conferir o caso “in loco” — coisa, aliás, que a apuração da matéria deveria ter feito antes de publicá-la. E soltou uma segunda nota irônica (na íntegra): “Galera, bom dia! Chateado! Acabei de descobrir aqui em Genebra, na Suíça, que não sou dono dos R$ 7,5 milhões. Aguardem mais informações... Agora, aqueles que devem, (sic) podem começar a contar as moedinhas, porque a conta vai chegar de todas as formas. Eu não finjo ser decente, não faço de conta ser sério e nem pareço ser correto. Eu sou!!!”
Infere-se que Romário vai processar a revista. Nada incomum esse tipo de ocorrência, veículos de comunicação estão sempre sujeitos a isso. O problema é que o senador alega que “Veja” usou um documento falso para embasar a matéria. E isso, sim, é muito grave. Jornalística e penalmente.
Um dos melhores frasistas dos gramados brasileiros — talvez só perca para Dario, o “Dadá Maravilha”, Romário disse em 2002, ao ser contratado pelo Fluminense: “Quando eu nasci, Deus apontou o dedo em minha direção e disse: esse é o cara.” Parece que desta vez a “Veja” provocou o “cara” errado.

[caption id="attachment_41696" align="alignleft" width="620"] Cenas do quadro que simboliza a nova fase do programa: busca de ironizar situação política e viés reacionário fez sucesso e levantou polêmica[/caption]
A “Zorra” da Globo não é mais a “Zorra Total”. Nem no nome. Ainda bem. Ficou muito melhor — o que, convenhamos, não era missão tão difícil. Sob nova direção (de Marcius Melhem e Mauricio Farias, que compunham o “Tá no Ar”, com Marcelo Adnet), o programa está se aventurando a sair da mesmice de sitcom sexista e pastelão para acertar em cheio a veia da polêmica e do politicamente incorreto. Uma pegada que tem lembrado (com alegria para quem gosta de um humor inteligente e sarcástico de fato) os melhores momentos de “TV Pirata”, “Casseta & Planeta” e “Viva o Gordo”.
De modo especial, no sábado, 26, um dos quadros apresentados, com pouco mais de 5 minutos, caiu nas graças das redes sociais, onde viralizou, e pode ser considerado o marco da nova fase do programa. Chamada de “Fico – Festival Internacional do Coxinha”, a sátira se baseava em paródias de músicas de protesto do período militar. Por exemplo, “Disparada” (música de Geraldo Vandré interpretada belamente por Jair Rodrigues) virou “Disparate”, cantada pelo personagem Capitão Rodrigues, interpretado pelo velho e bom Paulo Silvino. E assim foram todas as músicas, interpretadas por tipos a que se convencionou chamar de “reaças” (militares linha dura e políticos conservadores). No fim, a plateia que pedia a volta da ditadura em cartazes ganha uma surra de presente do último grupo a se apresentar, os “Paramilitares do Retrocesso”.
Interessante foi a repercussão na internet. Sites considerados de esquerda e de direita tentaram achar o “lugar ideológico” do programa. Muitos se surpreenderam com esse tipo de humor na Globo — talvez se esquecendo do humor crítico que a emissora já abrigou em seus programas, com Jô Soares, Chico Anysio, Agildo Ribeiro e outros.
Como se o humor precisasse ter enquadramento — nesse sentido, o chargista Maurício Ricardo também protestou recentemente contra o patrulhamento que sofre de militantes de direita e de esquerda, às vezes pela mesma matéria. Os engajados acabam agindo como o diabo que, ao ver uma criança fazendo um buraco na areia com o dedo, intrigado, pergunta a ela o que significa aquilo. A criança responde: “Estou fazendo um buraco na areia com o dedo.” Ele sai, confuso, e fica a lição da crônica: pobre diabo, não sabe que certas coisas podem ser feitas sem segundas intenções.
Na quinta-feira, 30, em menos de cinco minutos de audição, o programa do jornalista Rosenwal Ferreira na Rádio 730 AM, que vai ao ar pela manhã, apresentou um festival de preconceitos e pré-julgamentos. Com uma capa de descontração, apresentador e convidados “julgaram” o almirante Othon Luiz — preso na Operação Lava Jato acusado de receber propina de R$ 4,5 milhões — comparando-o aos generais da época da ditadura que presidiram o Brasil e “morreram pobres”. Uma condenação prévia, uma analogia incerta (não se sabe realmente se a versão sobre o almirante será provada) e totalmente temerária. Em seguida, a divulgação de uma nota sobre uma mulher inglesa que descobriu que seu namorado, na verdade, tinha nascido com o sexo feminino e se assumido só então como transexual. A mulher teria resolvido ficar com ele mesmo assim. Alguém da mesa soltou algo como “se ela aceitou a situação, é porque então gosta de mulher”. Fora a tentativa de galhofa, totalmente anacrônica, anacrônica também foi a nota: o fato foi notícia, na verdade, ainda em novembro do ano passado. Portanto, veio tão atrasada quanto a atitude dos envolvidos. Ou, talvez, nem tanto. Na rádio, essa linha do programa não é vista com bons olhos por outros profissionais, que, porém, temem algum enfrentamento. Preferem aguardar mudanças. Mas não custa lembrar: jornalismo pode ser irreverente — e o experimentado Rosenwal sabe fazer isso. O que não pode haver é um jornalismo que perca a responsabilidade e o bom senso para não perder a piada. Nesse sentido e nesse ponto específico, a 730, cujo foco é a informação esportiva, pode estar “pisando na bola”. Vale o alerta construtivo.