Por Carlos Willian

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O governo petista tem feito o Brasil viver uma fase de corrupção sem paralelo em sua história, afirma Wilder Morais

Wilder Morais Em seu retorno ao Senado, após licença de 120 dias resolvendo questões pessoais, Wilder Morais (DEM-GO) voltou muito mais ácido e crítico em relação ao governo federal. Seus posts no Twitter evidenciam suas críticas. Num de seus tweets recentes e com grande alcance, ele aborda o crime de Dilma em relação ao descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal: “Desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal é coisa séria. Isso é uma prova clara que o governo perdeu o prumo da retidão administrativa”. Mas Wilder tem ressaltado que suas críticas “não são guiadas pelo viés meramente partidário, e que não torce para que o pior aconteça no governo petista, pois aí seria torcer contra 200 milhões de brasileiros”. Segundo o parlamentar, essa linha de ação não bate com seu perfil político, e que está no Senado “para travar uma luta de ideias para melhoramento do País, principalmente de Goiás, e não para luta demarcatória de território político-partidário”. Para Wilder, o governo petista tem feito o Brasil viver uma fase de corrupção “sem paralelo em sua história”. Ele diz mais, alvejando a Operação Lava Jato: “É muito dinheiro indo para o ralo, ou melhor, para o bolso de corruptos, que não deveriam estar gerindo dinheiro público”.

Manoel Bomfim e o antilusitanismo

O historiador Manoel Bomfim foi um desses pioneiros a se debruçar sobre os paradoxos do Brasil República. Anglófono responsabilizava Portugal como fonte do mal que assolava o Brasil

“O Espetacular Homem-Aranha 2”: Stan Lee não merecia isso

Júlio Pereira Especial para o Jornal Opção [caption id="attachment_2510" align="alignleft" width="440"]Andrew Garfield interpreta Peter Parker em “O Espetacular Homem-Aranha 2” Andrew Garfield interpreta Peter Parker em “O Espetacular Homem-Aranha 2”[/caption]   O Homem-Aranha é, pos­sivelmente, o herói mais interessante das histórias em quadrinhos, em boa parte pela relação direta entre o Aranha e o Homem, ou seja, o modo como lida com sua vida pessoal sendo pobre, órfão e excluído no colégio, ao passo que precisa pagar contas, lidar com a namorada e estudar, enquanto vilões tentam destruir sua Nova York natal. Esse conflito fez muita falta no reboot do personagem nos cinemas em 2012. Faltava muito do lado pessoal de Peter. Os roteiristas parecem ter atentado-se a isso ao escrever esta continuação, “O Espetacular Homem-Aranha 2”. No entanto, continua inexistindo toda a dramaturgia intrínseca ao personagem. Compreendam: Marc Webb é o responsável por “(500) Dias com Ela”, uma comédia romântica metida a espertinha. Sendo assim, dá-lhe diálogos pretensamente meigos, que parecem retirados de alguma sitcom genérica norte-americana (especialmente a conversa entre o casal sobre seus defeitos), resultando em momentos constrangedores. A obra resume-se a esse romance tacanho que nunca passa da superfície das comédias românticas hollywoodianas, justificando-se todas as atitudes moralmente duvidosas de Peter em nome desse amor. Todo o conflito interno do personagem em relação à sua promessa ao pai de Gwen Stacy é rapidamente esquecido, assim feito a imaturidade do protagonista em nome do modelo de amor romântico. E o momento no qual o falecido policial aparece na tela numa cena-chave busca, por meio de uma obviedade inevitavelmente cômica, impor um peso moral ao que acontecerá em breve, tendo seu efeito anulado por uma montagem que não dá espaço a essas emoções. Se o arco dramático de Peter Parker é pobre devido ao foco excessivo em um romance pouco convincente, fazendo pouco caso dos seus dramas com os pais, o roteiro sofre do mal do “cinema freudiano”, no qual tudo nos personagens precisa ser explicado: seus traumas de infância, suas marcas na vida. No caso dos vilões, há essa necessidade latente de justificar sua maldade ou ao menos tentar fazê-lo, o que poderia conferir alguma substância ao personagem Electro, uma vez que há um fundo social interessante: um operário pobre, invisível aos olhos da sociedade, emocionalmente marginalizado, tendo a chance de ser percebido, ser importante, assistir a seu rosto na televisão. Já o Duende-Verde surge do nada: sua amizade com Peter nunca se mostra devidamente concreta e sua vingança nunca soa crível, tornando-o absolutamente descartável. Dito isso, vale ressaltar serem duas promessas de personagens, não indo além disso, uma vez que os antagonistas de “O Espeta­cu­lar Homem-Aranha 2” não dizem a que vieram, jamais recebendo importância narrativa, saindo de cena logo após entrarem. Não há um senso de perigo instaurado ao herói, sobrando apenas o romance adolescente e risível. Essa necessidade de Webb de ser moderninho recai diretamente nas cenas de ação. Chamando sempre atenção para a câmera, com vários planos cuja única finalidade é o exibicionismo puro, o diretor parece encarar o filme como um jogo de vídeo-game. E se deslumbra tanto quanto um garoto que acaba de ganhar um Playstation. Não bastassem os efeitos demasiado artificiais (bem mais do que o padrão dos blockbusters), tornando tudo muito inverossímil, há nas batalhas uma sequência de ações interligadas, interdependentes, como se ele precisasse realizar uma ação para passar à próxima, frisadas sempre com slowmotion, algo como um etapismo — lembrando bastante a estrutura narrativa do game “God of War”. Aliás, essa obsessão pela câmera lenta — que sempre trava a ação — chega a fazer rir em uma sequência crucial para o filme, já no desfecho, em que, além da teia assumir a forma duma mão, o que já seria cafona o suficiente, uma trilha apelativa invade a cena, contribuindo para ampliar a vergonha alheia, esvaziando todo o potencial efeito dramático da situação. Investindo em um Homem-Aranha cômico, assim como nas HQ’s, Webb pouco compreende essa veia humorística do personagem, parecendo impor a todo o momento esses alívios de comicidade que, embora bastante eficientes em vários momentos (as gags, quando funcionam, são o ponto alto da obra), podem ser bastante anticlimáticos se inseridos fora de hora. E fica muito nítido quando as piadas são orgânicas e quando forçadas pelo roteiro. Esse clima humorístico, infelizmente, não dura muito, cedendo lugar ao “estilo Nolan” de filmes de heróis, sempre muito sombrio e carregado — o que nunca se sustenta, devido às várias cafonices da obra. Tanto pela vontade de fazer tudo se interligar, dar sentido a cada detalhe na trama e arredondar o filme a ponto das várias conexões se tornarem chatas, quanto pela estética de vídeo-game, “O Espe­tacular Homem-Aranha 2” entra, junto com seu antecessor, numa pilha de filmes de Holly­wood com nada a oferecer. Falta aquele espírito heróico tão caro à trilogia de Sam Raimi, capaz de me fazer cair em lágrimas com uma cena simples do Homem-Aranha salvando uma criança no meio de um incêndio. Impressionava-se pela simplicidade, não por pirotecnia desenfreada. Júlio Pereira é crítico de cinema.

Dias perturbadoramente perfeitos

Raphael Montes dá um sopro de frescor no gênero policial nacional, substituindo a banalização da violência por choque e terror psicológico bem-construídos

O que você viveu ninguém rouba

“Nem mesmo você, por mais que se esforce, consegue roubar a si próprio. Você é seu redentor e algoz”

Federer, Morrissey e Roberto Carlos: traduzindo ou induzindo?

Algumas traduções demonstram claramente uma falta de cuidado e, muitas vezes, segundas intenções na reprodução de afirmações

Uma tomografia da Amazônia humana

Com sua natureza fascinante e temível, e seus habitantes inconclusos, os contos de Ray Cunha têm entre si uma espécie de amarração oculta, um cipoal encoberto pela floresta de palavras

Os mortais

cul5Delermando Vieira Chega um tempo em que as ervas medram, crescem como praga invadindo o quintal, o pátio, trepando, com fôlego, nos muros, nos vãos e caibros da casa; e é nesse tempo que as flores, e suas pétalas, murcham e mais parecem faces chupadas, secas em covos de melão, exalando, no pó do ar ferroso, seu aroma de pudim retraído, regado a louros de um sopro que, pastoso e ferido, aderna à lágrima dos arvoredos em chumaços de chapéus sombrios; chega um tempo em que o existir é o inexistir, em que o real, de tão real, real não nos parece, em que, em suma, em nossa porta ouve-se o soar do bater do punho de um espectro visível, cruel e insensível em seu modo, em sua troupe de arcanjos agônicos; e é nesse tempo, justamente nesse tempo, que a angústia nos toca, nos sangra, inaugurando em nós, a farsa do abandono, dos dias sem sol, sem chuva; e é por isso mesmo, nesse tempo, que a dor de estar ausente, embora apensa aos “slides” das horas, à vida em libélulas de som, nos visita, com sua legião grega e seus soldados precisos em suas lanças, em seus elmos, em suas cnêmides; e não nos é concebível a lâmpada de elidir o que de ruim nos é imposto, ainda mais e quando elas, as urtigas, povoam nosso corpo e em nós fazem vibrar a nênia de uma raça primitiva, oriunda, é certo, dos confins da Mongólia; e é aí, meu Deus, que o ser não sabe ser e, por ser o que já não sabe, passa ser a força e os elos da serpente do Nilo, a naja, talvez, ou a víbora que, por Marco Antônio, um dia mordeu Cleópatra. Chega um tempo em que a nossa casa é pura teia e nossos móveis, abandonados, frouxos no escuro de suas formas, encostam-se pelos cantos, e não há vivalma que ali não pressinta o defluir da vida, do que pensa ou pensou; chega um tempo em que tudo é vácuo, e nada é explicado a nada; e fora, ou é, nesse tempo que se encontrava eu, Pedro, Ana , minha irmã, e Thiago, meu pai; e fora muito antes desse tempo que Maria, minha mãe, deixou de existir, se é que existir era estar ali, era estar aqui, era “nascer” para além do sol, do abstrato em que nossos olhos cabem; e fora, ainda, por esse tempo afora que meu pai, juntamente comigo e Ana, pôs-se a ruir na faúlha do que naqueles dias se alongava; e vendo ele que as teias, as traças, os escorpiões, a tudo cobriam, e sentido, no peito, o vazio se erguendo, se construindo, à sonata empírica dos bruxos, das sombras em estado grávido, entendeu que a nós fora dado o direito livre de escolha, entre existir e inexistir. Crente, então, nessa fé, e diante de tamanho desespero, desceu conosco àquelas terras vermelhas, por dentro da mata vermelha, à espera de ali encontrar a grande fonte, ou seja, o verdadeiro sentido de existir; e ficamos, assim, vagando em círculo; e, quanto mais andávamos, mais a mente se nos apagava, se nos diluía. Vagamos durante vários dias até que, de repente, nos vimos debaixo da porta, da gigantesca porta que dava entrada para o vale, o fantástico vale de luz e ilusões, que mais parecia um pulmão se inflando, se aquecendo, num processo de inspiração e expiração. À medida que avançávamos, à medida que o tempo chegado ficava para trás, em nós o coração se encantava, enraizava-se com sopro de flautins dourados. Com muito susto, assombro que aos deuses desperta, flagramo-nos no colo daquele reino, daquele vale enunciado em framboesas e alfazemas, onde, carregadas, as jabuticabeiras pendiam-se frouxas, sedosas, e as parreiras, enquanto verdes e molhadas, exsudavam em seu suor, em seus pelos de cachos copuliformes, sensíveis, enfim, ao vento amaciando as têmporas, os figos, num estremecer de espumas oleosas; a luz, naquelas bandas, era dócil, tênue como a face de um deus; e era dela, de sua aura esmagada em ponches de maçã, do ventre de seus fios em marfim, que a Grande Mão se edificava e em salmos de sangue proclamava a aurora com sabor de pêssegos carnudos; e fora lá nesse tempo, muito longe do tempo chegado, que encontramos a fonte da magia ocidental, dos pífaros aguados em percucientes de brisa, a jorrar a água que deifica e fortalece a herança da alma na Terra; e fora dela, do esguicho de suas águas em arco-íris e, terminantemente, à poeira luminosa vazando as asas das crisálidas em festim, que bebemos, saciamos nossa sede; mas, como no espaço se concebia, se determinava, não nos era permissível assentar morada por lá, uma vez que, depois de estarmos alimentados, aquele vale se inchava, se inflava, feito balão, pressionando-nos, fazendo com que nos evadíssemos, fugíssemos de seu interior; então, depois de havermos matado nossa sede, reativado nossa força, a este tempo chegado voltamos; e, passado algum tempo, tudo dentro deste plano se nos voltava a violar, e nos fazia arder em lenhos de resinas incendiadas. Dia-após-dia, retornávamos à fonte, logo que nos víamos de novo enfraquecidos. Como sempre, ela nos dava de beber, expelia do espírito de suas entranhas; e, assim, meu pai, naquele vale, erguia, primeiramente, suas mãos em forma de cuia e dela recebia o alento, enquanto eu também o seguia, acompanhado de perto por Ana; e vários dias ficamos voltando àquele reino de magia ocidental. Um dia, não me lembro quando, sei que corria no céu uma fumaça escrita em cuneiforme, retornamos à fonte; mas ela, em sua sabedoria transcendental, não mais verteu de sua água a meu pai. Depois de levantar as mãos em cuia, muitas e muitas vezes, ele, enfraquecido e estonteado, recuou comigo e minha irmã àquele tempo chegado. Noutro dia, pela mesma hora, volvemo-nos a essa fonte; no entanto, nada de água, alento, para meu pai; jorrou ela apenas para mim e Ana; mais enfraquecido, meu pai retrocedeu a este tempo chegado; e, ocorridos os dias, mirou-se ele no espelho empoeirado da sala sufocada de ervas; porém, sua imagem não se refletiu; abatido, destituído de energia alguma que pudesse faze-lo resistente, olhou para nós com olhos de sabão em pó, empacotados e brancos, indo, em seguida, em direção à porta, ao tampo-de-abertura deste tempo chegado; como quem é apagado pela borracha da mão se achando no erro, desapareceu, esquivou-se entre as sebes do lugar, e nunca mais o vimos! Uma semana depois, quando Ana e eu (ao voltarmos daquela fonte ocidental) estávamos sentados à porta da casa tomada por ervas, uma pomba luminosa veio e pousou no parapeito da janela ardida em feixes, em aros de estanho vil, e, ali, como se nos conhecesse há muitos anos (e seus olhos muito se assemelhavam aos de meu pai), ficou a nos observar, vigiando, atenta, nossos gestos, nossos movimentos; era bastante suave seu ruflar, bater de asas e, no seu voo de luzes, preocupou em estar sempre perto de nós; mas os fluídos emitidos de sua aura, do eixo de seu ser, não lhe premeditavam que em si Sat era sadia, que em si Ananda ainda era leve, frágil como casca de ovo. Chega um tempo em que a desolação é total, em que nunca sabemos se já estamos, ou estamos, em que nos vem o pensar de onde viemos e até quando iremos; e fora por este tempo, e devido a ele somente, que íamos todos os dias àquela fonte ocidental, numa eternidade que só o Céu e a Terra hão de provar; e, por não compreendermos este fato, ansiávamos o ápice da existência, mesmo que fosse por um segundo, mesmo que nos fosse árduo o instante de admitirmos que não estarmos vivendo e, por imaginarmos assim, dessa maneira tal, é que fomos à fonte, naquele meio-dia de setembro, com o intento de lá sorvemos o alento; para nossa tristeza, nossa desilusão, ela não mais jorrou para Ana e, como espectadores do Infinito, postamo-nos ante ela estáticos, e mudos, na persistência, ou espera, do ato de Ana, de sua mão pênsil em forma de cuia; a fonte naquele dia jorrou apenas para mim; desencantados, retornamos à tarde a este tempo chegado. Voltamos, noutro dia, à fonte, àquele mundo de fascínio e encanto, mal o sol surgira; no entanto, ela, a fonte, jamais jorrou para Ana; e não me era possível ceder de meu alento, ou seja, do que ela me ofertava, à minha irmã, pois o que me era dado era dado rapidamente, e, rapidamente, eu deveria bebê-lo; não havia tempo para ceder a ela; e Ana, então, uma semana após, quando esgotada na sala da casa em ervas, mirou-se no espelho em que meu pai antes se mirara, e sua imagem também sequer se refletiu; sentindo-se abatida, feito um elefante que, pressentindo a morte, a vida, chegando, caminha no rumo de seu cemitério, ela desapareceu, sumiu na névoa, no calor das tabocas ardendo. Vencidos os dias, outra pomba, voando em tênues raios de luz, pousou no parapeito das janelas em ervas, e ali permaneceu, o coração pulsando na pele iluminada do peito; eram, agora, duas pombas em luz sutil; e uma delas, se estou certo, tinha o perfil igual ao de Ana; aquilo me fez pensar no que era existir. Chega um tempo em que tempo é de repensar, e é deste tempo que ora falo; a quem interessar, deixo escrito no pano de algodão branco da mesa: há dias vou àquela fonte ocidental, e ela até hoje nunca me negou seu alento e em mim, por mais que eu não queira, Ananda é forte, vibra como lírios no campo, enquanto Sat se me soa ininterruptamente; por mais que eu procure, não compreendo ainda o que é existir, sobretudo porque Thia­go e Ana já não se fazem mais presentes, e a solidão, por cá, é abismo, ferrete imóvel no ar, entre os vãos dos caibros; e nada é mais triste do que não ter alguém pra conversar, dizer alguma coisa, a não ser aquelas duas pombas, sobre o parapeito da janela, que não sei se são ou se realmente são; e o pior de tudo é ter, ainda, a amarga certeza de que aquela fonte ocidental jamais me negará seu alento! Derlermando Vieira é escritor. via Revista Bula

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De 27 de abril a 3 de maio