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Aldo Vannucchi conta, no livro “Alexandre Vannucchi Lemes — Jovem, Estudante, Morto Pela Ditadura” (Contexto, 176 páginas), a história do líder estudantil na USP e militante da esquerda. Aldo é seu tio e biógrafo. O livro é apresentado como um testemunho pessoal, dolorido. Não é uma vingança, e sim uma espécie de esclarecimento.
Um retrato vivo do século 20, e não apenas nos Estados Unidos, pode ser visto e apreciado no livro “Memórias” (Topbooks, 788 páginas, tradução de Vera Giambastiani e Antonio Sepulveda, dois volumes), do historiador e diplomata George F. Kennan. O livro, ganhador do Pulitzer e do Book Critics Circle Award, é uma obra-prima. Nenhuma biblioteca de um indivíduo culto pode dispensá-la.
Sinopse da editora: “Essa autobiografia revela os anos de George Kennan (1904-2005) como diplomata em Berlim, Moscou e Praga, e em Washington como arquiteto da política externa do pós-guerra. Na ocasião de seu lançamento, em 1967, foi saudada pela revista ‘New Republic’ como ‘o mais precioso livro político escrito por um americano no século XX’.
“Criador da ideia de ‘contenção’ da União Soviética, Kennan esteve presente em todos os acontecimentos importantes — desde os anos 40, sob a presidência de Harry Truman, até o fim da Guerra Fria em 1991.”
Trata-se de um verdadeiro mapa da mina para entender o século 20.
Os jornalistas Ciça Guedes e Murilo Fiuza de Melo lançam o livro “O Caso dos Nove Chineses — O Escândalo Internacional Que Transformou Vítimas da Ditadura Militar Brasileira em Heróis de Mao Tsé-tung” (Objetiva, 272 páginas). Os chineses, acusados de conspirar contra o governo brasileiro, foram presos e torturados. Sinopse da editora: “Na madrugada de 3 de abril de 1964, três dias após o golpe militar, policiais do Departamento de Ordem Política e Social invadiam, sem ordem judicial, um apartamento no bairro do Flamengo, no Rio, e capturavam um grupo de estrangeiros. As torturas começaram ali mesmo. “Horas depois, os homens da polícia política entravam em outro prédio, no Catete, e detinham mais pessoas. No fim do dia, nove chineses estavam presos, identificados como agentes internacionais instalados no Brasil para disseminar a revolução comunista. Mas a verdade é que viviam legalmente no país. “Dois eram jornalistas, quatro tinham vindo montar uma feira de produtos da China e os demais vieram comprar algodão. Tornaram-se vítimas da paranoia anticomunista da época, alimentada pelo governador Carlos Lacerda. Foram condenados a dez anos de prisão por subversão e, após mais de um ano detidos, acabaram expulsos do país. “O Brasil nunca pediu desculpas nem devolveu o dinheiro apreendido com o grupo — um valor que hoje ultrapassa R$ 800 mil. Em seu país, eles se tornaram heróis nacionais e ficaram conhecidos como ‘Nove Estrelas’ ou ‘Nove Corações Vermelhos voltados para a Pátria’. “Brasil e China estabeleceram relações diplomáticas dez anos depois, em 1974, mas o incidente ficou esquecido em arquivos secretos. Em ‘O Caso dos Nove Chineses’, os jornalistas Ciça Guedes e Murilo Fiuza de Melo trazem à tona agora, cinquenta anos depois, história do primeiro escândalo internacional de violação dos direitos humanos da ditadura militar brasileira.”
Sai o primeiro livro sobre o político pernambucano Eduardo Campos, falecido recentemente, aos 49 anos. Em “Eduardo Campos — Um Perfil (1965-2014)”, com 96 páginas, os jornalistas Chico de Góis e Simone Iglesias procurar apresentar, de maneira o mais ampla possível, aquele que governou Pernambuco por duas vezes e era o terceiro colocado nas pesquisas de intenção de voto para presidente da República. O livro de Góis e Iglesias sai pela Editora Leya Brasil e custa R$ 14,90.
Iúri Rincon Godinho Três pessoas se juntaram para escrever um livro que não traz nada de novo nessa pavorosa história de loucura e morte de Eliza Samudio, uma modelo, garota de programa, atriz de filmes pornográficos, apaixonada por jogadores de futebol e que queria “apenas” se dar bem na vida. Para quem acompanhou o caso pela imprensa ,“Indefensável” (um belo título dado o contexto e a profissão do goleiro Bruno) nada acrescenta e, para piorar, a parte final trata de maneira detalhada e sonolenta o longo julgamento dos acusados do crime. Bola, o assassino frio e, fica subentendido, matador de aluguel, talvez seja o personagem mais interessante dessa história, sobre como um policial treinado para defender a sociedade acaba se revoltando contra ela e fazendo justiça à sua maneira. Mas a obra passa apenas de raspão por ele. De interessante mesmo apenas a desconstrução de um ser humano, no caso Bruno, um atleta talentosíssimo que, sem educação adequada e vindo de um lar desfeito — o que parece servir de desculpa para todas as atrocidades do planeta —, sobe aos céus e desce ao inferno que ele mesmo criou. Recentemente, estive com o maior ídolo da história do Vila Nova, o atacante Guilherme, que jogou no final dos anos 60 e início dos 70. Emocionado, contou que se arrependia apenas de uma coisa no futebol: não ter tido orientação de uma pessoa mais velha, um empresário, um familiar, um extraterrestre, qualquer um. O mesmo se aplica ao goleiro Bruno. Tudo indica que Bruno é quem estava orientando as pessoas, e, claro, mal. Quando começou a ganhar dinheiro e fazer sucesso, deixou de ser o garoto simples da periferia para se transformar em um perdulário — sorte dos “amigos” — e um predador sexual, que não deixava passar uma, apesar de já casado com a companheira que sempre o amou, compreendeu e, no final, o ajudou no crime e foi condenada por isso. Mas o goleiro continuou bronco e ingênuo, tanto que transou — e engravidou — a modelo Eliza Samudio em uma orgia e foi o único a não usar camisinha. O relacionamento entre Bruno e Macarrão, seu braço direito, é tratado correta e paradoxalmente como sexual sem sexo, lembrando a complexidade do ser humano e as muitas formas de convivência não percebidas pelo comportamento “normal” da sociedade. No fim de tudo, com todos presos, fica a lição: não é só o dinheiro, o sexo, o poder e o sucesso que corrompem, mas também — e muito — a falta de educação. Iúri Rincon Godinho é jornalista. Serviço Título: “Indefensável – O Goleiro Bruno e a História da Morte de Eliza Samudio” Autores: Paulo Carvalho, Leslie Leitão e Paula Sarapu. Editora: Record Páginas: 266 Preço: 32 reais
“Desagregação — Por Dentro de uma Nova América” (Companhia das Letras, 496 páginas, tradução de Pedro Maia Soares), de George Packer, é um mergulho profundo nos Estados Unidos raramente apresentados ao mundo e aos próprios americanos. Os EUA, suposta meca dos deserdados de outros países, são expostos com crueza pelo autor. Sinopse divulgada pela editora: “A democracia americana está em crise. Mudanças sísmicas no espaço de uma geração produziram um país de perdedores e vencedores; ao mesmo tempo que criou possibilidades antes inimagináveis de ascensão social, e uma liberdade sem precedentes (nos costumes, iniciativa, vida privada), esse novo estado de coisas conduziu o sistema político à beira da falência e deixou legiões de cidadãos à deriva. É esse outro lado da moeda, o verso da fortuna e da liberdade, o que interessa a George Packer em ‘Desagregação’. “Nesta viagem à nova América, o leitor encontrará figuras como Danny e Ronale Hertzell, de Tampa, na Flórida, que largam a escola para se casar e a quem a “terra das oportunidades” oferece subempregos no Walmart, habitação num estacionamento de trailers e o completo afastamento de familiares e amigos; Tammy Thomas, uma operária que luta para se manter no Cinturão da Ferrugem, região do Meio-Oeste que perde suas indústrias de forma irreversível e se converte num aglomerado de urbes fantasmas; mas também Jeff Connaughton, um lobista de Washington que oscila entre o idealismo político e o fascínio do capital organizado, e Peter Thiel, o bilionário do Vale do Silício que questiona o significado da internet. “Packer justapõe essas histórias a breves perfis de personalidades públicas desta nova era, de Oprah Winfrey a Jay-Z, e colagens feitas de manchetes de jornal, slogans de propaganda e letras de canções que captam a corrente dos acontecimentos e seus mecanismos internos, numa tradição que remonta à Trilogia Americana de John dos Passos. “Desagregação retrata um superpoder ameaçado de perder sua essência, com elites sem qualquer senso de responsabilidade, instituições que não mais funcionam, pessoas comuns às quais não resta nada senão improvisar esquemas próprios de salvação e sucesso.” Katherine Boo escreveu sobre o livro: “Um dos melhores trabalhos de não ficção que li em muitos anos”.
"O Capital no Século XXI” (Intrínseca, 768 páginas, tradução de Monica Baumgarten de Bolle), do economista Thomas Piketty, já pode ser pedido nos portais de algumas livrarias, como a Cultura. Bombardeado pelo “Financial Times”, que listou alguns erros, por economistas e jornalistas liberais, o livro se tornou um best seller mundial. Livro denso, produto de várias pesquisas, tanto de Piketty quanto de outros pesquisadores, “O Capital” será deglutido aos poucos. No momento, está sob ataque dos liberais, que o percebem praticamente como uma análise marxista do capitalismo — o que, certamente, não é (o próprio Piketty confessa que não é um grande leitor de Marx e sugere que o filósofo e economista alemão não era atento aos dados. Acusação, aliás, que começa a ser feita ao scholar francês). É provável que o autor vá retomá-lo, corrigindo possíveis erros. Mas só tempo dirá se as ideias são mesmo sólidas. As leituras do momento ainda são preliminares. Só aos poucos, com o cruzamento de várias leituras, é que se poderá fazer uma interpretação mais detida e precisa do amplo e problemático estudo do francês. Ao pretender reformar o capitalismo, e não “mudá-lo” estruturalmente, criando um novo sistema — que é o projeto dos marxistas —, Piketty talvez esteja mais próximo do inglês John Maynard Keynes. O francês defende a redução das desigualdades sociais — para tanto, atribuindo um papel crucial ao Estado, ao sugerir que deve tributar crescentemente os mais ricos — e não a construção de uma sociedade sem classes sociais. Sinopse da obra divulgada pela editora:
“Nenhum livro de economia publicado nos últimos anos foi capaz de provocar o furor internacional causado por ‘O Capital no Século XXI’, do francês Thomas Piketty. “Seu estudo sobre a concentração de riqueza e a evolução da desigualdade ganhou manchetes nos principais jornais do mundo, gerou discussões nas redes sociais e colheu comentários e elogios de diversos ganhadores do Prêmio Nobel. “Fruto de quinze anos de pesquisas incansáveis, o livro se apoia em dados que remontam ao século XVIII, provenientes de mais de vinte países, para chegar a conclusões explosivas. O crescimento econômico e a difusão do conhecimento impediram que fosse concretizado o cenário apocalíptico previsto por Karl Marx no século XIX. “Porém os registros históricos demonstram que o capitalismo tende a criar um círculo vicioso de desigualdade, pois, no longo prazo, a taxa de retorno sobre os ativos é maior que o ritmo do crescimento econômico, o que se traduz numa concentração cada vez maior da riqueza. Uma situação de desigualdade extrema pode levar a um descontentamento geral e até ameaçar os valores democráticos. “Mas Piketty lembra também que a intervenção política já foi capaz de reverter tal quadro no passado e poderá voltar a fazê-lo. Essa obra, que já se tornou uma referência entre os estudos econômicos, contribui para renovar inteiramente nossa compreensão sobre a dinâmica do capitalismo ao colocar sua contradição fundamental na relação entre o crescimento econômico e o rendimento do capital. O capital no século XXI nos obriga a refletir profundamente sobre as questões mais prementes de nosso tempo.”
Livro conta como o ex-goleiro do Flamengo planejou o assassinato da mãe de seu filho
A Editora Companhia das Letras lança o polêmico “O Réu e o Rei — Minha História com Roberto Carlos, em Detalhes”, que, se não for censurado, deve se tornar um dos best sellers deste ano
Max Hasting não brinca em serviço. Grande historiador da Segunda Guerra Mundial, o britânico volta-se, neste livro, para a Primeira Guerra Mundial, ou Grande Guerra, no livro “Catástrofe — 1914: A Europa Vai à Guerra” (Intrínseca, 704 páginas, tradução de Berilo Vargas). Um dos segredos de Hasting é unir com precisão a história miúda, do cotidiano, à história das cúpulas.
Há historiadores que, na ânsia de valorizar o povão, praticamente ignoram a história das elites. Há outros que, no afã de sustentar que a história é feita mais pelos grandes líderes, como Franklin D. Roosevelt, Josef Stálin, Winston Churchill e Charles de Gaulle, abandonam a história do povão. Hasting, com a mestria de sempre, escapa desta armadilha. Correm juntas, nunca separadas, as grandes histórias dos grandões e dos pequenos — com o hábil pesquisador, com seu “cérebro-agulha” de ouro, costurando com linhas de diamante uma única história, mas registrando as especificidades, os sentimentos de cada um, as contradições.
Por certo, há de agradar mais ao jornalismo e aos que adoram polêmicas o também magnífico “O Horror da Guerra” (Planeta do Brasil, 768 páginas), com o subtítulo de “Uma Provocativa Análise da Primeira Guerra Mundial”, do historiador inglês Niall Ferguson. Não que Ferguson escreva mal — longe disso, pois escreve muito bem, com rara capacidade de conectar e analisar fatos —, mas Hasting parece um cronista, digamos um escritor, ao narrar as histórias da Grande Guerra. A Primeira Guerra Mundial, embora seja a tragédia que gerou um mundo novo — inclusive outras guerras, como a Revolução Russa e a Segunda Guerra Mundial —, contada por Hasting, perdoe-me as vítimas das batalhas cruentas, é uma delícia.
Ao contar a vida de algumas pessoas, que participaram direta ou indiretamente da guerra, Hasting cria uma história viva, mais próxima de todos nós, seus leitores. Sob sua pena perceptiva, a Grande Guerra parece ter acontecido ontem e, por isso, é mais fácil de ser apreendida.