A história do goleiro Bruno e de Eliza Samudio: falta de educação também mata

15 junho 2014 às 07h08
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Iúri Rincon Godinho
Três pessoas se juntaram para escrever um livro que não traz nada de novo nessa pavorosa história de loucura e morte de Eliza Samudio, uma modelo, garota de programa, atriz de filmes pornográficos, apaixonada por jogadores de futebol e que queria “apenas” se dar bem na vida.
Para quem acompanhou o caso pela imprensa ,“Indefensável” (um belo título dado o contexto e a profissão do goleiro Bruno) nada acrescenta e, para piorar, a parte final trata de maneira detalhada e sonolenta o longo julgamento dos acusados do crime.
Bola, o assassino frio e, fica subentendido, matador de aluguel, talvez seja o personagem mais interessante dessa história, sobre como um policial treinado para defender a sociedade acaba se revoltando contra ela e fazendo justiça à sua maneira. Mas a obra passa apenas de raspão por ele.
De interessante mesmo apenas a desconstrução de um ser humano, no caso Bruno, um atleta talentosíssimo que, sem educação adequada e vindo de um lar desfeito — o que parece servir de desculpa para todas as atrocidades do planeta —, sobe aos céus e desce ao inferno que ele mesmo criou.
Recentemente, estive com o maior ídolo da história do Vila Nova, o atacante Guilherme, que jogou no final dos anos 60 e início dos 70. Emocionado, contou que se arrependia apenas de uma coisa no futebol: não ter tido orientação de uma pessoa mais velha, um empresário, um familiar, um extraterrestre, qualquer um. O mesmo se aplica ao goleiro Bruno. Tudo indica que Bruno é quem estava orientando as pessoas, e, claro, mal.
Quando começou a ganhar dinheiro e fazer sucesso, deixou de ser o garoto simples da periferia para se transformar em um perdulário — sorte dos “amigos” — e um predador sexual, que não deixava passar uma, apesar de já casado com a companheira que sempre o amou, compreendeu e, no final, o ajudou no crime e foi condenada por isso. Mas o goleiro continuou bronco e ingênuo, tanto que transou — e engravidou — a modelo Eliza Samudio em uma orgia e foi o único a não usar camisinha.
O relacionamento entre Bruno e Macarrão, seu braço direito, é tratado correta e paradoxalmente como sexual sem sexo, lembrando a complexidade do ser humano e as muitas formas de convivência não percebidas pelo comportamento “normal” da sociedade.
No fim de tudo, com todos presos, fica a lição: não é só o dinheiro, o sexo, o poder e o sucesso que corrompem, mas também — e muito — a falta de educação.
Iúri Rincon Godinho é jornalista.
Serviço
Título: “Indefensável – O Goleiro Bruno e a História da Morte de Eliza Samudio”
Autores: Paulo Carvalho, Leslie Leitão e Paula Sarapu.
Editora: Record
Páginas: 266
Preço: 32 reais