Reforma do capitalismo proposta por Thomas Piketty o aproxima mais de Keynes do que de Marx

07 junho 2014 às 10h52
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“O Capital no Século XXI” (Intrínseca, 768 páginas, tradução de Monica Baumgarten de Bolle), do economista Thomas Piketty, já pode ser pedido nos portais de algumas livrarias, como a Cultura. Bombardeado pelo “Financial Times”, que listou alguns erros, por economistas e jornalistas liberais, o livro se tornou um best seller mundial.
Livro denso, produto de várias pesquisas, tanto de Piketty quanto de outros pesquisadores, “O Capital” será deglutido aos poucos. No momento, está sob ataque dos liberais, que o percebem praticamente como uma análise marxista do capitalismo — o que, certamente, não é (o próprio Piketty confessa que não é um grande leitor de Marx e sugere que o filósofo e economista alemão não era atento aos dados. Acusação, aliás, que começa a ser feita ao scholar francês). É provável que o autor vá retomá-lo, corrigindo possíveis erros. Mas só tempo dirá se as ideias são mesmo sólidas. As leituras do momento ainda são preliminares. Só aos poucos, com o cruzamento de várias leituras, é que se poderá fazer uma interpretação mais detida e precisa do amplo e problemático estudo do francês.
Ao pretender reformar o capitalismo, e não “mudá-lo” estruturalmente, criando um novo sistema — que é o projeto dos marxistas —, Piketty talvez esteja mais próximo do inglês John Maynard Keynes. O francês defende a redução das desigualdades sociais — para tanto, atribuindo um papel crucial ao Estado, ao sugerir que deve tributar crescentemente os mais ricos — e não a construção de uma sociedade sem classes sociais.
Sinopse da obra divulgada pela editora:
“Nenhum livro de economia publicado nos últimos anos foi capaz de provocar o furor internacional causado por ‘O Capital no Século XXI’, do francês Thomas Piketty.
“Seu estudo sobre a concentração de riqueza e a evolução da desigualdade ganhou manchetes nos principais jornais do mundo, gerou discussões nas redes sociais e colheu comentários e elogios de diversos ganhadores do Prêmio Nobel.
“Fruto de quinze anos de pesquisas incansáveis, o livro se apoia em dados que remontam ao século XVIII, provenientes de mais de vinte países, para chegar a conclusões explosivas. O crescimento econômico e a difusão do conhecimento impediram que fosse concretizado o cenário apocalíptico previsto por Karl Marx no século XIX.
“Porém os registros históricos demonstram que o capitalismo tende a criar um círculo vicioso de desigualdade, pois, no longo prazo, a taxa de retorno sobre os ativos é maior que o ritmo do crescimento econômico, o que se traduz numa concentração cada vez maior da riqueza. Uma situação de desigualdade extrema pode levar a um descontentamento geral e até ameaçar os valores democráticos.
“Mas Piketty lembra também que a intervenção política já foi capaz de reverter tal quadro no passado e poderá voltar a fazê-lo. Essa obra, que já se tornou uma referência entre os estudos econômicos, contribui para renovar inteiramente nossa compreensão sobre a dinâmica do capitalismo ao colocar sua contradição fundamental na relação entre o crescimento econômico e o rendimento do capital. O capital no século XXI nos obriga a refletir profundamente sobre as questões mais prementes de nosso tempo.”