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Serão seis filmes em formatos diversos: curtas-metragens ficcionais, documentários, videoclipes e filmes experimentais.

O filme goiano Horizonte, cuja história se passa na cidade de Aparecida de Goiânia, foi indicado para a mostra competitiva da 16ª edição do Los Angeles Brazilian Film Festival (LABRFF), disputando a categoria de longas-metragens de ficção. Considerado um dos mais importantes festivais de cinema brasileiro no exterior, o evento será realizado entre os dias 23 e 27 de outubro, na cidade de Culver, na Califórnia, nos Estados Unidos.
Dirigido por Rafael Calomeni, Horizonte conta o drama do solitário Ruy (Raymundo de Souza), que mora em um barracão nos fundos da casa de seu irmão mais velho. Com a morte do irmão, seu sobrinho Juarez (Ronan Horta) passa a morar na casa com a esposa Sônia (Alexandra Richter) e a filha Sara (Pérola Faria). A partir daí começam os problemas de relacionamento de Ruy e seu sobrinho-neto Junior (Artur D'Farah), filho renegado por Juarez, com o restante da família.
O filme goiano tem produção e roteiro assinados por Dostoiewski Champangnatte e Lu Klein, e produção executiva de Cecília Brito. Além da participação no Los Angeles Brazilian Film Festival, o longa-metragem foi o grande destaque do Festival de Cinema de Vassouras, no Rio de Janeiro, ao conquistar quatro prêmios, incluindo Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Direção.
Fomento à cultura
Horizonte é mais um projeto apoiado pelo Programa Estadual de Incentivo à Cultura – Goyazes, mecanismo de fomento do Governo de Goiás, gerenciado pela Secretaria de Estado da Cultura (Secult). A iniciativa consiste no financiamento de projetos por empresas privadas, em troca da concessão do benefício fiscal do ICMS.
Dessa forma, após a fase de inscrições, os projetos culturais são avaliados pelo Conselho Estadual de Cultura e homologados pela Secult. Aqueles que forem aprovados passam a fazer parte de um banco de dados on-line. Assim, a empresa que solicita a concessão do benefício pode escolher um projeto para financiar.
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Enredo, originado na região goiana, gira em torno da personagem principal, Helena, uma pré-adolescente que é transgênero

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O filme, gravado na casa da família do diretor, no Setor Sudoeste, em Goiânia, tem narrativa não-linear, com brigas, fantasmas e uma raiz que é desenterrada e enterrada novamente

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"Perambulação" merece ser visto pela importância no mercado audiovisual goiano, que se fortalece a cada dia, e pelo amadurecimento do diretor e roteirista, em comparação a suas obras passadas
[caption id="attachment_101029" align="aligncenter" width="620"] Filme "Perambulação", de Samuel Peregrino[/caption]
Não se sabe o que é mais difícil: o surgimento de boas obras cinematográficas goianas, ou sua divulgação. Porque se existe um problema grave (e antigo) envolvendo o cinema nacional, esse problema está justamente na dualidade produção x distribuição.
Foi pensando nessa questão que o diretor goiano Samuel Peregrino decidiu ousar, contrariando a lógica do mercado - principalmente a do mercado local - e lançando seu mais novo filme diretamente numa plataforma de streaming digital. "Perambulação" (que até poderia narcisisticamente se chamar "Peregrinação"), a terceira obra de sua já elogiada filmografia, estreou sexta (28/07) no recém lançado portal do Snapcine, uma plataforma digital inteiramente voltada ao streaming de filmes brasileiros.
Peregrino surge mais maduro nesse novo filme, a começar por suas escolhas. A ficha técnica da obra, enriquecida com as participações (dentre outras) de Pedro Gomes, Isaac Brum, Taynara Borges e Marcos Bruno conta ainda com Tiago Rener e Carlos Brandão atuando. Todos nomes conhecidos no audiovisual goiano. Samuel assina a direção e o roteiro.
Com a participação decisiva de uma equipe técnica já experimentada, "Perambulação" consegue ir além do que "Dejejum" (2014) e "Ensaio sobre um fim de mundo" (2016) já haviam conseguido. Com um roteiro mais complexo que o primeiro e menos experimental que o último, a obra certamente se destaca dentre a produção audiovisual universitária.
A estória centra-se em Nathanael, porteiro de um prédio que sofre com noites de sono mal dormidas e pesadelos constantes. Para resolver seus distúrbios noturnos, procura o Dr. Coppelius, um especialista no sono, que lhe aplica métodos nada ortodoxos. O tiro sai pela culatra. A vida de Nathanael vira um emaranhado de imagens e sensações, num labirinto onírico sem fim.
É interessante a influência declarada que a obra pega no conto "Homem de Areia", do escritor alemão Ernst Theodor Amadeus Hoffmann, no qual um outro Nathanael tropeça entre realidade e ilusão. No conto, o protagonista é assombrado pelo Homem de Areia, uma figura que os pais usavam para obrigar as crianças a dormir. O monstro, dizia-se, roubava os olhos das crianças desobedientes, jogando-as num mundo de suplícios e delírios.
Não se sabe a quem o Nathanael de Peregrino desobedeceu durante a infância. Mas o que vemos na tela é um homem sem olhos para a realidade, lutando para escapar de um pesadelo que não tem fim. E não adianta obrigá-lo a dormir. "Toda a vida era para ele sonho e pressentimento", é a frase pinçada do conto e que abre o filme.
Curiosamente, o que traz paz ao protagonista é a música, expressa nos arranjos de uma gaita. Coincidência ou não, Coppelius (nome do especialista em sono na obra de Samuel, e de um dos personagens do conto de Hoffmann) é também o nome de uma banda metaleira alemã, que faz músicas pesadas usando clarineta, violoncelo e uma boa dose de teatro. Tão interessante quanto improvável. Talvez uma metáfora perfeita para a vida do Nathanael do filme: na aspereza do batente, ainda há tempo e espaço para a delicadeza e o lirismo - ainda que em desespero.
O filme tem desenvoltura ao manejar os diversos aspectos técnicos. Som e fotografia se destacam pela falta de excessos. A simbologia dos planos também é trabalhada de forma interessante e consegue presentear o espectador com belos momentos (a cena em que Nathanael desperta, com o rosto cheio de fios, e sua cabeça se sobrepõe a um grande olho na parede ao fundo é genial).
Por tudo isso, "Perambulação" merece ser visto. Pela importância no mercado audiovisual goiano, que se fortalece a cada dia. Pelo amadurecimento do diretor e roteirista, em comparação a suas obras passadas. Pela riqueza simbólica da estória e da linguagem cinematográfica utilizada - esta última, em flagrante superioridade à maioria dos curtas nacionais independentes, seja quanto à fotografia, som ou atuação.
Ganham os espectadores e o próprio cinema goiano. Porque ao contrário de Nathanael, seu personagem, Samuel Peregrino sabe muito bem aonde está indo.