Um homem de 34 anos foi preso nesta quinta-feira, 29, suspeito de espancar a esposa e o próprio filho, de 5 anos, após a mulher se recusar a manter relações sexuais com ele. O caso ocorreu em Guapó. A mulher, de 21 anos, sofreu lesões no pescoço e no braço, enquanto a criança teve os dentes quebrados ao tentar defender a mãe. 

Segundo a Polícia Civil (PC), o homem foi autuado em flagrante pelos crimes de lesão corporal em âmbito doméstico e dano qualificado, visto que durante as agressões, ele também quebrou o aparelho celular da companheira. Essa mulher, agora, faz parte das mais de 48,2 mil vítimas de violência doméstica registradas em Goiás entre 2022 e 2023.

Os crimes contra a mulher, inclusive, aumentaram 2% entre os meses de janeiro e março, conforme dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP). Em 89 dias (de 2023), o estado registrou 9.750 mulheres vítimas de violência, enquanto que no mesmo período do ano passado foram 9.550 ocorrências. Ou seja, a cada hora, quatro mulheres sofreram algum tipo de crime, totalizando 109 registros por dia e 3.250 ao mês.

De acordo com a SSP,  houve aumento em todas as áreas de violência, exceto feminicídio (baixa de 18,7%) e crimes contra a honra – calunia difamação e injuria (baixa de 0,3%). Porém, crimes como estupro (aumento de 4,1%), ameaça (aumento de 2,1%) e lesão corporal (aumento de 4,6%) chamam a atenção. 

Neste ano, a ocorrência mais registradas foi de ameaça, com 4.027 denúncias, seguindo pelos crimes contra a honra (2.855), lesão corporal (2.779), estupro (76) e feminicídio (13). 

Falta de políticas públicas 

Para a delegada Renata Cunha, o aumento pode estar relacionado ao acesso à informação, que encoraja e facilita a vítima a procurar ajuda, além da redução em investimentos de políticas públicas para o acolhimento a mulheres em situação de violência. 

“As mulheres mais vulneráveis têm muita dificuldade de sair da situação de violência, pois na maioria das vezes dependem financeiramente do agressor. É preciso que haja estrutura para acolhimento e inclusão social dessas mulheres para garantir que não voltem para o ambiente de violência por força da dependência”, disse. 

A investigadora explica que os agressores não possuem um perfil, mas que é possível identificá-los por meio de comportamentos, como ciúmes possessivos e até a interferência no modo como a companheira se veste. O hábito de controlar as redes sociais, manipular situações e até mesmo a forma como falar, com a presença de xingamentos, pode servir de alerta. 

Renata afirma que a violência pode acontecer mesmo que o casal não divida o mesmo teto, sendo que em alguns casos a mulher pode não perceber que está sendo vítima de um relacionamento abusivo. O agressor, inclusive, pode oscilar de comportamentos, sendo carinhoso, romântico, calmo e até mesmo com tentativas de “inverter o jogo”, fazendo com que a vítima se sinta culpada por determinadas situações.

“Identificar um agressor de mulher não é tarefa simples. Em geral, este criminoso não tem características aparentes e, em muitos casos, sequer possui antecedentes criminais. A mulher deve encerrar o relacionamento assim que acreditar ser necessário. Ela deve ignorar as desculpas e ir a polícia, caso seja necessário”, explicou.

Denúncias

Renata diz que as mulheres vítimas de violência podem procurar a Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (DEAM) ou qualquer outra delegacia para denunciar o companheiro. Há ainda órgãos municipais e estaduais, além de aplicativos que também podem ser procurados, como a Polícia Militar (PM) e o app Mulher Segura. Os números 190, 197, 180 e 100 também funcionam 24h.

“No MP [Ministério Público] pode ser feita a denúncia de atos de violência doméstica, eles remetem a denúncia à delegacia. Para pedir ajuda, a mulher agredida pode desenhar um ‘x’ na mão, de preferência vermelho, feito com batom ou caneta, e mostrá-lo em alguma repartição pública ou estabelecimento comercial para sinalizar que está em perigo”, concluiu.