O processo envolvendo o racha que resultou na morte de dois jovens ainda tramita no Tribunal de Justiça (TJ) sem prazo para ser julgado, dois anos após o acidente na Avenida T-9, em Goiânia. A disputa automotiva fez com que um dos carros de luxo capotasse, provocando a morte da adolescente Marcella Sônia Gomes do Amaral, de 15 anos, e do estudante Wictor Fonseca Rodrigues, de 20 anos.

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As vítimas estavam na companhia de Eduardo Henrique de Souza Resende, que dirigia a caminhonete que capotou, e Arthur Yuri, motorista da BMW. Além dos condutores, outras três pessoas sobreviveram ao acidente que ocorreu no dia 7 de maio de 2022. Na época, duas das passageiras precisaram ser hospitalizadas.

Eduardo foi acusado pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO) por homicídio duplamente qualificado e Arthur por tentativa de homicídio dos três passageiros sobreviventes. Em fevereiro, o TJ anulou a decisão do juiz Lourival Machado da Costa, da 2ª Vara de Crimes Dolosos Contra a Vida e do Tribunal do Júri de Goiânia, após recursos apresentados pela defesa dos acusados. 

O magistrado havia mandado os condutores à júri popular em documento assinado no dia 28 de agosto de 2023, mas a decisão perdeu a validade e, por isso, o caso voltará para a audiência de interrogatório. A data do julgamento ainda não havia sido acertada.

Em abril houve outra sessão para votar um novo recurso colocado pela defesa de Arthur. No momento, o processo está em fase de recursos, onde o MP pode recorrer da decisão. Além disso, não há nenhuma audiência ou sessão de julgamento agendada. Procurado, o TJ informou que não encaminha notas sobre processos judiciais.

Motoristas dos carros de luxo envolvidos em racha | Foto: reprodução

Família espera decisão 

A anulação do júri não agradou os familiares das vítimas. O pai de Wictor, Cleuber Rodrigues de Lima, diz que ficou revoltado com a decisão e que ainda tem esperanças de que os motoristas sejam julgados pelas mortes. 

Wictor chegou a ser internado, mas teve a morte cerebral decretada dias depois do acidente. O rapaz, assim como Marcela, estava na caminhonete conduzida por Eduardo. O pai do rapaz ainda relembrou a rotina que tinha com o filho.

“A partir do momento em que o meu filho nasceu, dediquei a minha vida à ele. A gente treinava juntos, escolhemos o curso dele juntos. Já era para estar no segundo ano de engenharia agronômica. Depois que ele morreu, acabou tudo”, ressaltou.

O choque de perder o filho fez com que Cleuber procurasse ajuda psiquiátrica. Segundo ele, por semana, realiza duas sessões de terapia, além de fazer uso de remédios controlados. 

“A condenação não vai amenizar o que sinto, mas é preciso ter uma punição para que não aconteça novamente o que aconteceu com a gente. A minha família está destruída”, concluiu.  

Em nota, a defesa dos motoristas informou que espera que o caso seja reanalisado e os acusados saiam da esfera do homicídio doloso e respondam o processo por crime previsto na legislação de trânsito. A defesa disse ainda que mantém a expectativa de que o processo seguirá o caminho, sem vícios e sem nulidades. Veja nota completa abaixo.

Nota na íntegra da defesa dos motoristas

“A defesa mantém a expectativa de que o processo agora seguirá corretamente o seu caminho, sem vícios e sem nulidades. 

O que aconteceu no caso foi que o Tribunal de Justiça anulou a audiência e a própria decisão de pronúncia do juiz porque constatou a ocorrência de cerceamento de defesa, o que é muito grave; tanto, que o próprio Ministério Público concordou com a nulidade.

Por isso que decisão do magistrado perdeu a validade e o caso voltará para a audiência de interrogatório. 

O que a defesa espera quando isso acontecer, é que o caso seja devidamente reanalisado e os acusados saiam da esfera do homicídio doloso, que não ocorreu, e respondam o processo por crime previsto na legislação de trânsito, sendo esta solução a que mais condiz com a justiça”.

Caminhonete onde estavam Marcella e Wictor | Foto: reprodução