PMDB ensaia debandada e agrava crise política na prefeitura. Com nova moeda de troca, vereadores aliados escancaram falta de liderança do prefeito petista

Paulo Garcia durante entrevista para o Jornal Opção | Foto: Fernando Leite
Paulo Garcia durante entrevista para o Jornal Opção | Foto: Fernando Leite

Alexandre Parrode

A 48 horas do prazo final para a votação do projeto de reajuste do IPTU/ITU na capital, o prefeito Paulo Garcia (PT) assiste a mais uma da série de derrotas que tem sofrido desde que se reelegeu em 2012. À época, o então vice do aclamado Iris Rezende (PMDB) — tido como um dos “melhores” alcaides que Goiânia já viu — era a grande promessa de administrador, que merecia um mandato próprio para “mostrar seu potencial”. Venceu fácil as eleições, ainda no primeiro turno. E, possivelmente, essa foi a última vitória que o petista teve notícia.

Com perfil nada populista, Paulo Garcia passou por sérias dificuldades nesses últimos dois anos. Viu greves, caos em praticamente todos os setores públicos, fracassos na aprovação de projetos importantes (como o supracitado reajuste do IPTU), distanciamento do Governo Federal, uma rejeição assustadora bater à porta… Mas, a maior dificuldade da gestão ainda está por vir.

A derrota imposta pela oposição e o Bloco Moderado, que elegeram Anselmo Pereira (PSDB) presidente da Câmara Municipal para o biênio 2015/2016 — com votos de todos os vereadores da “base aliada”, diga-se de passagem –, é apenas a ponta do iceberg que se encontra bem à frente do navio comandado por Paulo Garcia.

“Comandado”.

Alguns culpam a inabilidade política. Outros, a falta de traquejo. Alguns chegam a falar em personalidade “forte”. O fato é que Paulo Garcia peca — e muito — quando o assunto é articulação. A prova maior é, justamente, a eleição no Legislativo. Sem marcar presença, o petista deixou que os tucanos (e desafetos) ditassem o destino do pleito.

Principal partido aliado, o PMDB — que comanda a Casa de Leis até o dia 31 de dezembro por meio do vereador Clécio Alves — foi o que mais reclamou da ausência de Paulo Garcia. Exemplo: Mizair Lemes Jr., peemedebista e um dos então defensores do Paço, é o 4º secretário da mesa diretora eleita. O motivo? Segundo o próprio, falta de direcionamento e liderança por parte do chefe do Executivo.

Ouve-se pelos corredores da Câmara que, no dia da eleição da nova direção, alguns secretários municipais tentavam, desesperançosos, “convencer” vereadores. Obviamente, a tentativa não prosperou. Deixaram para a última hora. Enquanto os oposicionistas debatiam nomes, os aliados barganhavam com a prefeitura e disputavam ego.

O que parecia uma estratégia silenciosa por parte de Paulo Garcia — que, erroneamente, seguiu à risca a assertiva de que “não se envolveria” em assuntos da Câmara — se tornou mais uma evidência concreta do improviso da administração do petista.

Sem consultar ninguém, o prefeito faz o que acha certo e apenas comunica decisões. O aumento do IPTU/ITU ilustra bem tal constatação. Jeovalter Correia, o secretário de Finanças, mandou avisar: “prefeitura não vai recuar no reajuste de 57,8%”. Resultado: vereadores, insatisfeitos com os desmandos do “comandante”, devolveram o recado: “não vamos aprovar a alíquota”. De 57,8% para 39,8% e, agora, 29%. Desde setembro, a queda e braço — que poderia ter sido resolvida com jogo de cintura — virou guerra.

Com as feridas abertas, Paulo Garcia não consegue mais estancar os sangramentos. É um dos poucos políticos que conseguiu perder, não só aliados, mas companheiros do próprio partido. Dos quatro vereadores eleitos pelo PT, em 2012, Paulo Garcia só tem, hoje, um ao seu lado. Isso mesmo: apenas o atual líder de governo, Carlos Soares. Tayrone di Martino, Felisberto Tavares e Djalma Araújo (que inclusive está no Solidariedade) romperam com o prefeito.

A falta de habilidade também foi evidenciada nas eleições ao Governo de Goiás neste ano. Mesmo em baixa, Paulo Garcia, como prefeito do maior colégio eleitoral do Estado, tinha a obrigação de ter sido figura de destaque na disputa. No entanto, mais uma vez, preferiu se omitir. Em vez de apoiar o candidato do PT, Antônio Gomide, escolheu trabalhar pelo padrinho, Iris Rezende.

Uma coisa ninguém pode negar: Paulo Garcia é extremamente leal a Iris. Mesmo tendo sido provocado algumas vezes sobre a dívida de cerca de 300 milhões de reais da Prefeitura de Goiânia e sua relação com o ex-prefeito peemedebista, o petista nega categoricamente. Fontes revelaram ao Jornal Opção Online que Iris tem tentado ajudar o atual prefeito. Contam que o decano fala, sugere, aconselha… Mas, o afilhado não consegue colocar em prática as orientações.

Por outro lado, sob o manto de “defensores da sociedade” e amedrontados com a proporção do desgaste de Paulo Garcia, peemedebistas têm, veladamente, sabotado o prefeito petista. No melhor estilo “partido fisiológico”, vereadores e lideranças da legenda apostam no naufrágio do navio Paulo Garcia e já fazem articulações com oposicionistas.

Só que, diferentemente dos ratos do famoso ditado, não estão deixando o barco. Com suas cotas de cargos no Paço, esses “aliados” incitam a rebelião, o rompimento do PMDB com o PT e uma candidatura independente em 2016. Falam até nos nomes mais indicados. Porém, nenhum deles fala em entregar os cargos. Pelo contrário… De maneira sutil, têm mandado um aviso: a alíquota da “aliança” vai subir. E sem precisar de votação.

Discreto, o vice-prefeito Agenor Mariano (PMDB) tem, aparentemente, se portado de maneira equilibrada na situação na qual se encontra a atual gestão. Enquanto os vereadores de seu partido dão sinais de que vão adotar a política do “quanto pior, melhor”, o vice — que, vale ressaltar, não tem nenhum cargo na Prefeitura — se absteve das últimas polêmicas. Não articulou na Câmara, nem tampouco no IPTU/ITU. Dizem que está à espera do chamado de Paulo Garcia, a quem mantém lealdade.

Os próximos dois anos não serão nada fáceis para o prefeito Paulo Garcia. Embora já deva estar acostumado com o mar bravo, ele vê seus próprios “marujos” mancomunar contra sua “navegação”. Não bastassem os opositores, que, obviamente, lucram com o desgaste atual, a “base” encontrou uma nova moeda de troca. Inviabilizam a gestão para, depois, “cobrarem” mais caro pelo apoio.

Resta saber se vão abandonar, de fato, o barco, ou continuarão furando buracos no casco.