O conflito de rua entre lulopetistas e militantes pelo impeachment da presidente Dilma assinalaram pelo menos duas coisas, na tarde-noite de terça-feira, 24, no Rio. Uma delas é o início de um processo de radicalização nas ruas a ser alimentado, dentro de dois domingos, pelas manifestações a favor do impedimento com apoio na crise social.

Outra coisa perceptível no conflito carioca em torno da Petrobrás foi o interesse de Lula em expor Dilma — não em blindá-la, diriam dilmistas. O ex procurou se afastar da sucessora, como se ela fosse a responsável pelo “petrolão”. A ideia estava em sua fala na reunião sobre a Petrobrás, aonde chegou apenas depois do confronto de rua:

— Nossa querida Dilma tem de levantar a cabeça, dizer “eu ganhei as eleições” e governar o país. Não pode ficar dando trela, se não ficamos paralisados. Nós ganhamos as eleições e parecemos envergonhados.

Quem teria de levantar a cabeça é Dilma. O problema seria da presidente. Lula não teria nada a ver com a quebra da petroleira, que entregou à sucessora quando ainda não se sabia de assaltos à empresa para beneficiar o projeto de poder do PT. Lula não apenas se blindou. Acirrou novos conflitos urbanos e rurais contra a oposição.

“Quero paz e democracia, mas eles não querem”, condenou o inconformismo. “Mas também sabemos brigar. Sobretudo quando Stedile colocar o exército dele nas ruas”, referiu-se ao líder do MST, João Pedro Stedile. Antes, estava combinado que o MST se manifestaria no próximo dia 13. Dois dias antes da oposição com o impeachment.

Outro sintoma de que a mobilização é lulopetista à revelia de Dilma esteve nas palavras de ordem que foram à rua. Todas se referiam ao ex, como aquele bordão “Lula, guerreiro do povo brasileiro”. Ninguém defendeu a presidente, embora fosse ela o tema da oposição, que respondeu aos lulistas com um “Lula ladrão”, sem rima.

A vez em que o ex mandou um companheiro em desgraça erguer a cabeça foi na campanha de outubro, em Brasília. “Levanta a cabeça, companheiro Agnelo e vai para a rua. Não tira a camisa do PT nem a estrela”, estimulou o governador Agnelo Queiroz, a quem foi socorrer, mas cuja reeleição sequer chegou ao segundo turno.

O favorito na eleição presidencial em Brasília era o tucano Aécio Neves, a quem Lula acusou, no comício de Agnelo, de defender um choque de gestão que “significa arrocho e corte de benefícios dos trabalhadores”. Não evitou que Aécio vencesse os dois turnos no Distrito Federal. Nem que o arrocho de Dilma seguisse aquele modelo.

A agressividade com que o lulopetismo, sob aquela camisa vermelha com a estrela do PT a que se referiu Lula, partiu com socos e pontapés para cima da turma do outro lado evoca embates na era FHC dos anos 90. A mesma camisa com estrela distribuiu os socos e pontapés pioneiros em interessados nas privatizações de estatais. A cena promete repetecos ao longo da campanha do impeachment.