Imprensa
O jornalista Jairo Menezes furou a imprensa com uma nota publicada no Facebook, que intitulou, com razão, de “Exclusivo”. Sua nota: “Suspenso o leilão que venderia área do jornal ‘Diário da Manhã’, de Goiânia. A última decisão ocorreu ontem [quinta-feira, 26]. Hoje [sexta-feira, 27] aconteceria o leilão, suspenso pelo juiz que havia decidido por acontecer hoje à tarde. O processo foi arquivado após as partes entrarem em acordo”. O “Diário da Manhã havia sido processado pela Empresa Brasileira de Telecomunicações (Embratel). A dívida inicialmente seria de 80 mil reais. Resumo da decisão do juiz Sandro Cássio de Melo Fagundes: “Homologo, por sentença, para que surta seus jurídicos e legais efeitos, o acordo celebrado entre as partes (fls. 553/556), e declaro extinto o processo, com fundamento no art. 269, III e 794, II, do CPC. Em consequência, suspendo a realização do leilão designado para o dia 27/03/2015. Custas finais pelo(a) executado(a). Honorários advocatícios na forma convencionada. Expeça-se ofício ao(s) CRI’S desta comarca, para o cancelamento de eventual constrição, que será cumprido pelo(s) respectivo(s) interessado(s). Comunique-se o leiloeiro a suspensão do leilão, via telefone e e-mail. Transitada em julgado nesta data, em face da renúncia expressa ao prazo de recurso. Decorrido o prazo de 30 dias para o pagamento das custas, anote-se o nome da parte executada na distribuição, dê-se baixa e arquive-se. P.R.I. Goiânia, 26 de marco de 2015." Sandro Cássio de Melo Fagundes — juiz de Direito
Editor do blog Conversa Afiada pode recorrer. Porém, se não conseguiu apresentar provas documentadas da retidão de sua “denúncia”, o que fará nas instâncias superiores?
O jornalista Paulo Henrique Amorim, editor do blog “Conversa Afiada”, é, possivelmente, um dos jornalistas mais processados e condenados do país. A juíza Tatiana Iykiê Assao Garcia, da 12ª Vara Cível de Brasília, condenou-o a pagar 40 mil reais, a título de indenização, ao ministro Gilmar Ferreira Mendes, do Supremo Tribunal Federal. Ele teria publicado um artigo supostamente ofensivo à honra do ex-presidente do STF. Amorim deve recorrer da sentença. Porém, se não conseguiu apresentar provas documentadas da retidão de sua “denúncia”, o que fará nas instâncias superiores?
O Portal Imprensa, citando o portal “Âmbito Jurídico”, frisa que o ex-presidente do Supremo alegou, no processo, que Amorim publicou um “texto com conteúdo falso e ofensivo à sua honra”. O jornalista teria sugerido que Mendes estaria envolvido “com sonegação fiscal e recebimento de dinheiro de caixa dois da campanha de Eduardo Azeredo”. Não há prova de que o ministro esteja envolvido com alguma falcatrua.
Amorim frisou, na ação, que não teve intenção de ofender o magistrado e que teria se limitado “a informar e opinar sobre os acontecimentos que ocorreram à época”. No entanto, a juíza avaliou diferente de sua argumentação: “Nota-se que a aludida matéria não se limita a narrar ou a mostrar a opinião do requerido, mas visa ferir a honra e danificar a imagem do autor quando lhe aponta diversas acusações. Resta claro e patente que o texto de autoria do requerido visa questionar a idoneidade moral do requerente, vinculando o nome do autor a suposta conduta ímproba. Da simples leitura do trecho transcrito, evidencia-se que o réu ultrapassou os limites de sua liberdade de expressão, ao veicular de forma indevida, pois sem provas, frases com caráter puramente ofensivo à honra e à imagem do autor”.
Consagrado como correspondente internacional da TV Globo, Roberto Feith decidiu trocar o jornalismo pela edição de livros. Ele tornou a Objetiva numa das melhores editoras do país, com catálogo, em geral, de primeira linha. Dada a pressão financeira das grandes casas editoriais, vendeu 76% de sua empresa para o grupo Santillana, da Espanha. E, em 2014, a gigante Penguin Randon House se tornou dona da Objetiva, mantendo Feith como diretor-geral. Na quarta-feira, 25, ele saiu o cargo.
Se deixou a área operacional, Feith continua no grupo, agora como consultor, editor especial e representante na área institucional das editoras Objetiva e Companhia das Letras, ambas controladas pela Penguin Randon House.
[Foto da revista Veja]
Um dos maiores prosadores de Goiás, Ursulino Leão lança na quinta-feira, 26, às 20h, na Casa de Cultura Altamiro de Moura Pacheco (Avenida Araguaia com a Rua 2, Centro), dois livros. “Gyn” contém crônicas. “Idílio na Serra da Figura” é uma coletânea de contos.
Avesso a modismos, Ursulino Leão é um narrador clássico, desses que escrevem muito bem. Seu texto é tão fluente quanto a prosa, digamos, de um Graciliano Ramos. Ele publicou livros por editora nacional, mas nunca foi divulgado da maneira correta. Se fosse, estilista da Língua Portuguesa que é, estaria consagrado. Não é, vale ressaltar, um autor da linhagem de James Joyce e Guimarães Rosa. Está mais para Machado de Assis e Graciliano Ramos. Em poucas palavras, é um grande contador de histórias e, insistamos, escreve muito bem.
“Gyn” reúne histórias, instigantes e bem contadas, sobre assuntos ocorridos na capital goiana. Com 90 anos, Ursulino Leão sabe tudo, ou quase, sobre Goiânia e Goiás. Foi deputado estadual, vice-governador, governador interino, procurador do Estado e presidente da Academia Goiana de Letras. É um desses sábios humildes, daqueles que sabem mais do que aparentam saber. A idade esconde um jovem de excelente memória — tanto para a grande história quanto para a história miúda.
“Idílio na Serra da Figura” tem 13 contos, mas não é petista. Há um detalhe interessante. Bons escritores urbanos falham quando escrevem sobre o meio rural. Ursulino Leão, pelo contrário, escreve bem, com conhecimento e pertinácia, sobre temas urbanos e rurais. É um peixe n’água nos dois ambientes, talvez porque sabe que, no fundo, estão imbrincados. Os homens das cidades, na maioria das vezes, guardam um campesino no mais íntimo de seu ser.
Mostrando que é moderno, Ursulino Leão lança os livros nos formatos impresso e virtual. A Contato Comunicação, que fez um trabalho profissional, vai vendê-los — adaptados para tablets e celulares — pela internet. As livrarias do país também vão comercializar as obras.
1 — Leonardo DiCaprio — Até 25 milhões de dólares. Estrela de “O Lobo de Wall Street”.
2 — Robert Downey Jr. — Até 20 milhões de dólares. Estrela de “O Homem de Ferro”.
2 — Sandra Bullock e Denzel Washington — Até 20 milhões de dólares. A atriz fez “Gravidade”.
2 — Denzel Washington — Até 20 milhões de dólares. “O Protetor”.
2 — Matt Damon — Até 20 milhões de dólares. Astro da franquia “Bourne”.
3 — Angelina Jolie — De 15 e 20 milhões de dólares. De “Malévola”.
3 — Bradley Cooper — De 15 a 20 milhões. Protagonista de “Sniper Americano”.
3 — Ben Affleck — De 15 a 20 milhões. Do filme “Garota Exemplar’.
3 — Channing Tatum — De 15 a 20 milhões de dólares. De “O Destino de Júpiter”.
4 — Jennifer Lawrence — De 10 a 15 milhões de dólares. De “Jogos Vorazes”.

“Aqui é o Oeste, senhor. Quando a lenda é maior que o fato, publique-se a lenda.”
A sexualidade alheia incomoda e as publicações sensacionalistas estão sempre apontando o “dedo” e descobrindo homossexuais que supostamente permanecem no armário. Recentemente, um jornal publicou que a ex-mulher de Luciano — irmão e parceiro de Zezé Di Camargo — disse que o cantor manteve relacionamentos homossexuais. Logo depois, a seriíssima revista “Veja”, na internet, escavou a história e publicou que a ex-mulher havia recuado. Seria uma vingança pessoal, motivada por dinheiro? Apesar de publicarem a história, dando-lhe destaque, até indevido, o jornal e a revista nada esclareceram. Saber que Luciano é heterossexual, bissexual ou homossexual muda alguma coisa? Nada. Sua música não melhorar nem piora. Sua sexualidade não altera a vida da sociedade, nem positiva nem negativamente. Por isso é melhor deixar o artista em paz.
Nos Estados Unidos, a revista “Star” esmera-se em publicar informações assombradas por fofocas explosivas (quais não são?). Há pouco, “informou” que o ator Jack Nicholson “tem” Alzheimer e, por isso, não tem aparecido em público. É possível que esteja doente? É. Mas amigos desmentiram e a “Star” não apresentou evidências contundentes — exceto que estaria “desaparecido”. Outras publicações ressaltaram que foi visto em estádios.
Agora, a “Star” volta a um tema antigo, a suposta homossexualidade de John Travolta. O ator já moveu processos contra os que denigrem sua imagem, mas os jornais e revistas sensacionalistas não o esquecem. Chegou, pois, a vez da “Star”, que agora envolve também o ator Tom Cruise.
Segundo a “Star”, baseada aparentemente em fontes secretíssimas, John Travolta e Tom Cruise mantêm um caso há 30 anos. O curioso é que nenhuma publicação séria — nem livros que vasculharam a vida de Tom Cruise contêm uma linha sobre o assunto — deu crédito à informação. Os atores estão na capa da revista.
A “Star” sublinha que, ao ver o filme “Negócio Arriscado”, de 1983, John Travolta obcecou-se com Tom Cruise. Os dois teriam se conhecido numa academia, no Oregon, em 1985. Tom Cruise estava aprendendo a pilotar avião e John Travolta já era um piloto experiente (pilota até Boeing). Pilotar avião, de Los Angeles ao Estado de Oregon, era uma forma de disfarçar os encontros.
Tom Cruise casou-se três vezes, e com belas mulheres: Mimi Rogers, Nicole Kidman e Katie Holmes, e John Travolta é casado com Kelly Preston há 24 anos.
A história da “Star” é verdadeira? A julgar pelo histórico da revista, é mais fofoca viperina. Porém, se os dois forem amantes, como assinala a publicação, o que isto muda na história do cinema? Não muda nada. A publicação talvez seja uma forma de vilipendiar, mais uma vez, os homossexuais. Fica-se com a impressão de que a homossexualidade — um dado a mais da vida de algumas pessoas — é algo monstruoso, quando não o é.
O setor de comunicação da TV Record afirma que, “em Goiânia, a estreia da novela ‘Os Dez Mandamentos”, na segunda-feira, 23, registrou 13 pontos de audiência e 19% de share, o que representa um crescimento de 50% no horário — 20h29 às 21h29 — se comparado à última segunda-feira, 16”. Segundo a Record, o “resultado impactou de forma positiva na média de audiência noturna da Record Goiás (18h00-00h00)”. A emissora, ressalta, “teve ganho de 2 pontos de audiência domiciliar em relação à ultima segunda”. “A emissora ganhou”, afirma a assessoria de imprensa, “também no período da manhã, com liderança do programa ‘Fala Brasil’, que registrou 7 pontos de audiência e 31% de share”.
Um repórter do “Pop” envia algumas correções para a reportagem “Vereadores do PMDB não foram convidados para reunião com Iris”:
1 — “O Jornal Opção Online diz que ‘os cinco parlamentares do partido em Goiânia estariam sendo negligenciados nas discussões sobre a aliança à prefeitura em 2016’. Como se sabe, o PMDB tem seis vereadores na capital: Célia Valadão, Paulo Borges, Mizair Lemos, Clécio Alves, Denício Trindade e Izídio Alves”.
2 — “O título da reportagem é peremptório: ‘Vereadores do PMDB não foram convidados para reunião com Iris’. O texto complementa: ‘Os outros três, Izídio Alves, Denício Trindade e Paulo Borges também não teriam comparecido à reunião’. Como se sabe, Paulo Borges e Denício Trindade compareceram à reunião. Eles foram apresentados como representantes dos demais vereadores, e de todo o Estado.”
Para verificar a informação do repórter do “Pop”, o Jornal Opção ouviu dois peemedebistas — Agenor Mariano, vice-prefeito de Goiânia, e o vereador Paulo Borges — e todos confirmaram a presença de Paulo Borges e Denício Trindade na reunião. “Eu e Denício Trindade participamos da reunião com Iris”, afirma Paulo Borges (foto acima).
O repórter Mário Magalhães, do UOL, autor da biografia “Marighella — O Guerrilheiro Que Incendiou o Mundo” (Companhia das Letras), publicou na terça-feira, 24, a notícia da morte de Cláudio Torres, de 70 anos, o guerrilheiro que participou do sequestro do embaixador Charles Burke Elbrick [foto acima], em 1969. O corpo de Torres foi encontrado na segunda-feira, em São Paulo. “É provável que tenha morrido por causa de acidente vascular cerebral — ela já havia sofrido dois”, relata Magalhães.
Torres era militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro, o MR-8, e participou diretamente do sequestro, ao lado de Virgílio Gomes da Silva, Manoel Cyrillo de Oliveira Neto e Paulo de Tarso Venceslau, da Ação Libertadora Nacional (ALN).
Torturadíssimo pelos militares, Torres ficou sete anos preso.
O poeta Herberto Helder morreu na segunda-feira, 23, ao 84 anos, em Cascais, de causas não relevadas pela família. Nascido no Funchal, em 1930, faleceu em sua casa. Isabel Coutinho, Hugo Pinto Santos, Isabel Lucas e Luís Migue Queirós, do jornal “Público”, publicaram um texto, “Morreu Herberto Helder, o poeta dos poetas”, no qual ouviram intelectuais sobre o bardo. “Era considerado por muitos o maior poeta português da segunda metade do século 20”, escrevem.
Em junho de 2014, Herberto Helder publicou o livro “A Morte Sem Mestre” (Porto Editora), considerado uma obra-prima. A obra esgotou-se imediatamente. “Servidões” saiu em 2013. “A Faca Não Corta o Fogo” é tido como o livro que o tornou “um caso de consenso crítico quase absoluto”, anotam os jornalistas.
O crítico António Guerreiro diz que “Herberto Helder foi um poeta poderoso, a sua obra foi um centro de atração e um horizonte em relação ao qual todos os seus contemporâneos tiveram de se situar. Como antes tinha acontecido com Fernando Pessoa, também houve um ‘efeito Herberto Helder’”.
Maria Velho da Costa seguiu pela mesma seara: “Morreu o maior poeta português depois de Luís de Camões”. Note-se que a escritora o coloca acima de Fernando Pessoa. “A Morte Sem Mestre”, ressalta, “é um longo poema, belíssimo. Se as minhas palavras tivessem alguma influência, eu propunha um dia de luto nacional”. Basta saber, talvez, que os poetas estão de luto — assim como os leitores de Herberto Helder.
O poeta madeirense José Tolentino Mendonça, ouvido pelo “Público”, sublinhou que, “quando morre um poeta com a dimensão de Herberto Helder, o que sentimos é que não apenas morreu um poeta mas a poesia”.
José Tolentino Mendonça acrescentou que, no caso de um poeta como Herberto Helder, “o luto se torna insuportável e, ao mesmo tempo, este luto faz-nos perceber que Herberto Helder é imortal com a sua obra. Daqui a mil anos, se subsistir um falante de língua portuguesa a poesia de Herbert Helder subsistirá”.
O trecho de um poema do livro “A Colher na Boca”, de 1961, vem à memória de José Mendonça Tolentino quando se lembra dos versos de Herberto Helder: “Não sei como dizer-te que a minha voz te procura”.
Há uma certa “insularidade” na poesia de Herberto Helder, afirma José Mendonça Tolentino. A insularidade “está talvez mergulhada a muitas léguas de profundidade do que é essa palavra. Não é uma dimensão muito explícita, mas ler Herbert Helder na Ilha da Madeira tem uma ressonância e uma vitalidade que não se esquece. Quando se ouvia Herberto Helder falar, mesmo muitos anos depois de ter saído da ilha, continuava com a pronúncia de um habitante do Funchal. Era um funchalense claramente identificável. E isso era uma nota afetiva de grande impacto”.
O crítico e poeta Pedro Mexia, ouvido pela agência Lusa, frisa que “o lugar de Herbert Helder na literatura portuguesa equivalerá ao de Fernando Pessoa na primeira metade do século 20”. Isto, destaca, “se começou a dizer há pouco tempo e se tornará, com o tempo uma coisa pacífica, sem prejuízo dos grandes poetas da geração dele que houve em Portugal”.
Herberto Helder não quis receber o Prêmio Pessoa, em 1994, um dos mais importantes de Portugal. O poeta sugeriu que o entregasse a outro escritor.
Poemas de Herberto Helder
Sobre um Poema
Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
As musas cegas
V
Esta linguagem é pura. No meio está uma fogueira
e a eternidade das mãos.
Esta linguagem é colocada e extrema e cobre, com suas
lâmpadas, todas as coisas.
As coisas que são uma só no plural dos nomes.
- E nós estamos dentro, subtis, e tensos
na música.
Esta linguagem era o disposto verão das musas,
o meu único verão.
A profundidade das águas onde uma mulher
mergulha os dedos, e morre.
Onde ela ressuscita indefinidamente.
- Porque uma mulher toma-me
em suas mãos livres e faz de mim
um dardo que atira. - Sou amado,
multiplicado, difundido. Estou secreto, secreto-
e doado às coisas mínimas.
Na treva de uma carne batida como um búzio
pelas cítaras, sou uma onda.
Escorre minha vida imemorial pelos meandros
cegos. Sou esperado contra essas veias soturnas, no meio
dos ossos quentes. Dizem o meu nome: Torre.
E de repente eu sou uma torre queimada
pelos relâmpagos. Dizem: ele é uma palavra.
E chega o verão, e eu sou exactamente uma Palavra.
- Porque me amam até se despedaçarem todas as portas,
e por detrás de tudo, num lugar muito puro,
todas as coisas se unirem numa espécie de forte silêncio.
Essa mulher cercou-me com as duas mãos.
Vou entrando no seu tempo com essa cor de sangue,
acendo-lhe as falangetas,
faço um ruído tombado na harmonia das vísceras.
Seu rosto indica que vou brilhar perpetuamente.
Sou eterno, amado, análogo.
Destruo as coisas.
Toda a água descendo é fria, fria.
Os veios que escorrem são a imensa lembrança. Os velozes
sóis que se quebram entre os dedos,
as pedras caídas sobre as partes mais trêmulas
da carne,
tudo o que é úmido, e quente, e fecundo,
e terrivelmente belo
- não é nada que se diga com um nome.
Sou eu, uma ardente confusão de estrela e musgo.
E eu, que levo uma cegueira completa e perfeita, acendo
lírio a lírio todo o sangue interior,
e a vida que se toca de uma escoada
recordação.
Toda a juventude é vingativa.
Deita-se, adormece, sonha alto as coisas da loucura.
Um dia acorda com toda a ciência, e canta
ou o mês antigo dos mitos, ou a cor que sobe
pelos frutos,
ou a lenta iluminação da morte como espírito
nas paisagens de uma inspiração.
A mulher pega nessa pedra tão jovem,
e atira-a para o espaço.
Sou amado. - E é uma pedra celeste.
Há gente assim, tão pura. Recolhe-se com a candeia
de uma pessoa. Pensa, esgota-se, nutre-se
desse quente silêncio.
Há gente que se apossa da loucura, e morre, e vive.
Depois levanta-se com os olhos imensos
e incendeia as casas, grita abertamente as giestas,
aniquila o mundo com o seu silêncio apaixonado.
Amam-me; multiplicam-me.
Só assim eu sou eterno.
Em silêncio descobri essa cidade no mapa
Em silêncio descobri essa cidade no mapa
a toda a velocidade: gota
sombria. Descobri as poeiras que batiam
como peixes no sangue.
A toda a velocidade, em silêncio, no mapa -
como se descobre uma letra
de outra cor no meio das folhas,
estremecendo nos olmos, em silêncio. Gota
sombria num girassol. -
essa letra, essa cidade em silêncio,
batendo como sangue.
Era a minha cidade ao norte do mapa,
numa velocidade chamada
mundo sombrio. Seus peixes estremeciam
como letras no alto das folhas,
poeiras de outra cor: girassol que se descobre
como uma gota no mundo.
Descobri essa cidade, aplainando tábuas
lentas como rosas vigiadas
pelas letras dos espinhos. Era em silêncio
como uma gota
de seiva lenta numa tábua aplainada.
Descobri que tinha asas como uma pêra
que desce. E a essa velocidade
voava para mim aquela cidade do mapa.
Eu batia como os peixes batendo
dentro do sangue - peixes
em silêncio, cheios de folhas. Eu escrevia,
aplainando na tábua
todo o meu silêncio. E a seiva
sombria vinha escorrendo do mapa
desse girassol, no mapa
do mundo. Na sombra do sangue, estremecendo
como as letras nas folhas
de outra cor.
Cidade que aperto, batendo as asas - ela -
no ar do mapa. E que aperto
contra quanto, estremecendo em mim com folhas,
escrevo no mundo.
Que aperto com o amor sombrio contra
mim: peixes de grande velocidade,
letra monumental descoberta entre poeiras.
E que eu amo lentamente até ao fim
da tábua por onde escorre
em silêncio aplainado noutra cor:
como uma pêra voando,
um girassol do mundo.
Seis poemas de Herberto Helder
O “Público” selecionou seis poemas decisivos de Herberto Helder. A seleção foi feita pelo coordenador editorial da Editora Assírio & Alvim, Vasco David, e pelos críticos do jornal português António Guerreiro e Hugo Pinto Santos. Eles usaram como base o livro “Poemas Completos” (Porto Editora, de 2014).
AOS AMIGOS
Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
— Temos um talento doloroso e obscuro.
Construímos um lugar de silêncio.
De paixão.
de Lugar (Escolha de Vasco David’)
alguém salgado porventura
te
toca
entre as omoplatas,
alguém algures sopra quente nos ouvidos,
e te apressa, enquanto corres
algumas braças acima
do chão fluido, leva-te a luz e subleva,
tão aturdidos dedos e sopros,
até ao recôndito,
alguma vez te tocaram nas têmporas e nos testículos, alto,
baixo,
com mais mão de sangue e abrasadura,
e te cruzaram nesse furor,
e criaram, com bafo
ardido, ásperos sais nos dedos, e te levaram,
a luz corrente lavrando o mundo,
cerrado e duro e doloroso, acaso
sabias
a que domínios e plenitudes idiomáticas
de íngremes ritmos, que buraco negro,
na labareda radioactiva,
bic cristal preta onde atrás raia às vezes
um pouco de urânio escrito
de A Faca não Corta o Fogo (Escolha de Vasco David’)
BICICLETA
Lá vai a bicicleta do poeta em direcção
ao símbolo, por um dia de verão
exemplar. De pulmões às costas e bico
no ar, o poeta pernalta dá à pata
nos pedais. Uma grande memória, os sinais
dos dias sobrenaturais e a história
secreta da bicicleta. O símbolo é simples.
Os êmbolos do coração ao ritmo dos pedais —
lá vai o poeta em direcção aos seus
sinais. Dá à pata
como os outros animais.
O sol é branco, as flores legítimas, o amor
confuso. A vida é para sempre tenebrosa.
Entre as rimas e o suor, aparece e des
aparece uma rosa. No dia de verão,
violenta, a fantasia esquece. Entre
o nascimento e a morte, o movimento da rosa floresce
sabiamente. E a bicicleta ultrapassa
o milagre. O poeta aperta o volante e derrapa
no instante da graça.
De pulmões às costas, a vida é para sempre
tenebrosa. A pata do poeta
mal ousa agora pedalar. No meio do ar
distrai-se a flor perdida. A vida é curta.
Puta de vida subdesenvolvida.
O bico do poeta corre os pontos cardeais.
O sol é branco, o campo plano, a morte
certa. Não há sombra de sinais.
E o poeta dá à pata como os outros animais.
Se a noite cai agora sobre a rosa passada,
e o dia de verão se recolhe
ao seu nada, e a única direcção é a própria noite
achada? De pulmões às costas, a vida
é tenebrosa. Morte é transfiguração,
pela imagem de uma rosa. E o poeta pernalta
de rosa interior dá à pata nos pedais
da confusão do amor.
Pela noite secreta dos caminhos iguais,
o poeta dá à pata como os outros animais.
Se o sul é para trás e o norte é para o lado,
é para sempre a morte.
Agarrado ao volante e pulmões às costas
como um pneu furado,
o poeta pedala o coração transfigurado.
Na memória mais antiga a direcção da morte
é a mesma do amor. E o poeta,
afinal mais mortal do que os outros animais,
dá à pata nos pedais para um verão interior.
de Cinco Canções Lunares (Escolha de Hugo Pinto Santos)
que eu aprenda tudo desde a morte,
mas não me chamem por um nome nem pelo uso das coisas,
colher, roupa, caneta,
roupa intensa com a respiração dentro dela,
e a tua mão sangra na minha,
brilha inteira se um pouco da minha mão sangra e brilha,
no toque entre os olhos,
na boca,
na rescrita de cada coisa já escrita nas entrelinhas das coisas,
fiat cantus! e faça-se o canto esdrúxulo que regula a terra,
o canto comum-de-dois,
o inexaurível,
o quanto se trabalha para que a noite apareça,
e à noite se vê a luz que desaparece na mesa,
chama-me pelo teu nome, troca-me,
toca-me
na boca sem idioma,
já te não chamaste nunca,
já estás pronta,
já és toda
de A Faca não Corta o Fogo (Escolha de Hugo Pinto Santos)
li algures que os gregos antigos não escreviam necrológios,
quando alguém morria perguntavam apenas:
tinha paixão?
quando alguém morre também eu quero saber da qualidade da sua paixão:
se tinha paixão pelas coisas gerais,
água,
música,
pelo talento de algumas palavras para se moverem no caos,
pelo corpo salvo dos seus precipícios com destino à glória,
paixão pela paixão,
tinha?
e então indago de mim se eu próprio tenho paixão,
se posso morrer gregamente,
que paixão?
os grandes animais selvagens extinguem-se na terra,
os grandes poemas desaparecem nas grandes línguas que desaparecem,
homens e mulheres perdem a aura
na usura,
na política,
no comércio,
na indústria,
dedos conexos, há dedos que se inspiram nos objectos à espera,
trémulos objectos entrando e saindo
dos dez tão poucos dedos para tantos
objectos do mundo
¿e o que há assim no mundo que responda à pergunta grega,
pode manter-se a paixão com fruta comida ainda viva,
e fazer depois com sal grosso uma canção curtida pelas cicatrizes,
palavra soprada a que forno com que fôlego,
que alguém perguntasse: tinha paixão?
afastem de mim a pimenta-do-reino, o gengibre, o cravo-da-índia,
ponham muito alto a música e que eu dance,
fluido, infindável,
apanhado por toda a luz antiga e moderna,
os cegos, os temperados, ah não, que ao menos me encontrasse a paixão e eu me perdesse nela,
a paixão grega
A jornalista Eleonora Lucena dirigiu a “Folha de S. Paulo”, como editora-executiva, por vários anos. Sob sua direção segura, o jornal manteve a liderança no mercado brasileiro. O “The Guardian”, espécie de “Folha de S. Paulo” da Inglaterra — com muito mais influência internacional; basta lembrar do caso WikiLeaks/Julian Assange e do caso Edward Snowden —, agora terá uma editora-chefe executiva, Katharine Viner. O jornal, de 194 anos, nunca havia sido comandado por uma mulher. Alan Rusbridger, considerado um editor brilhante, deixa o principal cargo de chefe da redação para se tornar conselheiro do grupo Scott Trust, proprietário do jornal.
Katharine Viner foi eleita pelos funcionários do “Guardian”. Que fique claro, porém, que os critérios não são populistas. A jornalista é considerada de primeira linha e sabe como administrar uma redação. “Ser editora-chefe do ‘Guardian’ é um enorme privilégio e uma responsabilidade: liderar uma equipe de jornalistas de primeira classe, reconhecidos ao redor do mundo por seu trabalho excepcional, pensamento independente, análise incisiva e inovação digital”, assinala a jornalista.
Celebrada como uma jornalista perfeccionista e infatigável, Katharine Viner é formada em Jornalismo pela Universidade de Oxford. Está no “Guardian” desde 1997 e trabalhou como editora-adjunta de 2008 a 2012. Criou a sucursal do jornal na Austrália, em 2013. Até ser convocada para voltar para Londres, era a editora-chefe da edição do “Guardian” (exclusivamente online) nos Estados Unidos.
O escritor Paulo Coelho confirma que tem contas no HSBC, mas os demais citados, como Jô Soares, negaram que trabalharam com o banco na Suíça
Jô Soares, apresentador de um programa de entrevista da TV Globo, tinha quatro contas numeradas no HSBC da Suíça, segundo vazamento — do SwissLeaks — divulgado no Brasil pelo jornal “O Globo” e pelo blog do jornalista Fernando Rodrigues, do UOL. As contas, segundo os documentos vazados pelo ex-técnico de informático do HSBC Hervé Falciani, foram criadas entre abril de 1988 e janeiro de 2003. Jô Soares fechou as contas entre 2006 e 2007.
O vazamento do SwissLeaks mostra que as contas de Jô Soares estão ligadas “as duas pessoas jurídicas: A Lequatre Foundation, de Liechtenstein, e a Orindale Trading, nas Ilhas Virgens Britânicas.
Os dados são “precisos”, mas Jô Soares contesta as informações. Ouvido pelo “Globo”, o apresentador se disse “espantado”. Ele admitiu que foi correntista do HSBC em Nova York, não na Suíça, garantiu “que todas as transações foram devidamente declaradas às autoridades fiscais e assegura que não mantém relações com a Lequatre Foundation e a Orindale Trading.

Com Tancredo Neves internado em São Paulo, no Incor, Gastão Neves, seu sobrinho, foi convocado por Francisco Neves Dornelles para uma missão, digamos, do “além”. “Um monge exorcista do interior de Goiás, amigo de Antônia, a secretária de Tancredo, pretendia fazer orações no apartamento que Tancredo ocupara em Brasília durante a campanha, na quadra 206 Sul”, relata José Augusto Ribeiro na biografia “Tancredo Neves — A Noite do Destino” (Record, 866 páginas). O presidente e sua mulher, Risoleta, eram católicos e o religioso só teve autorização para o exorcismo porque pertencia à Igreja Católica.
Ribeiro conta que “o monge fez as orações, mas parecia obcecado com um dos quartos e uma das camas do apartamento. Afinal fixou-se num travesseiro, cujas costuras foram rompidas e do qual ele retirou um pequeno boneco de cera, menor que o tamanho da mão de uma pessoa adulta. O boneco estava todo espetado, não com alfinetes ou pregos, mas com lascas de bambu”. O religioso ficou perturbado com a descoberta. “Ele dizia que tinham preparado três bonecos desses contra Tancredo e agora seria preciso descobrir os outros dois.”
Alguns dias depois, o monge descobriu na casa da Granja do Riacho Fundo, “para onde Tancredo se mudara depois de eleito, um segundo boneco espetado de lascas de bambu”.
O monge avaliou que o terceiro boneco poderia estar na UTI onde Tancredo Neves estava internado. Porém, como havia outros “salvadores” mais renomados, o religioso católico não conseguiu acesso ao Incor. O boneco, espetado ou não, não foi descoberto. A busca do vudu acabou esquecida. “A UTI vivia assediada por pessoas que queriam salvar Tancredo por meios sobrenaturais — caso do místico Thomas Green Morton, que tornara famosa a saudação ou mantra ‘Rá!’, e do padre Quevedo, um especialista católico em questões de parapsicologia.”
Com o monge esquecido, e com Green Morton e o padre Quevedo afastados, surgiu a vidente Alberice Cruz dos Campos Braga. Ela teve a mesma intuição do monge de Goiás. O “Jornal do Brasil” relatou a história, anos mais tarde: “Abril de 1985. Tancredo vive sua dolorosa agonia. O país todo acompanha pelo rádio e pela TV, hora a hora, quase minuto a minuto, a evolução da doença. Grupos nervosos se formam em todas as cidades e discutem os aspectos mais diversos do caso. No Recife, num desses grupos, uma vidente explica a amigos que a doença de Tancredo é mais do que um fenômeno natural: é consequência de um caso de bruxaria — afirma com grave convicção.
“Como não se trata de uma vidente qualquer, mas de pessoa altamente conceituada entre os que acreditam em experiências místicas, sua convicção, sua certeza impressionam. Começa aí uma corrida que vai acabar no dia seguinte, a 2.724 quilômetros de distância, na Granja do Riacho Fundo, em Brasília, onde Tancredo morou, antes da posse que não houve. Corrida que, para se concretizar, envolveu um ministro de Estado (Fernando Lyra, da Justiça), seu chefe de gabinete e futuro reitor da Universidade de Brasília (Cristovam Buarque), o procurador-geral da República (Sepúlveda Pertence), o presidente da Fundação Petrônio Portella (D’Alembert Jaccoud), a Polícia Federal e o Exército. E terminou, nos jardins do Riacho Fundo, quando se achou — e isso é que impressiona — toda a parafernália da bruxaria em local indicado sem hesitação pela vidente que viajara de tão longe.”
O material da bruxaria “compunha-se de charutos, cabaças, velas amarelas, pretas, vermelhas e roxas, enxofre e cabelos de defuntos”. Alberice Cruz disse que era “uma coisa terrível”. Ribeiro conta que “a vidente, ao ver tudo desenterrado, sentiu ‘um frio na espinha e uma catinga de enxofre e chifre queimado’”.
Depois de contar a história da vidente, Ribeiro frisa que “um adepto verdadeiro da bruxaria ou da magia negra, que odiasse Tancredo Neves a esse ponto ou que tivesse sido contratado para tal trabalho, não teria acesso aos jardins do Riacho Fundo pelo tempo necessário para escavá-los, enterrar aquela coisa toda e refazer a superfície do gramado. Se tal raciocínio for aceito, a explicação que decorre imediatamente dele é que se tratava de uma falsa bruxaria, de uma falsa ação de magia negra — uma simulação produzida pelos mesmos agentes dos grupos radicais dos órgãos de segurança que antes haviam produzido episódios como o do pistoleiro boliviano de Goiânia, o caixote de cocos entregue na porta do avião de Tancredo em São Paulo, a tomada desplugada no avião em que viajaria o general Lêonidas e os bonequinhos espetados de lascas de bambu, um no apartamento onde Tancredo morara até a eleição e outro na Granja do Riacho Fundo, para onde ele se mudara depois de eleito”.
Qual era o objetivo? “Intimidar e chantagear, pela demonstração da vulnerabilidade, primeiro, do candidato e, depois, do próprio presidente eleito”, escreve Ribeiro.
Tancredo não foi assassinado. A Comissão de Sindicância do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo concluiu que Tancredo não foi envenenado. O presidente morreu provavelmente devido a erros médicos. No dia da primeira cirurgia, o principal cirurgião havia esquecidos os óculos em sua casa. Um grupo de médicos ficou no subsolo do Hospital de Base de Brasília e um grupo ficou noutra área, o que provocou discussão. Antes, fizeram um diagnóstico errado, avaliando que o político de 75 anos tinha apendicite, quando era um tumor benigno, um leiomioma. A cirurgia foi feita de maneira errada. O clima de mistério sobre a morte do político que “derrotou” a ditadura civil-militar beneficia sobretudo os médicos que o operaram. “O Caso Tancredo Neves — O Paciente” (Cultura, 381 páginas), de Luís Mir, historiador e especialista em atendimento médico do trauma, não contém uma linha de sensacionalismo, mas deixa muito mal os médicos que “cuidaram” do paciente.