Imprensa
“O comportamento das pessoas e a maneira como vão interagir com a realidade em volta é que passam a ser determinantes de como vão se divertir, entreter se informar”
“Haverá menos sustentação pela publicidade e mais sustentação pelo pagamento”, diz João Roberto Marinho

[caption id="attachment_33992" align="alignright" width="620"] Stephen Beaumont, tenente da força aérea da Inglaterra com seu ursinho de pelúcia da sorte: o piloto combateu os ferozes nazistas de Hitler e sobreviveu[/caption]
A Alemanha de Adolf Hitler quase invadiu a Inglaterra no início da década de 1940. Pilotos nazistas bombardearam de maneira intensa o país, notadamente Londres, e deixaram a população tão assustada que alguns políticos chegaram a cogitar a rendição. Porém, o primeiro-ministro Winston Churchill, alguns nobres, políticos e militares decidiram resistir, contando com a compreensão do sofrido povo inglês. Se Hitler não dominou a terra de Shakespeare, por meio da Luftwaffe (a força aérea alemã), isso ter a ver, em larga medida, com a reação da RAF, a força aérea britânica. Pelo menos 20% dos pilotos da RAF morreram em combate. O “Daily Mail” publicou que “dos 3 mil aviadores que serviram neste período [1940] um sexto morreram em combate”. Por isso Churchill disse: “Nunca tantos deveram a tão poucos”.
Pilotos, como outros soldados, têm seus amuletos. Alguns guardavam cartuchos de balas, fotografias de namoradas ou familiares, imagens de santos. O tenente Stephen Beaumont combateu duramente os ingleses no céu de Londres e cidades próximas. Ao seu lado, na cabine do avião, para “protegê-lo” e fazer companhia, estava sempre o ursinho de pelúcia “Beaumont”. A história voltou à tona porque a família do piloto decidiu vender o ursinho por 10.000 libras “numa conhecida casa de leilões britânica”, relata o jornal “ABC”, da Espanha.
Na Batalha da Inglaterra, em 1940, como ficou conhecida a guerra aérea entre alemães e ingleses (poloneses, americanos, entre outros, participaram da refrega), Stephen Beaumont era um dos mais corajosos e eficientes. Ele, que derrubou vários aviões dos nazistas, pilotava um Spitfire. Por que levava o ursinho de pelúcia?, perguntavam os outros pilotos e seus chefes. O corajoso militar britânico respondia que o ursinho lhe dava sorte.
O ursinho — ou os deuses da vida — deu mesmo sorte a Stephen Beaumont, um dos sobreviventes. Muitos pilotos ficavam quase loucos — viviam sob tensão e dormiam poucas horas por dia —, mas o jovem de 30 anos, tendo “Beaumont” ao lado, ficava tranquilo, sereno. Era seu “medicamento”.
Quando deixou os aviões, após ser promovido a comandante de esquadra, tornou-se instrutor de novos pilotos, a quem ensinou pilotar e usar de maneira mais produtiva Spitfires e Hurricanes. Stephen Beaumont participou da equipe que planejou a invasão da Normandia, em 1944.
Com o término da guerra, Stephen Beaumont, condecoradíssimo, voltou para sua cidade. Atuou como advogado — já era formado quando se tornou piloto — e, mais tarde, como delegado de polícia. Ele morreu aos 87 anos. Detalhe: nunca se desfez do ursinho da sorte.
Recomenda-se aos leitores que se interessam pelo assunto a leitura de “Os Eleitos — Os Nobres Pilotos Norte-Americanos Que Arriscaram Tudo Pela Grã-Bretanha” (Record, 336 páginas, tradução de Renato Aguiar), do jornalista e historiador Alex Kershaw.
Na semana passada, um professor de Goiânia foi condenado a indenizar outro professor devido a ofensas divulgadas numa rede social. Até pouco tempo, jornais informavam: “Não nos responsabilizamos por artigos publicados por terceiros”. Na verdade, são corresponsáveis pelos textos e até por cartas que saem nas versões impressa e online. As seções reservadas aos leitores, sobretudo na versão online — que se tornaram uma espécie de democracia de araque; na verdade, uma anarquia sem o mínimo de responsabilidade —, já estão gerando processos judiciais. Tanto para quem escreve os textos quanto para os jornais. O jornalista que edita as “cartas” ou “mensagens” precisa ter o máximo de cuidado. Primeiro, porque, ao publicar denúncias ou achincalhes, o jornal se torna corresponsável, portanto tão passível de processo quanto quem escreveu os textos. Segundo, parte dos textos às vezes contém assinatura — nomes completos —, mas em geral trata-se de fake. No caso de ação judicial, os jornais dificilmente conseguirão localizar o autor, que pode ter enviado o texto de uma empresa, de uma repartição pública ou de uma lan house. Para a Justiça, o “autor” passa a ser o jornal que publicou a “denúncia” ou “agressão”.
Os sites e portais de notícias (UOL, Globo) estão praticamente iguais e, para piorar, superficiais (em termos de mídia, quem quer ficar igual, mas não tem estrutura, acaba sucumbindo). Todos dão a mesma coisa e raramente procuram analisar os fatos. Os editores, inclusive dos portais gigantes, alegam que não há tempo. Não é uma explicação convincente, pois a “Veja”, apesar do excesso de posicionamento ideológico, uma espécie de liberalismo de combate, põe alguns de seus melhores articulistas para examinar os fatos do dia. Na internet um modelo que funcionou bem, mas não do ponto de vista financeiro, foi o “no mínimo”. Do ponto de vista editorial tanto deu certo que serviu de modelo para a excelente revista “Piauí”.

O livro “Reinventando o Capitalismo de Estado — O Leviatã nos Negócios: Brasil e Outros Países” (Penguin, 402 páginas, tradução de Afonso Celso da Cunha Serra), de Aldo Musacchio, professor da Harvard Business School, e Sergio G. Lazzarini, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), examina, entre outros casos, a expansão do grupo JBS, dirigido pelos irmãos goianos Joesley e Wesley Batista. Nas páginas 9, 11, 15, 232 e 318, Musacchio e Lazzarini explicam como se deu, debaixo das asas protetoras do BNDES, o crescimento do grupo que fatura mais de 100 bilhões de reais por ano.
No sábado, 18, “O Hoje” destacou na primeira página: “Por assalto, serial killer pega 12 anos [e quatro meses] em regime fechado”. O jornal informa que que, “desta vez, o julgamento não foi por homicídio. Ele assaltou duas vezes uma mesma agência lotérica”. Mas há um equívoco: Tiago Henrique Gomes da Rocha não “responde por 39 homicídios”. O editor da capa é corrigido pela repórter Jéssica Torres, que aponta “25 processos por homicídio”. “O Popular” surpreende por não se lembrar que os leitores às vezes acompanham o desenrolar dos fatos como se fossem novelas. O jornal publicou apenas nota, na página 10. O “Diário da Manhã” publicou reportagem, transcrita do G1, e ainda diz “o suposto serial killer”. Mas, assim como “O Popular”, não deu na primeira página.
A repórter Malu Longo (merecia ter o nome destacado na capa, como fazem os grandes jornais) escreveu em “O Popular”, na edição de domingo, 19, uma das melhores matérias da semana: “A estrada dos mil buracos”. A jornalista percorreu 444 quilômetros da BR-153 — a maior rodovia do país —, entre Anápolis e a divisa com o Tocantins, e encontrou “dois buracos por quilômetro” e “19 veículos parados no acostamento com pneus furados”. Malu Longo relata que o Grupo Galvão, desde a crise desencadeada pelas investigações da Operação Lava Jato, parou a recuperação da rodovia. O Grupo Galvão ganhou a concessão para explorar pedágio na BR-153, mas agora diz não ter recursos para duplicá-la, melhorar as pistas e atender os motoristas. As fotografias, de ótima qualidade, são de Renato Conde.
Um adolescente de 13 anos atirou num menino de 11 anos, no Jardim Curitiba. Ele queria um celular e a vítima não portava nenhum. O repórter Pedro Nunes é o autor da reportagem “Polícia segue na busca de criança”. Aos 13 anos, o criminoso deve ser tratado como criança ou adolescente? Já a vítima é tratada como “garoto”. No subtítulo, o jornal escreve: “Jovem... já foi apreendida”. Como se trata de uma pessoa do séxo masculino, o jovem, o correto é “apreendido”. Independentemente da terminologia, se criança ou adolescente, trata-se mesmo de uma pessoa bem jovem. Segundo a polícia, o garoto “já foi apreendido por roubo, furto e tráfico”.
O jornal “Extra” mostrou cenas, cortando as mais cruéis, do assassinato da funkeira goiana Amanda Bueno, de 29 anos. Comecei a ver e logo desisti — tal a brutalidade de Milton Severiano Vieira, noivo da garota. Em Goiás, o “Pop” deu a notícia no sábado, 18, com destaque (com fotografia) na capa (“Noivo mata funkeira goiana no Rio”). “Diário da Manhã” e “O Hoje” não deram a notícia.
Os leitores não entendem por qual motivo os jornalistas de “O Popular” preferem escrever artigos sobre o país e o mundo, mas raramente sobre o Estado em que vivem. Fabiana Pulcineli, pelo contrário, ousa debater temas locais.
A “CartaCapital”, revista dirigida por Mino Carta, passou a levar a Operação Lava Jato mais a sério. Chegou a publicar reportagem mostrando as conexões de Renato Duque, homem do PT na Petrobrás, com o esquema corrupto. A revista sugere que ele se beneficiou pessoalmente. Não foi um “roubo” tão-somente partidário-ideológico. A revista indica seriedade ao perceber que a roubalheira na Petrobrás é um fato — e que não decorre, portanto, de denuncismo da oposição.
Do presidente da Assembleia Legislativa, Helio de Sousa (DEM), para os jornalistas que escrevem seu nome incorretamente: “Os jornais escrevem ‘Hélio’ de Sousa. Na verdade, o meu ‘Helio’ não tem acento. E o Sousa se escreve com ‘s’, e não com ‘z’”.
[caption id="attachment_33766" align="alignleft" width="300"] Arquivo pessoal/Facebook[/caption]
Flora Ribeiro deixou a assessoria de comunicação da administração penitenciária do governo de Goiás. A jornalista, do primeiro time, enviou um comunicado às redações: “Caros colegas, gostaria de lhes informar que a partir de hoje [sexta-feira, 24] não estou mais responsável pelas atividades de comunicação da administração penitenciária. Nesses 12 anos no exercício dessa função, espero ter colaborado da melhor maneira possível, sempre que fui acionada por vocês. Agradeço pela colaboração, paciência e pela oportunidade do aprendizado que me proporcionaram na relação com todos vocês. A assessoria já está sendo cuidada pelo responsável e profissional colega Rodrigo Hirose, chefe da Comunicação Setorial da SSP. O telefone 62-8418 1052 continua sendo da assessoria”.
A repórter não explica o motivo de ter saído da assessoria.
O site Goiás 24 Horas relata que um homem, identificado como o petista Silvio Eduardo Cavalcante — assessor parlamentar da deputada estadual Adriana Accorsi, do PT —, “agrediu” o jornalista Cristiano Silva no Salão Nobre da Assembleia Legislativa de Goiás na quinta-feira, 23. Cristiano Silva é diretor do site.
Num vídeo (veja abaixo), Silvio Eduardo aparece dizendo: “Aqui você conversa. Lá fora eu quero ver. Eu te acho, viu. Eu te pego!”. Cristiano Silva garante que o assessor de Imprensa da Adriana Accorsi teria dito duas vezes: “Eu te mato. Eu te mato”.
https://www.youtube.com/watch?v=f23X5_dHzcw
Por que o assessor de Adriana Accorsi ameaçou o jornalista? Texto do Goiás 24 Horas arrisca duas possibilidades: “Uma possibilidade é a insatisfação do assessor com as críticas do Goiás 24 Horas ao Partido dos Trabalhadores, pelos sucessivos escândalos de corrupção. Outra são as notas sobre a pouca atividade da deputada Adriana Accorsi, que ainda não mostrou a que veio como parlamentar estadual”.
Qualquer que seja a causa, o assessor de Adriana Accorsi não tem o direito de ameaçar jornalista ou quaisquer outras pessoas. Adriana Accorsi, delegada da Polícia Civil, é uma política pacífica, filha de um defensor dos Direitos Humanos, Darci Accorsi, e certamente não concorda com a atitude do assessor. Porém, se não controlar seu auxiliar, o país vai começar a descobri-la como uma política que contrata auxiliares truculentos. Para quem pretende disputar a Prefeitura de Goiânia, em 2016, não pega nada bem ter como auxiliares pessoas que falam em bater ou matar “adversários” (vistos, no caso, como “inimigos”).
Há duas formas de se lidar com aquilo de que se discorda. Primeiro, respondendo, por meio de artigo, direito de resposta. Segundo, pela via judicial. São as formas civilizadas e democráticas. A ameaça física, de bater ou matar, é coisa de ditaduras e criminosos. O PT, depois da corrupção, vai embarcar noutra “tendência” suicida?