Dono da Globo, secundando Domenico de Masi, diz que “o mundo será mais gay”
26 abril 2015 às 12h45
COMPARTILHAR
“O comportamento das pessoas e a maneira como vão interagir com a realidade em volta é que passam a ser determinantes de como vão se divertir, entreter se informar”
Numa longa entrevista ao jornal “Valor Econômico”, publicada na edição de sexta-feira, 24, Roberto Irineu Marinho, acompanhado dos irmãos João Roberto e José Roberto, disse que “os meios tecnológicos não têm limite” e ressalva: “O que vai ser determinante é o hábito das pessoas”. Ele conta que os executivos do Grupo Globo fazem um seminário, de dois em dois anos, para discutir o futuro do empreendimento e do mundo.
Em 2006, Roberto Irineu procurou o sociólogo Domenico de Masi, autor do livro “O Futuro Chegou”, para uma conversa sobre como seria o mundo em 2025. “Queríamos saber como seria o comportamento da família, se vai ficar junta durante mais tempo, ou se os filhos vão sair de casa aos 20 anos, ou 18 anos”, afirma o dono do Grupo Globo. “O comportamento das pessoas e a maneira como vão interagir com a realidade em volta é que passam a ser determinantes de como vão se divertir, como é que vão se entreter, como é que vão se informar…”.
A conversa com Domenico de Masi, segundo Roberto Irineu, foi produtiva. Primeiro, o sociólogo italiano (que se tornou uma espécie de guru dos empresários) disse “que os filhos vão sair de casa muito mais tarde, por volta de 28, 30 anos”. O que de fato está acontecendo.
Segundo, “as famílias vão se voltar muito para dentro de casa”. Terceiro, os “filhos só vão ter empregos quando os pais se aposentarem, porque o número não será suficiente padra toda a população”.
Quarto, e isto surpreendeu Roberto Irineu, dada sua resposta (risos, exclamação), um comportamento mais gay, menos machão, será dominante. “Ah! Disse [Domenico de Masi] que o mundo será mais gay. Os anúncios de roupa para homens são muito mais gays do que as roupas que a gente usava, é tudo apertadinho e agora as pessoas se raspam todas… [Risos] Mas é assim! Os homens querem parecer femininos e as meninas querem parecer… Vai tudo ficando muito igual.”
Roberto Irineu diz que o Grupo Globo está menos preocupado com tecnologia, com seu avanço, do que com o comportamento das pessoas. O que elas vão fazer, a partir do uso da tecnologia, é o que de fato interessa aos executivos que trabalham para os irmãos Marinho.
Televisão volta para a sala de visitas
“A alta qualidade da HD e o preço da televisão caindo estão fazendo com que a televisão volte para a sala de visitas. Em um futuro muito próximo, estamos falando aí de cinco anos no máximo, a televisão vai ser uma tela que você vai colar na parede, você desenrola, cola, corta do tamanho que você quiser e pluga…”, diz Roberto Irineu.
As pessoas vão ver os programas juntas ou separadas? Dada a variedade das programações e a quantidade de canais, e devido aos interesses variados, as pessoas vão assistir isoladamente, mas às vezes vão se reunir para assistir um filme, uma série, um jogo de futebol. “Se isso é uma tendência real, é muito mais determinante do que o iPad, iPod. O desafio é: me descreva o mundo daqui a 20 anos”.
Roberto Irineu está certo. As pessoas querem um rumo, ou alguns rumos, porque precisam ter certeza de como devem direcionar seus recursos financeiros e esforços individuais (suas vidas). Aqueles que tiverem certezas rígidas, sem o mínimo espaço para a dúvida — não a dúvida paralisante —, certamente ficarão para trás. Por isso é preciso observar, como sugere o dono do Grupo Globo, o que as pessoas estão fazendo com a tecnologia e, também, o que poderão fazer.
Outra questão é que, em termos de comunicação, ao mesmo tempo que se mantém uma linha, uma forma de fazer jornalismo, é preciso ser mais ágil na maneira de apresentá-lo, de torná-lo mais atraente. Conteúdos mais densos podem, por exemplo, ser apresentados de maneira mais leve — e a internet oferece possibilidades infinitas. Grupos com grandes estruturas — como Grupo Globo e Grupo Jaime Câmara — são mais lentos para articular suas mudanças. O Grupo Globo está procurando mudar mais rápido, porque sabe que, num mundo altamente competitivo — Roberto Irineu diz que os brasileiros hoje têm acesso a 200 canais fechados e apenas 50 têm produção feita no Brasil —, quem ficar para trás, por um ou dois anos, pode não se levantar mais. Gigantes, quando caem, dificilmente conseguem se levantar.
Em