Brasil perde grau de investimento e tem nota de crédito rebaixada
10 setembro 2015 às 08h41

COMPARTILHAR
Índice é medido pela agência de classificação de riscos Standard & Poor’s. Decisão causou divergência no Congresso Nacional

A agência de classificação de riscos Standard & Poor’s informou hoje (9) que reduziu a nota de crédito do Brasil de BB+ para BBB-, com perspectiva negativa, o que significa que há chance de nova revisão para baixo no futuro. Com a redução, o Brasil perde o grau de investimento, conferido a países considerados bons pagadores e seguros para investir.
No comunicado, a agência diz que o perfil de crédito do Brasil enfraqueceu desde 28 de julho, quando houve revisão da perspectiva de nota do país para negativa, ainda com manutenção do grau de investimento.
A S&P sinaliza que a proposta orçamentária do país para 2016, prevendo um déficit primário de R$ 30,5 bilhões em lugar do superávit de 0,7% estimado anteriormente, influenciou a decisão do rebaixamento.
Para a agência, a proposta orçamentária com déficit “reflete desacordo sobre a composição e magnitude das medidas necessárias para reparação da derrapagem das finanças públicas”. A nota também cita a relação entre o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e a presidenta Dilma Rousseff.
“Enquanto o ministro da Fazenda está trabalhando para levar adiante várias medidas para retomar a meta inicial de 0,7% de superávit, elas precisarão ser negociadas com o Congresso. Mais importante, a série de eventos que levou à proposta orçamentária [com déficit] sugere coesão diminuída com o gabinete da presidenta Dilma Rousseff e contribui para nossa avaliação de um perfil de crédito mais fraco”, diz o comunicado.
Além da revisão da S&P da perspectiva da nota de crédito do país para negativa no fim de julho, a Fitch fez o mesmo em abril. A Moody’s, por sua vez, também rebaixou o país em agosto. A agência reduziu a nota brasileira de Baa2 para Baa3, o que ainda significa grau de investimento.
Divergências no Congresso
A decisão da agência de classificação de risco Standard&Poors de rebaixar a nota de crédito do Brasil repercutiu imediatamente no Senado, onde o presidente da Casa e do Congresso Nacional, Renan Calheiros (PMDB-AL), avaliou que “somente a retomada do crescimento econômico” poderá fazer o Brasil reverter a situação.
“Nós temos dito, e eu queria repetir, que a única maneira de resolver esses problemas que afetam o Brasil é pela retomada do crescimento econômico. O ajuste fiscal foi feito, o Legislativo colaborou, mas só a retomada do crescimento econômico tira o Brasil dessa condição”, opinou Renan Calheiros ao saber do rebaixamento.
Para o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), foi um “desastre anunciado”, fruto de “sucessivos erros” na condução da política econômica. Mas, para o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), as “agências de risco erram” e a decisão da Standard&Poors não é “o fim do mundo”.
O líder do DEM, senador Ronaldo Caiado (GO), discorda de Delcídio e considera que a queda na classificação do Brasil é um “atestado da falência do atual governo perante o cenário internacional. Se nós já temos uma situação interna péssima, teremos uma situação extremamente calamitosa no cenário internacional”.
A redução também dividiu opiniões na Câmara dos Deputados. A oposição responsabilizou o governo Dilma Rousseff pela queda no grau de investimentos externos no Brasil. Já o líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE), disse que os investimentos externos no Brasil tiveram período promissor nos anos do governo da presidenta.
“Exatamente nesses anos do governo Dilma é que os investimentos externos tiveram um período promissor. Mesmo com o rebaixamento, ainda é maior que no inicio do governo Lula e muito maior que no período de FHC, quando o Brasil não tinha a menor credibilidade no exterior”, acrescentou Guimarães.
Líder do PSDB, o deputado Carlos Sampaio (SP) disse que o rebaixamento da nota do Brasil “é uma tragédia anunciada”. “A presidenta Dilma simplesmente ignorou todos os alertas da oposição e de especialistas sobre o agravamento da crise. Posou de arrogante e preferiu buscar culpados, em vez de apresentar soluções. A perda do grau de investimento coroa o fracasso do governo, que não tem uma política econômica, não tem rumo e não tem mais jeito.”
Segundo Carlos Sampaio, a imagem do Brasil já está abalada pela repercussão do escândalo do “Petrolão”. “No momento em que o país enfrenta uma recessão sem precedentes, com o pior resultado na geração de empregos formais dos últimos 15 anos, a perda do selo de bom pagador é um banho de água fria nos investimentos, imprescindíveis para a retomada do crescimento.”
Para o líder do DEM, deputado Mendonça Filho (PE), o rebaixamento do grau de investimento do Brasil significará mais ônus para o povo, com maior recessão e mais desemprego. “A gente tem de caracterizar isso como uma sentença da ingovernabilidade e da incapacidade da presidenta Dilma de comandar os destinos do Brasil. É a decretação da ingovernabilidade absoluta”.