Roteiro para entender o verdadeiro perfil dos que lutam a favor do desarmamento do cidadão
07 novembro 2015 às 12h23
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Tirar armas de assaltantes e traficantes de drogas nunca constituiu preocupação do governo petista. Por que o PCdoB e a Fundação Ford estão juntos na mesma campanha?
Volta ao cenário a questão do desarmamento com a aprovação, em comissão especial da Câmara dos Deputados, do Projeto de Lei 3722, do deputado Rogério Peninha. A aprovação se deu por larga maioria, seguindo a vontade popular, já demonstrada no referendo de 2005 e em inúmeras pesquisas de opinião. Falo, é claro, do desarmamento das pessoas que trabalham, pagam seus impostos e cumprem a lei, como o leitor, porque o desarmamento dos assaltantes e traficantes nunca constituiu preocupação de governo ou foi objeto de nenhuma campanha.
Embora o projeto tenha pela frente um longo caminho, tendo que passar pelos plenários da Câmara e Senado, e, se aprovado, enfrentar um muito provável veto da presidente Dilma Rousseff, já assanhou todos os desarmamentistas conhecidos e desconhecidos. Para orientação do leitor, e para discussão mais ampla da questão, procuro aqui traçar um perfil desse pessoal tão encarniçado em desarmar os leitores e tão pouco preocupado em desarmar os bandidos.
1) Empresas e entidades empresariais (jornalísticas, principalmente) — Empresas comerciais, a menos que familiares e pequenas, não orientam suas ações por sentimentos pessoais, mas, evidentemente, por sua finalidade comercial, e principalmente pelo objetivo natural do lucro. Quando, contra a opinião pública, uma empresa (jornalística, principalmente) adota uma linha comportamental, algo ligado às finanças deverá estar presente. Uma grande empresa de comunicação que defenda de maneira aberta algo impopular e pouco defensável como esse tipo de desarmamento estará, pelo menos ao que parece, cedendo a pressões de governo ou de credores externos.
2) Organizações não governamentais locais — As ONGs, no Brasil, são diferentes. São não governamentais, mas na maioria não sobreviveriam um ano sem o governo e suas verbas. Por outro lado, as que se dedicam única ou preponderantemente ao desarmamento recebem também polpudas doações estrangeiras, além, é claro, do dinheiro chapa branca. Se empenhadas em nos desarmar, por certo o fazem porque isso rende aos seus dirigentes um rico dinheirinho.
3) Governo e partidos políticos — Se um governo e os partidos que o sustentam adotam uma atitude desarmamentista, o fazem, seguramente, por razões ideológicas. Não por coincidência, são essas agremiações colocadas no espectro da esquerda, e quanto mais à esquerda, mais radicais defensoras do desarmamento (dos cidadãos de bem). Em nenhum momento podemos nos iludir com os argumentos em prol de um pretenso combate à violência ou com a exibição de estatísticas por seus integrantes.
Eles sabem, tanto quanto nós, ou mesmo melhor que nós, pois não são tolos e estudam a questão, que o desarmamento, tal como imposto no Brasil, em nenhuma época ou lugar diminuiu a violência, mas sempre provocou seu aumento. Tanto não são tolos que sabem, como ninguém, usar estatísticas viciadas ou torcer estatísticas mais confiáveis. Usam ainda argumentos visivelmente depreciativos e falsos, como “a bancada da bala é financiada pelo lobby das armas”, pois se apenas existe um fabricante de armas no Brasil, que não financia ninguém, mas dá uma mínima ajuda a todos (inclusive à deputada ultraesquerdista Maria do Rosário, do PT), omitem a vergonha de receber dinheiro estrangeiro para influir nos nossos interesses internos.
4) Políticos — Refletem, na sua enorme maioria, a crença totalitária de seus partidos. Desarmar um cidadão comum, cumpridor das leis, que não representa ameaça social, e que necessita defender sua casa e sua família, só se explica pelo desejo de desarmar a “burguesia”, odiada por dez em cada dez “socialistas”, como explicou publicamente a professora comuno-petista Marilena Chauí. Pertence à burguesia, no pensar desses iluminados, todo aquele que tem aspirações próprias, desejos próprios e sentimentos particulares, que não aqueles da “massa”. Para eles o homem não é um universo em si mesmo, como acreditamos, com toda sua complexidade de afetos, esperanças e aspirações, mas apenas uma partícula a se dissolver na “massa”. Logo, o “burguês” é rebelde, pois não aceita passivamente sua anulação e pode representar uma ameaça ao futuro paraíso socialista se tiver um revólver em casa.
5) Entidades estrangeiras — Porque uma grande organização estrangeira, como a Fundação Ford ou uma empresa do especulador George Soros, estaria em algum momento interessada em investir pesadas somas para desarmar pessoas inofensivas no Brasil ou em outra nação qualquer, como vem fazendo? Não existem nesse mundo do dinheiro, gastos sem lógica. E existem ligações dessas entidades com interesses globais que defendem, por exemplo, a soberania limitada de outras nações no que respeita a recursos naturais (a Amazônia é um exemplo). Ou um domínio mundial por um grupo de nações desenvolvidas, principalmente as de língua inglesa. Em qualquer desses casos, uma população desarmada representa menor ameaça a intervenções externas.
6) Jornalistas — Ou agem de moto próprio, e o que os move é a ideologia, ou são acionados pelos patrões e caímos no que já dissemos lá no item 1.
Explicam-se, pois, entidades tão conflitantes quanto a Fundação Ford e o PCdoB estarem juntas no empenho em nos desarmar. Tudo se resume numa questão ideológica e numa questão financeira, visando o longo prazo, que aqui se juntam. Os “socialistas” querem um bando de cordeiros inermes, sem possibilidade de reação à implantação da “ditadura do proletariado”. Os mastodontes supranacionais pretendem um dia ter o controle global. Unem-se nessa questão das armas.
Tomemos alguns exemplos. Fernando Henrique Cardoso gravou há pouco um vídeo investindo contra o projeto do deputado Peninha. Teria coisas mais importantes a fazer, mas falam ali o esquerdismo incrustado no sociólogo — que, mesmo com a larga experiência de governo, não conseguiu alargar a visão política — e a vaidade de pertencer ao fabianismo, corrente internacional que acredita na “soberania limitada” das nações menos desenvolvidas, como a nossa.
A jornalista Ruth de Aquino, da revista “Época”, que viveu na Inglaterra, como competente jornalista que é, não pode ignorar que o desarmamento no Reino Unido provocou o maior crescimento na violência que se viu ali no pós-guerra. Contudo, escreveu recentemente contundente artigo pelo desarmamento. O jornalista Kalleo Coura fez o mesmo, surpreendentemente, na última revista “Veja”, numa guinada de 180 graus dessa publicação, apenas explicável pelo que dissemos no item 1). A propósito, bons jornalistas escrevendo incongruências não são raros. Há uma história circulando há anos, em que o personagem seria um repórter inteligente começando a carreira, ora apresentado como Alcindo Guanabara (Carlos Heitor Cony diz que a frase é de Guanabara), ora como Assis Chateaubriand, ora como David Nasser, que recebendo de seu patrão a encomenda de escrever um artigo sobre Jesus Cristo, teria perguntado: “Contra ou a favor?”
Esta análise não seria completa se não mencionássemos outra classe de desarmamentistas: os néscios. Os que deitam falação sem saber das consequências do que pregam, mesmo que elas estejam debaixo de seus narizes. Esteve em Rio Verde falando de segurança o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame. Muitas vezes escrevi nessa coluna o que penso de sua atuação como responsável pela segurança da outrora Cidade Maravilhosa. Quando Sérgio Cabral (então governador do Rio) e Beltrame resolveram gastar rios de dinheiro nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), houve até quem propusesse o secretário para Prêmio Nobel da Paz. Não é estranho, em se tratando dos cariocas com sua tradicional boa-fé, seu permanente otimismo e sua inabalável crença na capacidade do “jeitinho brasileiro” de resolver os mais graves e sérios problemas.
O raciocínio lógico sempre me dizia que aquilo outra coisa não era senão uma perigosa aplicação do “jeitinho”. As entrevistas de Beltrame não me faziam conceder a ele nenhum crédito, quer quanto à eficiência, quer quanto à inteligência. Bisonho, foi como classifiquei, já se passaram anos, José Mariano Beltrame. Hoje, seria mais rigoroso, diante da piora da situação da segurança carioca. O Rio é uma das cidades mais inseguras do mundo, onde se está inseguro em qualquer lugar: nas melhores praias, nunca livres dos arrastões, nos melhores bairros, alvo dos latrocidas, e nas favelas, definitivamente dominadas pelo tráfico, com ou sem UPPs.
O Rio é um exemplo dos equívocos de nossa política de segurança. Não se prende. Vitima-se a polícia, sempre acusada de excessos e responsabilizada pelas balas perdidas, que nunca saem das armas dos traficantes. O número de policiais assassinados é assustador. Beltrame, que apreende um fuzil por dia abandonado por bandidos, desarmou de fuzis a polícia carioca, deixando-a em inferioridade bélica perante o tráfico. E fala em desarmamento, como se esses fuzis apreendidos fossem nossas armas, caro leitor.
Já fui mais condescendente com Beltrame. Hoje não o classificaria como bisonho, mas como beócio. Corre em meu socorro sua classificação quando prestou concurso para delegado da Polícia Federal, ocasião em que ficou quase no 900º lugar, embora fosse funcionário de carreira da instituição. Que foi, aliás, o que permitiu seu aproveitamento, por medida administrativa, embora não classificado, segundo as notícias da imprensa e dos políticos cariocas que lhe fazem oposição. São Paulo, sem UPPs, sem noticiário ufanista como o que brindou sempre Beltrame, com secretários de segurança desconhecidos, tem índices de criminalidade duas vezes e meia menores. Chega de política de segurança ideológica, desonesta — e nada inteligente.