Para suprir todas as necessidades básicas, o salário do trabalhador deveria ser de R$ 6.528,93
06 agosto 2023 às 02h44
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Inflação é o nome dado ao aumento dos preços de produtos e serviços. Ela é calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que compila dados em índices como o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O objetivo do IPCA é medir as variações de preços de uma cesta de produtos e serviços consumidos pela população, e o resultado mostra a variação dos valores ao longo dos meses.
Em junho de 2023, o índice foi de -0,08%; 0,31 ponto percentual (p.p.) abaixo da taxa de maio (0,23%). Segundo o órgão, essa foi a menor variação para o mês de junho desde 2017, quando o índice foi de -0,23%. No ano, o IPCA acumula alta de 2,87% e, nos últimos 12 meses, de 3,16%. Isso é menos do que os 3,94% observados nos 12 meses anteriores. Em junho de 2022, a variação havia sido de 0,67%.
Os dados informam que o resultado de junho foi influenciado principalmente pelas quedas em alimentação e bebidas. Essa categoria, que havia registrado estabilidade em maio, caiu 1,07% devido principalmente ao óleo de soja, frutas, leite longa vida e carnes. Por outro lado, a batata-inglesa e o alho, apresentaram aumento de preço. Vale ressaltar que os dados são analisados em âmbito nacional.
Segundo uma pesquisa feita pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), realizada mensalmente, o valor do conjunto básico dos alimentos da cesta básica, diminuiu em 10 capitais do país. Entre os meses de maio e junho, Goiânia se destaca com as maiores quedas (-5,04%).
Levando em consideração a determinação constitucional que estabelece que o salário mínimo deve ser suficiente para suprir as despesas de um trabalhador e de sua família com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, laser e previdência, o Dieese calculou aquele que seria o salário ideal para esse fim. Com base na cesta básica mais cara, que, em junho, foi a de São Paulo, o órgão estimou que o salário deveria ser de R$ 6,578,41 – isto é, 4,98 vezes o salário mínimo atual de R$ 1.302,00.
Entre maio e junho de 2023, o valor do quilo do feijão carioquinha diminuiu em todas as cidades onde é pesquisado. As quedas se explicam pelo bom rendimento das lavouras e pela expectativa de volume expressivo a ser colhido nas próximas safras, diz o Dieese. No mesmo sentido caminhou o óleo de soja, que teve um decréscimo em todas as capitais. Nos 12 meses passados, o movimento desses produtos foi de queda nos preços e aumento dos produtos nas lavouras. No caso do óleo, é que a safra da soja foi abundante.
O mesmo aconteceu com a carne bovina, cujo preço do quilo foi pesquisado em 15 cidades. Em Goiânia, o declínio foi de 0,13%. A capital goiana ainda se destaca com a baixa do preço do arroz agulhinha que chegou a -3,86%. O Dieese ainda ressalta que, para o mês de julho de 2023, o salário ideal do goianiense é de R$ 6.528,93.
A percepção do consumidor
Com base nesses dados, a reportagem do Jornal Opção foi até alguns supermercados localizados em bairros mais periféricos de Goiânia, Aparecida De Goiânia e até de Alexânia para verificar se os consumidores sentiram que houve mesmo uma queda nos preços dos itens da cesta básica.
João Melo de Alcântara é morador do setor Garavelo, em Aparecida de Goiânia. Para ele, a queda nos preços ainda não chegou nas prateleiras dos supermercados. Melo explica que constatou o contrário nas compras desse mês, pois a feira feita com os mesmos itens para a sua casa e a do sogro ficou R$150 mais cara. “Essa conversa de que os preços baixaram é uma falácia. No mês passado, a mesma compra que fiz deu R$1.200. Hoje eu até me assustei. Tive de substituir o arroz e o feijão por marcas mais baratas e, ainda assim, o preço total foi de R$1.350. Quase caio de costas! Quero saber onde fica esse país onde os preços caíram”, diz Melo.
Para Raquel Moreira, enfermeira que reside na região noroeste da capital, o preço de alguns itens foi reduzido, mas o de outros aumentou, e por isso a tanta diferença não foi sentida no orçamento. “O leite, feijão e o óleo de soja realmente baixou um pouco, porém, o arroz subiu. A carne de vaca, se baixou, eu ainda não vi”, diz. Raquel conta que para economizar um pouco no final do mês, fica de olho nas promoções e opta por fazer a compra total nos atacadistas. “Só compro aqui no bairro coisas que precisa com urgência mesmo”, pontua.
A aposentada Glória Gerônima dos Santos, 70 anos, mora na região norte com netos e bisnetos. A aposentada alega que está tudo muito caro e que, se tentar comprar todos os itens de que precisa, não sobra o dinheiro dos medicamentos. “Venho ao supermercado sempre e, até agora, eu não percebi nada barato. Olha o preço dessas carnes. Só consigo comprar carne moída e frango, para poder sobrar para meus remédios”, afirma. Glória diz que, o que ajuda um pouco, são as promoções.
Gerson Martins Queiroz, de 69 anos, aposentado, vive na região leste de Goiânia e esclarece que tem visto alguns preços diminuírem, mas em compensação, outros subiram. “É uma pegadinha isso, baixam alguns preços e colocam outros nas alturas, por isso é difícil perceber no bolso. Olha o preço dessa banana, quase dez reais o quilo. Está difícil”, lamenta. Gerson garante que os preços caíram um pouco por que os produtores estão com muito estoque de mercadoria e precisam desfazer delas urgente.
De acordo com Francisco Alves Souza, 72 anos, pensionista e morador da cidade de Alexânia, as coisas estão cada dia mais difíceis para os pobres. Francisco cita um ditado popular: “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Aqui na cidade não adianta pechinchar porque todos os mercados combinaram de igualar os preços. Olha o preço desse ovo, está igual picanha! Aliás, carne lá em casa só de segunda, ou uma costelinha com mandioca, graças a Deus”, ressalta.
Jadna Cunha Bárbara. empreendedora, moradora do setor Serra Dourada 3 em Aparecida de Goiânia, destaca que os preços nos supermercados estão da mesma forma que sempre estiveram, ou seja, altos. Para Jadna, que tem dois filhos pequenos em casa, o jeito é correr atrás das promoções. “Se para mim, que ganho um pouco mais do que o salário mínimo, já não é fácil, fico imaginando para essas famílias que precisam viver com um salário apenas. Ainda bem que Deus faz milagres na casa dessas pessoas, é triste”, reitera. Jadna fala que a picanha ainda continua sendo um sonho, apenas.
Procon
O Procon de Goiânia fez uma pesquisa entre os dias 19 e 23 de junho de 2023 em diversos atacadistas da capital com o objetivo de informar e alertar os consumidores quanto às variações de preços de itens que compõe a cesta básica. O órgão quis mostrar o gasto mensal que um trabalhador teria para comprá-los. Outro propósito da pesquisa foi o de auxiliar o cidadão no momento da sua compra, possibilitando um melhor planejamento e consequentemente, uma melhor economia.
A pesquisa revelou alterações percentuais entre produtos da mesma marca, oferecendo uma referência ao consumidor por meio de preços médios na amostra. Foram pesquisados 30 produtos em nove estabelecimentos comerciais, sendo que as cinco maiores variações ficaram entre 250,53% e 103,05%.
O Procon aconselha ao consumidor pesquisar em mercados diferentes, pois irá encontrar valores que o ajudará obter uma boa economia ao final do mês, se comprar pelo menor preço pesquisado. A empreendedora Jadna ressalta que, infelizmente, aquelas pessoas que mais precisam não têm condições de fazer esse levantamento, de ir a um atacadista, sendo obrigadas a comprar no mercadinho do bairro mesmo.
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