O novo formato do programa Mais Médicos para o Brasil, poderá suprir a necessidade de 173 vagas em aberto para contratação de profissionais em Goiás. Conforme a Secretaria Estadual de Saúde (SES), há  717 vagas, das quais 544 estão ocupadas. Ainda segundo a pasta, os profissionais estão trabalhando em 162 municípios e, em todas as regiões do Estado, inclusive, na região metropolitana e na capital.

Atualmente em Goiás estão em atuação 15 médicos estrangeiros, dos quais, 14 são cubanos e um boliviano. A SES revelou que somente oito cubanos possui registro profissional do Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego) – os sete restantes são intercambistas.

Mais médicos em Aparecida de Goiânia

Em Aparecida de Goiânia, a Secretaria de Saúde informa em nota que, o programa Mais Médicos disponibiliza 62 vagas para o município. Desse total, 29 estão ocupadas e 33 ociosas.  A Secretaria ainda esclarece, que o programa é bem-vindo e tem total apoio da Prefeitura.

Mais médicos em Goiânia

A Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia informou, que atualmente existem 53 médicos que fazem parte do programa e que desde 2013 recebe esses profissionais. A Prefeitura custeia a alimentação e o transporte dos médicos e, explica que, todos estão lotados em unidade de saúde da família. 

A secretaria ainda esclarece que segundo os critérios do Ministério da Saúde, em Goiânia não há vagas mais para médicos do programa. A justificativa é que todo o quadro está completo na capital com a convocação e nomeação de concursados e credenciados, ou seja, Goiânia não possui déficit de médicos.

População considera que é preciso Mais Médicos

Para saber o que a população pensa sobre o programa Mais Médicos, a reportagem do Jornal Opção foi até o Cais Nova Era, em Aparecida de Goiânia. Na manhã da última sexta-feira, 23, havia muitos pacientes na unidade – alguns esperando por mais de quatro horas por um atendimento de emergência –, lotando a sala de recepção e ainda havia pessoas esperando na tenda do lado de fora. Na opinião deles, a realidade dos hospitais públicos fala por si só, ou seja, o programa precisa ser expandido para as emergências e não somente para o atendimento nas Unidades Básicas de Saúde (UBS).

Recepção do Cais Nova Era. Pacientes cobram mais médicos | Foto: Cilas Gontijo/Jornal Opção

A dona de casa Edinalia Braga, de 37, moradora do Veiga Jardim há quatro, estava no Cais em busca de um atendimento de emergência, aguardando por quase duas horas. Perguntada se ela apoia o Mais Médicos, ela diz que sim. ”Se no Brasil está em falta, acho natural que médicos de Cuba ou outros países, venham trabalhar aqui. Mas na minha opinião eles precisam fazer aquela prova (revalida) que comprova que eles são médicos mesmo. Caso contrário, como vamos confirmar?”, indaga.

O aposentado Antônio Raimundo, de 71 anos, residente no Setor Cristina em Goiânia, compartilha do mesmo pensamento da dona Edinalia. “À ideia do programa é muito bom, pois existe mesmo a necessidade de médicos no país. Só acho que os médicos de fora precisam fazer a prova do revalida”, diz. O aposentado aproveita para fazer uma denúncia. “A UBS mais próximo da minha casa, no Setor Grajaú, está faltando médico”.

Em reposta a denúncia do senhor Antônio, a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia informa que estão sendo chamados os profissionais concursados e credenciados e que muito em breve todas as vagas serão preenchidas.

O que pensa o Cremego

Logo após o lançamento do programa, ainda na segunda-feira, 20, o Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) informou que reconhece a importância da interiorização do trabalho médico, com a atuação médica em pequenas cidades de todo o Brasil, mas ressalta a necessidade da boa formação dos profissionais que irão atender nessas localidades.

Segundo a nota, a “abertura do Mais Médicos para intercambistas brasileiros formados no exterior ou estrangeiros, que continuarão atuando com registro do Ministério da Saúde, conforme divulgado, é preocupante. A população brasileira não pode ficar exposta a profissionais sem formação médica comprovada e sem registro nos órgãos responsáveis por normatizar e fiscalizar o exercício da medicina, zelando pelo respeito à ética médica e pelo bom atendimento à população.”

O Cremego defende a exigência da revalidação dos diplomas de todos os estrangeiros e brasileiros formados no exterior, assim como suas inscrições nos Conselhos Regionais de Medicina dos Estados em que vão atuar. A instituição destaca que, não é contra o programa, mas sim, a favor da comprovada formação profissional de todos os médicos, não somente do programa, mas em qualquer atendimento à população brasileira.

O programa Mais Médicos

Relançado na segunda-feira, 20, pelo Governo Federal, o programa Mais Médicos passará de 13 mil para 28 mil profissionais. O novo formato ofertará 15 mil novas vagas para 28 mil profissionais, o que representa um acréscimo de 100%, e levará atendimento a mais de 96 milhões de brasileiros em regiões mais carentes.

O programa pretende dar atendimento as necessidades de saúde dos brasileiros que vivem em áreas de extrema pobreza. Os profissionais de saúde farão o acompanhamento no chamado atendimento primário, que é responsável pelo suporte da situação de saúde da população, prevenção e redução de agravos, nas Unidades Básicas de Saúde (UBS).

Em um primeiro momento, o objetivo do programa é preencher as vagas com médicos brasileiros. Toda via, se as vagas não forem totalmente ocupadas, elas serão destinadas aos profissionais brasileiros formados no exterior. E, se mesmo assim, ainda não atingirem o total, haverá uma chamada para médicos estrangeiros.

Das novas vagas criadas este ano, 5 mil serão abertas por meio de edital ainda este mês, as 10 mil restantes, serão oferecidas em um formato que prevê a contrapartida dos municípios. O Ministério da Saúde explica que, essa nova forma de contratação garantirá menor custo às prefeituras, maior agilidade na reposição do profissional e a própria permanência do médico nas localidades. O Governo Federal prevê um investimento de R$ 712 milhões e assegura que – as vagas continuarão prioritárias para os brasileiros formados no Brasil.

Desafio do programa Mais Médicos

Para o Ministério da Saúde, o principal desafio do programa é fazer com que os médicos permaneçam no local de destino pelo menos até o termino dos quatro anos do contrato, isso porque, na maioria das vezes, são localidades de difícil acesso. De acordo com levantamento do próprio Ministério, cerca de 41% dos médicos desistem e abandonam seus postos, principalmente pela falta de acesso a locais onde possam dar continuidade aos estudos e se qualificarem. 

Para evitar essa evasão, o Mais Médicos garantirá oportunidades educacionais ao médico que for escolhido por meio de edital, ele poderá fazer especialização e mestrado em até quatro anos e também passará a receber benefícios proporcionais ao valor da bolsa para aqueles que atuarem nas periferias e nas regiões mais complexas. Em relação às médicas, será feita uma compensação que possa garantir o mesmo valor da bolsa durante os seis meses da licença maternidade.

Fies

Outro diferencial, é que os médicos formados através do Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) que aderirem ao programa, serão contemplados com incentivos que o ajudará a quitar a dívida com o Governo federal. Os médicos do Fies que cumprirem o programa de residência em áreas mais remotas, também serão agraciados.

Novidade e bolsa

A grande novidade do novo formato será a inclusão de outras áreas médicas, como: odontologia, enfermagem e assistência social. 

O valor da bolsa continuará o mesmo já praticado no programa que é de: R$ 12,8 mil, os profissionais ainda contarão com auxílio-moradia, que poderá variar de acordo com a região.

Revalida para os Mais Médicos

O Ministério da Educação esclarece que, no caso do médico que possui diploma estrangeiro ou brasileiros com diplomas estrangeiros, será ofertada a possibilidade de um incentivo para fazerem o revalida; teste que permite a validação do diploma para atuar no Brasil. 

No Governo de Dilma Rousseff foi contratado muitos médicos cubanos e não foi requerido o revalida para esses profissionais trabalharem no Brasil, o que gerou grande crítica ao programa. Porém, na ocasião do lançamento desse novo formato, a ministra da saúde Nísia Trindade elogiou o trabalho dos médicos cubanos e informou que no momento não está previsto a volta do acordo com o governo de Cuba para suprimento de vagas. 

Conforme a ministra, os cubanos que optarem por fazer parte do programa serão bem-vindos, mas terão que seguir todas as regras estabelecidas, e destacou que – a prioridade será dada aos profissionais formados no Brasil.

Mais médicos para os indígenas

O território nacional possui 29 distritos sanitários especiais indígenas, incluindo o território Yanomami no Estado de Roraima, que passa por uma situação de emergência em saúde pública. O programa enviará 117 profissionais que serão alocados nesses distritos. A intenção é facilitar o atendimento primário ao indígena, que ao necessitar de um atendimento médico precisa ir até a cidade mais próxima.

O indígena Rosivanio de Lima Pereira Kaxinawá de 34 anos que deixou a aldeia onde vivia no Acre em 2007, para cursar medicina na Escola Latino-Americana em Cuba, com especialização em medicina da família, faz parte do Mais Médicos para o Brasil e fala da felicidade em poder ajudar os irmãos:

“Sei da realidade do meu povo, do sofrimento que é ir para a cidade e pegar uma ficha de saúde às 3h da manhã para ser atendido. Hoje podemos levar atendimento para dentro da comunidade, para que o indígena não saia da aldeia, já é um grande feito”, destaca. 

Cilas Gontijo é estagiário do Jornal Opção em convênio com a UniAraguaia, sob a supervisão do editor PH Mota.