Eleitorado jovem é um desafio para candidatos; muitos não sabem o nome do prefeito
01 setembro 2024 às 00h00
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De acordo com o cruzamento dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Goiânia possui 38.395 jovens de 18 a 20 anos, que podem votar. Esse grupo representa 3,73% do eleitorado total, de 1.030.274. Já na faixa etária de 21 a 24 anos, 69.764 estão regularizados e podem exercer o direito de voto, correspondendo a 6,77% dos eleitores.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Goiânia possui 108.159 jovens de 18 a 24 anos que podem votar. Esse grupo representa 10,5% de todo o eleitorado da cidade — de 1.030.274, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Vale ressaltar a população está envelhecendo, mas a fatia do eleitorado permanece significativa. Na última eleição, em 2022, o número de eleitores de 18 a 20 anos era maior, de 43.469; hoje é 38.395. Entre os de 21 a 24 anos, 74.723 votaram; hoje são 69.764.
Entretanto, chama a atenção o desinteresse dos jovens pela política. Para entender como os jovens na faixa etária de 18 a 24 anos veem a política, o Jornal Opção foi às ruas e entrevistou 20 jovens. O resultado da pesquisa foi surpreendente: a grande maioria não sabe sequer o nome dos candidatos a prefeito de sua cidade, muito menos suas propostas. O desinteresse dos jovens pela política é uma questão complexa e multifacetada, que pode ser atribuída a diversos fatores apontados por eles como:
Desconfiança nas instituições
Muitos jovens sentem que as instituições políticas são corruptas ou ineficazes, o que diminui a confiança no sistema e, por consequência, o interesse em participar ativamente.
Falta de representatividade
A percepção de que os políticos não representam verdadeiramente os interesses e valores dos jovens contribui para o afastamento. Os jovens podem sentir que suas vozes não são ouvidas ou consideradas nas decisões políticas.
Desilusão com as mudanças
Muitos jovens podem sentir que, apesar de se envolverem ou participarem de movimentos políticos, as mudanças são lentas ou inexistentes. Essa percepção de impotência pode levar à apatia política.
Prioridades e interesses
Em uma fase da vida onde questões como educação, carreira e vida social são prioritárias, a política pode não ser vista como algo imediato ou relevante.
Cultura digital
A cultura digital e o consumo de conteúdo rápido e superficial podem também afetar a maneira como os jovens se relacionam com temas complexos como a política, que requer tempo e esforço para ser compreendida em profundidade.
Veja as entrevistas:
Arthur Sidney, 24 anos, estudante de psicologia e morador do setor Jardim América, faz parte de um grupo de jovens desiludidos com a política, o que o levou a perder o interesse no assunto, apesar de reconhecer sua importância para todas as faixas etárias. Quando questionado sobre os candidatos à prefeitura de Goiânia, Sidney admitiu não os conhecer, nem ao menos o nome daqueles que pretendem governar a cidade. “Não conheço nenhum deles, ainda não parei para saber quem são”, afirmou.
No entanto, ele concorda que é impossível viver sem política, pois ela está presente em todos os aspectos da sociedade. Apesar de sua descrença, Sidney revelou que costuma escolher o candidato com as melhores propostas, embora o resultado sempre seja decepcionante. “A gente vota acreditando que o candidato vai cumprir o que promete, mas quando assumem o poder, esquecem o que prometeram”, desabafou.
Arthur Carlos, 19 anos, estudante de engenharia da computação e morador do setor Marista, votará pela primeira vez nas próximas eleições, mas confessa que o tema não está entre suas prioridades devido à polarização política. “Percebo um cenário de bipolaridade que sai da racionalidade e se torna uma briga pelo poder, com um grupo tentando derrubar o outro, sem considerar o que o povo realmente quer”, avaliou.
Para ele, é essencial que os políticos cumpram suas promessas de campanha, sejam realistas e honestos. Arthur acredita que as redes sociais desempenham um papel crucial tanto para os políticos quanto para os eleitores. “As redes sociais deram voz e democratizaram o processo”, observou, mas admite que não conhece os candidatos nem suas propostas.
Matheus dos Santos, 21 anos, estudante de engenharia de produção, votou pela primeira vez em 2018, mas desde então tem anulado seus votos devido à descrença nos políticos, que, segundo ele, pensam apenas em si mesmos. Matheus, que mora no Jardim Novo Mundo, não conhece os candidatos à prefeitura e afirma que isso não está entre suas prioridades. “Sou totalmente descrente do sistema político brasileiro”, declarou, acrescentando que os candidatos representam “mais do mesmo”.
Raissa Borges, 18 anos, estudante de farmácia e moradora do Setor dos Funcionários, votou pela primeira vez em 2022 e se diz arrependida da escolha. Ela explicou que até o momento o candidato eleito não cumpriu nenhuma das promessas de campanha. “Quando o político engana o eleitor, ele prejudica a democracia, causando descrença na política, o que não é bom para a sociedade”, afirmou.
Raissa admite que não conhece os candidatos a prefeito nem a vereador, mas promete se informar antes das eleições. “Sei que estou em falta nesse aspecto, mas minha prioridade agora são os estudos”, explicou, mencionando que grande parte de seus amigos também está desinteressada em política.
Erick Arcanjo, 21 anos, estudante de engenharia elétrica e morador do bairro Hilda, em Aparecida de Goiânia, também não sabe quem são os candidatos em sua cidade. Antes de votar, ele costuma fazer uma pesquisa rápida e ouvir a opinião de outras pessoas. Erick prefere candidatos com experiência em gestão, mas considera propostas bem elaboradas igualmente importantes. “Avalio a administração passada do candidato e suas propostas, e voto em quem tiver as melhores ideias para a cidade”, ressaltou. Erick também lamentou a falta de políticas públicas voltadas para a juventude, especialmente em esporte e lazer.
João Junqueira, 19 anos, estudante de artes visuais e morador do setor Bueno, reconhece a importância da política, apesar de seu desânimo com o tema. “O ser humano é um ser político, a gente não vive sem a política”, afirmou. João já votou, mas se diz decepcionado com sua escolha. “Eu esperava mais do candidato que escolhi. Infelizmente, os políticos parecem se importar apenas com o poder e não com os anseios da população”, concluiu.
Luíz Fernando, 24 anos, morador do Jardim Vila Boa e estudante de artes visuais, não se arrependeu de suas escolhas políticas, embora nenhum dos candidatos em que votou tenha sido eleito. Luíz admite que não conhece as propostas de todos os candidatos, mas já tem uma ideia definida de em quem votar. “Levo em consideração a questão ideológica e procuro escolher quem pensa como eu”, afirmou. Ele reconhece que os jovens deveriam se interessar mais pela política. “Os jovens têm muitas ideias e poderiam contribuir para melhorar a política”, refletiu.
Uma estudante de 22 anos, que preferiu não se identificar, faz parte da minoria dos entrevistados que se mantém atenta à política. Ela afirmou que até o momento não se arrependeu de suas escolhas, mas também não se surpreendeu. “Conheço alguns dos candidatos, mas ainda não decidi em quem votar. As propostas não me atraíram até agora”, comentou.
A estudante ressaltou que, em geral, não se sente representada pelos políticos em exercício, e acredita que eles precisam prestar mais atenção às necessidades dos jovens, especialmente em relação à educação. Ela também destacou a importância das redes sociais no processo eleitoral, afirmando que “o político que não entender isso ficará para trás”.
Ana Clara Chaves, 18 anos, moradora do setor Rio Formoso e estudante de psicologia, desconhece os candidatos a prefeito, mas reconhece a importância de se informar sobre o tema. “Ainda estou começando a fazer essas escolhas, mas pretendo me aprofundar no assunto”, disse. Para Ana Clara, os políticos deveriam investir mais em educação, uma área que ela considera esquecida.
Luciana Mikelly, 23 anos, moradora do setor Sul, cursa nutrição e trabalha como vendedora. Luciana admitiu que ainda não pensou em quem votar, nem conhece os candidatos à prefeitura. “Não sou muito ligada em política”, confessou. Ela reconhece a importância da política, mas admite que precisa melhorar seu envolvimento no tema.
Lucas Roberto, 24 anos, artista e morador do Conjunto Vera Cruz, disse que a política não está entre suas prioridades. “Voto porque é obrigatório, mas se não fosse, nem votaria”, declarou. Lucas escolhe seus candidatos com base em indicações de amigos e familiares, e geralmente decide em quem votar momentos antes da eleição. Ele afirmou conhecer apenas dois candidatos, que foram ao local onde ele trabalha. “Esses políticos só prometem e não fazem nada”, criticou.
Cássia Eduarda, 18 anos, vendedora e moradora do Jardim Curitiba, votou pela primeira vez em 2022, e embora seu candidato não tenha sido eleito, não se arrepende da experiência. “Foi bom exercer a democracia”, afirmou. Cássia admite que poderia se envolver mais com a política, reconhecendo que o tema é crucial para o desenvolvimento da cidade. “Preciso estar mais antenada nos projetos que eles colocam, pois interferem diretamente em nossas vidas”, ponderou. Contudo, ela admitiu que não conhece os candidatos a prefeito. “Você acredita que não sei quem são? Mas você me despertou para isso”, admitiu.
Ana Laura, 18 anos, vendedora e estudante do ensino médio, confessa que ainda não tirou o título de eleitor e que não entende nada de política. “Apesar de não compreender o assunto, sei que dependemos da política”, comentou. Assim como a maioria dos entrevistados, Ana Laura não sabe quem são os candidatos. Ela acredita que os jovens precisam ser mais responsáveis em relação à política, que, segundo ela, é um tema sério.
Rairmaks da Costa Silva, 21 anos, bacharel em direito e morador do setor Morada dos Pássaros, em Aparecida de Goiânia, acredita que a política é essencial para a sociedade, mas lamenta que os políticos não governem para todos. “Existe uma grande falta de políticos que governem para o povo que os elege, para que haja um equilíbrio social”, observou.
Rairmaks conhece os candidatos de sua cidade, mas não suas propostas. Para escolher em quem votar, ele observa os ideais políticos e as propostas voltadas para a periferia da cidade, que, segundo ele, é sempre esquecida pelos gestores. Ele acrescenta que não culpa os jovens pelo desinteresse na política, atribuindo isso à repetição dos mesmos políticos e à corrupção.
Ana Júlia Braga Noleto Alves, 20 anos, estudante de direito e moradora do setor Nova Suíça, votou assim que completou 18 anos e não se arrepende. “A política reflete em todos os aspectos da vida do brasileiro, desde a alimentação até o acesso à educação e trabalho”, considera.
Ana Júlia costuma avaliar as administrações passadas dos candidatos, afirmando que as propostas nem sempre refletem o verdadeiro comportamento de uma pessoa. “Levo em consideração principalmente o que eles fizeram nos últimos anos de trabalho”, explicou. Ana Júlia também acredita que a falta de políticas públicas voltadas para a juventude e o acesso elitizado à cultura em Goiânia são problemas que precisam ser resolvidos.
O jovem Lucas Moura Martins, de 25 anos, formado em design e trabalhando com animação, reside no Leste Universitário. Ele reitera que tudo ao nosso redor é política. “No entanto, com as inúmeras demandas do mercado e da vida, acabamos deixando a política de lado, até mesmo por uma questão de saúde mental e pela consciência de que o problema é estrutural”, acrescenta.
Lucas afirma que conhece os nomes dos candidatos, mas desconhece suas propostas. Ele destaca que, na hora da escolha, dá importância ao movimento político mais estratégico e possível para os candidatos. “Aqueles que, de fato, vão impactar a vida da população local, que puxam o debate na direção certa para a região”, enfatiza. Em relação aos políticos atuais, Lucas menciona que não se sente representado por eles.
Asafe Ribeiro Dias da Silva, estudante de medicina de 20 anos, morador do setor Cidade Jardim, em Goiânia, diz que votou em 2022 e não se arrepende. Para ele, “a política é um jogo de interesses, mas ainda assim, a considero importante”, afirma.
Asafe expressa que conhece os candidatos, mas não se atentou às propostas de cada um. Ele revela que escolhe seus representantes com base nos mesmos princípios que os seus. “Em geral, considero o alinhamento em relação ao meu posicionamento político e às propostas que me impactam diretamente”, reflete.
Asafe também pondera sobre o motivo pelo qual muitos jovens se mostram desinteressados pela política. “Acredito que, devido ao fato de o aparato governamental ser engessado e lento, um jovem criado na lógica imediata gerada pela internet passa a ver essa burocracia, em que pequenas mudanças levam meses, como algo extremamente tedioso. Daí vem a descrença”, analisa.
Thalita Rayane, de 22 anos, estudante de engenharia da computação e moradora do Jardim Guanabara, acredita que os próprios políticos são os culpados pelo desinteresse dos jovens na política. “Eles não se importam com a população. Basta dar uma olhada nos Cais para ver o descaso desses políticos com o povo. Durante as campanhas, prometem até o que não podem cumprir, mas, depois de eleitos, nem voltam mais aos bairros”, reflete.
Para Thalita, os jovens têm outras prioridades. “Eu mesma preciso trabalhar e estudar para me sustentar e ajudar em casa, então não vou perder tempo conhecendo ou sabendo o que esses corruptos querem fazer para me enganar novamente. Estou seriamente pensando em nem votar em outubro, de tão decepcionada que estou com esses políticos”, destaca.
Emilly Guedes Moreira, de 19 anos, estudante de direito e moradora do setor Negrão de Lima, em Goiânia, garante que já votou e não se arrependeu da escolha. Emilly avalia a importância da política. “Na minha percepção, a política é uma parte essencial da sociedade. Ela desempenha um papel fundamental em moldar a vida de todos nós, estabelecendo a estrutura da nossa sociedade e as normas e regras que regulam nosso país, estado e cidade.”
Emilly afirma que conhece todos os candidatos e está atenta às propostas de cada um. Ela conta que seu candidato precisa estar alinhado aos seus princípios. “Na hora de escolher, considero o que ele defende: se tem princípios cristãos, se defende a família, se é honesto e tem caráter.”
Emilly avalia que os casos de corrupção noticiados pela imprensa envolvendo políticos em todas as esferas podem ser um dos motivos do desinteresse dos jovens pela política. “A política tem gerado uma imagem muito negativa, devido à corrupção, sujeira e desonestidade de muitos políticos, o que acaba fazendo com que os jovens desenvolvam um certo preconceito em se envolver com a política, pois acham que todos os políticos são iguais”, lamenta.
Vanessa Silva, de 24 anos, moradora do Residencial Alice Barbosa, em Goiânia, considera a política essencial. “A política, para mim, é fundamental nos dias de hoje para a estabilidade e o progresso da sociedade moderna, influenciando profundamente a vida cotidiana e o futuro da cidade, do país e do mundo”, ressalta.
Vanessa destaca que tirou o título de eleitor aos 17 anos e nunca deixou de votar. “Desde então, em todas as eleições, participo e dou meu voto a candidatos que têm bons projetos, que sejam pessoas com visão moderna e antenadas em tudo o que está acontecendo.”
A jovem diz ser uma pessoa participativa e bem-informada quando o assunto é política. “Procuro saber mais e mais, garantindo que minhas opiniões e necessidades sejam consideradas. E mesmo não conhecendo as propostas de todos os candidatos a prefeito, busco me informar para ajudar a construir uma democracia mais robusta, contribuindo significativamente para a construção de uma sociedade mais justa”, enfatiza.
Fator preocupante:
Este desinteresse é preocupante, pois os jovens são uma parte crucial da sociedade e seu envolvimento é essencial para a renovação e o desenvolvimento democrático. Promover a participação política juvenil requer esforços tanto das instituições quanto da sociedade em geral, com ações voltadas para a educação, inclusão e empoderamento dos jovens.
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