“Eu fiquei paralisada”, relembra vítima de ginecologista preso em Goiânia
![Avatar photo](https://www.jornalopcao.com.br/wp-content/uploads/2022/09/WhatsApp-Image-2022-09-05-at-16.19.15-30x30.jpeg)
26 julho 2023 às 08h30
![](https://www.jornalopcao.com.br/assets/2023/07/Medico.webp)
COMPARTILHAR
“Eu estava contando o momento que esse dia ia chegar”. “Ele me fez masturbar ele”. “Ele tirou o membro e ficou passando na minha cintura”. “Ele ficou acariciando meus seios”. “Eu fiquei paralisada”. Com apenas 14 anos na época, as frases integram o relato de Maria (nome fictício). Ela é uma das 13 mulheres que denunciaram (até o momento) as ações do médico ginecologista Fábio Guilherme da Silveira Campos, de 73 anos. A mulher agora tem 45 anos e conta que só entendeu que de fato estava sendo abusada depois que saiu do consultório.
Leia mais: Número de vítimas de ginecologista preso em Goiânia sobe para 12
Maria faz parte das milhares de meninas que procuram ginecologistas após menstruar e sentir cólicas. Em 1993, no Cais do Novo Horizonte, a garota foi acompanhada pela mãe na primeira consulta com o médico. “Ele era o médico da minha mãe, era o médico da minha vó”, relata a vítima. Ela diz ainda que a primeira consulta foi normal. “É importante dizer que nessa consulta que estava com minha mãe, ele foi super respeitador”, afirma.
Terminada a primeira consulta, Maria conta que o médico disse para sua mãe que para uma melhor atendimento seria necessário acompanhamento em seu consultório particular, localizado no setor aeroporto. “Minha mãe aceitou na hora”, diz.
No dia da consulta particular, a garota foi acompanhada pela prima, que na época tinha 17 anos. Ao chegar lá, Maria foi primeira paciente atendida pelo médico. “Lá ele me fez tirar a roupa toda. Eu entrei como se fosse para fazer uma cirurgia. Você veste aquela roupa como se fosse entrar no centro cirúrgico”, relata nitidamente indignada. Na sequência começam os supostos abusos.
“Ele ficou acariciando meu seio, depois foi na parte de baixo e me acariciou. E ele falava que era um procedimento normal, porque eu era virgem (…) E eu fiquei muito nervosa com isso. Ele começou a querer puxar minha mão para a calça dele. E eu vi que ele estava abrindo a calça dele. No que eu vi eu já virei o rosto pro lado da parede e segurei firme no lençol. E ele tentou puxar minha mão para o órgão genital dele. Ele puxava, e eu voltava o braço. Como viu que não conseguiria pegar minha mão, ele tirou o membro e ficou passando na minha cintura, e entre o bumbum e as coxas. Eu fiquei paralisada, não estava conseguindo acreditar naquilo”.
Maria, nome fictício para a vítima que não quis se identificar
A vítima suspira e conta que nunca vai esquecer o que o médico disse. “Se eu atender duas de vocês por semana, não resisto”, relembra Maria. Com medo, a garota conta que não teve reação e disse ter ficado muito nervosa. Ela conta ainda que pensou em contar tudo para a prima que também seria consultada em seguida, mas que não teve coragem.
Após a prima sair do consultório, acompanhada do ginecologista, a garota percebeu que a prima também estava assustada. Ela relata que a prima a perguntou sobre a consulta. Maria conta o diálogo:
Prima: Ele te fez alguma coisa?
Maria: Ele tentou puxar minha mão para que eu pegasse no órgão dele.
Prima: E você?
Maria: Não, eu fiquei grudada na maca até ele desistir, mas ele esfregou na minha cintura.
Prima: Ele me fez masturbar ele.
Maria: Você masturbou?
Prima: Foi, eu não sabia o que fazer.
Maria relatou para a mãe o abuso, porém a família teve medo de procurar a polícia. A prima da vítima não aceitou falar. O Jornal Opção decidiu publicar os relatos e questionou se agora com a repercussão do caso se ela procuraria a delegacia. “Não. Eu não tenho nenhuma prova. Eu fico com medo de por meu nome no processo”, responde Maria .
Defesa
Para a reportagem, a defesa do médico disse que está analisando os autos e em breve irão se posicionar. Os advogados Matheus Borges e Rodrigo Lustosa assumiram o caso nesta terça-feira, 25. Foram contratados pela família do médico.
O Jornal Opção questionou como tem sido a reação do médico diante das acusações: “Eu conversei com ele hoje. Ele está um pouco abalado por conta dessa situação de estar preso. Ele nega e fala que isso não aconteceu”, afirma Matheus.
Preso na Central de Triagem do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, o ginecologista divide cela com outros encarcerados. “Ele fica com preso que tem acusações relacionadas, que envolve violência doméstica e qualquer crime contra a mulher”, explica a defesa.
Caso
O médico foi preso na última quinta-feira, 20, no Jardim América. O médico é investigado desde 27 de junho por violação sexual mediante fraude. O inquérito foi aberto após uma paciente, à época grávida de oito meses, relatar ter sofrido abuso sexual durante um exame de pré-natal. Ao todo, 13 mulheres denunciaram o ginecologista por crimes sexuais, em Goiânia.
Procurada nesta terça-feira, 25, a delegada Amanda Menuci informou por meio da assessoria que só vai se pronunciar após a conclusão do inquérito, que corre em segredo de justiça.
Leia mais:
Ginecologista preso é suspeito de cometer crimes sexuais há quase 30 anos
Ginecologista é preso acusado de crimes sexuais contra pacientes em Goiânia