O empresário Ronaldo de Oliveira, dono de um patrimônio milionário no Distrito Federal, voltou a ser alvo de uma operação da Polícia Civil brasiliense nesta quarta-feira, 20. Ronaldo, a esposa, os filhos e até uma nora e uma cunhada são acusados de integrar uma organização criminosa e conduzir um esquema de lavagem de dinheiro com uso de um batalhão de ao menos 15 laranjas e testas de ferro.

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A operação desta quarta cumpre nove mandados de prisão temporária e sete de busca e apreensão. A PCDF também pediu à Justiça o sequestro de uma série de carros de luxo e o bloqueio de contas bancárias operadas pela quadrilha. 

Audacioso e articulado, o bando teria conseguido cooptar um analista do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), que recebia várias transferências bancárias para “cuidar” dos processos do empresário e advogar em defesa dos interesses da organização criminosa.

O servidor consultava processos e repassava informações sigilosas, segundo as investigações. O analista teve a prisão pedida pela PCDF, mas o MPDFT se posicionou contrariamente ao pedido.

Império em Brazlândia

As apurações revelaram que, após ser investigado e preso no âmbito da Operação Trickster, que identificou um esquema criminoso que desviou R$ 1 bilhão em dinheiro público por meio de fraudes no sistema de bilhetagem eletrônica do extinto Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans), o empresário desenvolveu um sistema sofisticado para lavar mais de R$ 31 milhões.

Para isso, o empresário apontado como “dono de Brazlândia” usou um supermercado e contas de poupança em nome de testas de ferro para lavar centenas de milhares de reais. Até mesmo filhos menores de idade de Ronaldo de Oliveira foram aproveitados no esquema, segundo a polícia.

O empresário teria usado, ainda, um empreendimento para ocultar a propriedade e dissimular valores faturados por meio do estelionato contra a administração pública e da corrupção de agentes públicos.

“Curvas do dinheiro” 

Antes da Operação Trickster, o bando comandado por Ronaldo de Oliveira mantinha recursos financeiros nas contas de empresas geridas pelo grupo. Após a ação da PCDF, o caminho do dinheiro mudou e passou a “fazer curvas” para driblar as autoridades.

O fluxo do dinheiro começa com o recebimento dos pagamentos nas contas empresariais, segundo as investigações, mas os valores são imediatamente lançados nas contas-poupanças do grupo, via depósitos e transferências, muitas vezes na boca do caixa.

Em seguida, ocorrem retiradas diárias de valores das contas-poupanças abertas em nome dos filhos de Ronaldo e Soraya, para repasse às contas das empresas, tudo a fim de evitar bloqueios judiciais. Algumas delas chegaram a receber depósitos superiores a R$ 1 milhão, segundo a PCDF.

Foragido por três anos

Ronaldo de Oliveira chegou a ficar três anos foragido da Justiça do Distrito Federal e com mandado de prisão preventiva a ser cumprido, entre 2018 e 2021. Ele foi detido em 12 de abril de 2021 por policiais do Grupo de Patrulhamento Tático de Goiás (GPT), na cidade de Niquelândia.

Os policiais receberam informações de que o empresário circulava pelo povoado de Buriti Alto, próximo ao município goiano de Mimoso, onde Ronaldo de Oliveira teria um posto de gasolina. O local, segundo os militares, era estratégico, pois facilitava uma possível fuga para diferentes unidades da Federação, como Bahia, Tocantins ou mesmo o Distrito Federal.

Após uma série de buscas, os policiais localizaram uma caminhonete Hilux vermelha usada pelo empresário para circular pela região. Em seguida, ele foi abordado por uma equipe do GPT, que confirmou a existência do mandado de prisão em aberto por corrupção contra a administração pública e por associação 

Propina

Em abril de 2018, a polícia pediu a prisão de Ronaldo e da companheira dele, Soraya Gomes da Cunha. A Justiça atendeu à solicitação após os investigadores terem confirmado que o casal pagava propina para o então responsável pela unidade de controle de bilhetagem automática do DFTrans, Harumy Tomonori. O gestor foi detido em 23 de março de 2018, em mais um desdobramento da Operação Trickster.

Em depoimento, Harumy confessou que, mensalmente, recebia entre R$ 10 mil e R$ 15 mil, a fim de agilizar processos, pagamentos e fazer vista grossa diante de irregularidades e fraudes cometidas pelas empresas de Ronaldo e Soraya.

Entre os crimes, estava o fato de as empresas descarregarem cartões estudantis de alunos do Entorno como se fossem da rede pública de ensino do DF. Imagens flagraram Harumy deixando uma das empresas do casal com dinheiro pago como propina. À época, durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão, os policiais encontraram um envelope semelhante na casa de Harumy, com cerca de R$ 12 mil.