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Miliares respeitam a Constituição. Mas, diz o ministro da Defesa, “estão preocupados com a perspectiva de, não revertido o quadro de deterioração, se verem convocados a intervir em nome da Garantia da Lei e da Ordem”

Prefeitura de Nerópolis cancela Carnaval 2017. Motivo: crise financeira

“Todos os esforços estão concentrados em superar os problemas, pagar as dívidas herdadas e investir em outros prioridades, como Saúde, infraestrutura e segurança”, afirma o prefeito Gil Tavares

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Ministério do Trabalho autuou grupo gestor do resort por contratar temporários de forma ilegal. Multa pode chegar a R$ 5 milhões

Municípios se unem para discutir a Região Metropolitana de Goiânia

Seminário reuniu prefeitos e gestores dos 20 municípios que integram o Plano de Desenvolvimento da RMG

Os colapsos que podem realmente dar fim à humanidade

Teorias e levantamentos do Ph.D. nos estudos do sistema e da complexidade John Casti resultaram em um livro ao mesmo tempo esclarecedor e aterrorizante, quase paranoico [caption id="attachment_87315" align="aligncenter" width="620"] A explosão nuclear é a mais temida e, talvez, comum alternativa para o fim do mundo. Porém, há outras não tão óbvias que podem levar à decadência da humanidade[/caption] Marcos Nunes Carreiro Há aproximadamente 74 mil anos, no lugar onde hoje se encontra a ilha de Sumatra, na Indonésia, o vulcão  Toba — também denominado supervulcão devido às suas atividades já registradas —entrou em erupção com uma força que não pode ser comparada a nada ocorrido na Terra desde que o ser humano passou a andar ereto. Um exemplo, a título de comparação: o leitor já deve ter ouvido falar do vulcão Kra­ka­toa, cuja erupção fez desaparecer a ilha de mesmo nome em 1883. Esse evento deixou quase 40 mil mortos com uma explosão de 150 megatons de TNT, o que equivale a 10 mil vezes a força da bomba atômica que devastou a cidade japonesa de Hiroshima durante a Segunda Guerra Mundial. Bem, a erupção do Toba, segundo estimativas, teve a força de um gigaton. Isto é, quase seis vezes superior à do Krakatoa. Nessa época — o auge da última Era Glacial estimada entre 110 mil a 10 mil anos atrás —, a Terra era habitada pelo homem de Nean­dertal, ao lado do Homo sapiens na Europa, do Homo erectus e do Homo floresiensis na Ásia. Ainda havia mamutes peludos e ti­gres-dentes-de-sabre dividindo espaço com o homem. Mas, de uma hora para outra, o vulcão mudou tudo. Além das gigantescas ondas do tsunami, os quase 3 mil quilômetros cúbicos de poeira vulcânica e fragmentos de rocha lançados na atmosfera reduziram a radiação solar de forma tão drástica que as plantas não conseguiram sobreviver. A temperatura média mundial caiu para -15ºC transformando o verão em inverno e o inverno em um frio congelante. Atualmente, a estimativa é que apenas alguns milhares de pessoas sobreviveram e a maioria vivia em pequenos grupos na África. Os dados são resultado do trabalho minucioso de acadêmicos que examinaram amostras de DNA daquele período. De acordo com os pesquisadores, as amostras genéticas do mundo inteiro teriam sido bastante diferentes se os seres humanos tivessem conseguido se desenvolver sem as dificuldades criadas pelo Toba em todo o planeta. Assim, é possível afirmar que a erupção do vulcão Toba foi responsável pela quase extinção da humanidade. Porém, como afirma o matemático estadunidense John Casti, quase, porém, não é fato: “e mesmo um poderoso vulcão como o Toba não seria capaz de varrer totalmente os seres humanos da face da Terra. Foi uma catástrofe monumental, sem dúvida, mas não enviou a humanidade para o cemitério da história.” Então, o que poderia levar ao seu real desaparecimento? Para refletir acerca dessa pergunta, Casti, que é Ph.D. nos estudos das teorias dos sistemas e da complexidade, escreveu o livro “O colapso de tudo: os eventos extremos que podem destruir a civilização a qualquer momento”. Mas não apenas desastres naturais podem resultar em uma tragédia para a humanidade. Segundo Casti, o que mais assusta é a fragilidade dos sistemas que sustentam o estilo de vida do século XXI. O cerne do livro está no fato de que a sociedade atual é frágil, em que todas as infraestruturas necessárias para manter esse estilo de vida pós-industrial — em relação à energia, água, comida, comunicação, transporte, saúde, segurança e finanças — estão tão interligadas que, “se um sistema espirrar, os outros pegam pneumonia na mesma hora”. Casti tem muitas informações de bastidores, além de ser uma pessoa bastante informada acerca do andamento dos sistemas mundiais. Por isso, suas previsões são de deixar os menos informados em estado de alerta. Aos mais assustados, após a leitura do livro, resta fazer um cômodo subterrâneo em casa, correr até o supermercado e ao posto de gasolina mais próximos e abastecer uma reserva visando o breve colapso mundial. À frente daremos voz a alguns desses cenários descritos pelo autor. Mas, por enquanto, devemos apresentar ao leitor o modo de seleção e análise usados para selecionar os “eventos X”. Todos eles são medidos pelo que o autor denomina “níveis de complexidade”. O que são? Casti, na página 54 do livro, cita alguns exemplos para estabelecer a relação entre a complexidade da sociedade atual e os eventos que podem levá-la à destruição: “É muito provável que grande parte dos leitores destas páginas tenha, em casa ou no escritório, uma cafeteira de última geração, que prepara um maravilhoso expresso ao simples toque de um botão. Primeiro, os grãos são moídos, prensados e pré-lavados. Depois, a água fervendo passa pelos grãos a alta pressão, e o resultado é aquela dose de cafeína de que aparentemente precisamos tanto para que nosso motor funcione pela manhã. Em suma, essa máquina é um robô de fazer café. […] Mas toda a automação embutida na cafeteira tem um preço: um grande aumento na complexidade do aparelho que faz café. […] Você não é mais capaz de fazer a manutenção da máquina. Evidentemente, uma sobrecarga de complexidade na cafeteira é apenas um aborrecimento. Uma sobrecarga dessas em seu carro já é outra história. E, quando algo similar acontece numa infraestrutura da qual se depende no dia a dia, as coisas realmente começam a ficar sérias. Numa nota aos desenvolvedores de software da Microsoft em 2005, Ray Ozzie, ex-responsável técnico da empresa, escreveu: ‘A complexidade mata. Ela drena a energia dos programadores, dificulta o planejamento, o desenvolvimento e a testagem de produtos, ocasiona problemas de segurança e gera frustação nos administradores e nos usuários finais.’ A nota prosseguia com ideias para manter a complexidade sob controle. Ozzie escreveu essas palavras numa época em que o Windows 2000 continha cerca de 30 milhões de linhas de código. Seu sucessor, o Windows XP, tinha 45 milhões, e, embora a Microsoft tenha sabiamente se recusado a anunciar o número de linhas de código do Windows 7, tudo leva a crer que ele possua bem mais do que 50 milhões. Mas e daí? Mesmo que a Microsoft conseguisse controlar o tamanho (leia-se ‘complexidade’) de seu sistema operacional, complementos de programas, plug-ins de navegação, wikis e apetrechos do gênero elevam as linhas de código ocultas dentro de seu computador à casa das centenas de milhões. O ponto é que os sistemas computacionais não são projetados. Eles evoluem e, ao evoluírem, acabam ultrapassando nossa capacidade de controlá-los — ou mesmo de compreendê-los — totalmente. De certa forma, assumem, literalmente, vida própria. E aqui chegamos a uma das maiores lições desse livro: a vida desses sistemas complexos não permanece estática para sempre.” E esse conceito é levado por Casti para muitas outras áreas da vida atual, abordando todo o sistema de vida em que vivemos hoje. É como se a modernidade levasse a sociedade para um nível de complexidade que já não é possível de ser acompanhado pelas pessoas. Assim, segundo o matemático, surge um desnível de complexidade. Esse desnível entre a sociedade e seu estilo de vida gera, por sua vez, uma crise. Ela surge quando se reconhece que, embora seja necessário solucionar problemas sempre para continuar crescendo, a solução dos problemas complexos atuais requer estruturas ainda mais complexas. Em última instância, é chegado o ponto em que todos os recursos são consumidos apenas para manter o sistema em seu nível. Logo, a sociedade experimenta uma sobrecarga de complexidade. Isto é, não existem mais graus de liberdade para lidar com novos problemas, pois, quando eles surgem, o sistema não tem como se adaptar acrescentando complexidade e, portanto, entra em colapso na hora, por meio de um evento extremo que tende a reduzir rapidamente a sobrecarga. É o preço do crescimento. Consequências, que podem assumir a forma de uma calamidade financeira ou de uma revolução política. Contudo, ao longo da história, de modo geral, é a guerra — grande ou pequena, civil ou militar — que desfaz o acúmulo de complexidade. “Depois, a sociedade se reconstrói, partindo de um patamar muito mais baixo. A bem documentada ‘ascensão e queda’ do Império Romano é apenas um entre muitos exemplos disso”. Mas qual o meio mais eficaz para se combater o aumento da complexidade e evitar as tais consequências desastrosas? Segundo Casti, a solução mais “brutal” para este problema é sua redução por meio do retorno a um estilo de vida anterior ao atual. Porém, ele reconhece que a ideia de uma vida mais simples não deverá se popularizar, visto que a “vida das pessoas na sociedade atual é tão imbricada a diversas infraestruturas — abastecimento de alimento e água, fornecimento de energia, transporte, meios de comunicação e outras — que não dá para se afastar da droga da modernidade sem sofrer os dolorosos e inaceitáveis sintomas da síndrome de abstinência. Quase ninguém quer pagar esse preço”. [caption id="attachment_87317" align="alignleft" width="300"] Com informações para deixar qualquer um aflito, o livro é capaz de fazer o leitor mais leigo pensar a respeito do fim do mundo[/caption] O que são os “eventos X” e as sete faces da complexidade “Eventos X” é o nome dado por Casti àqueles eventos extremos capazes de exercer um grande impacto sobre a vida humana. São possibilidades. Raras, dramáticas, surpreendentes, capazes de exercer um enorme impacto no mundo e sobre os quais se mantêm a ilusão de que não há relação alguma com os fatos da sociedade. O autor classifica os “eventos X” como sendo os agentes da transformação da vida humana. “E isso nunca foi tão verdadeiro quanto nos dias de hoje, quando nós, os seres humanos, temos pela primeira vez a capacidade de criar algo tão extremo que poderia provocar nossa própria destruição”. Exemplos: um caso sério de gripe aviária atinge os seres humanos em Hong Kong, antes de se espalhar por toda a Ásia e acaba matando mais de 50 milhões de pessoas; abelhas começam a morrer em grandes quantidades, interferindo na polinização de plantas do mundo inteiro e deflagrando uma escassez global de alimentação; um carro-tanque cheio de cloro tomba no Rio de Janeiro, derramando seu conteúdo e matando mais de 5 milhões de cariocas. Ou seja, as consequências dependem do nível de complexidade e Casti apresenta sete níveis de complexidade: 1) Emersão: um conjunto de indivíduos em interação forma um “sistema”, que como um todo possui suas próprias características. Essas características emergentes são denominadas traços “sistêmicos”, uma vez que são originadas pelas interações e não por ações individuais. Exemplos: pontos marcados em uma partida de basquete ou a mudança de preço no mercado financeiro. Assim, comportamentos emergentes são, com frequência, considerados como algo “inesperado”, pois, mesmo tendo conhecimento acerca das características individuais do sistema, nada se sabe do que emergirá das propriedades sistêmicas geradas pelas interações. 2) A hipótese da Rainha de Copas: na clássica obra do escritor britânico Lewis Carroll “Alice através do espelho”, a Rainha de Copas diz para Alice: “Neste lugar, precisamos correr o máximo possível para permanecer no mesmo lugar”. Essa ideia foi levada para a ciência pelo ecologista Leigh van Valen. Segundo ele, em todo sistema formado por um conjunto de organismos em evolução, cada integrante precisa se desenvolver à altura dos outros para evitar a extinção. Ou seja, evoluir o mais rápido apenas para permanecer no jogo. Exemplos: corrida armamentista ou a atual disputa econômica entre Estados Unidos e China. 3) Tudo tem um preço: Há um preço inevitável a ser pago para usufruir dos benefícios de uma sociedade eficiente. Para ter um sistema econômico, social, político, etc. que funcione excelentemente, é preciso aperfeiçoar esse sistema. “Um alpinista, por exemplo, poderia decidir escalar sozinho um despenhadeiro. Talvez até consiga repetir o feito várias vezes, mas basta um único incidente inesperado para que ele despenque para a morte. É por isso que os alpinistas mais experientes trabalham em equipe e se ocupam com uma série de medidas redundantes de proteção para a escalada”. A eficiência pode diminuir o tempo da subida, mas se algo ocorrer, eles poderão continuar. 4) O princípio de Ca­chi­nhos Dourados: os sistemas funcionam de maneira mais flexível quando os graus de liberdade disponíveis para eles se assemelham ao mingau do conto infantil “Cachinhos Dou­ra­dos”: nem quente nem frio demais, mas na temperatura certa. “No jargão dos sistemas, isso geralmente é chamado de o ‘limite do caos’”. Isto é, está na tênue divisão entre o estado em que o sistema está paralisado demais — sem liberdade para explorar novos regimes de comportamento — e o estado em que existe tanta liberdade que o sistema é caótico. Vale quase tudo. Assim, o caminho é ser médio. 5) Indecidibilidade/ In­com­pletude: a racionalidade não se basta para determinar as possibilidades de certo comportamento acontecer. Sempre haverá acontecimentos improváveis, impossível de se prever, pois previsões acertadas requerem o uso da intuição e/ou informações que não fazem parte dos dados originais disponíveis. O que quase sempre ocorre, fazendo com que o sistema seja sempre incompleto. “A previsão de eventos extremos está atrelada à tendência humana de contar histórias”. Porém, para Casti, explicações não valem nada, pois são as previsões que contam. Mas elas são possíveis de acontecer? Essa já é outra história. 6) O efeito borboleta: a mais óbvia das faces da complexidade propostas por Casti. Está baseado no modelo do meteorologista Ed Lorenz de que o bater das asas de uma borboleta num lugar gerará um furacão em outro. Um exemplo: no início dos anos 2000, Theresa LePore projetava a cédula eletrônica que os eleitores de Palm Beach, Flórida, usariam nas eleições presidenciais daquele ano. Um equívoco no projeto fez com que muitos eleitores se confundissem e acabassem votando em um candidato diferente do que queria. Resultado: Al Gore, que deveria sair vencedor da Flórida e ser eleito o presidente dos Estados Unidos, perdeu votos devido à confusão gerada e George Bush venceu. Há quem diga que esse bater de asas da borboleta poderia ter evitado a guerra contra o Iraque. 7) A lei da variedade necessária: na década de 1950, o especialista em cibernética W. Ross Ashby teve o seguinte insight: “a variedade em um sistema regulatório tem de ser, no mínimo, do mesmo tamanho da variedade do sistema regulado para ser efetiva”. Em outras palavras, o sistema de controle tem de ter, no mínimo, a mesma complexidade do sistema controlado, senão o desnível de complexidade entre os dois pode causar diversas surpresas desagradáveis. E isso vale para muitos aspectos da vida e não só para o mundo cibernético. Leve isso para a política, e o leitor talvez entenda os motivos que levaram a população às ruas durante muitos meses de 2013. Autor lista a possibilidade de 11 casos extremos [caption id="attachment_87316" align="aligncenter" width="620"] O matemático John Casti faz um apanhado acerca dos níveis de complexidade que podem gerar crises na sociedade atual[/caption] John Casti seleciona e desenvolve 11 casos para explicar sua teoria do desnível de complexidade que pode gerar o fim da humanidade a curto e longo prazos. São eles: um apagão na internet; a falência do sistema global de abastecimento de alimentos; um ataque por pulso eletromagnético que destrói todos os aparelhos eletrônicos; o fracasso da globalização; a destruição provocada pela criação de partículas exóticas; a desestabilização do panorama nuclear; o esgotamento das reservas de petróleo; uma pandemia global; pane no sistema elétrico e no suprimento de água potável; robôs inteligentes que dominam a humanidade; e uma crise no sistema financeiro global. O escritor explica que procurou evitar os tipos mais “corriqueiros” de eventos extremos, como os deliberadamente “naturais”, caso de vulcões, colisões de asteroides ou até mesmo o aquecimento global. E esses possíveis acontecimentos são tratados sob três aspectos: duração, timing e possibilidade. A duração se refere exatamente ao período levado por um evento para atingir o mundo. Alguns tipos de acontecimento levam tempo para provocar caos. Uma praga, por exemplo, não infecta todo o mundo de uma hora para outra, mesmo na atualidade em que tudo corre a uma velocidade a jato. Por outro lado, o timing remete à quando o desastre pode ocorrer, trata da existência ou não de condições prévias que relegam o evento a algum momento impreciso em um futuro distante — podendo ou não acontecer — ou se ele pode se manifestar a qualquer momento. As respostas? Bem, elas podem variar de “imediatamente” a “nunca”. Por exemplo, uma extinção por nanorobôs auto multiplicáveis. A tecnologia não chegou lá. Mas não existe ainda, o que deverá acontecer em uma década, no máximo. Agora, uma invasão alienígena hostil pode acontecer a qualquer momento, assim como pode nunca ocorrer. Não existe a mínima evidência que conduza a essa linha de pensamento. Por fim, a probabilidade. Não se trata de dizer que aquele evento X acontecerá dentro de um determinado de tempo, mas se ocorrerá algum dia. Qual a probabilidade de a Terra ser destruída por alienígenas? Não há registros que apontem para uma previsão segura. Já a erupção de um supervulcão como o Toba pode acontecer a qualquer momento. Pode-se prever um evento assim com base nos estudos e análises de situações parecidas ocorridas anteriormente. Ou seja, há um histórico. Casos semelhantes. Casti subdivide a probabilidade em três: praticamente certo; bem possível; improvável; muito remoto; e impossível dizer, caso dos alienígenas. Apagão digital Falhas na base da internet já mostraram que ela pode ser derrubada ou manipulada por pessoas com a habilidade necessária para tal. Em 2008, o consultor de segurança de computadores Dan Kaminsky descobriu que poderia induzir o sistema DNS (Sistema de Domínio de Nomes na sigla em inglês, aquele que transforma os endereços digitais como conhecemos, como jornalopcao.com.br, em endereços IP de 12 dígitos) da internet. Ou seja, ele achou uma brecha no sistema que determina o tráfego de um servidor a outro. Uma falha assim utilizada por um hacker inteligente pode dar acesso a quase todos os computadores da rede. Ele poderia hipnotizar toda a internet e reter qualquer dado a respeito de qualquer pessoa. Kaminsky não limpou algumas contas bancárias e fugiu. Ele alertou as autoridades e as convocou para encontrar uma solução. Mas o simples vislumbre do que ele poderia ter feito mostra o quão frágil é o sistema mundial atual. Desde e-banking, email, e-books, até o fornecimento de água, energia elétrica, comida, ar, transporte e comunicação, todos os elementos da vida moderna no mundo industrializado de hoje dependem das funções de comunicação fornecidas pela internet. Isto é, se ela parar de funcionar, o mesmo acontece com o estilo de vida do mundo. O que pode ser feito. Exemplo: seja por cartão de crédito ou transferência bancária, o dinheiro viaja pela internet. Em 2007, a quantidade de dinheiro que circulava pelo sistema era de quase 4 trilhões de dólares por dia. Atualmente, esse número deve chegar à casa dos 10 trilhões. O que aconteceria se a internet deixasse de funcionar essas transações tivessem que ser feitas por fax, telefone ou até mesmo pelo correio. No passado era assim. A vida viraria um caos. Casti ressalta que o sistema atual utiliza uma arquitetura da década de 1970, época em que a internet foi concebida, o que provoca um grande desnível de complexidade entre a estrutura e seu uso atualmente. Quais as falhas? A internet gera buracos negros de informação. Por isso, às vezes, alguns sites não carregam na primeira tentativa. O leitor já deve ter vivenciado algo do tipo. A estimativa é que dois milhões de falhas desse tipo sejam geradas todos os dias e poderá engolir toda a internet um dia. Fora as falhas físicas. Os cabos de fibra ótica — para ficar apenas em um exemplo — cruzam o mundo pelo fundo do mar. Não são poucos os exemplos de países que ficaram às cegas devido a quebra desses cabos por terremotos ou outras situações. Quando vamos comer? O leitor sabia que mais de 4 milhões de pessoas ficaram pobres desde junho de 2011 devido ao aumento do preço dos alimentos? Ou que devido à diminuição no suprimento de água, a Arábia Saudita não poderá mais produzir trigo em breve? Ou que, de acordo com estudos realizados pela Global Phosphorus Research Initiative, nas próximas duas ou três décadas não haverá fósforo suficiente para atender às necessidades de produção de alimentos? Essas informações são trazidas por Casti em seu livro — publicado em 2012 e, embora possa estar desatualizado, traz dados recentes. Mas a última dessa pequena lista trata das superdoenças que estão atacando as plantações do mundo. Ora, não estamos vivendo no Brasil algo assim? O que o leitor me diz da lagarta Helicoverpa armigera, que já causou R$ 600 milhões de prejuízo apenas em Goiás? Ela come de tudo e é resistente a qualquer tipo de inseticida conhecido no Brasil. Apenas inseticidas mais fortes poderão controlar sua reprodução, mas podem também causar outros danos, como já dizem especialistas. Fora isso, há outros fatores. A industrialização da agricultura, modificações genéticas, inseticidas, monocultura, instabilidade climática, crescimento da população, etc. Segundo Casti, esses são fatores que criam a base para um colapso, via evento X, da rede de produção e distribuição de alimentos no mundo. O autor cita alguns exemplos que podem afetar muito a produção de alimentos nos próximos anos: escassez de água (a Arábia Saudita, país autossuficiente na produção de trigo por mais de 20 anos pode ter o cultivo ameaçado devido à falta de água); fenômenos climáticos (ressalte-se o aquecimento global); alta no preço do petróleo; crescimento populacional; e grãos para combustível (aqui, Casti cita o fato de que os Estados Unidos viabilizam grande parte de sua produção de milho para a produção de etanol, assim como no Brasil). “O mundo está enfrentando, neste momento, uma confluência de escassez crescente em três elementos fundamentais para a continuação da vida humana neste planeta: água, energia e alimentos. A combinação resultante é maior do que a soma das partes, podendo acabar em desastre até 2030”, conclui Casti. O dia em que os eletrônicos pararam O PEM (pulso eletromagnético) é uma onda de choque produzida por uma explosão de alta energia na atmosfera. Essa onda cria uma sobrecarga momentânea de corrente elétrica nos circuitos de aparelhos como telefones celulares, computadores, TVs, e automóveis desprotegidos. O pulso queima qualquer aparelho eletrônico ao alcance, independente de fiação. Já houve um. Em 1962, no Pacífico Sul, a operação Starfish Prime explodiu um PEM de 1,4 megaton a uma altitude de 400 quilômetros. A área era remota, mas o pulso de energia eletromagnética resultante foi sentido em Honolulu, no Havaí, a mais de mil quilômetros do epicentro. Mesmo assim, queimou lâmpadas de iluminação pública e danificou retransmissores de rádio. E isso com uma explosão razoavelmente pequena feita há mais de 50 anos. Um ataque desse tipo atualmente poderia gerar danos talvez irreversíveis no mundo tecnológico de hoje. Com­pu­ta­dores e outros aparelhos com microcircuitos; todos os condutores e linhas de trans­missão de energia elétrica; segurança de bancos, elevadores e equipamentos hospitalares; carros, aviões, trens, barcos, etc. Tudo acabaria em questão de segundos. “No caso de um ataque de PEM, o tempo de recuperação é de muitos meses, ou mesmo anos. Ao final da primeira semana, o pânico se instalaria. As ruas seriam tomadas por saqueadores, policiais e militares abandonariam seus postos para proteger suas famílias, não haveria ninguém para combater os incêndios e, de um modo geral, a sociedade logo voltaria a um estilo de vida semelhante àquele imaginado após um conflito nuclear”, embora seja um cenário completamente inofensivo à saúde humana diretamente. Uma nova desordem As previsões de Casti são quase que uma estratégia voltada para os Estados Unidos no caso de um evento X ocorrer. Não injusto, pois, além de ser estadunidense, seu país é a maior potencial econômica mundial e se um dia a globalização, nos moldes de hoje, ruir, os Estados Unidos estarão no centro do desastre. Assim, o matemático separa alguns cenários visando essa crise: — Colapso: Após o fracasso das reações oficiais a uma série de catástrofes como o furacão Katrina, o estado de ânimo da população americana é afetado de forma negativa. As pessoas começam a ver o governo como seu maior inimigo. Essa mudança de psicologia coletiva gera um descompasso de complexidade entre o governo e os cidadãos, situação muito parecida com a que aconteceu recentemente nos países árabes do norte da África, resultando na implosão dos Estados Unidos devido a divisões internas. — Separação amigável: em outras palavras, os Estados Unidos deixam ser unidos devido à incapacidade de arcar com o custo de um grande império, assim como aconteceu com a União Soviética. — Governança global: neste cenário, os Estados Unidos perdem sua importância geopolítica enquanto são assimilados por uma comunidade global maior. Em suma, o mundo se une para formar as verdadeiras “Nações Unidas”. — Conquista global: este seria o caminho mais pesado, em que não só os Estados Unidos, como o restante do mundo, são subjugados a uma ditadura global. Um ditador assume o poder à força, provavelmente utilizando armas baseadas no espaço, e bloqueia o mundo. Física mortífera Aqui, o medo está no avanço das pesquisas auxiliado pela tecnologia de ponta da qual se dispõe atualmente. Basicamente, as preocupações estão sobre o Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN), que faz pesquisas com o LHC, o grande colisor de hádrons na tentativa de recriar o Big Bang em laboratório. Os temores: a criação de buracos negros descontrolados (a partir das experiências, milhões de buracos negros microscópios seriam criados, persistiriam e de algum modo se aglutinariam em uma massa gravitacional que consumiria outras formas de matéria e acabaria engolindo o planeta); strangelets (novas combinações de quarks — partículas menores que formam os prótons — capaz de transformam tudo o que toca em partículas semelhantes); monopolos magnéticos (há a hipótese de que as colisões de alta energia como as que acontecem no LHC possam criar monopolos — norte ou sul — desencadeando uma reação em cadeia que destruiria o equilíbrio magnético do planeta); e um colapso do vácuo quântico (a teoria é de que o vácuo existente entre as partículas está repleto de energia. Se os experimentos do LHC anular as forças que estabilizam esse vácuo, a liberação dessa energia iria causar uma explosão que varreria o universo em questão de segundos). A grande explosão O panorama nuclear do mundo atual é um caso clássico de sobrecarga de complexidade em ação. Segundo Casti, além de ser difícil definir o número de países participantes, o cenário inclui de tudo: bombas “perdidas” da antiga União Soviética; cientistas insatisfeitos que passaram para o “lado negro da força”; tentativas constantes dos hackers de invadir sistemas de controle de armas; principiantes, como grupos terroristas e países fora da lei, interessados em adquirir bombas atômicas no mercado negro; ogivas possivelmente instáveis, mesmo nos arsenais oficiais. Tudo isso poderia resultar em uma reação em cadeia que estouraria o planeta com uma série de “fogos de artifício”. “A verdade é que o cenário nuclear atual é um exemplo típico de como o excesso de complexidade pode desestabilizar a estrutura global de poder — da noite para o dia”. E quais seriam as consequências? Bem, citam-se sete: 1) as explosões nucleares lançam imediatamente poeira, radioatividade e gases na atmosfera. 2) as ex­plosões iniciam incêndios, queimando cidades, florestas, combustíveis; 3) devido aos incêndios, nuvens de fumaça e gases sobem para a troposfera e logo são espalhadas por todo o planeta; 4) fumaça  e poeira envolvem o planeta por semanas; 5) devido a isso, a Terra vive dias de escuridão; 6) a temperatura cai drasticamente na superfície terrestre, o que gera um inverno nuclear; e 7) quando a poeira baixa, a superfície é exposta a uma forte radiação ultravioleta, resultante da destruição parcial da camada de ozônio. E isso poderia ocorrer, desde uma guerra aberta e intencional até acidentes. Esgotamento De acordo com um artigo da “Oil and Gas Journal”, no final de 2005 as reservas mundiais de petróleo eram de 1,2 trilhão de barris, dos quais cerca de 60% se localizavam em cinco países: Arábia Saudita, Irã, Iraque, Ku­wait e Emirados Árabes Unidos. No outro lado da balança, o consumo totalizava 84 milhões de barris por dia, com 47% nos seguintes países: Esta­dos Unidos, China, Japão e Ale­manha. Atual­mente, o consumo cresce a uma taxa de 2% ao ano. Assim, um bilhão de barris dura, então, aproximadamente doze dias. Fazendo os cálculos, isso significa que 30 bilhões de barris por ano. Portanto, mesmo que o consumo se estabilizasse na taxa atual, 1,2 trilhão de barris na reserva acabaria em 40 anos. Esse é o limite máximo. Porém, haveria uma crise muito antes disso. Casti supõe quatro cenários. Em um deles há uma coalizão por parte dos países que produzem. “Maio de 2014: o preço do petróleo ultrapassou os 100 dólares por barril, uma vez que o Irã e a Venezuela cortaram as exportações de mais de 700 mil barris para unir os países desenvolvidos do Ocidente pela imposição de sanções. Nesse meio-tempo, as forças armadas dos Estados Unidos estão se preparando para deslocar toda a sua frota do Pacífico para a região do Golfo Pérsico, a fim de combater ameaças aos campos petrolíferos do Oriente Médio”. Já é possível imaginar o fim. Guerra nuclear e morte de todos, direta ou indiretamente. É de doer Aqui, Casti fala sobre uma pandemia de doenças infecciosas no padrão da Peste Bubônica ou da Gripe Espanhola, que aterrorizaram o mundo nos séculos XIX e XX, matando milhões de pessoas. E esse cenário não é necessariamente baseado na ação de terroristas, pois a natureza é perfeitamente capaz de lançar uma grande diversidade de ameaças à existência humana. Epidemias e pandemias de uma variedade estonteante têm surgido regularmente ao longo da história e devem reaparecer sob várias formas. Assim, a pergunta é: a humanidade estará preparada para enfrentar uma grande pandemia quando ela ocorrer? No escuro e com sede “A eletricidade e a água são fluidos, metaforicamente no primeiro caso, literalmente no segundo. Ambas são fundamentais para sustentar a vida como conhecemos. Para isso, precisam ser transportadas de onde são abundantes para onde são basicamente locais, não globais”. Uma pane na rede elétrica, por exemplo, é um problema restrito a certa região geográfica e jamais serão realmente globais, a não ser sob um ataque de PEM. O que já não acontece com a distribuição de água, uma questão decididamente global. “Afetará todo mundo, em toda parte. Mas nem todos serão afetados ao mesmo tempo”. Na verdade, pode-se dizer que a catástrofe já ocorreu. “Só que a maioria dos habitantes do mundo desenvolvido não tem consciência disso porque não foi afetada… ainda”. Assim, “uma pane na rede elétrica ou no suprimento de água potável seria catastrófica, com um enorme impacto no modo de vida de literalmente milhões, se não bilhões, de pessoas. Eis por que as incluí neste livro”. Tecnologia fora de controle Enfim, caro leitor, chega-se no paraíso do pensamento futurista: quando robôs inteligentes tomaram o mundo exterminando a raça humana. Há milhares de filmes e livros antecipando essa realidade. E isso poderá ocorrer, por que não? Os futuristas radicais afirmam que quando o ser humano conseguir realizar a fusão entre a mente humana e as máquinas, a humanidade poderá superar muitos problemas, como fome, doenças e recursos finitos, como o petróleo e água. Porém, essa capacidade poderá fazer com o ser humano também abra possibilidades inéditas de manifestação dos impulsos destrutivos. Assim, é possível que as máquinas se voltem contra os humanos, exterminando-os. A grande crise Eis que chegamos ao último caso analisado por Casti. E trata de uma grande crise financeira tendo por epicentro os Estados Unidos. Segundo o matemático, o mundo está às portas de uma crise muito mais séria que a vivida na crise de 2008. E o motor que está virando de ponta-cabeça os mundos financeiro e econômico é a rápida aproximação de um período de deflação maciça — ou, talvez ainda pior, hiperinflação. “Assim, qualquer que seja o quadro que emerja no longo prazo, (daqui a dez a vinte anos), o horizonte imediato na fase criativa é que colheremos os benefícios do que está por vir no balanço do século atual”.  

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“Manchester à beira mar”: um filme é bom quando faz o óbvio nos surpreender

Kenneth Lonergan entrega um longa que, embora se aproprie de um grande clichê, é belíssimo em sua forma de tratar o assunto [caption id="attachment_87309" align="aligncenter" width="620"] Lee e Patrick Chandler (Casey Affleck e Lucas Hedges) nos surpreendem ao personificarem a maior certeza que a humanidade já teve: apenas a morte nos espera no fim do caminho[/caption] É fácil perder a paciência com atendentes de telemarketing, com o trânsito ou com filas de supermercado, mas quando você perde a cabeça com alguém que lhe é gentil ou lhe pede desculpas, é sinal de que algo anda muito mal. É o caso de Lee Chandler, protagonista de “Manchester à beira mar”, o mais recente filme escrito e dirigido por Kenneth Lonergan. Kenneth já havia entregado “Conta Comigo”, bastante elogiado em 2000, mas passou ligeiramente despercebido uma década depois quando lançou “Margareth”, em 2011. Agora, retorna aos holofotes abordando um assunto comum em sua curta filmografia: a morte e suas implicações a quem permanece do lado de cá. [relacionadas artigos="86358, 85345, 85503"] O mal-humorado Lee Chandler, interpretado de forma magistral por Casey Affleck, é uma espécie de faz-tudo que trabalha numa administradora de condomínios em Boston, nos Estados Unidos. As cenas iniciais do filme nos apresentam a seus clientes costumeiros, um mais chato do que o outro, interrompidos de forma proposital pelo diretor. O corte abrupto nas transições de cena nos traz certo alívio. Quando o filme nos conduz um pouco mais a fundo na rotina de Chandler, entretanto, chama a atenção a mistura de apatia com amargura que o zelador carrega nas costas. Tudo bem que a clientela e a rotina não ajudam, mas uma briga de bar deixa mostrar muito mais do que uma mera troca de socos e pontapés. O rosto ainda jovem de Lee revela-se uma carapaça protegendo — ou escondendo — o que de verdade habita no lado obscuro de sua alma. Contudo, uma notícia pesada ameaça romper esse lacre. A morte de seu irmão, Joe Chandler (interpretado por Kyle Chandler), o leva a abandonar tudo temporariamente para cuidar das burocracias inerentes à fatalidade. Mesmo tendo que lidar com médicos, funerária e com aspectos legais, entretanto, Lee mantém seu acreditado autocontrole para tocar a vida. Lee acha que está no controle de tudo. Sempre teve essa falsa impressão, mas o que vemos através das nuances que Lonergan paulatinamente disseca diante de nossos olhos — inclusive com flashbacks milimetricamente calculados — é o oposto disso. Chandler não consegue lidar nem consigo mesmo. Está o tempo todo prestes a explodir — mas esse “não explodir” o consome. O seu “foda-se” soa sempre muito mais sincero que o seu “muito obrigado”. E nas suas brigas diárias, tentando organizar um turbilhão de sentimentos engasgados, a vida lhe empurra muito mais do que consegue suportar. É assim que descobre, por exemplo, que o irmão lhe empurrou a missão de ser o tutor do sobrinho, Patrick (interpretado por Lucas Hedges), de quem era muito próximo na infância, mas que por circunstâncias da vida acabou se afastando. Em meio a risadas e sobrancelhas franzidas, Patrick se incumbe de ajudar o diretor na missão de desvendar a esfinge Lee a nós, espectadores. A Manchester do título do filme não é a cidade inglesa, como alguns apressados poderiam concluir. Tampouco aquela vizinha de Boston, no centro de Nova Hampshire. Manchester-by-the-sea é uma comunidade de pouco mais de 5 mil habitantes, na cidade de Cape Ann, condado de Essex, em Massachusetts, cuja principal atividade econômica é a pesca e o turismo à beira mar. O nome da currutela também é uma metáfora para a vida do nosso protagonista. Não por acaso, a estória não se passa numa cidade “de veraneio”, mas durante o inverno. E, se pegarmos o mar com seu significado universal e até esotérico, veremos que ele não representa o equilíbrio e a constância de uma baía pesqueira, mas a turbulência e transitoriedade das ondas batendo na areia. A alegria e tranquilidade são efêmeras na vida de Lee, frequentemente associadas aos passeios de barco que costumava fazer com o irmão e o sobrinho. Os pontos mais leves do filme, inclusive, são no barco. Por outro lado, os planos longos e não tão fechados acentuam a carga dramática, contrapondo sempre as belas paisagens de Manchester-by-the-sea com a realidade pesada com que os personagens precisam lidar. O ápice dramático do filme, embalado por uma belíssima trilha sonora composta por Lesley Barber (que, justiça seja feita, esteve magistralmente presente por toda a obra), traz a revelação definitiva sobre a origem do peso que Lee carrega nas costas. E é pesado. No rolar dos créditos, Kenneth Lonergan traz a difícil lição de que nem sempre é possível superar. Por mais que tenhamos esperanças, nem sempre sobram as forças necessárias, e é preciso reconhecer que as escolhas foram erradas, o caminho não deu resultado. O pescador nem sempre vence a luta contra o peixe — principalmente quando lhe falta experiência. Já dizia Renato Russo, a irracionalidade toma conta “quando querem transformar esperança em maldição”. Esperar e lutar por dias melhores é instinto do ser humano, mas na busca impensada por superar um trauma, muitas vezes perdemos oportunidades únicas de sermos felizes, de tocar o barco e seguir em frente de forma verdadeira. É quando o abismo deixa de ser observado e passa a olhar para dentro de quem o observa. “Manchester à beira mar” é, definitivamente, um filme de Oscar. Atuações vibrantes (além de Affleck e Hedges, ainda podemos conferir Michelle Williams em mais uma participação simples, mas decisiva), trilha sonora belíssima, fotografia do mesmo modo. E em que pese tratar-se de um bom roteiro, mas com temática amplamente já explorada em outras obras, surpreende que Kenneth Lonergan tenha se apropriado sabiamente do clichê: A única certeza que temos — cada um de nós, independentemente do drama que nos acomete — é uma lápide fria de mármore no fim do caminho. João Paulo Lopes Tito é advogado e estuda Cinema e Audiovisual na UEG

Revolta contra opressão machista é retratada em videoclipe de Falo, da Carne Doce

Canção de letra mais forte do disco Princesa, música de 6 minutos e 38 segundos é representada em bom roteiro de Bruno Alves, Pedro Ferrarezzi e Salma Jô

Crítica internacional abandona exibição de filme sobre a crise econômica em Portugal

Um dos filmes lusófonos do festival, "Colo" estreia sem o louvor da crítica internacional [caption id="attachment_87303" align="aligncenter" width="620"] "Colo" não conquistou a crítica internacional, que abandonou a exibição[/caption] Rui Martins Especial para o Jornal Opção, de Berlim A lusofonia este ano bateu um recorde no Festival Internacional de Cinema de Berlim — são 18 filmes brasileiros e portugueses nas diversas competições. E nesta quarta-feira, 15, foi a vez do longa-metragem da cineasta portuguesa Teresa Villaverde, "Colo", ser exibido. [relacionadas artigos="87225, 87126"] O filme mostra a repercussão da crise econômica numa família portuguesa, deixando claro o por quê do nome do longa, que, entre coisas quer dizer afeto. Villaverde justifica dizendo que falta também afeto no casal e filha do seu filme. Para ela, a crise não é só econômica, mas envolve igualmente um clima de falta de comunicação, porque se de um lado gera o desemprego, outras pessoas são obrigadas a acumular empregos, faltando-lhes tempo para curtir a família. Em "Colo", o desemprego leva o pai ao desespero e a filha não avalia a gravidade da crise vivida pela família, onde até a luz é cortada por falta de pagamento. Filmado na maior parte do tempo nos interiores e sem muita luz, "Colo" transmite a sensação de falta de perspectivas de seus personagens. Villaverde permanece fiel aos filmes de cenas longas que sempre caracterizam as produções portuguesas — uma exceção deste estilo apareceu há quatro anos, quando o estreante em Berlim, "Tabu", de Miguel Gomes, mostrou uma agilidade ainda rara no cinema português. Embora o tema de "Colo" seja dos melhores, o que a crítica chamou de "silêncios", os planos fixos demorados e a falta de movimento em contraposição às cenas mais rápidas da moderna cinematografia, não foram bem recebidos pela crítica internacional que abandonou a projeção e não foi à coletiva para a imprensa.

Comercialização
Resta a questão da pronúncia do português da antiga metrópole, diferente da maneira mais aberta própria do "brasileiro", que dificultará sempre a comercialização dos filmes portugueses no Brasil, o mesmo não ocorra com os filmes brasileiros em Portugal, haja visto o sucesso das telenovelas da Globo. Ocorre praticamente o mesmo com os filmes canadenses, cuja pronúncia é fiel ao francês antigo, geralmente exibidos com legendas nas exibições na França. Talvez por influência das telenovelas, a pronúncia portuguesa nas antigas colonias é mais próxima do "brasileiro". Rui Martins está em Berlim, convidado pelo Festival Interanacional de Cinema

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